01 de Outubro de 2009

FICÇÃO

A Asma e a Lesma

“Quando preciso de estar sozinho vou para os transportes públicos em hora de ponta”, I

Prólogo…

Aqui estou eu sentado á espera que me venham buscar. Nem sequer estou cansado. E o que eu treinei para aqui chegar. À partida deram-me um mapa que me indica para andar 5 km em frente, na próxima rotunda vire na terceira saída á direita e ande mais 50 km pela estrada nacional não sei quantas. Sempre em frente. Não há que enganar, não fora o facto de aquele mapa não ser daquela estrada. O melhor é fazer contas à vida. Mas primeiro vai uma mijinha, como os profissionais antes de irem ao controlo. Desde pequenino que tenho uma infecção urinaria, e não desde há 2 anos como o Sérgio Paulino com a asma (bué de atletas de todas as modalidades sofrem deste mal, que se trata inalando salbutamol, salmeterol ou terbutalina), como tal preciso de um medicamento que qualquer doutor veterinário passa (a receita para um animal doente lá de casa pode ser abatido no IRS - a sogra conta, claro), chamado furandantine que me ajuda nos dias difíceis (não, não é para esses sítios onde estão a pensar) e também me ilude a ter mais força muscular e a baixar o índice de gordura.

A malta amiga chama-me o Praga Multas e lá saberão porquê. E aviso já de que não gosto de dias de sol muito quente, de vento, de estradas ruins, nem de paralelos (muito menos quando mos atiravam à cabeça em miúdo). Mas o que me irrita mais a partir de Janeiro é as lesmas que se encontram pelo caminho e que se colam às rodas, pneus e quadros, que depois de secas ficam negras. A gente pensa que é sujidade ou alcatrão da estrada. Só saem da bicicleta a martelo e escopo. E então quando chove, são às dezenas na estrada. Passo a vida a fazer gincana para não lhes acertar. Esta obsessão é tanta que me parece que os outros ciclistas estão sempre a falar nesta palavra, que para mim é palavrão (os galegos até usam o carago em vez da virgula). Mas uma coisa sei eu, quando chega alguém de fora do grupo avisam-no logo: Desvia-te das lesmas, não as pises, etc.

Aqui estou eu num destes passeios ao Algarve de 200 kms, no meio de 500 gajos. Nem sei se gosto ou não. Pelo sim pelo não, vim. A minha mulher quando me conheceu, e a convidei a passear, ficou sem saber o que fazer ou dizer. Foi a mãe que a aconselhou, que para conquistar um homem qualquer mulher precisa apenas de ter sex-appeal. Mais tarde confessou-me, que como não sabia o que era aquilo, pelo sim pelo não, lavou-se por baixo.

Hoje safei-me de um acidente (Um? Recordo-me uma vez, aqui à anos, quando a mulher me ligou a dizer para ter cuidado que havia um louco na TV a guiar em sentido contrario, na zona onde eu andava na distribuição. Um, disse-lhe eu na altura, havias de ter visto, eram ás dezenas – desconfio que o policia que me multou sem razão foi só para se exibir na televisão), mas se o tivesse tido já não teria os próximos percalços. Foi no inicio da subida da serra do Cançakostas, levantei-me do selim e baixei ligeiramente o andamento, para começar a marcar o meu ritmo que me costuma rebocar até lá a cima, nem olhei para trás, mas só ouvi trás, catrapás, ói, ui, fosga-se, cabrão de merda, etc. Pareceu-me ouvir ferro a bater com alumínio ou carbono. Devo ter feito confusão pois não vi nenhuma oficina ali por perto. Não sei ao certo o que se teria passado, pois não costumo olhar para trás nas subidas, aliás nem para a frente, para não me assustar com o que falta, pois gosto de ir no meu ritmo.

O percalço seguinte não foi bem numa subida, foi antes num plano inclinado. Mas a estrada estava tão ruim no meio que resolvi mudar de repente para a berma da direita. Voltei a ouvir as mesmas palavras duns malcriados, mas desta vez já não ouvi ruído de material a bater. Coisa estranha isto só acontecer mal se começa a subir uma chapada.

Passámos por um povoado onde estava um fogueteiro a desfazer-se, calculo, do material em excesso (tempos de crise) que ninguém lhe comprou este verão e que ele tinha reservado para umas florestas. È que aquele material vale ouro para os bombeiros, pois mal dão por um a arder no campo, avisam-se uns aos outros e correm logo a tentar apagá-lo antes que arda todo. Desconfio que fazem colecção. Deve ser como um primo meu com os selos. Diz ele que só têm valor depois de usados com o carimbo por cima. Novos não prestam. Manias de coleccionadores. Ou então deviam estar a festejar a nossa passagem. Já não devia haver ciclismo por aquelas bandas há muito tempo, daí o motivo para uma festa daquelas. Lá me disseram que o presidente da junta nem concordara, pois gostava mais de ver pernas de mulher que de ciclistas. Não sei porquê jack as nossas têm menos pelos que as de algumas mulheres. Por falar em pernas, as melhores que provei até hoje foram as de râ.

Entusiasmei-me tanto a olhar para cima, a ver as canas rebentarem, que só desviei o olhar quando ouvi o pneu a imitar o meu gato quando lhe pisam o rabo, nessa altura vi uma cerca de arame farpado debaixo da bicicleta, a metro e meio da estrada. De onde é que ela teria vindo? Parei para mudar a câmara-de-ar, mas a válvula era tão pequena e mixuruca que no aro da roda só lhe aparecia a cabecita. Ao fim de minutos a dar ar ao aro, quase ficava com uma roda daquelas lenticulares, que me daria jeito com o vento lateral. (Continua)

publicado por Ubicikrista às 23:21

Ficção


A Asma e a Lesma

 

(continuação)

Ao fim de minutos a dar ar ao aro, quase ficava com uma roda daquelas lenticulares, que me daria jeito com o vento lateral.

Quando acabei, nem ciclistas, nem carro de apoio ou vassoura, nem o raio que os parta. Mas lá fui atrás deles, até que cheguei a um sítio onde as estradas, segundo a poesia arquitectónica dos senhores engenheiros construtores, se enlaçam umas nas outras que nem uns amantes, vindas de todos os lados para confluir numa rotunda. Aqui para nós que ninguém nos ouve, as rotundas, parece uma ideia tirada daqueles filmes com uma fulana no meio, rodeada de homens nus, todos com os sinais de trânsito devidamente a confluir também para ela. Deveriam ser proibidas estas insinuações pornográficas na via pública. Onde é que estes arquitectos estavam com a cabeça? Inspirações na Internet de certeza. Aqui á 30 anos não deixavam fazer arte deste calibre na estrada. Ainda perguntei a um brasileiro daqueles que vendem férias se já passaram os ciclistas:

-Há que tempos homem. O que é que você esteve fazendo. Cagando?

Caganda lata, pensei cá para mim. E eu que sou um apreciador da simpatia brasileira. Sim, pá Tia talveiz, ainda o ouvi dizer.

Aqui estou eu 2 km mais á frente sentado num muro. O que é que eu vou fazer á minha vida? Tenho aqui uns contactos no telefone, mas de que me servem se não se conseguem ver de dia com esta claridade toda. O único numero que sei de cor é o da minha sogra, pois era para lá que a minha ex dizia que ia, sempre que saía de casa toda aperaltada – agora que nos separámos quem passa lá o tempo todo sou eu, mas só por causa dos netos. E da comida, confesso. Vou ligar a avisar, já que não sei onde estou, para não esperarem por mim para jantar.

Pois é, a minha ex agora tem um enteado novato. Ela disse-me que o estado lhe dá 200 aerios para ele não trabalhar. Ainda assim muito inferior ao que ganha o pai dele (236) de reforma por ter andado toda a vida, imaginem, a trabalhar.

O gajo quis espetar um piercing para valorizar o desemprego, mas disseram-lhe que a lei não lho permite. Mais sorte teve a irmã ao espetaram-lhe uma agulha para um aborto, mas isso já a lei autoriza.

O pai dele tentou fechar uma janela que dá para as traseiras onde 2 pombinhos (eu não disse um pombo e uma pomba) passam o dia a fazer marmelada (oxalá que não seja para a venderem em cubos) mas não deixam, porque isso é fazer obras. Mais sorte teve o tio dele, no ano passado quando foi despedido da fábrica, e lhe ficaram com a casa, juntou-se a outros nas mesmas condições e vá de construir umas barracas. Aquilo já parece um bairro, mas não há problema, não é considerado obras.

Eu também tenho um filho adolescente menor, que para não ficar a polir o sofá lá de casa ou na luta de 5x1 levava-o para me ajudar nas distribuições, mas o puto não pode andar comigo deste que apanhei uma multa, pois 2 funcionários do ministério na sei do quê, consideram isso trabalho infantil. Mais sorte teve a minha ex com o nosso puto de 6 anos. O gaiato tem mesmo jeito para contar anedotas. A mãe até já largou o emprego e acompanha-o até às 2 e 3 da manhã por essas terreolas do país ao fim de semana. Diz ela que ele gosta de adormecer encostado ao peito. Também eu gostava e mesmo assim deixou-me. Sacana do puto até nisto me ganha. O que me alegra é que ele não ganha só a mim, ganha para todos nós.

Quem também ganhou foi o que deixou de ir comigo. Ganhou uma chapada, estava a pedi-las. Agora querem-mo tirar por violência doméstica. Um colega dele lá da escola matou o pai, mas nem pode ir a tribunal, porque é menor.

Eu bem digo à mãe que tenho muitos gastos com ele, sobretudo seringas para uma doença hereditária, que o malandro apanhou não sei de quem e que na farmácia me custa 100 mil reis dos antigos (50 cêntimos). È preciso azar porque o filho da vizinha de cima, como é drogado, dão-lhe as seringas de borla lá na farmácia do bairro ali mesmo à minha frente. Também lhas dão de borla lá na prisão, quando passa lá umas temporadas, mas aí não lhe servem de nada, visto que é proibida por lei a droga nos estabelecimentos prisionais.

Aleluia, já não é preciso fazer mais contas há vida, passou agora mesmo um carro da prova que ficara para trás porque se lhe acabou a gasolina e me fez sinal para o seguir. Falei-lhe do aumento de preços, a meter conversa, satisfeito por voltar a montar na bici e seguir caminho, ao que ele me respondeu:

- Ná! Na foi do aumento. Eu meto sempre 5 euros, já dantes metia 1 conto de réis.

Parvos. Nem andei 10 minutos. Atão não é que a malta decidiu parar aos 200 km. Porque o itinerário tinha mais que o previsto e ainda faltariam 20, que o almoço em vez do combinado ia ser pataniscas devido ás inscrições de ultima hora, que as estradas por onde passáramos estavam todas esburacadas, que as descidas não eram tanto a subir como no antigo percurso, que não havia barritas, que não foram distribuídas as camisolas a dizer pratique actividade física mesmo no horário de trabalho (descarregar paletes também conta?), inscreva-se no LETANI (Liberte-se, Exercite-se, Transpire, Agora ou Nunca, Insista), que os policias de transito é que aumentaram o andamento, que no ano passado um ciclista tinha chocado com um carro dos acompanhantes que se metera no meio e a organização não obstante o seguro, nem um tusta tenha dado ao ciclista, que partira um braço, o cócxis, um artelho, que andou com alcatrão num joelho durante 3 meses, que ficou só com uma orelha dum lado e até ficou com um raio ligeiramente largo, coitada da bicicleta.

Ingratos, e até fui eu que tratei da inscrição. Parecia que estava num consultório médico a responder a tanta informação. Nem os gajos que vão a tribunal respondem tanto ao juiz. Já em novo tinha dúvidas com esta história do responder: a professora queria que eu respondesse sempre, mas a minha mãe tinha outra opinião e sempre me ensinou (perdão, me gritou):

- Cala-te, não me respondas!

Eles bem me pediram os dados do meu colega Sufrino Bombas para pôr lá na ficha de inscrição on-line, mas eu atirei-lhes umas datas do nascimento e do BI ao calhas. Depois queriam números da Segurança Social, da Caixa de Previdência e depois do Abono de Família, da coleira do cão e por aí fora. De zero a nove foi só escolher. Também com a prática que tenho de ouvir os colegas lá no trabalho à sexta-feira:

- Zéi, atira aí uns numbros pó bolhetim da malta.

… Epílogo

Vocês nem devem saber quem eu sou. Porque gosto muito de passar despercebido, nem gosto de ir lá para a frente mostrar os pneus novos, como alguns fazem. E só lá vou no final porque os meus colegas já se cansaram de se exibir, senão não ia. Então eu discretamente, ponho-me de pé, meto a roda grande e como sempre chego às paragens em promero porque gosto de me sentar no melhor sítio da sombra, não sou dos que me ando a exibir nas etapas. Só o faço porque como já vos disse, quero ser o primeiro a sentar-me e mais nada. Não tenho interesse em mais nada, aliás, só para vocês verem, quando o meu sogro me perguntou se eu queria a filha dele para casar ó quêi, eu prontamente, perdão, discretamente, disse logo:

- OK.

Estou tão viciado a mamar roda, que até a subir aproveito, pois sou tão discreto que posso andar na roda de qualquer um, quando não estão a olhar. Hoje, no inicio de uma subida, ia sendo apanhado, quando o gajo à minha frente se ergueu do selim, travei, desviei-me para o lado e raspei-me dali. Um dos que vinha atrás bateu-me com a minha roda traseira na da frente dele. O que me safou (disse ou não disse que sou discreto?) foi os outros terem-lhe acertado por detrás ao mesmo tempo que eu. È bem feito, para não andarem tão coladinhos na roda duma pessoas nas subidas.

Outra coisa que me dá gosto fazer nas subidas é quando o pessoal vai todo à rasca e eu venho lá detrás esgalhado e a ultrapassar neles pela direita. Mas deixem que vos diga, que é sempre com descrição que passo tanto um, como um montão deles. Hoje desviou-se um para o lado direito e ia-o traçando ao meio. Fartou-se de me pedir desculpa, mas no fundo pasmado de onde é que eu apareci, pois momentos antes pareceu-lhe ver que não vinha lá ninguém. Sou assim, o que é que querem: não venho lá e no momento seguinte, discretamente, já lá estou. Depois em voz alta procurando apoio popular, e mais uma vez, discretamente sublinho, recrimino:

- Vou eu a tentar recolar e este gajo atravessa-se à minha frente.

Mas mais giro mesmo é naquelas pequenas inclinações logo á partida, aos domingos, quando o pessoal ainda vai nas calmas a conversar e ainda vão aqueles principiantes do caneco lá na frente. Primeiro atiro:

- Hei pessoal, já viram tanta lesma. Olhem bem para estas lesmas. È só lesmas á minha frente. Afastem-se delas.

No inverno, então é de morte. Alguns usam um guarda-lamas na roda detrás, senão as calças ficam todas encardidas no sítio onde as costas mudam de nome. Nessas alturas não resisto em meter-me com eles. Simulo ultrapassá-los momentaneamente, enquanto aviso:

- Não podem vir na roda, senão salta laminha para trás.

publicado por Ubicikrista às 21:49

Ciclismo do passado - Opinião

Foi assim durante 20 anos… antes de aparecerem os montanhistas na estrada…

O artista monta-se na sua burrinha e vai só dar uma volta, diz ele. Alguém acredita nisto? Vejamos.

Aparece-lhe um Romão qualquer, ou uma descida, um vento favorável, uma subida curta mas dura, um tractor ou um mata-velhos, etc. Nem sabe a sorte que tem, se pelo contrário encontrar um Ferreira ou uma Carminda.

Ao domingo é mais do mesmo! Vai ao sabor do vento, isto é, acelera, sprinta e sobe de pé, quando os outros lhes dá na gana acelerarem. Não lhe dão descanso e apertam a valer. Às vezes fica com a certeza que se o deixassem descansar um pouco, que se baixassem ligeiramente o andamento, conseguia ir com eles, os galfarros. Tanto é que depois de desistir fica a vê-los ali a 100 ou a 200 metros, durante moitões de quilómetros, até definitivamente se irem embora na parte final, mas aí ele já tem o dia ganho.

E nem lhe falem em travar ou avagar, enquanto se espera por alguém, isso é musica que já não lhe entra no ouvido. Diz que vai andando, ou então, raspa-se à sorrelfa sem aviso.

Isto durante anos, porque se convenceu que se levar uma sova hoje, mas se treinar durante a semana, cada domingo que passe estará a andar melhor. Mais, se puder treinar com os que andam bem, qualquer dia anda como eles ou até melhor se alguém dos bons faltar!

“E se te deixasses disto e te tornasses um especialista numa só área”, dita-lhe a consciência? Mas qual? Sprinter? Trepador? Rolador? Rebocador? Não tens hipóteses! Os lugares já estão preenchidos. Quando muito aguadeiro... para ir ao carro de apoio e com a desculpa dos bidões ou furo, descansar lá um pouco.

Que chatice! E ele que ia só dar uma volta.

Pois bem! Podes continuar a dar a tua volta. Podes fazer como, por exemplo, o Quaresma, que ia e vinha a Montemor quase todos os dias sempre com o mesmo ritmo, o dele, e foi o seu corpo que lho ditou.

Sem o saber, habituou o organismo àquele esforço e àquela resistência, isto pelo menos durante as duas horas do percurso. Resultado: quando em grupo, nas primeiras duas horas ninguém o batia. Só fraquejava ligeiramente na hora e meia seguinte.

Saberão porquê? O corpo só estava habituado àquele esforço, isto é, só tinha gasolina super para duas horas, a partir daqui gastava da normal, entenda-se reserva.

Não é difícil imaginar-lhe a prestação se pudesse treinar 4 horas àquele ritmo pessoal, onde ninguém lhe incomodasse o treino.

Em suma: as mudanças de ritmo súbitas, quer nas subidas ou nas descidas, torna qualquer um de nós num ciclista polivalente, mas especialista em ... NADA.

Lembrando o puto que queria ser mini playboy, nem chega a ser mini trepador, nem mini sprinter, nem mini qualquer coisa, consoante a especialidade que treine mais frequentemente. Quando muito fica-lhe o mini hábito e depois é só emborcar nelas.

Recuperemos as situações atrás descritas para as alturas em que se dá um súbito aumento de ritmo ou quando se insiste em mantê-lo nas subidas, as pulsações disparam para valores incomportáveis para a idade. Mas isso já será assunto de um futuro blogue.

 

publicado por Ubicikrista às 19:58

Quando me dopei pela primeira vez? Quando era amador não fazia estes tratamentos, como amador eu não me dopei. Bom, cafeínas sim tomei, Não me nego em dizer que não tomei cafeínas. Mas este assunto agora é outra coisa.

Nas categorias de amador terminei um Campeonato de Espanha... e se Deus quiser, uma pessoa que já está debaixo da terra, pudesse levantar a cabeça (refere-se a Chava Jiménez), ela poderia contar para onde é que eu fui depois da corrida. E está lá escrito que eu passei num controle. Se tivesse que cortar um braço ou uma perna para que essa pessoa pudesse estar aqui no mundo, fá-lo-ia.

Amador: “Aí não cheguei a provar EPO, nem as hormonas...”

Naquele Campeonato de Espanha, em Córdova na subida ao Cerro Muriano, fiquei em segundo, atrás de um corredor basco. Nesse dia passei num controle da federação e depois levaram-me pra um hotel, onde estava uma equipa de profissionais, de quem não te vou a dizer os nomes. Não é a mesma equipa onde corri. Mediram-me os valores do sangue e esse médico que diga, se se considerar atingido, ele que diga os valores de sangue que eu dei. Não chegava nem aos 40 de hematócrito. E com esse nível fiz segundo.

Não como na última Volta a Espanha, quando algum hipócrita dizia que eu tinha 50 de hematócrito. Não tinha nem 48! Tinha 46 e meio e numa veia 47. Isso não são os 50. Não é o mesmo que um carro te custe cinco milhões ou que te custe nove. São três milhões de diferença.

Como amador não provei EPO, nem a hormona de crescimento... !Jamais. Jamais...! Dizem-me que essa categoria agora está podre, mas isso eu não sei. Na minha época, quando eu lá andava, não estava. Tenho que dizer, e digo-o sinceramente, que eu, antes de ser amador, alguma vez na vida, jamais, jamais, tivesse tomado recuperadores. E foi na categoria de amador que me comecei a recuperar. Quer dizer, com soros, com qualquer soro glucosado, eu mesmo punha duas seringas de 20. Isto como amador. Eu não escondo nada. Não sou um cobarde. Se alguém se sente indignado, que salte cá para fora e fale.

Ultimamente já parei para pensar nos efeitos secundários da dopagem e claro que pensei deixar o ciclismo. Eu entrei neste desporto com a maior ilusão do mundo, porque marquei uma meta e trabalhei para ganhar dinheiro ou para chegar a ser alguém. Não creio que tivesse sido tão mau como amador, quando ganhei a Volta à Extremadura, fiz segundo num Campeonato de Espanha, terceiro na Volta a Sevilha... e só corri seis meses nessa categoria.

Cada um de nós marca as metas que quer alcançar. Com ilusão e ambição ganha-se tudo. Entras numa dinâmica que não te vou mentir. No primeiro ano foi tudo cor-de-rosa. No segundo ano começas a ver as rosas, mas sem as pétalas, e no terceiro ano já notas os espinhos. Tens que enfrentar coisas que vês que estão ali mesmo.

Eu comecei a ver coisas porque, claro, todo isto tem efeitos secundários. Diz-se da hormona de crescimento que se tens uma enfermidade é como se a estimulasses para que a tivesses antes de tempo. Tudo tem efeitos secundários. O tabaco. Se fumas um cigarro, não te acontece nada, mas se fumas todos os dias dois maços, vai-te acontecer.

Ultimamente tenho pensado que morrerei antes dos 50 anos. Dás-te conta de que estiveste a brincar com produtos que atraem as doenças antes de tempo. Eu trabalho para ganhar dinheiro. É suposto que cada um trabalhe para que lhe paguem e para tentar ganhar mais dinheiro. Se eu morrer, pelo menos que a minha família fique bem.

Pressão profissional: “Se não andas, vais para a rua. Então tomas...”

Isto é uma pescada de rabo na boca. Se não andas, vais para a puta da rua, ou aceitas ou deixas. É claro que se poderia correr sem dopingue, mas um ciclista não poderia fazer o Tour e a Vuelta, por exemplo. Haveria coisas que não se poderiam fazer, porque estarias no limite. Recuperar-te-ias pouco a pouco, mas se o ferro te baixar, como é que te recuperas?

Poder-se-ia correr, por exemplo, se as etapas de 200 quilómetros descessem para 140. E os ciclistas dariam mais espetáculo. Mas como nesta vida tudo se move por dinheiro... Quando vês que andaste em determinados sítios, que fizeste o teu trabalho, e para quê? Para que te paguem dois milhões de pesetas? Se eu cair de um andaime, azar é porque caí, mas aí ninguém me está a matar.

Mas porque é que não o dizemos? Tu já viste algum ciclista que tenha uma profissão? Quantos há no pelotão? Eu conheço dois ou três, muito poucos, porque a bicicleta obriga-te a treinar muitas horas. Tens que trabalhar todos os dias cinco horas, e vais deixar isto agora, depois de toda a puta de uma vida?

O seu futuro: “O corpo ressente-se do dopingue”

Não interessa se abandono ou não. Continuo e dizer, que fique claro, que não acuso companheiros meus. Falo de mim. Mas, como já disse ontem no anterior artigo, sabes como isto deveria acabar? Sancionando também o médico e o diretor.

Claro que pensei em deixar isto. Se tiver que comer em vez de duas costeletas uma, pois que se lixe, mas faço-o. Já pensei. Para quê? Para ganhar oito milhões de pesetas sem saber se chegarei aos 50 anos? Não sei mesmo se lá chegarei, porque creio que o corpo se ressente. Um rim já o acusa.

E já que estamos a falar de recuperadores, de protetores hepáticos, o S’Amet, o tal que se vende nas farmácias, e que dia sim, dia não tens que o meter. Isto está permitido e serve para nos proteger, mas quem anda a pôr ladrilhos não tem que pôr isto? Isto é-nos dado para as drogas, então isto também são drogas. Não o pó branco, que alguns dizem por aí que eu o trafico. Drogas há muitas...

Obrigam-me a dopar-me? É uma pregunta difícil de responder. Mas eu não me escondo. Insisto que esta é a pescada de rabo na boca. Tu passas para o ciclismo profissional com toda a ilusão do mundo, crendo que vais construir o teu futuro e quanto mais andares, mais ganhas. Chega o médico e diz-te: Vamos-te dar isto. Se tu dizes que não, ficas marcado para o próximo ano.

A ACP: “Como é que me defende a minha associação?”

E porque é que a ACP (Associação de Ciclistas Profissionais) não faz nada? Não tenho resposta. Creio que a ACP existe para apoiar o ciclista. A mim fizeram-me chegar uma mensagem, através de um número de telefone, em que me diziam que estavam a fazer um pacto de silêncio. Não foram exatamente estas palavras, mas mais ou menos. Depois todos vimos por aí o que dizia o comunicado assinado por todo o pelotão.

O ciclismo é a galinha dos ovos de ouro, mas isto tem que acabar. Se tiver que ir a um julgamento, irei a um julgamento; se tiver que ir a tribunal, terei que ir a tribunal. Tenho que ser sancionado porque não me pagam, porque me fizeram dopar-me, porque isto é a tal pescada de rabo na boca, porque se tu não andas vais para a puta da rua e então tens que tomar isto?

No meu primeiro ano de profissional não me ofereceram nada, mas no segundo ano já ofereceram. Eu pago por ser socio da ACP, 600 euros por ano, pago a licença federativa do meu bolso, pago uns 10 por cento dos prémios aos auxiliares da equipa, que o merecem, porque são pessoas trabalhadoras. Então, onde é que a minha associação me defende? Aqui, tal e qual, também há que abrir uma porta de investigação.

O despedimento ocorreu na antepenúltima etapa da passada Vuelta, quando dormimos em Villalba. Em todas as etapas ia-me atrasando de tanta cortisona que já levava em cima do joelho. Estávamos na zona onde moro, logo, tinha que continuar ou rebentar. Então diziam-me: “Pareces recuperado”. E eu respondia que não, porque ainda me doía.

O despedimento “Acusam-me de ter sexo e de me automedicar”

Meti-me numa fuga. Perto de Torrelodones iam-me a dar picadas, mas que desapareciam. Cheguei a Leones. Mandaram-me parar, com tanta sorte que até estava com problemas nos auriculares. E eu ali parado. E os do carro da equipa: “Por Deus, porque é que tu não respondes”. E lá ia dizendo que estava parado. Querem que fique aqui parado na berma da estrada ou que dê a volta em direção contrária?

Depois de chegar, saí para tomar uma coca-cola com um amigo e outra pessoa. Telefona-me uma amiga a dizer que me vem ver. Estivemos a tomar qualquer coisa e foi jantar. Depois de jantar mediram-me e tinha 46 com uma pessoa e com a outra 47 de hematócrito. Depois subi para o quarto e fiquei a conversar com a minha amiga.

Tocam à porta e digo: “Entre!”. A moça não se escondeu, porque não estávamos a ter sexo. Abro. “Podemos falar?”. E o diretor, acompanhado do manager, disse-me: “Tu amanhã não sais, porque não estou a gostar nada do teu comportamento. Mas, como é que podes crer que estarás nos 50”. Digo-lhes que iria estar nos 50, porque duas pessoas já me tinham medido.

Pensariam eles que me estava automedicando. Ma s porque é que me vou eu a estar automedicando! Se agora não há EPO da que não dá positivo. Indisciplina, foi isto que contei ao AS. Os anteriores desentendimentos com o diretor tinham sido por culpa de outras negligencias médicas.

É então que me expulsa. Digo-lhe que terá que me pagar os gastos. Responde-me que não tem dinheiro. Replico: “Esse não é problema meu”. No dia seguinte não saí. Às três da tarde expulsam-me do quarto. Desço e vejo o manager ali que estava detido. Levo um papel com todas as despesas de 2002 e princípios de 2003. Faço uma lista. Disse-me: Tenho um problema, fiquei com o manager mas tenho que ir. Podes assinar aqui e amanha ao jantar dou-te o recibo”. Mas no dia seguinte não me deram nada.

O dinheiro já me o pagaram, mas esse papel em branco que assinei acabou por ser utilizado para a minha carta de despedimento feita à mão. Nem DNI de um, nem de outro, nem de nada. A partir daí reclamam umas despesas do princípio do ano, do Hotel Patilla. Descontam-mo da lista. De uma lista de 2.900 euros fiquei apenas com 800. E tenho por aqui o recibo a justificar.

Drogas: “Do Prozac às drogas vai um passo”

Depois disso chegou um fax onde dizia que me retinham o pagamento de dezembro porque não havia devolvido as bicicletas. Depois enviei-las. Já lá estão, mas e eu recebi o salário? Aqui não diz que está pago o salario. Já foi tudo enviado. Agora denunciei-os. Devem-me ainda o mês de dezembro.

Eu tenho um contrato até 31 de dezembro de 2004 por dez milhões de pesetas. Pois bem, telefono para me fazerem a carta de despedimento. E nada. Telefono para a gestora. Disseram-me que a fariam. Saio de Ávila para Alicante com um amigo de carro, a 220 à hora. Chego e peço a alguém uma cópia do contrato original e dá-me esta carta manuscrita donde diz que acabou em 2003. E o fulano disse-me: “Mas esta carta não a escreveste tu?”. e respondo: “Não, não...Esta é a minha assinatura, mas esta carta não fui eu que a escrevi”. Esta é pois a carta de despedimento que me deram. E depois dizem que é por mútuo acordo.

Depois disseram que eu teria um clube de alterne, oxalá. Depois acusaram-me de narcotráfico. Eu não sou um camelo carregador de pó branco, como me chamou um diretor quando telefonou para a minha casa. Isto é muito grave. Se assim fosse teria sete carros, sete casas e não viveria num apartamento alugado. Eu não tomei cocaína. Só experimentei um charro quando andava a estudar no Instituto e chegou-me tanta fome que comprei uma Pepsi e um pacote de gomas. Nunca mais.

Uma coisa são as drogas e outra a dopagem. Isto não quer dizer que um corredor seja um drogado dependente da cocaína por causa do ciclismo. Mas já será se te envolveres noutras coisas como os antidepressivos, o Prozac. Isto estimula-te. Se tomas antidepressivos, tomas duas pastilhas por dia e ficas com uma moca do caraças.

O Prozac é uma coisa que se tomares duas pastilhas diárias, andas eufórico. Por isso quando deixas de tomar, crias uma dependência. Isto não dá positivo. A pastilha da felicidade, é assim que ouvi dizer por ai que lhe chamam. Duas ou três pastilhas por dia. Porque o corpo já se encontra derrotado. Não dormes. Tantos dias, tanta pressão, muito stresse. Pela manhã, pequeno-almoço, isto, autocarro, ou aquilo, corrida, duche, massagem, jantar, mais daquilo, são muitas coisas já... Recorre-se ao Prozac, ou à Floxetina, que são medicamentos que realmente provocam dependência.

Sobre isto não te vou mentir, porque estás na maior, falando depressa e bem. Eu tomava-os para as corridas, para as épocas, e depois do Tour fiquei num estado fastidioso. Fui ao médico de família porque estava desanimado. Receitou-me Prozac. Quando estava desanimado, depressivo, tomava sempre o Proza. Tenho receitas e justificações do médico. Daqui às drogas vai um passo. Não pode vir uma pessoa qualquer sem mais nem menos e acusar-me a mim de que sou um camelo do pó branco. Isso é muito forte.

publicado por Ubicikrista às 19:50

"A cortisona destruiu-me o joelho”

Tive uma lesão no joelho há cinco anos e passei pelo bloco operatório. Sofria de uma condropatía rotuliana e tiveram que me soltar a rótula esquerda, ainda que nunca mais me tinha dado problemas.

De facto, a tendinite que tinha ficava por detrás do joelho. Então, eu na Volta à Espanha 2003, no primeiro dia fiquei para trás. Tive também um confronto com o diretor, que me disse que eu me atrasara porque me apeteceu e que me estava a rir dos meus companheiros. Isto deu-se em Gijón, no dia do contrarrelógio. Eu descolei numa pequena subida pouco depois da partida devido ao joelho e por mais coisas que não veem ao caso.

Vuelta 2003: “Infiltravam-me quase todos os dias”

Usavam a cortisona, cortisona, cortisona... para a minha lesão no joelho. Dia sim, dia não, dia sim, dia também, dia sim, dia não, quase todos os dias era infiltrado.

Comecei a infiltrar-me no início da Vuelta porque estava chateado. Chegou um fulano que não tinha nada a ver com a equipa e também ele me infiltrou. Era amigo do diretor. E infiltrou-me até no dia seguinte no carro porque ainda me doía.

A etapa saía de Andorra e chegava a Barcelona. Recordo-me que durante a corrida ia a falar com um corredor, que ia ser visto por um médico de Barcelona por um problema no joelho que ele também tinha. Mas disseram-me que não se me ocorresse sequer ir a esse médico. E eu que pagava do meu bolso, eh! Então mal cheguei ao hotel continuaram-me a infiltrar, infiltrar... Pensei que na etapa do Cerro Muriano ia morrer de dor. Todavia diziam-me que era mentira minha. Pensava que este porto, da etapa de Córdova, não o subiria.

Um corredor que esteja bem não creio que tenha que se estar a infiltrar sempre durante uma Volta a Espanha, porque depois vejam a cova com que fiquei no joelho (mostra-a ao fotógrafo Jesus Rubio).

Agora, com isto tudo, terei que passar por vários médicos. Para já tiraram-me a bicicleta, mandaram-me um faxe a pedirem-me a bicicleta da equipa. Tive que pedir uma bicicleta a uma pessoa que tem uma equipa amadoura, e que em tempos foi profissional, e que me emprestou uma. Não me cobrou nem um cêntimo. Tenho que deixar aqui o meu agradecimento.

Recomecei a montar a na bici e sabe-se que se eu tenho às vezes uma bolsa de líquido no joelho é porque o tenho afetado, porque nasce-me uma bola, e fico com um hematoma que desce até ao gémeo. Considero que tenho todos estes problemas devido a um tratamento excessivo.

Creio que um desportista de elite, como ocorre com os futebolistas que têm recaídas devido a uma lesão, não os infiltram a toda a hora, porque os mandam parar. Mas claro, como eu tinha toda a pressão que tinha durante todo o ano, com todas as broncas em cima durante a temporada, pois assim que se passou o que passou.

Alguns podem pensar que foi tudo por minha culpa! Como posso eu saber como se infiltra um joelho, com todos os tendões que lá tem! Com tantas outras coisas num joelho. Isso tem que ser feito por um traumatologista ou uma pessoa que saiba o que tem que infiltrar e aonde. Como vou eu andar a infiltrar-me numa perna por detrás, quando tens que estar relaxado.

A minha tendinite começou por detrás e depois, de tanto forçar, passou-se-me para a frente e vejam como tenho o joelho (volta a mostrar). Não me retirei, porque diz-se que eu não nunca acabei nenhuma grande prova, que eu me ficava a rir dos companheiros e de todos. Pois, repara, como se houvesse razão para me retirar. A pressão que um corredor tem, não o sabe a Imprensa. E as broncas que um corredor sofre, também a impressa não sabe..

Boletim de saúde: “Onde o médico anota o tratamento”

Estes tratamentos de cortisona não os podes fazer se não estiverem assinalados no boletim de saúde. E já falei deles no capítulo três. Por falar nisso, queria voltar a explicar uma coisa que igualmente não ficou bem esclarecida. Eu estava um dia em reunião num sítio e uma pessoa disse-me: “Tu, chavalo, só tens estes produtos marcados no boletim?”. Referia-se por eu ter lá poucos escritos.

Pois que dizer, pois sim. O produto quem te o dá é o médico. Resulta que isso tem que estar prescrito no boletim de saúde e assinado por um médico. E eu disse-lhe: “Pois claro que sim. Tu, o que é que queres que eu tenha? Que queres que eu tenha? Eu tomo o que me dão”. Não tomava nada mais. Quero que isto fique claro.

Transfusão de sangue: “Pedem-me para recorrer à minha namorada”

As transfusões não se utilizam em voltas pequenas, para que conste. Funcionam assim. Tratas do teu sangue com um medicamento que é a EPO. Sobes até valores acima dos 50, eu cheguei aos 56. O que mais tomates tiver, o que mais arriscar, é o que mais sobe. O que acontece é que depois, quando já tiveres subido o teu hematócrito, entras num ciclo, desde que te meteste a última dose de EPO, para que esse sangue se limpe. Passa-se a treinar menos para que não te desçam os valores e metes-te muito volume de treino, entre 100 ou 150 quilómetros,

Páras quinze dias antes da grande corrida. Então extraem-se dois sacos de meio litro cada um. Depois espera-se que passes no controle prévio de uma grande volta por etapas, ainda que no meu caso, no último Tour não se fez assim. Automaticamente, nessa mesma noite, poe-se o primeiro saco. O sangue desse saco desce-te três pontos. E o segundo saco faz-te baixar também outros três pontos. De todas as formas, nos dias antes do Tour pões albumina e soro para fazeres baixar o hematócrito de modo a que a UCI não suspeite das equipas.

O seguinte saco será usado durante a corrida, quando apanhares uma quebra de forma e passas de teres tido 48 ou 50 de hematócrito, a teres só 44. É então que te poem o próximo saco. Poem-to no nono ou décimos dias da prova. Ao pores meio litro mais de sangue, notas pressão na cabeça, dores em varias partes do corpo, inchaço, pesadez, sentes-te pesado como uma bola... mas depois, fazendo rolo vais suando e eliminando a água e permanecem os hematíes.

As transfusões bem-feitas devem fazer-se em centros especializados. Tem que estar a uma certa temperatura. Para meteres um litro de sangue demoras mais de meia hora, mas para o tirares, muito pouco. No dia seguinte de o tirares não se treina, não podes fazer esforços, não te podes sequer mover.

Ultimamente ouviu-se falar em utilizar outras pessoas para as transfusões de sangue. Repara, eu não o fiz, mas na vida há que ser sincero e não batoteiro. A mim ofereceram-mo. Eu não tenho que por a vida da minha mãe, dos  meus familiares nem da minha namorada em perigo. A mim ofereceram-mo, porque o corredor quando está nas corridas não pode andar com os ditos produtos como a EPO. Terias que enriquecer o sangue dessa pessoa e depois extrair-lho, mas não sem antes fazer prova de RH.

Ofereceram-mo na presença minha namorada, Marina, e com pessoas por perto. Perguntaram-me se haveria algum familiar que tivesse o mesmo grupo sanguíneo que o meu. Se eu fosse médico, a alguns metia-lhos pelo cu acima. Que o juiz assuma e que apanhe e corte as cabeças de quem seja...

Estou a pôr demasiado em perigo a minha vida. Com toda a merda que há, todos os hipócritas disfarçando... eu não vou dizer se os outros o fizeram. Não dou nomes, só me estou a acusar a mim, nada mais que a mim. Nem a desportistas, nem a ex. companheiros, nem equipas... Que fique bem claro nesta conversa, que eu não culpo ninguém, perceberam?

Tens que te dar conta que quando estas carregando, o problema está em que tens que ter um grande controle. A equipa tem quatro ou cinco máquinas (centrifugadoras), porque se não as tiver vais ter que ir todos os dias a uma farmácia. E o que é que te vão dizer quando entres um dia na farmácia e estejas com valores de 50 de hematócrito e noutros lhes apareça 56?

Então, não posso estar a ir todos os dias um laboratório para me tirarem sangue. Dá-te conta que te estás a por 4.000 unidades (de EPO), 4.000 unidades, 4.000 unidades, 2.000 unidades, 2.000 unidades, e isso sobe, mas há que controlar-lho, porque é sabido que já houve 14 mortes.

EPO: “Até duas vezes quando treinas”

Podes picar-te dez, doze, treze vezes, catorze vezes por dia, quinze vezes por dia... Sim, há dias em que te picas quatro vezes para fazeres a medição, porque se estás alto, se tens uns valores altos, desde já te digo que terias que te medires, porque isto é muito complicado.

Insisto em que eu não posso estar a ir ao laboratório para me medir e tal, porque eu agora estou nos 50 e se passar para 56, não é? Porque as pessoas vão dizer o que se passa, não é? O que se passaria se numa farmácia ou num laboratório te virem nos 45 e no momento seguinte, trás, 56. E subiu dez pontos! Isto não sobe porque só fumas sete maços de tabaco diário, não é?

Então há dias em que metes o hematócrito quatro vezes. Bom, uma fazes-lha mal acabes de te levantar; outra depois de teres ido treinar, outra a meio da tarde e outra à noite.

Depois, se nesse dia te calha EPO, pois que seja EPO também, se noutro dia te calha... isto podes tu por... se tens que subir com um tratamento muito rápido, pois então ponha-se um tratamento, poem-se oito miligramas na veia por dia em duas vezes. Quatro são depois do treino. Não antes, porque podes ficar com tonteiras ou o que seja. E depois outros quatro já durante a noite, se tiveres que o fazer subir antes e rapidamente, percebes? Ou seja, é muito complicado...

De momento já temos quatro picadas com a centrifugadora e dois de EPO, seis no total. E depois se te calha a hormona de crescimento... isto só se faz depois do treino, porque estes medicamentos podem-te deixar mareado ou podem-te causar problemas. E claro, vão sete picadas, não e?

Mais o ácido fólico, a vitamina B-12 e o Ferlisit, que é ferro. Isto tudo, tu próprio o aplicas enquanto estás a meter sangue. Este é um tratamento de ferro e ácido fólico para que melhor o assimiles. E, claro que tens que o meter. É o que combina um tratamento de EPO. Não acredites que não tenha coisa...

Soro, aspirinas...: “Evitar uma paragem cardíaca”

E depois tens que pôr mais. Se estás muito alto, muito alto, muito alto, pois terias que meter soro. Isto faz-se durante a noite. Também se tomam aspirinas ou o que seja, porque uma pessoa com cinquenta e pico de hematócrito, tens que te orientar...

No passado chegaram a morrer ciclistas holandeses por isto, pode dar-te uma paragem cardíaca. Porque as pulsações de uma pessoa, com um tratamento, quanto te baixaria... baixaria um porradão, ficar-te-iam nas 36, 37 pulsações quando estiveres de noite relaxado na cama. Quando tiveres tomado muito e estejas com um valor alto, paciência, tens que te aguentar.

Então, para fazer baixar isso toma-se um soro glucosado, que costuma ser o Hemoce, para que não te deixe muito à rasca. Mal o poes desce-te quatro ou cinco pontos. Tomas duas aspirinas e já está.

E ainda pode haver algum dia que tenhas que pôr cortisona, o HMG, que é uma hormona masculina para compensar a testosterona com a epitestosterona, ou tens que por algum cofactor, como o Geref, Neofertin, coisas dessas, que são tratamentos caros dos que já se falou aqui nos capítulos anteriores.

Quer dizer, no total podem ser doze ou treze picadelas num dia. Não em todos, claro. Mas depois tomas um relaxante muscular ou coisas parecidas.

Um tratamento bom é o de mês e meio antes, porque tens que o deixar de tomar quinze dias antes da competição, mesmo que um outro companheiro dissesse recentemente que eram três dias, mas têm que ser quinze, porque se não repara no que se passou (no Tour).

Na primeira picada: “Suei de medo como um frango no espeto”

Eu, em pequeno, recordo-me de uma ajudante de enfermeira que me pregou uma chapada porque não deixava que me tirassem sangue. Pumba! À frente da minha mãe. Com quatro anos ou por aí. Tinha pânico às seringas. Afinal acabas por teres que as usar em casa por muito menos.

De início para pôr coisas ia a casa de uma pessoa, era ela quem me picava lá na minha terra (Zarzalejo). A pessoa em causa era médica e dizia-me: “Quem te manda isto? E isto? E aquilo?”. E depois, claro, a partir daí teria que ser eu a meter, não sei... mas se não te picas, vais de patins no dia seguinte.

A primeira vez que me piquei, recordo-me que me enfiei numa casa de banho para meter o HMG. Porque a centrifugadora do hematócrito só a tenho desde há dois anos. Porque ganhando 200.000 pesetas não a podia comprar. Como poderia eu comprar uma centrifugadora que custa 300.000 pesetas! Tinha primeiro que poupar, não é?

Recordo-me que nesse dia me meti numa casa de banho e caíam-me pingos de suor, só de ver, e fechei os olhos. Dizem que o rabo se divide em quatro partes e começas a contar a primeira de baixo, na nalga de baixo. Piquei-me no lado direito e digo-te a verdade, suava de medo como um frango no espeto. Até que lá me consegui picar bastante incomodado. Mas depois lá te habituas, ultimamente...

O HMG pica-se no rabo e vai para o músculo. O que tens que fazer é tirar o êmbolo (da seringa) para ver se picaste alguma veia e se não saí sangue, metias o HMG, mas se saía, tinhas que voltar a picar. Claro que com estes produtos não podes ir a um médico de família para que te piquem, porque automaticamente fazem-te perguntas. Quem te receitou isto? E vão-se à pessoa.

A minha companheira, Marina, disse-me que se soubesse que um ciclista tinha que se picar tantas vezes, ela teria preferido que eu jamais fosse ciclista. Que isto era uma vergonha, foi o que ela me disse.

Depois vem o tema da recuperação. Todos os dias o médico tem a tua recuperação preparada, tem Esafosfina, Tationil, S’Amet, mas nunca sabes o que é, porque nunca abre o produto à tua frente. Sei o que é Esafosfina, porque arde muito quando te o poem na veia. Sentes um ardor que à s vezes dizes: Tira-me isso!

Onde picar? “Nos cotovelos, mãos, pernas...”

Picas-te em vários sítios. Porque temos que nos picar em todos os dias de recuperação, picar-se para mais coisas... no rabo, não tenho carne, porque a trago comida; acontece-me o mesmo que no joelho, o que se passa é que como é osso não dói, não é? Então acabas por te picar nos cotovelos, nas veias dos cotovelos, nas mãos, nas veias das costas das mãos e ultimamente, quando já estás tão magro, acabas por te picares até nas pernas.

Dói-te tudo e ficas com contusões, contusões, contusões... Mesmo um médico não tem uma fiabilidade de cem por cento, então um ciclista... eu o ano passado ponha em mim mesmo o recuperante, este ano poem-no os médicos. Não tens confiança nenhuma se apanhas a veia e tens que te voltar a picar. Imagina, já são duas picadas, e são 21 dias. Mesmo que só fossem duas picadas diárias, quantas seriam?

Se nos obcecarmos bem nas corridas, lá vêm as picadas. Algumas vezes temos que levar manguitos por isso mesmo. Ao picares-te ficas com uma contusão e tens que sair com os manguitos, mesmo que depois os tires. Mas claro que os jornalistas se apercebem, às vezes vêem-se as contusões. Repara nos cotovelos... Repara nas costas das mãos... Vêem-se, vêem-se...

Insulina: “Combina com outros produtos”

Falando de picadas, ainda não contei nada da insulina. A I3 é insulina. A marca não sei, mas pode-se ver neste plano de medicação (mostra um documento que não reproduziremos nestas páginas), que está escrito à mão e pode-se fazer com ele uma peritagem à caligrafia.

Isto mete-se depois dos treinos duros. Eu não sei para o que é se utiliza, porque é uma coisa que, falando verdade, nem cheguei a meter ainda isso, nunca a usei. Eu não sou diabético. Um diabético tem que pôr insulina, não é? Como está aí escrito como fazem os médicos. Eu tenho uma pessoa na família que é diabética e tem que usar insulina.

Realmente, neste caso não sei que função tem. Como podes ver no plano de medicamentos, aqui está I3. Como também está o HM, como se vêm os asteriscos, como se vêm símbolos e como se vêm muitas coisas mais.

Usa-se quando se está em plena forma e utiliza-se com produtos derivados do tratamento que combine. Dá-te conta que se fazia uma marca ali de acordo com os treinos duros. Tinha acabado um treino e não sei se foi o médico que comentou que se tinha que utilizar quatro linhas de insulina. Uma seringa de insulina, que fique  claro.

A insulina vem num frasco da mesma cor de um barril de cerveja, uma cor assim. O vidro é igual, vem com uma chapa por cima e com uma cola de borracha. Não me recordo do nome, a cola de borracha cheira tão mal que empesta. Cheira a planta química qualquer, sei lá eu.

Tu mete-lo quando chegas de um treino. Dã-te conta que estamos no plano de treinos duros. Quer dizer, que eu chegava a casa, tomava banho e colocava-o como o médico me ensinava. Este é um tema que não é meu, isso é de um médico e sim tiver tomates que saltem e desmintam. Há um médico que eu não referi e acontece que  apareceu por aí. Se esse médico se sente culpado no meio disto.

publicado por Ubicikrista às 19:45

"Deram-me  hemoglobina para animais"

Há hemoglobina de várias marcas: o Oxiglobin, do laboratório Biopure é para animais e há outro laboratório que é o Hemopure com hemoglobina para humanos, não sei ainda como se chama. Eu só conheço o Oxiglobin, que é a de animais. Creio até que é um produto que não se comercializa em Espanha, é estrangeiro.

Nos Estados Unidos, e creio que em França, vende-se em farmácias, mas tenho que o confirmar pela internet. Isto vem em caixas de 120 miligramas, divide-se em 60 e 60, é de cor sangue, muito escura e toma-se consoante o nosso peso.

Oxiglobin “Usada para cães com anemia”

O que se passa com este é que te podes dar bem com ele ou dares-te mal, porque estamos a falar de uma coisa para animais. Tu não o podes meter numa pessoa a caixa toda, terias que calcular o equivalente segundo o seu peso. Usa-se para cães que têm anemia e coisas parecidas.

Tomei este duas vezes, ambas na temporada de 2003. Uma vez fui a um Campeonato de Espanha de contrarrelógio em Madrid e a outra no passado Tour, no tal dia em que acabei por perder o conhecimento e  abandonar. Foi de manhã, tomei-o duas ou três horas antes para que fizesse efeito. Isto o que te faz é que mesmo que tenhas o hematócrito muito, muito baixo, a hemoglobina está muito, muito alta. O limite da UCI é de 17.

A hemoglobina alta antigamente detetava-se, mas eu não sei... não sei se o dizem para assustar os médicos e todos aos ciclistas, dizendo que se desteta ou que não se detesta. Não se tem que ser tonto e é da praxe. Venham os vampiros ou não venham de manhã, poem-te isto e o efeito depois tê-lo-ás ao longo da etapa. Depois, quando voltares, já se terá gasto, porque não é um produto de longa duração. Quando te montas na bici e estás a tope até se gastar. Vamos imaginar, por exemplo, uma etapa de 180 quilómetros. Vais sempre com o pulso a tope.

Todas estas hemoglobinas são sintéticas. Esta vem num caixa como se fossem aminoácidos, prateada e com o nome. Não sei se é comprada em farmácias ou não, mas tem que ser um produto caro, e penso que o é.

Após os acontecimentos de San Remo no Giro de Italia de 2001 falou-se de um produto de nome Hemassit, mas eu não o conheço. Haverá mais hemoglobinas, claro. Eu cá não me meto nisso. Deus queira que aquele corredor envolvido tenha uma grande temporada, porque é um bom corredor. Pois já viram, se se tivesse passado comigo estava no olho da rua. Para que vejas as diferenças entre como tratam um craque e um pobre trabalhador, compreendes o que digo? Mas eu o Hemassit não o conheço. Mas conheço, por exemplo, o Hemopure, seja francês ou estado-unidense.

Actovegin: “É plasma de bezerro”

Depois utilizei o produto Actovegin, que é plasma de novilho jovem. É um produto alemão e muito caro, mas não sei o preço. Na gíria ciclista chama-se gás bus. É um produto que oxigena muito mais o sangue e é indetetável. O seu efeito é apenas de um dia. Põe-se para uma etapa que seja complicada. Por exemplo para um crono. Numa etapa difícil, o corpo oxigena mais.

Isto é como uma moto de 500cc, com truques, poes um carburador e obténs mais gás. São umas ampolas de vidro, que não se poem inteiras. Sim é com uma seringazinha de 20, poe-se 10 de Actovegin e 10 de soro. Injeta-se na veia.

Nos cronos curtos poe-se pela manhã, mas nas etapas complicadas quando tens que ir à luta injeta-se no dia anterior. Em concreto para um contrarrelógio combina gás bus, bicarbonato, ácido láctico, Cafeín, uma marca de cafeína que se injeta no rabo e que, por certo, dói como o caraças. Dizem as pessoas que se não é cafeína, não dói.

Método para mascarar: “Grãozinhos para deteriorar a urina”

Outra coisa que parece que há por aí são uns pós ou uns grãos, algo assim, que deterioram a urina, mas eu não os cheguei a ver e tampouco sei como se utilizam.

Depois há outras coisas de que ouvi falar. Eu só usei o que me deram. Chegaram a dizer que eu me automediquei, mas nunca dei nenhuma vez positivo, isso que fique claro. Estão aí os controles da Federação Espanhola e se têm amostras guardadas, que as analisem.

Nandrolona: “Usa-se no inverno no ginásio”

A nandrolona comercializa-se como Deca Durabolin, que é um produto da Argentina, e Deca Durabolin normal, que vem da Grécia. São de 200 miligramas, são injetáveis, ainda que também se podem tomar em forma de pastilhas. Além disso, muitas dessas pastilhas fazem-se em Espanha em laboratórios clandestinos... e podem ser amarelas, brancas e vermelhas.

Diz-se que a nandrolona se põe em competição, durante a temporada, mas realmente utiliza-se no inverno. Faz parte do plano do ginásio. Se estás a trabalhar  num ginásio e estão-te a pôr nandrolona.

Aplica-se no rabo e diz-se que no inverno é suposto que o ciclista ou o desportista esteja mais gordo. Então injeta-se e se não chega diretamente ao músculo rebenta na pele ou nas banhas, e fica ali. Então, quando te estás a esmerar, o ar que se formou na bolha, escapa e espalha-se. É nesse momento que dás positivo. É assim porque fica no tecido e não vai diretamente ao músculo.

Há que ter em conta também que uma vez injetado aproveita-se muito mais. Porque se o tomas em pastilhas, aproveitas uns 25%, injetado é uns 50% e em algumas vezes100%.

A nandrolona pode-se começar a tomar em outubro, mas não se pode pôr demasiado para andar de bici, porque te bloqueia. Faz-te perder muito a força com as mudanças. Usa-se mais no ginásio. O corpo não está preparado. Usa-se para a musculatura e para um monte de coisas mais.

Antes de dezembro deixa-se de tomar. Mas isso depende se começas a temporada antes ou depois. Se vais correr no Tour, começas aquando do Giro, quando não estiveres a correr, porque depois já se sabe que a nandrolona se for em pastilhas, durante dez dias não dás positivo.

Não tenho nem ideia de quanto custa um tratamento. O que sei é que um frasco de nandrolona vem a custar-te 4.000 ou 5.000 pesetas, de 50 ou de 80 pastilhas. Não é caro. Em pastilhas não faz o mesmo efeito que injetado.

Nos últimos tempos tem havido positivos no futebol com nandrolona. Eu não percebo, a não ser que haja casos de que o desportista esteja gordo, porque é que não lhe chega ao músculo, se forme uma bolha entre a pele e depois dê positivo por isso.

No ciclismo, no inverno ganham-se quilos. A mim chamavam-me cara de pão. Cheguei a ganhar 15 quilos, mas não foi pela nandrolona. Cada um gosta de comer e é até normal que o faças quando estás inativo. Eu posso falar por mim e não de futebolistas ou de outros ciclistas. Podes ter um 11% de gordura e depois, quando afinas, baixá-lo até aos 8%, e com este valor já estás muito bem.

Depois há o Androgel, que é a famosa testosterona, que se dá os homens quando sofrem de impotência. É um adesivo tipo remendo que se põe durante duas horas e tens que o ir massajando. Aqui temos um ( mostrou-o), que como se pode ver tem um adesivo. Tira-se o adesivo e fica como uma membrana. Mas só o podes ter posto durante duas horas, insisto, porque se o tens mais tempo pode até dar positivo.

Diz-se que com isto recuperas, mas eu não gosto. Isto, se formos a ver, ninguém teria medo de o retirar. Durante os jantares vêm-se muito com ele posto. É um produto com o qual dás uma massagem e depois retira-lo.

E o ciclista não é tonto, pois nunca nos esquecemos de o retirar. Há que ter em conta quando um corredor lhe cheira de que com isto pode dar positivo e nenhum de nós quer isso.

Testosterona: “Há uns supositórios clandestinos”

Esta testosterona não se utiliza nos treinos. Aí costuma usar-se outra coisa que se chama Andriol. Não é nandrolona, este é um Decanato de testosterona, vem num frasco com 60 unidades a 40 mg por comprimido, procedente de Portugal.

Há outras coisas como o Rastandol, que vem da Holanda, mas que não se vende em todos os países. Aqui em Espanha está o Testovirón. Com este último faz-se um tratamento para os treinos. Dá-te conta que custa 12,50 euros e mete-se por via intramuscular. Vai direto rabo, que, por certo, dói como o caraças. Isto é Enatato de Testosterona. Demora a tratar e dá positivo durante um tempo. São vários nomes... e já disse o Andriol, o Rastandol, mas há um monte deles... Depois também se utilizam tratamentos de Toxandrolona.

Por certo, também utilizei uns supositórios de testosterona, que penso que se fazem em laboratórios clandestinos, porque não têm marca nem nada. Supõe-se que estes supositórios não dão positivo.

Quando te fazem um tratamento de testosterona e estás em competição não dás positivo durante quatro dias. Páras e não dás positivo. Tu fazes um tratamento quando vais competir e ao quarto dia de competição cortas com ele.

Mas depois há outra coisa que se chama epitestosterona, que é o caso da HMG, a hormona masculina. Faz-se este tratamento para que a UCI não te possa dizer que a testosterona está alta e a epitestosterona está baixa. Então há o HMG (hormona masculina), o Andriol. Então tem que se tomar este último para igualar os dois níveis.

Cortisona: “Não espalho sal nos testículos”

Eu sou alérgico, mas não a muitas coisas. Aqui até o massagista pode ser alérgico, e o mecânico... Chamou muito a atenção o que confessou recentemente um ciclista francês sobre que se espalhava sal nos testículos para que lhe saíssem grãos e lhe pudessem receitar cortisona. Eu nunca o fiz, não seria parvo a esse ponto.

No outro dia, por exemplo, fui mostrar o meu boletim de saúde a uma pessoa do ciclismo, que me disse: “Tu só tens isto marcado?”. Porque os corticoides não se podem utilizar se não for por prescrição médica e vão-tos anotando no boletim. E então eu disse-lhe : “O que queres que tenha?”. E respondeu-me: “ Mas tu sabes utilizar isto?” “Caraças, pois claro que sei utiliza-lo”. E que conste que era uma pessoa que sabe o que está em jogo, que esta metida no ciclismo e é presidente de qualquer coisa.

Isto tem que lhe diga. Tu pegas nele e zumba, tica, tica, tica, tica, ticapum... Tu num Tour já não podes meter cortisona, porque vais parar ao olho da rua. Mas a cortisona no boletim chega-te para um mês. Se assinalas no boletim antes do Tour, com data anterior, dás-te conta do enredo que está a arranjar. Se já estás com cortisona, vais dar positivo, então podem-se fazer coisas que vou contar. Por exemplo, se tu tens tendinites a cortisona acusa o mesmo quer te a ponham aqui ou te a ponham no rabo, porque já a tens no corpo e usa-se para dar força.

A cortisona deteta-se nos controles anti dopingue, mas se tu a tiveres no teu boletim de saúde não dás positivo. A mim dava-me muita graça, porque lia aquilo francês no outro dia e disse-me que metesse sal nos tomates. Digo: Mas como é isto possível? Parei para pensar.

Depois também há pomadas. E a Sinacthene, e a Triancinolona... esta é uma pomada que estimula (vem em tubo). Dizia-me, põe ai os tomates a jeito que damos-te um pouco. Se o fizeres agora só com isto dás positivo. Usa-se para as comichões, irritações e coisas dessas.

Com isto acusas o mesmo que com uma seringazinha e tanto te dá positivo usando esta pomada como uma seringona de Trigón. A Triancinolona é o Trigón. Mas esta pomada não melhora o rendimento, logo o que se utiliza é o Trigón com agulha espetada no rabo. Se é subcutâneo poe-se os de 0,15, 0,40... isso já depende da dose de cada um.

Diferente legislação: “Em França dás positivo mas aqui não”

Também quero contar o que passa no Tour com a cortisona. A lei que existe em França não é a mesma lei de Espanha. A cortisona em França é nasal. Se tu, quando passas o controle, dás 0,9 microgramas em sangue de Cortisona, com o tempo já não podes voltar a dar esses 0,9, terias que dar 0,6 ou 0,7 pelo menos. Isso já é considerado positivo. É o que acontece em França.

Houve um caso famoso com cortisona de um espanhol em França. Eu não sei se isto se passou, porque não quero acusar ninguém, nem desejo que ninguém deia positivo, porque isso significa famílias e pessoas arruinadas. Pessoas que vão para a porra da rua. Se não és um craque, vais parar ao olho da rua.

Tu chegas ao Tour, passas o primeiro controle e a seguir metes cortisona, mesmo que metesse uma ninharia podes dar 0,15 microgramas no sangue. Pois insisto, tu passas noutro controle ao décimo dia e não podes dar 0,10, mesmo que o Trigón seja um produto de longa duração, que é o que mais se utiliza nos tratamentos longos.

Então a lei francesa vai dizer que dás positivo. O que passa é que aqui em Espanha poes meio Trigón, passas o controle e não te sucede nada, mas ali não. Ali tens que ter uma justificação.

Um produto muito conhecido é o Ventolín. E muita atenção ao que vou dizer: eu creio, estou seguro disso, que há pessoas no pelotão que realmente são asmáticas. Isto está claro, como em qualquer profissão. Há de tudo, mas como fazes desporto, já tens o teu estudo pronto e preparadinho da silva.

Sendo assim, marca-se no boletim de saúde e não há nenhum problema. Ou melhor, que não há razão para dares positivo. É nisto que se diferencia a lei de França da espanhola.

E depois há muitas substâncias (e mostra um produto). Este é o Sinacthene, que também é cortisona e é francês. Há-os de 0,25 ou de 0,50. Também o há de efeito imediato, que é diferente da outra cortisona, porque o Trigón, por exemplo, não se pode meter na veia. No entanto, este corticoide pode-se meter na veia. Com este dizem que não dás positivo. É feito de cortex cerebral. Este é um produto de laboratório, por isso é que para este tens que ter uma receita.

Há varias classes de produtos, muitos deles contêm cortisona, mas são diferentes entre si, não se podem mesclar. Há unas pastilhas em França que são também de cortisona, mas que são derivadas do Celestone, que se chamam rosinhas na gíria ciclista. Penso que são pastilhas francesas, que se poem debaixo da língua.

Por exemplo, se eu utilizo o Trigón quando corro, não posso usar as rosinhas, porque o Celestone e o Trigón têm distinta composição. São completamente diferentes. Depois também fizeram pastilhas de Trigón, que neste caso são de cor branca.

Ainda, na gíria ciclista, há outras pastilhas que chamamos branquinhas, mas não há que confundi-las, porque branquinhas chama-se à cafeína. Tudo o que há até agora deste último género, são de laboratórios clandestinos que se dedicam a fazer lotes de pastilhas. Estas cafeínas não se vendem no mercado normal. Enfim, voltando ao assunto, há muitas categorias de cortisonas e ficaríamos aqui a semana toda a falar disso.

Hormona do crescimento: “Se tens cancro, tens que parar”

Antes de terminar por hoje quero fazer algumas considerações sobre um assunto que já falámos. Existe a ideia de que se tomas hormonas de crescimento tens as mãos maiores ou andas com aparelhos na boca. Eu, sinceramente, penso que não.

Eu não sei até quando vou durar nesta vida e muito menos agora, quando se sofre ameaças de pessoas que não lhe interessa o que veio a público. Isto está tapado pelo dinheiro.

E eu creio que, voltando à pergunta, são tontearias que se dizem. Pode-se ver no Vademécum, que a hormona masculina o que faz é estimular-te na prevenção de futuras enfermidades. Se vais ter cancro, sais antes.

Não posso falar sobre isso dos dentes ou das mãos, eu tenho as mãos grandes, mas já as tinha desde pequeno. Aqui a verdade é a pura verdade, as mentiras têm as pernas muito curtas. Isto é o que me dizia sempre o meu pai.

Mudando de assunto, mais outra pontualização. Quando não falei no primeiro capítulo de um tratamento na Volta às Asturias em que fiz dois médicos discreparem entre si, na altura não disse qual o produto. Estava-se a utilizar uma EPO que se chama Epocrin. Esta EPO é russa e tem uma menor duração, a que tem maior duração é a Eprex. Mas insisto no que disse no outro dia. Todas as EPO´s dão positivo e se há um médico que te a manda tomar e outro não, o que é que eu faço? Se desobedeço e depois não ando, vou para o olho da rua.

publicado por Ubicikrista às 19:40

Volta a Portugal: “Abandonaram por medo de darem positivo”

A poucos dias de ter saído meio morto daquele comboio de Valencia, começou a Volta a Portugal do ano passado. Mandaram-me para lá e tive que a ir correr, claro. Já é conhecido o desastre que tivemos nesta corrida, onde não terminou nenhum corredor da equipa. Na primeira debanda eu não tinha motivos para abandonar, porque não tinha problemas em passar nos controles despois do que me tinha acontecido recentemente em Valencia.

Não estava na altura a fazer nenhum tratamento quando quase todos os meus companheiros tiveram que abandonar. Só ficámos três. Creio que se fez um pacto entre alguns corredores, porque depois do que se passou no Tour, em que um deu positivo, não sei se alguns dos meus companheiros tinham medo. Por certo, sobre esse positivo eu não sabia de nada até chegar a Valencia, e mesmo ali todavia continuavam a ocultar-mo.

Então mandaram-me dois frascos de somatropina ao hotel pra eu continuar a correr, mas este tratamento não vinha da nossa doutora, mas de outro médico. Depois do que se tinha passado, todavia continuava com a dele, porque para este médico não era tão grave assim. Então fez-se uma reunião e todos decidiram retirar-se. Antes telefonámos ao médico responsável da equipa mas não se conseguia localizar em lado nenhum, então finalmente lá se localizou. Houve alguns que decidiram retirar-se por sua conta, não sei se por medo ou o quê. Eu, como não tinha nada que esconder, fiquei...

A somatropina recombinante é uma hormona de crescimento, que se utiliza aos pontapés e não se deteta nos controles. Temos liberdade para usá-la.

Também pode ser Humatrope ou Norditropin, que são hormonas iguais, mas esta vem da Dinamarca. Depois vem o Genotonorm e muitas outras mais. Também se estão a utilizar de vez em quando hormonas que vêm misturadas com insulina, como é o caso da IGF1, que a há tanto para animais, como para vinte mil coisas. Todas são hormonas de crescimento, há um monte delas porque cada laboratório tem as sus próprias marcas. O Genotonorm, por exemplo, está no cardápio ciclista e chama-se rotulador.

Eu recebi instruções para utilizar estas hormonas, concretamente o Genotonorm, uma vez que já só estávamos três corredores em prova. Esta é para se meter depois do jantar. No dia seguinte de manhã eu já não me sentia bem, durante o aquecimento. Tinha vómitos, diarreia e urticaria. Durante a noite não tinha sentido nada, mas começou a incomodar-me pela manhã. E a meio da etapa, num dia que também estava muito calor, tive que abandonar sem antes lançar fora na valeta.

Quando nós, os corredores, chegámos à meta fez-se uma reunião na qual se decidiu que a equipa voltava para Espanha. Passada a fronteira telefona-me o diretor e conta-me que tinha falado com o patrão e que este lhe dissera que eu não estava a fazer ponta de um corno. Isto significava que eu não estava a andar não obstante terem-me melhorado o contrato. Com certeza, já agora que saiam á baila os valores: cobrava seis milhões de pesetas e depois da Vuelta de 2002 aumentaram-me dois milhões mais.

Mas se eu sigo as indicações do médico, porque eu não me automedico como dizem, então eles devem estar muito baralhados... Para que me vou eu automedicar, para que vou eu gastar dinheiro do meu bolso? Estes produtos são muito caros. Uma caixa de Humatrope custa 60.000 pesetas; por uma de Norditropin pedem-te 50.000; um IGF, 90.000...

O diretor armou-me uma grande bronca, mas disse-lhe que se existisse algum problema que se podia resolver. Disse-me que me aprecia muito e eu respondo-lhe que se me apreciasse não falaria comigo assim. E também respondeu: “Não são faltas graves o que se está a passar?”. Que cada um julgue por si quem é o bom e quem é o mau.

Hormona de crescimento: “usa-se aos pontapés e não se deteta

Na gíria ciclística, as hormonas de crescimento chamam-se rotuladores e a EPO é denominada Pelas. A hormona aplica-se em dias alternados, dependendo das unidades e da quantidade. Não se pode usar todos os dias, porque isto não é como as bolotas. Isto incha e bloqueia. Ficas com muita força, mas não a desenvolves. Então tens que tomar as doses quando te começa a faltar a força. Deve-se aplicar num dia mas no outro não, mas muito poucachinho e só durante os períodos de competição ou em treinos duros. Também o utilizas antes das etapas de montanha ou de longa distância, mas também muito pouco. Isto fica no corpo, não desaparece de um dia para outro. Antes de começar uma volta qualquer importante faz-se um tratamento de vários dias, alternados de dez ou quinze doses. Há corredores que lhe caiem bem e a outros mal. Então quando acaba o tratamento, começa-se a suar... e a pingares em bom!, mas o efeito bloqueia-te, não podes ir com agilidade na bicicleta. Depois, quando te começam a faltar as forças na corrida, vais pondo durante a competição pequenas doses, umas 0,4 miligramas.

Também há rotuladores de 1,4 ml de Genotonorm; de 1,33 de Humatrope... o Norditropin vem num recipiente em tubo de vidro, em doses de 45 unidades e tens que a pôr numa seringa de insulina de duas ou três linhas. Varia também de pessoa para pessoa. Costumam utilizar-se todas as marcas, dependendo do mercado, porque não sei onde as compraram. Supõe-se que quem tem isto é o responsável dos médicos e aplicam-nas gratuitamente, só que a uns dão-lhes mais e a outros menos.

Isto são produtos hospitalares. Se fores a dez farmácias, por exemplo, seguramente que não te os vendiam em nenhuma. É preciso uma receita especial. Não sei se as conseguem no mercado negro, ou com receitas falsas, mas acho muito difícil, porque inspeção do serviço nacional de saúde, exige-as às farmácias. Não é o mesmo se uma farmácia vender aspirinas ou vender hormonas de crescimento. Isto não se consegue por aqui, estou a falar naturalmente de produtos importados.

Por exemplo, a IGF vem da Austrália. É uma coisa tão pequena que parece que estão a gozar contigo, porque são micropartículas. Não se pode agitar porque se estraga as ditas micropartículas. Ou se compra na Austrália ou procura-se no mercado negro.

publicado por Ubicikrista às 19:36

Volta a Astúrias: “Se fazes caso do médico dás positivo”

Na Volta às Astúrias tivemos logo problemas, porque o responsável médico da altura dizia que se podia utilizar determinada substancia e o outro médico dizia que não. Não era um produto como o que depois se usou no Tour, mas desde esse momento acabou por se saber a verdade, de que não devia utilizar-se. O caso a que me refiro aconteceu mais à frente, com todos os companheiros, mas podia ter calhado só a um, porque como sabem os controles fazem-se ao calhas. Um médico dizia uma coisa, outro médico dizia outra e então o diretor aceitou a opinião do médico responsável. Depois veio-se a saber que não se podia usar esse tratamento, mas como o que disse que sim era o médico chefe, passou-se o que se passou.

Então nós os corredores tivemos com eles uma reunião, mas o diretor continuou a apoiar o médico que liderava e tivemos uma discussão. Ficámos entre a espada e a parede. Fazes caso de quem, de um médico ou do outro? Fazes caso de um médico e não andas ou fazes caso do outro e dás positivo? Vamos ver. Eu fiquei-me com a opinião do segundo médico, porque mais vale às vezes não dar positivo, embora haja quem diga que eu me automedicava, contudo nunca dei positivo. Eu tinha umas ampolas e tudo o resto para continuar com este tratamento, mas optei por deixá-lo.

Nacionais de Madrid: “O gás bus é o Actovegin”

Nos Campeonatos de Espanha em Madrid tivemos outra discussão, mas não por doping. Neste tipo de provas já se utilizam coisas que não dão positivo. São produtos partidos, quer dizer, que se metes uma ampola inteira dá-te positivo, mas se a repartes por cinco não dás. Os controles não são muito eficazes, porque há produtos que não se detetam ou apenas se detetam a partir de um valor a que não chegas.

O Campeonato de contrarrelógio era numa sexta na Casa de Campo, e na estrada M-30 era hora de ponta. Aconteceu que a minha bicicleta ia no carro da frente, mas no que eu viajava estava a bici de outro colega. Tive que tirar a bicicleta do carro e discutir com os polícias para que me deixassem passar. Levei a bici do meu companheiro à rampa de partida e fui para o autocarro fazer os preparativos para o meu crono: cafeína injetada, ácido lático, bicarbonato e pouco mais, ainda que às vezes se possa também usar o Actovegin, que nos meandros se chama gás bus. Não sei se serão ampolas de 10 ml, de 500... Costumam ser de 10 ou de 5.

Preparação para o Tour: “Pacote de sangue de meio litro”

Nessa mesma noite de domingo descemos até Valência para uma consulta para que se extraíssem os pacotes de sangue. Utiliza-se depois um pacote para o Tour e outro quando já tenha começado a corrida. Extrai-se um litro de sangue repartido por dois pacotes de meio litro. Uma coisa que eu não achei normal é deixar os pacotes numa bandeja de plástico sem os marcar, quando sabes que a seguir vais extrair sangue a mais pessoas. O primeiro  a fazer é marcá-los e metê-los num banco de sangue, porque deve ficar numa refrigeradora.

Nós os ciclistas não somos cães, somos pessoas e temos direito a ser tratados como tal. Não me pareceu normal este procedimento. Não se pode deixar um pacote antes de um Tour num sítio em que está um calor que mal se aguenta. Depois também a forma: que se faça um nó no saco e se deixe assim! Mais tarde é que me inteirei de que se tem que fazer testes cruzados para ver se é o teu sangue quando o fores repor. Senão, até podem trocar o meu saco com o de Pepito Flores, porque eu não sei onde é que esteve guardado.

Bom, isso foi na terça, porque segunda, o médico não apareceu. Pois a mim, depois de me tirarem dois pacotes na mesma quarta-feira em que viajávamos, fizeram-me a transfusão de um deles. Isto não faz nenhum sentido. Em lugar de tirarem só meio litro, sacaram-me um litro por equívoco ou o que quer que fosse... Bom, o outro meio litro guardaram-no para o Tour de França, porque depois, a meio do Tour, quando já tiveres um abaixamento de forma, voltam-to a meter.

A meio do Tour, a recuperação era normal. Estávamos utilizando poucas coisas de inicio, porque se supõe que tu chegas já com uns tratamentos que têm que durar uma primeira semana ou uma semana e pouco. Foi assim  que chegou a sétima etapa, a tal onde perdi o conhecimento. Vou contar porquê. Era a primeira etapa de montanha e pela manhã experimentámos uma substancia que eu nunca tinha provado. Essa substancia toma-se de acordo com o teu peso. Mete-se na veia e a única coisa que tens de fazer é saberes que tens o hematócrito baixo, mas a hemoglobina alta.

Ah!, uma coisa que me esquecia. No inicio do Tour, todos nós corredores temos que pôr uma certa quantia de dinheiro para se guardar a medicação. Eu pus 3.000 euros e suponho que os outros também, mas não posso confirmar. De certeza que todos puseram, apesar de alguns terem salários de miséria.

Tour de França: “Um porquinho de dinheiro para a pomba”

Este porquinho é para que se guardem os medicamentos. Ficas a saber de que a lei francesa não é como a espanhola. É uma lei diferente, na qual, posso dizer até que se levas uma caixa de vitaminas B12, que seria legal em Espanha, ali não a podes levar. Então há pessoas que se dedicam a guardar esses medicamentos para que tu não os tenhas contigo. Os medicamentos para a recuperação podes comprá-los lá e até outras coisas, mas há outros que não se podem porque são DH, de uso hospitalar.

No sei se o levaram num carro ou num avião, mas, pelo que tenho entendido, transportaram-no num carro de alguém próximo da equipa. Nos meandros, a pessoa que leva a medicação chamamos-lhe a pomba mensageira, mesmo que a pomba, seguramente que não possa com tanta carga. Isto é como importar uma coisa qualquer, o que se passa e que isto é considerado um delito. E depois dizem que eu sou o camelo de pó branco. Isto sim é que é tráfico de drogas e contra a saúde pública.

Por suposto, que esse dinheiro não o recuperas se abandonares a prova, aqui não se devolve nada. Recordo-me do diretor passar pelos quartos e eu ter sido dos últimos que lho dei. Ia dizendo o senhor que lhe déssemos a limosna, percebes? Limosna (picão)! No final do Tour ganhámos 811 euros em prémios, perdemos dinheiro. E assim voltamos ao que estava a contar antes, quando me deram a provar uma substancia que jamais havia utilizado antes, mas tampouco tinha feito autotransfusões.

Pela manhã tinham-me dado 50 mililitros do dito produto. Antes de sair estive no hotel Village, falei por telefone com a minha namorada, a Marina, e disse-lhe: “Prepara-te, que segundo entendi hoje vou andar bem”. Acontece que a metade da etapa dá-se uma fuga antes de se chegar à subida, que está ao quilómetro 50. Todo a gente da equipa arrancava para que essa fuga não ganhasse tempo ou para se voltar a juntar tudo. E o diretor a gritar: “Me cago en Dios, esse Manzano não tem tomates”. Arranquei e atrás de mim veio o Richard Virenque, que não me deu nenhuma ajuda porque tinha lá na frente o Paolo Bettini que corria na mesma equipa.

Conversei com dois companheiros e disse-lhes que me sentia esquisito, que tinha uma sensação do tipo pásara (esgotamento), aturdido, como quando levas 200 km em que já só vais por inércia, e com os braços sem força. Era como se as manetes das mudanças estivessem largas. Insisto, muito esquisito.

Arranco a meio quilómetro do início da subida e não podia quase nem meter mudanças pela sensação de formigueiro que tinha nas mãos. E ao quilómetro três da subida já começo a ter sensações de desmaio, com muito calor, e suores muito frios, alternâncias de calor e frio, mas, sobretudo de muito frio.

Apesar do calor de julho, comecei a sentir uma tremedeira e sensações estranhas, Virenque ao ver-me assim até se afastou. Vou mais meio quilómetro para cima e havia uma curva. Fazia tanto calor que até o alcatrão do asfalto estava derretido. Houve quem dissesse que me atirei. Nem que tivesse feito milhentos saltos na brigada paraquedista. Só me lembro de ter desmaiado e não me recordo de mais nada. Se caí, se me levaram para a direita, ou se me levaram...

Notei uma espécie de sensação de desmaio e a vista como se me apagasse. Dai a pouco apercebi-me de que tinha a camisola cortada já na ambulância e que me estavam a dar uma injeção, eletrocardiograma e afins. Sentia-me estranho, tinha a língua tipo inchada, como senão entrasse ar. Se me tivessem feito um buraco na garganta, para melhor respirar, tê-lo-ia agradecido.

Já a soro levaram-me numa ambulância ao hospital. Não sei o que te receitam nestes casos, fizeram-me uma revisão geral... Desde a manhã até às onze da noite que foi quando cheguei ao hotel de Morzine não tinha ainda urinado. Tinha o ventre inchado, parecia um barrigudo. Quando cheguei ao hotel, o médico andava pelos quartos, estiveram-me a fazer perguntas e não digo mais, percebes? Que a mim não me explicassem, o médico é que é o analista, que se isto estava baixo, que se isto estava mais alto... mas eu aposto que foi por causa daquele produto que se utilizou. Quer dizer, tive um problema por causa do mau estado de conservação desses produtos ou por outra coisa, percebes? Eu não creio que tenha tido nenhum outro problema para que tivesse que me retirar da prova. Já que tenho que abandonar, direi que tenho uma tendinite ou o que seja. Mas eu nunca me retirei pelo que algumas pessoas disseram, que foi devido ao sol.

Acontece que até à meia-noite ou uma da manhã não pude urinar. O doutor que estava no Tour deu-me umas pastilhas, com as quais comecei a urinar devagar, mas toda a noite tive a tripa destroçada. Logicamente, ao abandonar, o segundo saco de sangue não o cheguei sequer a utilizar. Tive que vir para Espanha com o meu representante, que por certo teve despesas e não lhos pagaram

Tive medo pela minha saúde. Dás-te conta que uma pessoa que está bem de repente fica mal, creio que ninguém gosta. Por duas vezes tive medo na minha vida: uma foi esta no Tour e a outra pouco tempo depois em Valência, quando me retiraram todo migado de um comboio. Após o Tour pensei em deixar o ciclismo, porque tens medo, porque dás-te conta que o corpo é teu e se estás a ganhar oito milhões de pesetas e eu prefiro ganhar 150 mil a colocar ladrilhos. Posso até cair de um andaime, mas não aceito que alguém te provoque a morte. É o mesmo que mandares fazer uma casa e ela cai-te ao fim de meia dúzia de meses. As pessoas que não são competente não deviam aqui estar.

Isto aconteceu por má conservação ou por vá lá saber-se porquê. Perguntas a qualquer médico de cabeceira e ele diz-te que se tomares esses produtos tens que ir um médico especialista para te tratares, e dá-te uma, duas ou três caixas por ano. Mas aqui no ciclismo, três caixas por ano é como se alguém comesse um pacote de pipas. Claro que tive medo. É claro que na cidade pode até haver um gajo que te dá um tiro, pois que se lixe tenho que me aguentar. Ou posso tropeçar e na queda partir algo. Mas não por um problema de outra pessoa que me o venha a passar para mim. Aquilo foi mas é negligência médica.

Voltei do Tour e estive uns dias em casa todo marado. Tinha sensações estranhas e estava deprimido. Atiras-te em grande a preparar uma corrida muito tempo e crês que te vai correr bem, e por causa de pessoas de fora... Bom, não tão de fora, trata-se do chefe dos médicos. Há que ter responsabilidade, porque que são vidas humanas, não somos cobaias, nem coelhos da índia, para isso existem os laboratórios para testar, e os animais, mas não as pessoas.

Naquela noite desci para jantar, comi pouca coisa, porque não tinha fome, e sede ainda menos, porque estava inchado como um urso. O diretor disse-me que ia fazer a Volta a Portugal e que isto e que aquilo. E disse-lhe: “Pois sabes o que te digo, não sei se vou correr mais”. E diz-me o diretor: “Se não corres este ano, não corres no próximo”. E disse-lhe: “Homem, se não corro este ano, para que vou eu correr no ano que vem!”. Bom, pois acontece que se acabou o Tour e mal chego a casa, queriam que ficasse mais dois dias ali, estando eu naquele estado, até que voltasse o manager da equipa, e, eu disse que não queria ficar porque estava exausto, e foi assim que voltei para casa.

Transfusão em Valencia: “Quase que regressava num caixão de pinho”

Faltavam quatro dias para terminar o Tour chama-me o médico chefe e disse-me que tenho que ir para Valência por causa do pacote de sangue que faltava. Lá fui porque se não o faço, dizem-te que és indisciplinado por não fazeres caso do médico da equipa. O médico da equipa tem muito poder, é como se o diretor fosse o Rei de Espanha e ele o chefe do Governo.

Foi em 25 de julho, creio. Fui para Valência, fiquei num hotel, onde as pessoas da equipa me disseram que havia um problema no Tour e que esse problema afetava também a equipa, pois dera-se o caso de alguém ter dado positivo, o que a mim tanto se me dá como se me deu. Não preciso de julgar ninguém. Eu só tinha vindo num comboio de Atocha para Valência, estive num hotel, ao lado da rua Linares, que paguei eu. Foi lá ter um senhor numa motoreta, supõe-se que seria o ajudante do médico, com uma malinha que trazia entre as pernas e acontece que mal chego ao quarto me diz: “Olha, este é o teu pacote de sangue”, mas não dizia lá Manzano em nenhum lado, nem os testes cruzados nem comprovativos de nada. Podia ser o sangue do Pepito Flores.

Preparam-no ali mesmo, penduram-no num suporte, sento-me numa camilha, enquanto a minha namorada estava na sala de espera. Estou a falar de julho em Valência, fazia cá um calor, e começam-me a meter do dito pacote. Quando já levava 125 ml de sangue, começo a sentir-me muito, muito, mas mesmo muito mal. Com escalafrios, com tremedeira. Davam-me mantas e eu tinha cada vez mais frio, como se estivesse no Polo Norte.

Se me tivessem chegado a meter o meio litro voltava numa caixa de pinho. Meteram-me entre 125-175 ml e se com isso te acontece isto, se chego a meter o saco inteiro! O que é que me teria chegado a acontecer? Pelo que eu entendi, este pacote esteve no Tour e em má conservação. O médico disse à minha namorada que tinha estado um bocado desnorteado. Repara, desnorteado, é que estamos a falar da vida de uma pessoa. Eu estava todo marado e cheio de frio e dão-me ali a volta como se eu fosse um cão. Injeta-me Urbasón, que é um corticoide para problemas alérgicos, inflamações e intoxicações, mas não pensem que me injetou uma ampola, injetou-me duas caixas. Telefonei à minha família, falei com o meu pai e contei-lhe os factos, e a minha mãe queria-se meter imediatamente num táxi. Eu estava todo marado, mas o médico não me deixava ir a um hospital nessa altura.

Um drama no comboio: “Este rapaz vai morrer’, disse uma pessoa”

Sinto-me muito mal, mas lá me consigo levantar, monto-me num táxi para chegar à estação de Valencia. De tal modo estava que o taxista perguntou-me para que hospital ia. Entretanto a minha mãe telefonou ao gerente para saber o que se estava a passar. E o que se estava a passar eram negligências médicas, aldrabices a toda a hora. Isto que digo não é indisciplina nem são faltas graves, que fique claro. Então eu estava na estação e para que é que te vou enganar, com frio, arroupado como podia porque tinha frio. Então pedi às pessoas que me deixassem passar, porque havia fila para se tirar bilhete. Entrei no comboio, ia em primeira classe, e aí senti muitíssimo calor. A minha namorada foi pedir se podiam desligar o ar condicionado. E responderam-lhe a ver se podia aguentar até Madrid.

O revisor do comboio decidiu desligar ar condicionado. Ainda assim pedi-lhe uma manta, mas não tinham. Estava um homem lá mais à frente que dizia: “Este rapaz não aguenta, este rapaz vai morrer”. O comboio não arrancava se eu não descesse. O manager da equipa devia ter chamado o médico que sempre acabou por vir. Tirou-me do comboio aos ombros e levaram-me outra vez para a clínica e começaram a dar-me mais Urbasón.

Depois o médico saiu de Valencia, porque tinha que ir a uma contra-análise em França. O normal seria que me avisasse de que havia um problema que se estaria a passar com um companheiro. Depois fui outra vez para o mesmo hotel e estive toda a noite jodido, jodido, jodido... não conseguia dormir, angustiado, com mal estar e com pesadelos. Repara no estado em que estaria, que a minha mãe continuava a querer vir ter comigo.

Saí da clínica pela primeira vez perto das quatro e meia e até às nove e meia da noite, mais ou menos, não conseguia nem falar. Recordo-me que mal me punha de pé caia logo, não me conseguia nem levantar. No dia seguinte continuei ali e finalmente o médico disse-me que tinha gripe. Eu já tive gripes mas nunca estive tão mal. Telefonou-me o diretor e diz-me para não contar a ninguém da equipa. Porque é que eu não posso contar a ninguem da equipa? Porque não? para puder acontecer o mesmo a outro?

publicado por Ubicikrista às 19:35

Excerto da carta enviada pelo nosso leitor Ubicikrista, a proposito do artigo ´No inferno de El Torcal´, que considera dificil de descrever até mesmo lá indo.


"... 500 metros depois acabava a vila e aí meu Amigo é que a porca torce o rabo. Proliferavam escassamente já por ali muitos acompanhantes a dar alento aos ciclistas, do tipo:

- Força que só faltam 10 km.

O Folgas ficou tão animado que desceu da bicicleta imediatamente. Mais tarde viríamos a saber que o incentivo provocara quase o mesmo efeito no Rebocador. O Arreatas, esse, foi por ali acima que nem um leão com uma força moral impressionante. Mas como a força de leão só dura até ao Natal, quero dizer, a algumas centenas de metros até onde as senhoras tinham parado a carrinha, porque a partir daí era perigoso subir com tanta gente que vinha por ali abaixo, já de regresso do Torcal. A sua esperança era um pó milagroso que comprara no dia anterior num hipermercado, para actuar como suporte moral. Tinha um aspecto do tipo de uma lata de natas e que dizia glucose. Foi um espectáculo inolvidável, convido-o Amigo a puxar uma cadeirinha  e a assistir ao filme. È de borla, pago eu. A Luísa - extremosa esposa -  a querer dar-lhe água e ele sem  conseguir falar, dava uns passos para frente e para trás, parecendo encurralado. Tentava sentar-se ou encostar-se à carrinha, após a senhora lhe ter tirado a bicicleta da vista, para o outro lado da valeta. Dois minutos depois cheguei ao local do crime, simultaneamente com o Puto, que já tinha ido lá acima e estava mais fresco que uma alface acabada de ser apanhada do frigorifico. Deveria ser proibido ter esta idade, digo eu. Finalmente o homem conseguiu abrir a boca para gritar:

- O pó, dêem-me o pó. Está aqui homem, retorquiu a companheira!

- E a colher, onde meteste a colher mulher? E pumba, finalmente uma garfada para o bucho, com a colher claro.

A coisa começou a ficar hilariante. A glucose, como era em pó, colou-se à boca seca. O homem tentava respirar pelo nariz, mas o pó não ia para baixo, enquanto os pulmões protestavam em silencio surdo por mais aquele não solicitado sufoco tão agoniante quanto inesperado. Uma desgraça nunca vem só e se ali estivesse o ti Manel, meu pai, decerto diria:

- Não basta a minha mãe estar doente senão o meu pai ainda por cima.

De repente abriu a boca e metade do dito voou direito á porta, que estava aberta, do veículo estacionado, inundando os bancos dianteiros daquela murraça branca. O resto ficou nos cantos da boca a fazer lembrar aquela farinha com que em miúdos colávamos os cromos dos rebuçados, a mesma que as nossas mães nos davam para os destemperos intestinais. Parecia estuque. Felizmente hoje há o extralevure. Garanto-lhe Amigo que se ele não morreu desta, vai passar cá o milénio de certeza.

Mas oiça, o calvário não acaba aqui. O Puto ao ver aquele pai, foi benevolente ao dizer: é fácil até aí à frente onde tens uma recta e depois no fim é que é difícil. Pensei para mim,

- Caramba jovem onde é que apreendeste a ser tão bondoso para um velho moribundo? com que então difícil no fim! Se é no fim não faz mal. Mas é perto, antes ou depois do fim? não será ainda no durante?

O handicap era terrível. Já estava toda a gente a descer. E eu sem a Internet ali a jeito para meter no motor de busca a pergunta sacramental: como se ressuscita um morto?..."

publicado por Ubicikrista às 19:31

«Produzir sem anunciar é como piscar o olho a uma rapariga no escuro.

Podes saber o que estás a fazer, mas ela não.»

 

Preparar uma ou várias provas, treinar quando se pode, organizar a viagem e o alojamento, decidir a táctica a empregar... são muitos os factores que convertem o cicloturismo num hobbie único que, além disso, sempre tem uma recompensa moral que outras actividades não têm. Pode-se ser o primeiro ou o último, correr sobre uma bicicleta de 600 contos ou sobre uma de 30, dormir num hotel de cinco estrelas, num parque de campismo ou no carro, mas no fim o único resultado que conta é o esforço de cada um. O ciclista, a estrada e as suas próprias forças e vontade.

Temos de ser rápidos e práticos, na hora de decidir das nossas forças e se vamos ou não com o grupo que está à nossa frente. O melhor exemplo que conheço é de um amigo meu: «Quando fui raptado, os meus pais entraram imediatamente em acção - alugaram o meu quarto..

Sofrer nas montanhas é algo que me o recorda também: «Quando era pequeno, os meus pais descobriram que eu possuía tendências masoquistas. A partir daí, passaram a bater-me todos os dias, para ver se eu parava com aquilo.»

Não se trata de gabarolices, mas por vezes ultrapassamos os nossos limites e subir aquelas montanhas traz-me à memória o Oscar Wilde a bater a bota: «morro acima das minhas posses.»

Escolhemos o ciclismo porque se dizem coisas esquisitas nos outros desportos. Querem ver? de verdade, quantas vezes já ouvimos dizer que, sei lá, o lançamento do dardo é uma caixinha de surpresas? Ou que um jogador de xadrez levou longe de mais o seu esforço? Naturalmente, o futebol é o único jogo em que o jogador pode estar em fora de jogo

Imaginem o que seria um desporto que se pudesse praticar sentado. Só para alentejanos mesmo! Querem ver? Ter velocidade de ponta, não é ser como o Clinton, a braguilha mais rápida do Oeste. Antes que não continue com as rebaldarias de Clinton, permitam-me uma pequena pausa. Uma rapidinha. Ops, salvo seja! Do ciclista que logo a seguir engata o turbo e arranca que nem uma bicha de rabiar. Poderá haver alguém do pelotão com a mania da perseguição? Ou o caso em que o limite do esforço é ultrapassado. Sabem o que é? Caso-limite é o Michael Jackson, em que preto mais branco não há. Finalmente, um grupo cansado não deverá querer fazer uma paragem...cardíaca.

Mas chega de sinuosidades vamos direito ao assunto, embora por linhas tortas. Sempre que vejo um fugitivo com o pelotão a tentar alcançá-lo em cima da meta, lembra-me a afirmação de um zoófilo, de que fazer amor com um ouriço-fêmea é muito perigoso, pois são cem picas contra uma.

Sei do que estou falar, pois, embora não goste de ganhar vantagem, a minha infância foi tão maravilhosa como a de qualquer outro mentiroso.

Participar num campeonato tem que se lhe diga. Por exemplo no campeonato português, mas de futebol, a diferença entre os que ganham e os que perdem, é que os que ganham contam piadas, enquanto os que perdem falam dos casos do jogo. Enquanto lá não forem sofrer nunca saberão o que é o humor.

Claro que neste Ensaio haverá umas pitadas de «fantasia». Mas, que diabo, ainda bem que a mentira existe. Imaginem se tudo o que houve até hoje fosse verdade... Alguns até dirão que é pura ficção - mas ainda assim os que lerem engolirão a treta com casca e tudo. Os outros exclamarão: «Só acreditarei na TV a cores quando vir a gaja preto no branco!»

Para falar desta aventura de prazer, foi esta a forma de divulgação que encontrámos e não a como alguém publicou num jornal: «Mecânica destravada. Adoro homens com a barriguinha cheia de pneus. Mas só dou boleia se os pneuzinhos não me deixarem no caminho. Estou farta daqueles homens com tanto pneu para tão pouca potência.» Valha-me Deus, estaremos a falar da quinta-essência do prazer ou de uma estação de serviço?

Como concelho direi para terminar, aceitem a minha dica de puericultura, que se pode aplicar no ciclismo, eu que já fui pai duas vezes e filho uma, eis: a primeira lição na arte de ser pai consiste em dormir quando o bebé não está a olhar. Façam o mesmo se quiserem atacar com sucesso. Apanhem-nos distraídos.

Se não quiserem sofrer, arranjem um emprego na função pública. Mas há certos requisitos. Como se sabe, funcionários públicos nunca devem tomar café depois do almoço: faz com que percam o sono à tarde. Em compensação, os funcionários públicos são os melhores maridos: não apenas voltam cedo e descansados para casa, como já leram o jornal.

Modernizem-se, usem o silicone em spray para lubrificar as correntes. Devo lembrar que em relação ao silicone, esse suposto amigo do peito, só queria dizer mais uma palavrinha: os seios são como o uísque, um é pouco, dois é bom, três são de mais.

A talho de foice, devo mencionar que um dia destes encontrei o “nosso” velhote, o Zica, que já teve a sua festa de homenagem aqui há uns anos e me disse: «Vou a caminho dos 70 anos e as pessoas perguntam-me do que eu gostava mais. Pois bem, eu digo-lhes, de um processo de paternidade», e mais à frente voltaria a tocar no assunto: «Recuso-me a confessar que tenho mais de 50 anos, embora isso torne ilegítimos os meus filhos.».

Fez-me lembrar um vizinho que quando viu «O Último Tango», de Bernardo Bertolucci - notório talvez sobretudo pelas cenas eróticas entre Marlon Brando e Maria Schneider - gemeu: «é o filme mais triste que já vi. Chorei o tempo todo. De facto, é muito triste ver aquilo quando já se tem 82 anos». Foi sincero. Tal como aquela actriz, mais velha do que a chupeta do Fernando Pessa, depois da enésima plástica, gabou-se: «Vocês podem não acreditar, mas eu também já fui velha!»

Não só de velhos vive o mundo. Também há jovens, e aqui vai uma palavrinha, especial para eles. Não se angustiem tanto com a juventude, pois juro que mais dia, menos dia isso passa-vos. E quando a juventude vos tiver passado, vocês serão como nós. Ou seja, também sulcarão as ruas a perseguir pequenas 20 anos mais novas.

 Afinal aprendemos que ninguém é jovem o bastante para saber tudo. E, sobretudo, 30 anos depois, descobrimos que o jovem é o passado do velho, e o velho o futuro do jovem.» E vem-nos à memória os primórdios destas curiosidades... Lembro-me de um dia quando eu era miúdo e pedi ao meu pai que me explicasse umas coisas sobre sexo. «Cala-te» explicou-me ele.

Mas há ainda uma esperança: dizem que nas nossas sociedade ocidentais, o futuro pode até estar nas mãos dos jovens. Mas eles nem sequer as lavam antes das refeições... E quando as lavam, é como Pilatos. O que vale é que o Godinho é como o vinho... do Porto: quanto mais velho mais antigo.

Portem-se bem, como os escuteiros! O que são escuteiros? Oh, são um bando de crianças vestidas de palermas, comandadas por um palerma vestido de criança.

Por fim, espero não ter aleijado muito a língua portuguesa, já que constantemente apanha mais do que a alcatifa em dia de limpeza. Bem sei que a origem do nosso idioma é um bocado promíscua. Remonta ao latim vulgar, traduzido por soldados, lavradores e comerciantes do Império Romano, que cá chegaram entre os séculos II a.C. e V d.C. Depois de aqueles gastarem o seu latim, também tiveram uma palavra a dizer os Visigodos e os Árabes. Se calhar é por causa dos Árabes que alguns de nós gostam tanto de arabescos verbais... Vai tu!

Para os que não gostaram, recordo então a resposta que dei uma vez a uns professores, que me recusaram um texto, sobre um trabalho qualquer, porque não estava como queriam: «Vocês desculpem-me, mas pior do que isso não sei fazer.» 

publicado por Ubicikrista às 19:30

Olá de novo,

Aqui vai a crónica do último brevet, creio que sairá melhor pois desta vez é mais recente... Amanhã se tiver tempo, relatar-vos-ei as nossas peripécias na Xacobeo.

Brevet 600 km para o París-Brest-París.

Partida no sábado 29 de maio às 6:00 AM. Saímos da parte oeste das Astúrias, e depressa se formam vários grupos. Eu e o meu primo Luís "acoplamo-nos" a um mini-pelotão que parece levar um ritmo só para machos de barba rija. Nós os cinco componentes, sincronizamo-nos e vamo-nos revezando harmoniosamente. Subimos a La Cabruñana num ritmo cómodo (para mim sobretudo, não para o Luís que lhe "sobram" forças). Na descida, pese embora o facto de que cada dia descer melhor, fico separado, mas o Luís, meu primo e anjo da guarda (rio-me eu do primo do Zumosol), levanta um pouco o pé e rapidamente me colo a eles. De imediato começamos a ascensão de Espina, de uns 14 km. Aqui, o Luís acelera um nadinha a marcha, o que faz com que fiquemos sós. Subimos ao nosso ritmo até lá acima e paramos na bomba de gasolina para carimbar a caderneta (carnet). É o primeiro controle do brevet, 59 km, a que chegamos às 8:30. Aproveitamos para comer e beber.

Esperamos o resto do grupo e iniciamos juntos a descida, volto a descolar e de novo o Luís ajuda-me a regressar ao grupo. Dizem-me que devo perder o medo. O que diriam se me chegassem a ver aqui há dois meses (descia MUITO pior que agora). Respondo-lhes que deveria levar o "90" pois ainda não cumpri um ano a andar de bicicleta e bastante já eu faço a descer a 50-60 km/h. Também o Luís é um novato, mas foi motoqueiro e domina INFINITAMENTE melhor que eu a bicicleta. Continuamos a rolar pela costa asturiana, zona de curvas a descer (parecido com um escorrega aquático), até que somos alcançados por três madrilenos (pergunto-me se conhecerão a orografia asturiana). Imagino que o motivo da sua participação seja a data, pois para dizer a verdade, prefiro fazer 700 km em Madrid que 600 km nas Astúrias. Vamos dando relevos até que numa das vezes do Luís ir puxar ficamos os três adiantados. O madrileno sacanea um bocado nos relevos e decido (que mau que eu sou...) a táctica para o descolar. Espero por uma subida e dou-lhe a vez de ir á frente, justamente para que se mantenha lá um bocado na frente, e ao chegar á subida começo a puxar e acelero progressivamente para que ele acuse o toque, até chegar á minhas 170 pulsações (200 de máx.) quando me dou conta, só estávamos o Luís e eu, o fulano desapareceu (mais tarde pagaria com juros a mina "maldade", talvez depois disto, haja alguém lá em cima...).

Encontramo-nos fortes, graças aos 800 km que fizemos na prova da Xacobeo, e como o meu joelho não protesta decidimos meter canha no andamento "até torcer" para ir ganhado tempo. Vamos dando relevos, sempre mais fortes os do Luís, (por alguma razão é o "routier" e eu o "grimpeur" da família, ainda que depois me ganhe também a subir, e ao não termos o vento contra subimos o ritmo até quase aos 30 km/h. Prosseguimos assim até San Tirso de Abres, lugar onde teremos o segundo controle. É no km 174 e chegamos às 12:30 PM, mais o menos. Carimbamos na bomba de gasolina, bebemos, comemos e pomos os pés ao léu pois o calor e os quilómetros já passam factura em forma de dor de pés.

Retomamos a marcha e continuamos tal como anteriormente, mas pouco antes de chegarmos a Vegadeo (fronteira com a Galiza, inicio da costa e km 190 do brevet) o meu joelho esquerdo começa a protestar (creio que se trata de uma tendinite na parte lateral externa da coxa - fascia lata, em latim -, entre a anca e o joelho, por incorrecta posição da travessa) aperto os dentes e não digo nada, mas de alguma coisa deve suspeitar o Luís, pois os meus relevos vão sendo cada vez mais curtos. Ao chegar a Vegadeo, começa o meu castigo (pela maldade) em forma de forte vento de frente soprando de Nordeste, que nos acompanhará durante umas centenas de kms ao longo de toda a costa asturiana, concretamente 280 km. Daí a poucos quilómetros, lá tenho que dizer ao Luís que baixe o pistão, devido às dores no joelho esquerdo que me impedem inclusive de ir na roda. Qual D. Quixote contra os moinhos de vento, o Luís luta bravamente durante horas contra ele, embora de vez em quando lhe dissesse que se resguardasse um pouco atrás de mim para recuperar, pese o facto de ir sempre com o 39x19 ou 39x21, pois o joelho não me permite meter mais pesado. Creio que já me alcunham de "marciano", não por estar muito forte como Indurain, mas porque ando sempre na "pedaleirinha" (prato pequeno de 39 dentes). Por volta das 7 da tarde, chegamos a Avilés, donde temos o terceiro controle, km 325. Ali, estão a descansar alguns companheiros do brevet. Como de costume, recuperamos energias e após um curto descanso continuamos a marcha. Antes de chegar a Gijón (km 350), o Luís sofre um furo que coincidiu com um dos meus escassos relevos e tinha tal passarão que, não obstante os avisos sonoros, demorei um bocado a aperceber-me. Depois de me alcançar, ajudo-o (pouco) a recuperar e continuamos até à bomba de gasolina de Veriña onde metemos pressão nas rodas.

Cerca das 9:30 atravessamos Gijón, e dado que a noite se nos caía em cima, decidimos jantar em Villaviciosa. Saindo de Gijón, numa zona de recta, o Luís alucina-se ao ver que lhe custava mover o 39x24, dado o forte vento contra. Subimos o Infanzón com esse vento de frente e cada vez menos luz, mas dá-nos tempo para descer com o entardecer e desfrutar de uma paisagem espectacular. A seguir, vem a subida a La Venta de las Ranas que fazemos a todo gás, pois está resguardada do vento. Para a descida, contamos já com pouca claridade, acendo a minha lanterna e mais mal que bem chegamos a Villaviciosa. Dirigimo-nos a uma pastelaria onde damos conta de várias coca-colas, dois cafés e oito mini-sandes. Uma menina algo despistada, encantada nas cores luminosas pede-nos um autógrafo, o Luís declina com um sorriso e diz-lhe: "Este aqui que te o assine, que é mais famoso", não tenho força nem para rir nem para recusar, e como posso, esgatafunho algo com a esferográfica ainda debaixo dos efeitos da pássara. Quem me ia dizer a mim que terminaria a assinar autógrafos... Yáh, yáh. Mal a cena acabou e perante a iminente modorra que já sentiamos, instalamos pilhas novas, ajustamos as luzes e retomamos a marcha.

Logo após abandonarmos a localidade de Villaviciosa, (algum dia comprovarei se esta vila é assim tão viçosa...) apanho com um buraco e cai-me a luz dianteira. Desço da bicicleta e pude comprovar como ela ficou na estrada, justamente onde costumam passar os rodados dos carros. Para desgraça minha, um automóvel dirige-se para ela. Alço os braços e faço-lhe sinais para que se desvie. Não sei se viu a lanterna, a mim ou o que sucedeu, mas o facto é que se desviou. Volto a coloca-la no volante e retomamos a marcha. Na ascensão à Venta do Probe (não, não era o "pobre" Miguel... que esse há muito tempo que não anda) outra vez o ditoso joelho, desta vez a dor torna-se quase insuportável, o que me obriga a meter o 25 e forçar o máximo a perna direita. Devido a isto, baixamos o ritmo da marcha e fazendo das tripas coração vamos para Ribadesella, após atravessar uma zona de curvas e contracurvas, com constante sobe e desce (certamente o que me fazia mesmo falta). Entre a obscuridade da noite e os carros que vão um pouco "pesados", isto converte-se num verdadeiro desporto de RISCO, é aqui que quero ver esses dos radicais que saltam das pontes com elásticos). Creio que a dor me impede de sentir o perigo. Numa descida antes de Ribadesella, parece-me ver um cão preto na berma, estranhamente permanece impassível, até que chego perto e... tinha cornos: era una cabra. Ou talvez seria o diabo espreitando-nos? Cada vez vou mais cansado e perto das 2:15 AM entramos na localidade de Ribadesella, km 419. Limito-me a pedalar, pois por o ter forçado, também me dói o joelho direito. O Luís adianta-se até á bomba de gasolina (local do quarto controle) e espera por mim ali. Quando chego, tiro o pé do pedal e ao apoiar a perna esquerda, perante a picada que me dá no joelho, decido que o melhor é deixar-me cair tal qual um saco de batatas. Assim fiz, e nem sequer me mexo, inclusive queria permanecer ali estendido no chão, ma o Luís ajuda-me a levantar. Após um momento de descanso dirigimo-nos ao carro que havíamos deixado estacionado ali, prevendo a necessidade de termos que dormir um pouco. Deixamos as bicicletas e carimbamos num bar em frente, pois a bomba de gasolina estava fechada. Com isto eram 2:30, metemo-nos no carro e dormimos até às 5:00 (por una vez na via, vim prevenido com um despertador).

Comemos uma ou outra barrita energética e dirigimo-nos até Unquera, fronteira com Cantábria ao km 470 do brevet. Ali queríamos desjejuar as famosas Corbatas (folhados) mas está tudo fechado. AH! Já me esquecia, as duas horas e meia de sono serviram para que deixasse de me doer o joelho, talvez alguém tenha tido piedade do meu sofrimento. Por precaução, decidi não forçar o resto da viagem, e não meti mais a pedaleira grande salvo nalguma descida. Continuamos viagem até Panes km 482, local do quinto controle, onde chegamos perto das 9:30. Carimbamos e tomamos o pequeno-almoço como feras perante a estupefacção dos hóspedes do hotel (tão cedo e já com uma passara).

Retomamos a viagem até Cangas de Onís, e como nos voltámos a dirigir para Oeste, esperávamos que o vento nordeste nos ajudasse um pouco. Para nosso infortúnio mudou e deixou de soprar (pelo menos não nos batia de frente). Chegamos ao Alto do Ortiguero, uma subida já com alguma importância uma vez que já levas 500 km nas pernas. Subimo-la com relativa comodidade (ao chegar a casa descobrimos porquê: perdemos 5 kg cada um. Isso explica tudo, com 59 kg sobe-se muito melhor mesmo com um joelho ressentido). Descemos a toda a gáspea e rapidamente chegamos a Cangas de Onís, km 536, onde temos o penúltimo controle. Carimbamos, recuperamos energias e continuamos. Volto a ficar tipo passarão perdido e não obstante engolir barrita atrás de barrita não consigo melhorar. Vamos a uma velocidade de cruzeiro de uns 25 km/h. Está um dia esplêndido de sol e calor, é meio-dia e sinto um escalafrío, reparo nos braços e ESTOU COM PELE DE GALINHA. Isto é um claro indício de que vou na reserva.

Passamos Arriondas km 546, vou pedalando como um autómato, tenho apenas energia, que gasto nas subidas, para pedalar de pé (assim o joelho incomoda-me menos). Paramos para descansar em Infiesto, e já falta menos. Sabemos que vamos conseguir, ainda que faltem algumas horas. Mais animados que nunca continuamos a marcha, dado que o terreno que falta é mais ou menos plano. Chegando a Colloto, na subida da Coca-Cola, passamos por um sitio onde há um "sprint pontuável" do clube. O Luís desafia-me e respondo-lhe que, tal como Indurain, deixo-lhe as vitorias parciais... YÁH, YÁH (a verdade é que mal me segurava na bicicleta, como poderia eu sprintar). Perante a minha nega, aproveitou a passagem de um autocarro e fez uma corrida atrás dele. Subiu a 35 km/h a inclinação e GANHOU! Tendo 600 km nas pernas... boa.

Finalmente, chegamos a Oviedo, km 610. Tenho uma enorme dor de pés, que se agrava ao parar em cada semáforo. Aguento como posso até chegar ao lugar de entrega das cadernetas e mal desço da bicicleta descalço imediatamente as sapatilhas. Assinamos as cadernetas, metemo-las por debaixo da porta e PROVA SUPERADA. São 15:30, sobraram-nos 6 horas e meia, (o fecho do controle era ás 22:00). Horas montados na bicicleta 26, a uma média de 23,5 km/h. Creio que é uma boa média, dado o forte vento de frente durante metade do percurso e os meus problemas com o joelho, que me impediram de ajudar mais o Luís nos relevos. Horas totais com paragens incluídas, 33:30, a uma média de 18 km/h. Por fim, já estamos classificados para o París-Brest-París. Mas isso será a 23 de Agosto... e com 1218 km... Uau.

publicado por Ubicikrista às 18:03

Olá a todos,

Estive ausente ultimamente da list@, devido a que entre os brevets, Xacobeo e trabalho não tive nem tempo para ler as mensagens. Antes de mais nada, quero enviar daqui um forte abraço ao Andrés e transmitir os meus pêsames à família do Cipriano*, descanse em paz.

Aqui vai a crónica de do brevet de 400 km, disputada a 15 de Maio, lamento não poder dar mais detalhes, mas tanto sofrimento nestes 15 dias, debilitou o meus "pobres" e solitários neurónios. Imagino que quando tiver mais algum tempo, já o Luís a terá completado. Partida no sábado 15 de maio às 10:00 AM. O meu primo Luís, outro ciclist@, e eu partimos juntos. O dia estava feio, e previa-se chuva. Ao sair de Oviedo, cruzamo-nos com os corredores das equipas da Banesto e da Vitalicio que se dirigiam, desde La Gruta, até a saida em Ventanielles, dado que hoje é a subida ao Santuário del Acebo, na volta às Astúrias. Cumprimentam-nos e um deles, não me recordo quem, disse: "Ai o que nos espera". O Luís riu-se e comenta comigo: "Se fizermos esta, ai o que nos espera a nós..." Dirigimo-nos para Trubia com algum frio e depressa começa a chover. Depois de passarmos por Grado iniciamos a ascensão a La Cabruñana, já em silencio e cheios de lama. Descida até Salas e depois subir para La Espina, continua o frio e a chuva. Coroamos às 12:30 e carimbamos no primeiro controle, km 59. Deixa de chover e iniciamos a longa descida com muitas precauções. Vamos num bom ritminho até Vegadeo, onde paramos para perguntar como se vai para San Tirso de Abres, o lugar do segundo controle. Temos de passar em Lugo e voltar a entrar nas Astúrias. Ao desviarmo-nos para o interior, começa de novo a chover. Chegamos às 16:45 a San Tirso de Abres km 174, carimbamos, comemos, bebemos e retomamos a marcha. Temos de voltar por donde viemos e depois continuar pela costa até Avilés. Estamos com sorte porque mal chegámos á costa, deixou de chover. Cada vez estou mais cansado e perto das 19:00 já mal consigo acompanhar o Luís mesmo sem passar dos 20 km/h. Devo ter uma “passarona” de estalo. Ao entardecer, paramos, pomos as luzes e fico obcecado pelas barritas. Depois de comer, recupero as forças e já posso rolar a 25 km/h com facilidade. Faz-se noite. É a primeira vez que andamos assim de noite, e ficamos surpreendidos por ver que se rola bastante bem. O cansaço ajuda-me a descer à maluca e às 23:00 chegamos a Avilés, km 325. Continuamos para Gijón e chegamos à bomba de gasolina de Veriña às 24:00, local do terceiro controle, km 350. Bebemos e calçamos as protecções para os sapatos (bolos, pastelinhos, chocolates...). Já está bastante frio e ao recomeçar, não tirei a pedaleira grande e numa subidita, o meu joelho esquerda diz basta. Uma dor aguda que vai aumentando limita-me o pedalar... Atalhamos pelo parque industrial de Porceyo mas perdemo-nos. Perguntamos numa bomba de gasolina mas continuamos perdidos. Vimos uns guardas-nocturnos e o Luís perguntou-lhes o caminho. Com grande amabilidade, dizem-nos para os seguirmos (tinham um jipe) e levam-nos ao caminho certo. Iniciamos a subida ao alto de La Madera, cada vez me dói mais o joelho e vou a subir com o 39x25 e só com uma perna boa... O culminar chega numa descida, e ao Luís acabam-se-lhe as pilhas e tem de descer atrás de mim (grande suplicio, por ser tão mau a descer). Os carros que vêm de frente encandeiam-nos, ainda que alguns dos que vão na mesma direcção que nós, permanecem um pouco connosco para nos iluminarem, facto que se agradece. Quase que me despisto numa curva muito fechada, pois a linha exterior da estrada estava coberta pelas ervas. Por fim, terminamos a descida e passamos junto a um valado de uma quinta, com um cão que nos ladra enquanto nos vai acompanhando. Rimo-nos do cão pois não pode saltar a vala, quando de repente, observamos que há um buraco na mesma e o cão sai para a estrada. O Luís aumenta a pedalada e deixa-o para trás e eu, com uma perna, tive de apertar os dentes e é por pouco que consigo evitar uma mordiscadela (mordiscão era melhor). Cada vez mais devagar, só atinjo os 20 km/h no terreno plano, vamos até ao quarto controle, Lieres, onde chegamos às 2:15 AM, km 385. Descansamos um pouco e regressamos para Oviedo. Sofrendo o indizível consigo chegar á meta. São 3:15 AM e km 405. Entregamos as cadernetas e despedimo-nos até ao dia seguinte, no aniversário do filho do Luís...

* promissor ciclista espanhol falecido numa chegada ao sprint

publicado por Ubicikrista às 18:02


Olá a todos. Sou o António.
Faco, vais-te arrepender por incentivares a malta a contar as suas batalhitas pessoais... Yah, yah… Após ler as crónicas de Málaga entusiasmei-me por relatar o "passeio" que demos no sábado, o Luís e eu.

Temos a sorte de ter um clube nas Astúrias, o SCTA (Somos Corredores Todos Avozitos – que as organiza os brevets, pelo que não necessitamos de nos deslocar, já temos que chegue por causa da bicicleta).
Depois do pincel introdutório passo a relatar o sucedido no sábado. Partida às 7:00 AM. Não estava frio, pelo menos não o sentia. Antes de chegar ao local da partida cruzo-me com uns totós que me dizem que o desporto é "muito mau"... nada mal, e não sabiam eles o que me esperava…). Recolhemos as
cadernetas para os controles, a folha com o itinerário e partimos.

Formou-se um pelotão de uns doze, a maioria dos SCTA ( "avozitos" de 35 para cima, não de idade mas sim de velocidade media). Estes impõem um ritmo "quase" de tour: 30, 35, 40... O Luís e eu vamos na cauda, sem nem sequer pensarmos na possibilidade de ir lá á frente dar uma ajuda a puxar. Além disso, vou "hibernado" pois sou o único de manga curta.
Chegamos ao primeiro controle, Cangas de Onís (km 72 - 9:30), para carimbar as
cadernetas, reabastecer de líquidos e comer alguma coisa. Retoma-se a marcha e regressamos aos andamentos do ORIENT EXPRESS (o percurso era para Este, até Santander). Continuamos com eles até ao segundo controle em Panes (km 126 – 11:30). Aqui, ao ter despertado da minha letargia, bebo pela primeira vez desde a partida e digo ao Luís que quem os iria acompanhar, dali para a frente, era a senhora sua mãe deles. Concorda comigo e lá continuamos, mas no nosso ritmo. O Luís, por estar mais forte, puxa a maior parte do tempo, e assim continuamos até Unquera (fronteira com Santander). Ali, sem pararmos, regressamos pela costa marítima.

Depois de se passar por Llanes, paramos para "reabastecer" numa bomba de gasolina. Bebemos, comemos e retomamos a marcha. Chegamos ao terceiro controle, Ribadesella (Km 189 – 14:00). Prosseguimos o itinerário até Villaviciosa, zona costeira de sobe e desce com forte vento de frente, para nos desviarmos para El Pedroso, um "valioso" conselho de um dos "avozitos" que nos obrigou a subir um cabeço extra, com 200 km nas pernas. Um dia havemos de o caçar, um dia…).

Ao sairmos de Gijón, somos alcançados pelo ORIENT EXPRESS, que tinham parado para comer de faca e garfo (imagino que com sesta incluída...). Outra vez a voar com a pastilha toda. Continuamos, já um pouco combalidos, até chegarmos a Tamón, onde justamente antes de 1 km de 10% decidi parar para aliviar as dores nos pés e a iminente “passara” que me sobrevoa.
Decidimos voltar a impor o nosso ritmo até ao final. Depois de comermos o que sobrava, continuamos até ao quarto controle, Cancienes (km 282 – 18:45). Aqui já "olhamos" para a meta, além disso só nos resta uma subida, o Alto da Miranda, que por estas alturas, para nós, se assemelha ao Tourmalet (bom, exagero um pouco...). Por fim, às 19:45 chegamos a Oviedo. Total de horas em cima da bicicleta 11:15, com uma media de 28 (o "conselho" do avô serviu-nos para fazer 315 km). Horas totais 12:45, a uma media de 24 e pico. Para nós um grande tempo, pois esperávamos chegar até às 22:00.
O fecho do controle era até às 3:00 AM. Como vêem não se tem que ser nenhum Indurain para se conseguir fazer, é só saber "sofrer" um pelinho.
Depois vos contaremos como nos portámos nos 400 km, dentro de 15 dias.
Tchau.

publicado por Ubicikrista às 18:01

 

Não sei se conheceis o PBP (Paris-Brest-Paris). É a cicloturista por excelência, algo assim como a olimpíada do cicloturismo. Celebra-se de quatro em quatro anos e trata-se de cobrir os 1.218 Km que há entre Paris e Brest (ida e volta) em menos de 90 horas.
Para alguém se poder inscrever tem que completar quatro provas prévias, chamadas "brevets", a saber: 200 km, 300 km, 400 km e 600 km. Em Espanha há vários clubes que as organizam.
Nestas previas, há que passar por vários controles
(não, não há recolha de urina... mal pensantes). Passo a explicar: dão-te uma caderneta e nas povoações assinaladas têm que te pôr a hora e uma assinatura ou carimbo, num qualquer estabelecimento da localidade (bomba de gasolina, café ou restaurante, etc.), para cumprires de acordo com um horário pré-estabelecido pela organização. Mas há tempo suficiente, não é necessário fazer médias do "tour", pese embora o que possas vir a ler a seguir... (cronica do Brevet dos 300)

publicado por Ubicikrista às 18:00

Aqui vai a crónica de minha Cicloturista de Angliru.....com certo atraso, porque agora deveria ter enviado a dos Lagos'99. Lá chegará.

A primeira coisa que quero deixar claro é que não estou de acordo com as criticas que se fizeram à organização da II Marcha Cicloturista Sierra de Aramo, Alto de L'Angliru.

Temos que ter em conta que é a segunda edição desta cicloturista, e dado que mudou de organizador,  poder-se-ia dizer que na realidade é como se fosse a primeira (se bem que, é certo que entre todo o pessoal da organização vi pessoas que reconheci da edição anterior, assim sendo alguns certamente tinham experiência). Eu vi muitíssimas melhoras em relação à primeira edição.

Abastecimentos abundantes, tanto sólidos como líquidos (de facto eu acabei com mais comida nos bolsos da camisola, do que a que tinha quando comecei) :-).

O único túnel complicado que há, e que tínhamos que atravessar, até o iluminaram !!!! Flipei-me quando vi isto.

Havia muita gente da organização nos cruzamentos e em lugares complicados (comunicavam entre si por radio), cartazes indicando as curvas perigosas nas descidas, abundantes efectivos da guarda civil, ambulâncias, assistência técnica....

Criticou-se a descida da Mortera (não só entre os da lista, também ouvi gente criticando a marcha), mas é que não havia outro lugar por onde passar...podia-se ter alterado o percurso, mas estou  certo de que todo o mundo preferia fazer o percurso que será final de etapa na Vuelta'99, e para passar desde Riosa, até La Cobertoria a única forma de o fazer é subindo por Mortera (como se fez) ou por Siones (cuja descida se junta com a de Mortera, assim o troço mau não o apanhas). Há outra possibilidade, que é ir até Oviedo, ou até às Caldas, mas isto é inviável por problemas de transito com os automóveis. Além disso estava para  ver o que se teria passado na descida da Mortera se o asfalto não estivesse bom, com os kamikazes que por aí há.

Outra critica que se fez, não aqui, mas sim por pessoal que participou na marcha, é que os travaram, e não os deixaram atacar e irem-se embora na Mortera, que tampouco me parece justo. A organização, desde o inicio advertiu que se reservava o direito de reagrupar. E ainda que em nenhum momento o tenha feito, é lógico que travasse os  “galos” ao principio, para que o pelotão da marcha não se alongasse.

Também se criticou o excesso de carros subindo-baixando na subida para Angliru. Mas disseram-no desde o principio (e varias vezes), que a estrada estava aberta ao transito. Ainda que me pereceu que tentaram que não subisse demasiada gente de carro para cima até Angliru, impondo uma espécie de controle, mas se houve problemas nas subidas com alguns carros, foi por pura irresponsabilidade dos acompanhantes, não creio que a organização tivesse a ver com isso, nem nada para dizer a este respeito. De todas as formas volto a dizer que esta é a segunda edição, e na edição anterior apenas fomos 250, este ano com quase 700 participantes, eram imprevisíveis muitos dos  problemas como os que se encontraram, além disso, já se disse por aqui na lista, que se iria utilizar a marcha como teste, com vista à Vuelta'99. Creio que também anotaram o que ocorreu para que na Volta sejam tomadas as medidas adequadas, e na próxima edição da cicloturista estou certo de que estará ainda melhor.

O tema do atraso com a entrega dos diplomas, tem uma explicação simples: estragou-se-lhes a base de dados. Um problema informático que explica o atraso (e que aqui na lista sabemos todos, mais ou menos, que é uma coisa que desgraçadamente pode acontecer a qualquer um de nós) :-(.Mas os diplomas foram enviados por correio, para casa de cada um).

Quiçá a critica que eu faria à organização, é à hora da partida, porque (sobretudo para as pessoas de fora das Asturias), ao partir tão tarde, termina muito tarde, e depois espera-os uma grande viajem de regresso por a cicloturista ser ao Domingo, pois pode-se tornar bastante duro o regresso de carro (já que na segunda-feira tem que se voltar ao trabalho).

E depois disto tudo, todavia ainda não comecei com a crónica...enfim, isto é o que me lembro  do que aconteceu:

No dia seguinte à marcha tinha um exame, assim na noite anterior estive a estudar, e deitei-me bastante tarde, e mais nervoso pelo exame do que pela cicloturista, pela manhã quando suou o despertador, apaguei-o e voltei a adormecer....mas graça a Deus, despertei de repente, olhei o relógio eram 8:15 (e tinha ficado assente encontrar-me ás 8:30 com o Antonio para que me levasse). Assim, a toda a pressa, tomei o pequeno almoço como pude e preparei-me, desci à rua e já lá estava o Antonio à minha espera. Chegámos a Riosa, e a organização indicou-nos por onde teríamos que ir para estacionar (Riosa é muito pequena), mas tinham facultado um campo de futebol para servir de estacionamento (outro detalhe de boa organização, o que não aconteceu o ano passado). Antes de nos prepararmos definitivamente, abandonamos as bicicletas, e fomos levantar os dorsais. O sitio de recolha dos dorsais tinha sido alterado, seguramente para melhor, mas não era onde eu pensava e que propusera como local de encontro, para ficar a conhecer os ciclolisteros que ainda não conhecíamos, os Asturianos da lista....enfim, o Fernando e o Andres estavam justamente nas escadas que desciam para o Polidesportivo (desde logo o melhor sitio para se esperar...se tivesse sabido), assim, cumprimento-os, trocamos impressões: o Antonio, e o Andres levam carreto para tentar subir até lá acima, eu não, e estou  indeciso (não me importo de pôr pé em terra por não ter mais mudanças), e o Fernando está convencido de que ficará em Via Para (também pelos carretos que leva montados). Quando levantámos o dorsal, apercebemo-nos de que este ano também se sorteia uma bicicleta, que surpresa e que ilusão! Vamos ver se me calha!

Voltamos ao carro, mudamos de roupa, e preparamo-nos (e começo-me a enervar....deve-se ter notado porque o Antonio tenta-me tranquilizar), dirigimo-nos ao Polidesportivo onde já está o Fernando montado na sua bicicleta, e esperamos um bocado para ver se aparece o Andres, mas nem rasto dele, nem de ninguém da Ciclolista que tivesse vindo de fora :-( Assim empreendemos um passeio, pelo sentido oposto até à partida. Ao ver um tipo de um clube de Valladolid, digo-lhe: "O  ano passado estive com um do teu clube nesta cicloturista", olha-me diz: "Foi comigo"....granda corte....e esclarece-me: "Acabo de te reconhecer". (Se leram a minha crónica do ano passado estarão recordados dela....não lhe perguntei o nome, porque sei que é inútil já que me iria esquecer.

Vejo que há varias raparigas. Surpreende-me, porque o ano passado não havia nenhuma, e porque não é normal que compareçam ás cicloturistas duras (devia haver 5 ou 6), e se uma chegou até ao cimo (embora com pedaleira tripla), além disso foi a primeira rapariga em Via Para (a moça deve andar mesmo bem).

Já na praça do ajuntamento, mais ou menos apertados sorteia-se a bicicleta (o sorteio é feito pelo Julio Jimenez "el relojeiro de Avila"....Tinha graça se me saísse a bicicleta, e me fosse dada por um mito do nosso ciclismo, mas não me saiu nem a mim, nem a nenhum de nós....mas saiu a um da cicloturista Expert Llanes...são gente boa...o ano passado foram eles que me tentaram levantar a moral quando estava já em Riosa ao lado do carro). Também estava o Angel Arroyo (mas como participante, na parte final desceu-se da bicicleta na descida da Mortera para acompanhar o acidentado da jornada em ambulância, e depois voltaria para fazer só a subida a Angliru, que fez sem se apear, com ajuda da pedaleira tripla...segundo contou um jornal local). Deram-nos as indicações oportunas para realizar a marcha, advertindo-nos da perigosíssima descida da Mortera ainda em obras, e Julio Jimenez deu a partida:

No principio a estrada é encosta abaixo, e apesar de que a maioria vai bastante depressa eu deixo-me ir, depois chega-se à estrada Nacional, vou junto com o Antonio e o Fernando (o Andres tinhamo-lo perdido), vemos um ou outro furado (tão cedo), passamos ao largo do desvio para Peneruedes (uma montanha a que fomos poupados no que respeita à edição do ano anterior), e chegamos a Soto de Ribera onde começa um troço de rompe pernas, mas como vamos muito devagar nem o noto. Por fim chegamos à subida a Mortera (que é muito mais inclinada que Siones, que está um pouco mais longe, e que vai parar ao mesmo sitio que a de Mortera, e foi a que se subiu o ano passado). De inicio afogo-me um pelinho porque durante toda a semana não fiz exercício :-(,e porque o ritmo do Antonio não é que seja forte, mas tampouco é suave, além disso está muito calor, creio que por culpa da central térmica que há nas proximidades. Pouco a pouco vou ficando melhor bem e já respiro com mais  desafogo. Chegamos lá acima, e ali justamente quando ia começar a descida, tive que pôr o pé em terra para não levar com um carro de uma tipa que estava a seguir o marido, mas que bem que ela está *lixando* os que estavam na complicada descida da Mortera. A descida estava toda inteirinha em obras e era muito perigoso, porque é muito empinado, com troços que andarão muito próximos dos 20%, enquanto descíamos vimos que tinha havido um acidente (já ali estava a ambulância), mas eu não vi muito bem, porque ia concentrado na descida (disseram-me que era um único tipo, o acidentado, e que tinha sangue na cabeça, provavelmente não levava capacete).Já embaixo, ouvi muitas criticas a respeito da descida (é certo que estava em muito mau estado, e que era muito perigosa, mas a única alternativa viável, era fazê-lo em sentido contrario, ainda que duvido que as rodas traseiras tivessem tracção com esta inclinação, e toda a gravilha e terra solta que havia). Desde onde estávamos até à Cobertoria, a estrada picava toda até ao alto, e tínhamos bastante vento de frente, mas íamos muito calmos (20-23km/h) assim como quem não quer a coisa, ainda deixámos (apesar de meu desacordo) abalar um grupo que nos ultrapassou e que ia a 25-27km/h (penso que é o mesmo (o mesmo esforço) ir a mamar na roda a 25-27km/h de um grupo, que ires tu a puxar a 20-23 km/h quando tínhamos o vento de caras), passamos por um túnel muito longo, não iluminado, mas que temos que fazer! SURPRESA! Tinham-no iluminado, pareceu-me um grande requinte da organização. Por fim chegamos ao abastecimento (situado 10km antes do que indicavam os perfis que nos tinham dado). Vimos ali o Andres, embora não tivesse ficado claro se ia à frente ou atrás de nós. O abastecimento é abundante, muito mais que o ano passado, e ao fim e ao cabo ainda não fizemos nenhum desgaste importante (a diferencia em relação ao ano passado é que houve menos comida, e mais dureza antes do abastecimento). Aceitamos a coisa com calma (creio que excessiva), e por fim :-) lá abalamos. Apanhei os sacos de plástico de nós os 4 e fui-os meter numa lixeira, ainda que tenha havido quem as abandonou por ali na zona do abastecimento ...não está certo, mas tampouco esteja muito mal, porque sabem que as pessoas da organização as recolherão. O que está mal foi o que fez um, em que apanhou o saco e atirou-o a 5 ou 7 quilómetros do abastecimento aonde ninguém o irá retirar (não vi ninguém a fazê-lo... telo-ía apertado, mas vi sacos abandonados.... mas há quem o faça, PORCOS). Nalguma subidita da estrada que continuava a empinar até ao alto, o Andres fica para trás, eu sei que não vai mal, suponho que quer ir com calma, muita calma, o Antonio fica à espera dele, e eu comunico isso ao Fernando. O Fernando e eu que íamos "puxando" pelo grupo em o que estávamos, afrouxámos, mas finalmente acabámos por abalar para a frente (eu, enquanto fosse com alguém que me mantivesse num ritmo por debaixo do que as minhas forças me exigiam utilizar, sabia que ia a ir bem). Começámos a subir a Cobertoria e o ritmo do Fernando por momentos pereceu-me excessivo e deixei que se afastasse um pouco (não é que não o pudesse seguir, é que não queria forçar na Cobertoria, queria guardar forças para subir o Angliru...e como não levo pulsómetro, a diferença em relação ao Andres ou ao Antonio é que eu regulo-me por sensações) ...de todas as formas o Fernando vai um bocado aos esticões, e quando se põe de pé distancia-se um pouco, e quando se senta recupero o que me separa dele. Maravilhosa a sensação de ultrapassar as pessoas, não porque sejam todos aqueles os que te passaram. Olhar para baixo da estrada procurando os que vêem por trás, ver que distancia lhe vais metendo pouco a pouco, não os veres e perguntares-te quanto tardarão a chegar ao pé de ti, é uma sensação maravilhosa (a verdade é que tinha apanhado um susto na Cobertoria na minha cicloturista do ano passado, de facto, desde o meu fracasso do ano passado vivia obcecado para voltar a ressarcir-me, e tinha treinado muito nas estradas pelas quais transcorre a marcha, mas não me atrevi em nenhum momento a voltar a subir a Cobertoria, simplesmente tinha-lhe receio). Quando ultrapassávamos algum que ia mal ou muito mal mesmo, recordava-me logo de mim no ano anterior, dava-lhes ânimos (também  passámos uma moça, mas embora fosse muito cascada, vimos muitos tipos que iam pior). Chegámos à parte mais empinada da Cobertoria e notei como me custava já um pouco a subida, comecei a ter sensações de estar a fazer um esforço a sério, assim decidi deixar de lado a hipótese de subir até a Angliru e acelerei um pouco o ritmo, e o Fernando pouco a pouco foi ficando para trás (ainda que não lhe chegue a meter grande distancia em nenhum momento), cheguei à altura onde ia o único tandem da marcha, e justamente quando os passei, estavam a tentar que as mudanças entrassem, e parecia que não lhes entravam, de repente ouvi: CRACK! e um deles disse: "partiu-se a corrente", olhei para trás e vi que tinham caído, por não poderem tirar os pé dos pedais automáticos a tempo e sincronizadamente. Decidi incrementar o ritmo para poder avisar lá mais acima da avaria (já só deviam faltar 700 metros ou menos), e quando cheguei ao alto, deram-me o abastecimento liquido, e avisei-os da avaria do tandem. Daí a pouco chegou o Fernando e voltou-os a avisar. Mais lá para cima havia dois carros da assistência mecânica, e rapidamente desceu um (no jornal  local, li que afinal lograram chegar até ao Angliru, mas que se lhes partiu a corrente 4 vezes! ... pobres ....sobretudo se nas quatro caíram) :-( Depois de hidratar os nossos corpos :-) e de que o Fernando vestisse o impermeável para o presumível frio da descida (até esse momento o dia tinha estado bastante nublado), começamos a parte perigosa da complicada descida da Cobertoria, digo ao Fernando que descartei a possibilidade de subir até ao alto, e diz-me que vai tentar (que de certeza que de seguida dará meia volta, mas que vai tentar), e como leva um 39x25 e eu um 39x26 animo-me a ir tentar com ele... a meio da descida começa a luzir o Sol....a descida termina em Pola de Lena, que atravessamos apenas num minuto a toda a velocidade, eu comi uma barrita energética como pude, e logo que acaba P. de Lena, começamos a Soterrana (ou a Cordal como se queira), passado o primeiro quilómetro damos conta de que o Sol bate muito forte, entre outras coisas porque nos encontramos com outro abastecimento liquido não previsto (outro detalhe de uma boa organização), passada a primeira parte dura, a inclinação suaviza-se, e eu sem me dar conta vou deixando para trás o Fernando e começo a achar que estou fortíssimo, suponho que era do efeito da barrita energética, o caso é que passei um montão de gente, cada vez mais rápido chegando a pôr-me a 18km/h, até onde se volta a empinar seriamente a Cordal.... o Sol dá muito, muito forte, e o ultimo quilómetro torna-se duro, num determinado momento olho para baixo e vejo que uma das pessoas que vou deixando para trás é o tipo de Valladolid (não me dei conta quando o passei) :-} Ufff...Já estou cá no alto....abastecimento solido....eu bebo...e bebo...e bebo....bom, agora tenho que comer qualquer coisa, mas a verdade é que com o calor que faz custa-me comer demasiado. Chega o Fernando também bastante cascado, embora penso que para mim o ultimo quilómetro foi o mais duro. Olho para as horas e vemos que não vamos muito bem de tempo (claro que temos tempo antes do encerramento do controle, mas tampouco se pode dizer que nos sobra uma hora). Fernando dá-se conta de que dali se vê Via Para, e de que estamos à mesma altura (pode ser que um pelinho mais altos), e comentamos que é uma pena ter que descer até Riosa para voltar a estar à mesma altura e somente a poucos quilómetros em linha recta. Meto parte do que não comi nos bolsos, mas como não me cabe todo deixo o resto no saco. E para baixo. Eu passo a descida a pensar no meu exame do dia seguinte, e que já é tarde, e no pouco tempo que vou ter para estudar à tarde. Mesmo assim, continuo com esperanças de chegar até ao alto, enquanto o Fernando, segundo o que me disse, já pôs de lado essa hipótese, porque diz que passou muito mal em Soterrana. Chegamos a Riosa, volto à esquerda e entramos na temida estrada de Angliru. O Fernando disse-me: "Tu atira-te para a frente que eu vou tomar a coisa com muuuuuuuuuita filosofia" :-) mas como eu estava a pensar ir até ao alto, precisamente por isso iria forçar, subimos a 9km/h,e passamos um grupo em que está o já famoso tipo de Valladolid (não devia ter de parado tanto como eu no abastecimento da Soterrana), desta vez sim cumprimento-o e pergunto-lhe se vai até lá acima, disse-me: "O ano passado nem pensei nisso, mas creio que este ano vou tentar.", eu comento-lhe que se calhar também irei tentar, observa-me os carretos que levo e com um gesto de desaprovação diz-me que não vou preparado (ele leva pedaleira tripla).....nos sítios mais duros não me quero pôr de pé para não subir as pulsações, mas noto dores muito fortes nas pernas ao forçar nas subidinhas, e predisponho-me a subir até lá ao alto, volto-me a recordar do exame, de tudo o que tenho que estudar ainda, e do tarde que se me vai fazer se chegar lá acima (eram quase as 15:30....calculo que pelo menos dariam as 17h se pretendesse subir até ao alto, ainda por cima cascado, e com carretos que me obrigariam a fazer muitos troços a pé), assim apesar da dor nas pernas, continuava a manter a chama que tinha ido guardando.... meto o turbo... mas já estávamos quase no final, portanto tampouco fiz demasiadas ultrapassagens:-) e finalmente terminei. Fernando ofereceu-se para me levar de volta a casa, e assim não tenho que esperar pelo Antonio. Depois de uma ligeira conversa com a mulher do Antonio que estava em Via Para, descemos, e encontramo-nos com o Antonio e o Andres que estavam a chegar a Via Para, vinham muito inteiros, assim que de certeza que chegariam até ao alto (como fizeram).Durante o descida chamei a atenção a muitos que desciam muito vivamente, sem nenhum respeito para com as pessoas que subiam.

Eu, mais que muito satisfeito, claro que também, fiquei um pouco vazio.... depois de 1 ano obcecado (literalmente) com esta cicloturista, fiquei um pouco como que desnorteado, já tinha conseguido ressarcir-me, e: "?agora o quê?". Enfim. Terei que procurar outra meta. Por certo que nessa tarde estive a estudar, mas à noite comecei a sentir-me mal, e tive que ir para a cama (tinha queimaduras nas pernas, braços, nuca e cara....não tinha posto creme porque não havia Sol quando partimos, nem parecia previsível que viesse a haver e muito menos tão forte), e muita sede, e dor nos  olhos.... vamos lá, penso que tinha sintomas de uma ligeira insolação.

publicado por Ubicikrista às 17:34

Olá a todos:

Já sei que é um pouco tarde (aproxima-se a edição do ano 2000), mas andei muito enleado esta emana, para me poder concentrar na crónica da cicloturista.

No domingo ás 6:30 da manhã já estava desperto. È muito cedo para me levantar da cama (tinha posto o despertador para uma hora mais tarde), mas depois de 10 minutos dando voltas na mesma, levantei-me. Gastei um pouco do tempo, porque senão ia comer demasiadas horas antes que se desse a partida (ás 10:00, que foram afinal, uns minutos mais). Ás 8:30, mais ou menos, já estava em Riosa, e fui buscar o dorsal. Já andava por ali o Andres. Conversámos um bocado, recolhi o dorsal, e quando chegaram o Antonio e o David, fomo-nos vestir. Na partida estávamos juntos o David, o Antonio e eu, mas o Andres não o vimos. A bicicleta que sorteavam, por suposto, não me tocou a mim. Os  organizadores e a guarda civil não cessaram de recomendar-nos prudência, em especial na descida que estava em obras, e que depois, pudemos comprovar, muito perigosa.

Partimos com algum atraso, e as pessoas já tinham começado a correr. O Antonio, o David e eu começámos a coisa com tranquilidade. Na primeira subida séria, não apertamos. Eu não a conhecia (mas sim o resto das subidas), e não queria deixar o pessoal tão rapidamente. A descida em obras, bastante perigosa, sobretudo, se queres descer depressa. Pergunto-me o que se teria passado se estivesse  bem asfaltada, dado que as velocidades que se pudessem conseguir poderiam tê-la tornado mais perigosa ainda. Terminada a descida, juntamo-nos de novo (tínhamo-nos separado um pouco na descida), o Antonio, o  David e eu, e pomos um ritmozito até ao abastecimento, já tendendo a estrada, para uma certa inclinação. Comemos bem, apesar das pressas do David, e encontramos o Andres, que já se ia embora. Depois de ter-mos comido, retomamos a marcha, já avistando o começo da subida da Cobertoria. David e eu destacamo-nos ligeiramente, e eu (grande erro) começo a subir demasiado depressa (para o meu estado de forma, claro). Os dois últimos quilómetros da subida tornaram-se-me durinhos, e o David destacou-se uns 200 metros. Logo após coroar, o único tandem que havia na marcha teve um problema com a corrente, partiu-se-lhes e foram parar ao chão. No cimo da Cobertoria estava a assistência técnica e avisei-os para que descessem e lhes dessem uma ajuda. Mais tarde pude comprovar que lhes arranjaram a avaria e puderam continuar. Chegado ao cimo, comemos, bebemos, descansámos, e para baixo. A descida é perigosinha, sobretudo tendo em conta que podias encontrar em qualquer momento um carro de frente. A verdade é que não descansei muito na descida, assim é que afrontei a seguinte montanha (La Soterraña) com 500 metros de plano desde o final da descida, e um pouco cansado.

A subida à Soterraña tornou-se-me muito comprida. Não estava à vontade, doíam-me os rins, e recordava-me do desgaste da primeira parte da Cobertoria. La estava o alto, a parte mais dura era no final, e ali ripostei com o meu 39x25 até coroar. De novo, o David esperava-me lá em cima, desta vez deve ter-me sacado uma maior vantagem. Era curiosa a vista que havia dali, dado que se divisava perfeitamente Viapára, a uma altitude similar á que nos encontrávamos. Que pena que tivesse que descer para Riosa para voltar a subir!

Comidos e bebidos (não pensem mal) começámos a descida. Havia algumas curvas feias, que estavam perfeitamente marcadas com cartazes. Chegados a Riosa, e eu, com a firme convicção de não tentar subir mais além de Viapára, começámos a ultima ascensão da jornada. Uns 5 quilómetros fáceis, dentro do possível, nos quais não acusei já tanto o cansaço como na subida anterior. Isso sim, "meti tudo" o que levava desde quase cá de baixo. Ao chegar a Viapára, o David decidiu que não iria tentar subir a segunda parte da ascensão completa, e pôs o turbo. De novo me deixou pregado, ainda que, dado o pouco terreno que faltava, não me sacou muita distancia. Chegados á meta, bebemos, falámos e dispusemo-nos a esperar pelo Antonio e o Andres, que tinham decidido levar a coisa com calma para completar a marcha. Depois de esperar um bocado, e dado que começava a ser tarde para comer (só comi perto das 18:00 desse dia), o David e eu iniciamos o descida até Riosa, para apanhar o carro e voltar para Oviedo. Quase a começar a descida, encontramo-nos com o Antonio e o Andres, que pouco tempo depois iniciariam a ascensão final. O resto da historia já a conhecem.

Em resumo, uma marcha que achei bastante dura pela parvoíce de subir depressa para Cobertoria, quando todavia estava fresco, e sem ter em conta o que ainda estava para vir. Espero que nos Lagos de Covadonga, já que tenho previsto comparecer, não tenha os mesmos problemas.

Para os que haveis aguentado todo o rolo, os meus mais sinceros parabéns.

publicado por Ubicikrista às 17:33

Olá a todos:

Esta é minha crónica da marcha de ontem, que espero que seja curta, pois já é a terceira vez em menos de 2 meses e já estou um pouco farto.

Madruguei muito (ás 8:30 já estava em Riosa) e concentrei-me em todas as furgonetas para ver se alguma tinha matrícula SA para conhecer o J.Ramón e o Juanma. Não pode ser. Que pena não ter concretizado mais. Teríamos conversado algumas coisas sobre Salamanca e as subidas da Sierra de Francia que seguramente conhecereis (El Portillo ou Las Batuecas, La Peña .....)e que eu conheço porque a minha mulher é serrana. Doutra vez será. Nota-se a falta de coordenação do Faco.

Hoje inteiro-me que o Alberto também foi. Certamente que ia numa daquelas 2 furgonetas matrícula de BI ¿ Lembras-te Antonio?

Primeiro encontrei o Fernando e mais tarde o Antonio e o David. O primeiro já vem decidido a terminar em Viapará, o David está indeciso e o Antonio e eu estamos decididos ir dispostos a tudo.

Não nos vemos na partida. Estou  bastante á frente, e tomo uma decisão: pôr o alarme do pulsómetro em 145 e mantê-lo até Viapará. Quero terminar lá no alto. Na subida da primeira montanha sinto muito calor porque levo debaixo uma camisola de manga comprida. Depois da perigosa descida sem asfalto, (vejo duas caídas graves e muitos furos) chego ao primeiro abastecimento donde nos juntamos todos e ali desfaço-me da camisola. Observo as paredes da escola de alpinismo de Aciera, que por varias vezes visitei. O David está inquieto, tem pressa, quiçá já tem decidido retirar-se na primeira meta. Na Cobertoria, ao ritmo do David e do Fernando toca-me o alarme e decidi voltar a acertá-lo.

O Antonio fica comigo e noto-o muito á vontade de forças. Observo a multitude de cumes do maciço de Ubiña que tantas vezes palmilhei: Peña Rueda, Huertos do Diabo..... no alto o Antonio diz-me que não espere, que ele descerá devagar e enceto a descida. Na Soterraña subo sem que o alarme toque e vou esperando que o Antonio me alcance, coisa que faz logo que chego ao abastecimento. Aqui decidi comer pela ultima vez e não parar mais. Subimos controlando até Viapará e pouco antes vemos descer o Fernando e o David. O Antonio diz-me que vai parar para comer. Eu prossigo. Começa a endurecer-se a coisa. Um tipo sentado nas ervas grita-me !! Aonde vais com essa pinta?!! E eu respondo para mim: aonde é que eu irei? aonde tu não irás nunca. Supero a parte de 19% sem grandes problemas excepto a incomodidade dos carros que descem e a desconsideração de alguns ciclistas que também descem. Aproximo-me do pior. Não sei se o conseguirei. O sol aperta. Anseio por um descanso aonde possa deitar um pouco de agua pela cabeça. Não quero olhar para cima. Começo a rampa sentado mas depressa me vejo na necessidade de levantar o cu do selim, antes do que tinha previsto. Vou olhando o chão esperando a zona de Argayo que tem logo a seguir a maior inclinação. Estou a ponto de me descer. Animam-me e aguento como posso. Sento-me e com "alívio" vejo como as pulsações baixam pouco a pouco (175.. 168. 159.. ) Daqui já não me faz descer nem a Guarda Civil. O resto é duro mas comparado com o anterior "fácil". Chego ao plano que precede a descida final e, embora contente sinto-me um pouco inútil, pensando na quantidade de gente que terá chegado, mas quando me dão o posto 291 e pensando que partimos uns 700, não está mal de todo. Espero pelo Antonio, mas como está frio empreendo a descida e cruzo-me com ele em menos de 1 Km. Espero-o em Cobayos para podermos observar a rampa e encetar-mos o regresso ao carro.

publicado por Ubicikrista às 17:32

Olá a todos.

Vou relatar o sucedido de ontem. Fui com o David levantar os dorsais e vimos o Andrés e o Fernando. Procurámos, em vão, a furgoneta branca do José Ramón. Uma pena não o termos encontrado, mas entre 700 participantes é realmente complicado. No sitio da partida, após umas palavras do Julio Jiménez, sorteia-se uma bicicleta de meio quilo, ganhador o dorsal 144: huyyy, tenho o 194, "quase" ... ;-) o afortunado tarda em aparecer, o que provoca um atraso de uma meia hora. Partimos  e de seguida começámos a subir ao Alto de La Mortera, vou "retendo" o David para que não lhe passe o mesmo  do ano anterior, mas resulta que o que vai passado de voltas sou eu. Pese o propósito de me ir reservando, subo às 170  pulsações. É a primeira montanha do dia e eu desperdiçando a gasolina :-(são uns 5 ou 6 km sendo o primeiro e o último os realmente duros. Já no final, encontramo-nos com um carro de Vitoria "atravessado". Porra, se quer ver algum familiar que espere na Vía Pará.

Descida TERRORIFICA por Tenebreo. Terra pisada, com gravilha e pedras, com zonas de 20%. Vamos, quase, quase "a pique" como diriam do tal barco que se afundou.

Descemos com precaução, há vários furados e algumas caídas aparatosas. Diante de nós (Fernando, David e eu) houve uma queda muito má, o homem sangrava da cabeça e estava deitado. Uma ambulância levou-o:-(Eu mesmo, quase levei pela frente um que fez uma travagem, fiz slalom por entre as pedras. Pese a minha torpeza, não caí :-) Passámos o mau bocado dessa descida e reunimo-nos os três. Mais adiante, chegamos ao primeiro abastecimento, espera-nos o Andrés, que tinha saído com os  primeiros. Comemos e perante a insistência do David (tive que tragar a maça e Coca-cola quase de enfiada ;-) retomamos a marcha. Bommmm, tenho que reconhecer que aceitei a coisa com muita calma;-) Formou-se um grupo no qual puxa o Fernando, com o David e eu atrás. O Andrés, sabia o que os esperava e ficou na retaguarda. Na subida da Cobertoria, vendo que o David ia bem acompanhado (o Fernando sabe controlar muito bem) decidi ficar com o Andrés. Novamente subi um pouco saturado, 165-175 pulsações, com um 42x24.

Detenho-me para beber, o Andrés continua. Desço com tranquilidade e começo El Cordal (Soterraña) aqui já ponho o 30x20 e 30x22, tento não me gastar muito mais, para variar volto a subir entre 70 e 80. Mais acima, no abastecimento, está o Andrés. Como alguma coisa, encho os bolsos e descemos. Subimos para Vía Pará, desta vez num ritmo mais de acordo com o que falta percorrer.

Chegamos à primeira metade, e Andrés diz-me que não parará. Eu decido fazê-lo para comer algo, recuperar um pouco e preparar-me para o caso de não chegar lá acima ;-) Justamente antes da linha, cruzamo-nos com o Fernando e o David que regressam a casa. Eles não subiram até ao cimo, por não terem carretos adequados.

Comi demasiado, como depois pude comprovar, após uns minutos  decidi subir. Eram 3:45 e o sol cascava que era o bonito, uns vintitantos graus que com o aquecimento que trazia pareciam quarenta ;-) Aqui cada um ia como podia, meto o 30x24 e que seja o que Deus quiser. Passo as curvas de 19% como posso, quase vomito o que tinha comido, prossigo, muito devagar, tratando de recuperar o fôlego até á curva que precede La Cueña. Aí olhas para cima e o que vês, por muito que o conheças, paralisa-te: como disse Joselu parece uma recta de 45º ...  :- Começo a subir muito devagar, o sol cai a pique, começa o meu CALVARIO de 800m, até que ao chegar ao 22% (?) tenho que pôr pé em terra. A gasolina tinha-se acabado. Esse é o preço que se paga por não me ter alimentado antes:-(Subo a pé até á curva, a 4 km/h e 165 pulsações. Detenho-me para beber, espero um pouco até estar a 120. Monto de novo e prossigo como posso para cima.

Chego ao Aviru, rampas de 18%, e ali tive a "bronca" com os carros que obstaculizavam o andamento. Vê-se que recuperei bem pois pude gritar em plenos pulmões ... ;-) Daí a pouco, cruzo-me com Andrés que já descia. Um carro obriga-o a deter-se, não me vê pese embora tê-lo saudado. Levanto a voz e agora sim, saúda-me. Como um gato de pança empinada, prossigo até a cimo. Uma rampa mais de 17% e já estou no alto. Fui dos últimos a chegar (314 de uns 350 que subiram até Angliru) mas CHEGUEI.

Bebo e com um sorriso de orelha a orelha, desço até Vía Pará. Na curva de 22% está à minha espera o Andrés e continuamos juntos. Chegamos ao Polidesportivo e dizem-nos que os  diplomas serão dados na Praça do Ajuntamento. Alas, a darmos um passeiozito de um quarto de hora ... Voltamos e dizem que estarão daí a 15 minutos ... A hora e meia, começa a orvalhar pelo que decidimos partir. Este foi outro grande ERRO da organização: a demora em confeccionar os diplomas (apontavam os dorsais num papel e desciam-no numa furgoneta), outro; a descida de Tenebreo em PESSIMO estado e o PIOR, o que comentava o Alberto, permitir os domingueiros, e o que é mais grave, que os FAMILIARES dos participantes, estivessem com os seus carros atravessados por Angliru.

Seguramente que deixo muito por comentar, mas daqui da câmara criogénica da restauração não posso fazer mais ... :-) Um dado ainda, ontem pela manhã pesava 65 kg, hoje 62 kg.  Saúdes,

Antonio Alvarez García

publicado por Ubicikrista às 17:31

Já voltei de Angliru e tal como disse o Faco quando foi ele a subir, haverá um antes um depois na minha experiência com a bicicleta.

É duríssimo, tenho minhas dúvidas no que toca a que a inclinação seja de 22%, creio sinceramente que tem mais que isso.

Estou acostumado á sensação das posturas forçadas na bicicleta já que ando muito em Btt e domino-a bem, por isso perece-me muito meritório subir o Angliru com uma bicicleta de estrada e teres a sensação de que a roda dianteira se desprega do alcatrão ao subir, tem que ser muito desagradável. Juntando a isto o facto de que é muito difícil voltar a montar, se te apeias dela com umas travessas de plástico de estrada, já que é difícil voltá-las a enganchar.

Eu não tive nenhum problema para subir com a minha Btt excepto que nem por isso se suaviza a inclinação e há que sofrê-la de igual modo.

Tenho que dizer que não gostei em absoluto do aspecto que oferecia a subida com um monte de veículos empenhados em subir o mesmo tempo que os ciclistas, esta falha da organização considero-a grave, já que quando vais tão mal de forças e concentrado em subir, o que menos necessitas é que haja um domingueiro geringonço que se lhe pare o carro em plena subida, obrigando-te a parar num sitio de que não sabes se vais poder voltar a arrancar. A mim particularmente um deles sacou-me da estrada justamente quando coroava a rampa de 22%. Podeis imaginar a irritação que agarrei quando me obrigou a pôr o pé em terra. Se têm que subir até ali que o façam andando, ou de bicicleta como os demais, e não subir com as sandes e o carrito novo para te "animar e ajudar".

A serra de Aramo é uma verdadeira maravilha para conservar zelosamente. Espero que Riosa e os asturianos consigam que este lugar permaneça a salvo dos domingueiros para bem de todos os que amamos estes lugares.

publicado por Ubicikrista às 17:30


publicado por Ubicikrista às 17:29

INTRODUÇÃO

«Um conciliador é alguém que alimenta um crocodilo,

esperando ser devorado por último.»

 

O futuro! Nada mais é igual. Voltar lá. Sempre. Treinar como? E no dia a dia? Arrastarmo-nos ao Domingo ou treinar tudo igual com um objectivo? Ou continuar a fingir que treinamos, que competimos ao domingo, que os passeios bons são os de domingo, que nos enchem o ego durante uma semana enquanto esperamos mais 8 dias para nos metermos numa fuga e conseguirmos chegar à frente de um que é melhor que nós? Bóra! Bóra.

Próximo passo? Paris-Brest-Paris? Uma vez pedi tácticas de liderança a um velho sabido destas andanças do ciclismo, que elucidou a sua estratégia de um modo epigramático: «Se não os puder convencer, confunda-os.»

Já agora, se o futuro a Deus pertence, quem se responsabiliza pelo passado? Mas arriscando sugestões para o milénio: naturalmente, começarão a ser construídos muros sem casas, será vendida H2O sem água, haverá mulheres sem sombra, bicicletas sem rodas, casamentos sem sogras, a Coca-Cola revelará afinal a composição do seu produto, existirão soluções sem problemas e este ensaio acabará agora.

Veremos então como mordem as eventuais... próximas! Ou quiçá, talvez um dia de são nunca à tarde. Reforço a ideia: lembram-se da resposta que o empregado deu quando questionado sobre o valor da despesa? “Se não comeu, comesse!” Aplica-se...

publicado por Ubicikrista às 17:00

Olá a Todos.

Ante as continuas suposições e preocupações por parte de lguns membros da Ciclolista, tenho que desmentir rotundamente que não me passou nada de especial na marcha dos Lagos. E digo nada de especial, porque o que me aconteceu, é o que acontece a qualquer "PARDALITO" na sua primeira marcha organizada.

Como não podia ser de outra maneira, o escrivão pagou a novidade de não se poupar atrás de um grupito, em vez de se pôr a puxar como um burro na 2ª das montanhas, nos troços de ligação, depois do primeiro "abastecimento" e depois da 2ª montanha; e não é que fosse por falta de companhia já que desta vez a representação da Ciclolista foi mais numerosa que a foi junta em Angliru, e estou certo de que eles fizeram o troço do primeiro "abastecimento" ao 2º, mais suave que eu , mas ....

Quando me viram na Huesera estava saboreando a paisagem calmamente porque não podia nem com a alma. E depois de todo o suplicio que é, calcula-se, chegar até o lugar desde de onde se vê o primeiro lago, e após observar que a meta estava situada no segundo , pensei "que me tinha perdido  ali em cima " e pus os pés em polvorosa na direcção contraria.

Por outro lado quero desculpar-me perante todos os que esperastes por mim lá em cima, por não ter conseguido chegar, mas é que estava todo roto.

Gostaria de comentar a enorme desilusão que apanhei nesta marcha (espero que não sejam todas iguais) enquanto à organização. Partindo do principio que se maneja uma quantidade excessiva de gente, gostaria de dizer que se lhes foge do controle deveriam tentar fazer uma marcha de mais qualidade e com menos gente, em vez de reduzir a qualidade da mesma com o único objectivo de encherem os bolsos. Abastecimentos escassos, perfil da marcha terceiro-mundista, nula sinalização de curvas perigosas e de passagens de nível, massificação nos autocarros (creio que deve ter sido o que motivou, a mais que um, voltar a Llanes de bicicleta fazendo 50 Km extras), etc.....

Uma coisa que também me surpreendeu foi ver como eu estando lá em cima entre as 14:00-14:30 e que quando eu baixava já subia a guarda civil, abrindo a estrada com uma fila impensável de carros atrás, quando todavia ainda havia gente a subir lá para trás, e no folheto da organização, estava bem claro que o fecho de controle era às 16:00, e que a estrada estaria cortada ao transito, desde as 11 da manhã até à dita hora.

A verdade é que não sei porque é que me surpreendo, se inclusive foi eliminada a marcha do circuito de ciclismo a fondo por a organização se ter negado a reduzir 500 pts no acto da inscrição aos participantes do dito circuito .

Não sei, crio que para o ano que vem se me passar pela cabeça voltar, o farei sem inscrição, já que não compensa o desembolso de dinheiro com o tratamento recebido.

publicado por Ubicikrista às 16:53

Olá a todos:

Como sempre, dos últimos nisto de enviar a crónica. Como já se contou muito à cerca da marcha, não me estenderei.

Às 5:20 da manhã de sábado, 10 minutos antes de soar o despertador, acordei sozinho e decidi levantar-me para matar o jejum, preparar as ultimas coisas e partir até Llanes (uns 100 Km).

Chego a Llanes perto das 7:30 (gosto sempre de chegar com tempo suficiente), estaciono e vou levantar o dorsal. Ali, encontro-me com Pablo Carcaba, que estava na organização, e dado que
tinha bastante tempo, estivemos na conversa um bocado. Dez minutos antes da hora de encontro estipulada, como uma sanduíche, dado que o desjejum tinha sido já esquecido pelo meu organismo. às 8:30 encontramo-nos no lugar estabelecido e  apresentamo-nos mutuamente os que não nos conhecíamos. A saída é dada pontualmente, e, ainda se falou em ir com calma, mas sai-se num ritmo vivo. Até à primeira subida o terreno é fácil, e vamos mais ou menos todos juntos (os da lista,
entenda-se). Quando começa a subida para Torneria, cada qual sobe com a suas forças (ou vontade de as gastar), e até Llanes não nos voltamos a juntar. A subida é complicada ao principio, com os maiores desníveis, e com muita gente em pelotão, que em muitos casos não te permite progredir. Após passar o topo, paro para fazer um 'xixi' e imediatamente encaro com a descida. Na primeira curva, muito fechada, estão a avisar de que houve uma queda. Um ciclista está espetado numa
rede que a organização colocou para que ninguém saia borda fora num ponto muito complicado. As curvas perigosas não estão marcadas, mas também é verdade, que no alto da montanha há uns cartazes que anunciam uma descida perigosa. A metade da descida livrei-me pelas pontas de uma queda que se deu por dois ciclistas se terem enganchado. Graças a Deus (para os que vínhamos detrás) os ciclistas e as suas bicicletas foram a barreira. Um ou outro, dos que vinham ao meu lado,  deteve-se para os ajudar. Eu segui quando vi que havia gente a parar, pois com o "transito denso" que havia, tinha medo que me batessem.

Chegamos a Llanes, juntamo-nos, comemos e bebemos (o que escassamente a organização tinha disponível) e continuamos. Até chegar à base de Covadonga, já está tudo bem contado como foi. Começámos a subida aos Lagos com calor demais para o meu gosto. Sinto-me bastante bem, mas apesar disso, ponho o desarrolho mínimo que trazia lá de baixo (39x25).

Até à zona de Huesera subo num ritmo aceitável, adiantando malta e saudando alguns conhecidos (entre eles, um do meu clube que tem 70 anos). Quando encaro a Huesera,  modifica-se ligeiramente a paisagem. A gente retorce-se na bicicleta, nalguns casos fazendo zig-zag, o que torna difìcil fazer ultrapassagens. De facto, um deles fez um "zig" demasiado longe e antes de poder fazer o "zag" meteu-se na barreira, com a subsequente queda. Passada a Huesera, e após um "descanso" chegam as curvas de Dua, acho-as acho mais duras que a própria Huesera. Passo-as apertando os dentes, mas sei que imediatamente a seguir vem um descanso daqueles a sério. Mais em cima, na parte do Miradouro da Reina, faço um gesto estranho com uma perna e dá-me uma ameaça de cãibra. Assustei-me um pouco, porque me parecia que ia bem, mas todavia faltava ainda o suficiente para ficar estendido na valeta. Portanto,  tomei a coisa com calma, e dai até à chegada não apertei em mais nenhum momento. No final, posto 908, bastante bom para mim.

O regresso a Llanes já foi narrado perfeitamente pelos demais, assim não insistirei. Agradecer, unicamente, o fabuloso  trabalho do Ramon puxando por nós boa parte do caminho.

Em resumo, um dia fantástico, onde nos juntámos um bom punhado de ciclo-listeros e que fomos capazes de ir uma boa parte do caminho todos juntos (ainda que conversando menos do que tínhamos previsto inicialmente).

publicado por Ubicikrista às 16:52

A partida era às 9 horas, e eu cheguei às 8:55...tive uns problemas com o carro...e por pouco não chego...de facto pensei que não ia chegar a tempo para a partida. Vesti-me rapidamente, e parti. Parti bastante à frente, porque tomei a saída num ponto ligeiramente adiantado do sitio real da partida. Mesmo quando parti já há um bocado que passavam ciclistas....o que se passa é que 3000 ciclistas demoram muito em partir. No principio fui com calma, depois dos problemas por pensar que não chegava a tempo, necessitava  descontrair-me um pouco....e passou-me bastante gente, recordo um que devia fazer culturismo porque cada uma das suas pernas fazia duas das minhas, e os braços igualmente gordinhos como as pernas, e umas costasssss...vamos que o tipo devia consumir uma garrafa de oxigénio nas subidas para alimentar todo aquele músculo, e ainda por cima com o que deve  pesar....o caso é que não o voltei a ver....não sei se o passei sem me dar conta ou então andava mais que eu. Depois já fui acertando um ritmo mais forte, até chegar à primeira dificuldade montanhosa. Ali passei bastante gente, sem demasiados problemas no meio de uma molhada deles  (suponho que por ir bastante à frente, e a molhada por estar a ficar para trás), subestimei a dureza da montanha e no final tornou-se-me mais difícil do que devia, mas não afrouxei, a descida era muito perigosa, com curvas muito fechadas que nem sempre se avistavam, uma grande pendente, e sobretudo um importante precipício. A organização tinha posto no principio da montanha um cartaz indicando que a descida era perigosa, mas não tinha nenhum sinal a avisar das curvas perigosas. Mas colocaram uma rede que impedia que fosses pelo precipício abaixo, eu não assisti a nenhuma queda, mas se há muito maluco, porque alguns passavam-me na descida (normal), mas outros adiantavam-se-me nos momentos complicados fazendo verdadeiras loucuras (e com o risco de irem parar com o corpo ao chão e arrastarem também o meu com eles).....enfim. Perdi um monte de posições na descida. De seguida, quase sem tramite chega-se novamente a Llanes onde estava o primeiro abastecimento (eu diria que o único...porque era o único solido). O abastecimento pareceu-me abundante...sim...sim abundante. É que alguns se queixaram de que era curto. O que se passou foi que para os primeiros, era abundante, mas para os detrás não. Eu ainda apanhei de tudo, mas sem abusar. Sem dúvida que havia alguns garraios que sacavam, sacavam e sacavam....por exemplo davam uns pastelinhos de chocolate (de Dulcesol....esta é para o Pablo Prieto), aos quais não vejo muita utilidade numa cicloturista....mas é que houve uns quantos que tiravam os pastelitos, os tais, e metiam-nos no bolso da camisola (incrível!!! Como se o chocolate não se derretesse....cuá! Como se na camisola lhes fizesse falta chocolatado!). Adiantei-me até ao final do abastecimento e vi uns gordos desses com cesta onde levam pessoas, que estavam de partida...havia um que andava um pouco abananado mas finalmente partiu...eu observava tudo isso, enquanto comia descontraídamente (tinha observado a média e como era de 28km/h supus que a malta da ciclolista andaria lá para trás...assim decidi esperar por eles). Já me tinha cansado de esperar e ia embora quando ouvi a voz do Charly que me saudava...tinha acertado, vinham detrás!) Perguntei-lhe pelos outros e disse-me que vinham atrás dele e do Faco, que andava por ali...de seguida apareceu Faco, e daí a pouco Fernando e Angel (que de inicio não reconheci, tinha-o conhecido o ano passado, mas vestido à paisana). Um pouco mais tarde apareceu Eugenio...e então  Charly que estava muito inquieto e foi-se embora. Perguntei pelo Ramon, embora não o conhece-se, e disseram-me que andaria lá para trás....depois inteirámo-nos de que não... na melhor das hipóteses ia na minha zona, de inicio...não sei. Apercebi-me, através da sua crónica, de que o Eugenio queria Aquarius e não havia....se chega-se a saber dava-lhe do meu bidão ....que não cheguei a terminar, e deixei encetado - (bom, após as "broncas" por não ter aparecido no encontro das 8:30, partimos de novo, o Eugenio pôs-se a acelerar no plano, com alguns relevos do Fernando e meus. Mas quando havia alguma subidita o Faco, que se pica com qualquer serra mínima,  ia para a frente (suponho que não está muito acostumado ao irregular terreno asturiano, porque se andasse habitualmente por aqui não se picaria com estas subiditas)) ....pouco a pouco, com a desculpa de me castigarem por chegar tarde, foram-me deixando puxar a mim, a verdade, é que me apetecia puxar no plano, estava bastante calor e o Sol colava, e isso calha-me  muito bem é no plano....ainda que me custe também subir (suponho que terá a ver com a minha pulsação mais alta que o normal) .... chegámos à segunda montanhazita que é muito alongado e o Faco vai ao meu lado, conversamos um pouco, até que me começam a doer as pernas e decido afrouxar. Faco vai para a dianteira e os outros já se tinham ficado. Na subida e na descida vejo um monte de invólucros de barras energéticas...atirados para ali, o que me chateia bastante...mas não vi ninguém atirar nada...assim guardei a vontade de dar uma bronca a algum porco. A estrada estava fechada, pelo menos no sentido do nosso andamento, e tinha sempre alguém da organização em todos os cruzamentos e caminhos para evitar que se metesse algum carro à estrada....muito bem. Depois da descida aperto para apanhar um grupo grande que tinha ao meu alcance (por certo que nas povoações as pessoas aplaudiam-nos, e as crianças gritavam e tudo....tal como aos profissionais). Pouco a pouco o grupo em que estou vai-se tornando maior, com grupos que vinham por detrás, e como o grupo em que vou vai-se poupando isso facilita as coisas, eu não incrementei o andamento porque deitando uma vista de olhos às caras do pessoal do grupo (aos que íamos na cabeça deste), fiquei convencido de que o que ia pior eu era.... tinha bastantes dores nas pernas, suponho que pagando a factura de ser só a terceira vez que andava em Maio, por culpa dos estudos (no dia 1, prova de 200 km com o C.C.Oviedo, e a cicloturista da Gamonal...tinham sido as minhas outras duas saídas....). Finalmente chegámos a Covadonga onde cheguei com alguma fome...e TCHAN, o abastecimento só é liquido: água ou coca-cola....nada mais. Ao principio não vi ninguém da lista, depois já vi que estavam por ali: Charly, Faco, Angel, Fernando e Eugenio. Quando nos dispusemos a afrontar os lagos (ia ser a minha primeira vez que subia aos lagos, pensei que seria mais ou menos como em Pajares....mas tornou-se-me muito mais difícil, não sei se pelo calor, ou porque é realmente mais difícil...por certo que na Volta'97 Tonkov ganhou em ambas as subidas). Dei-me conta de que estava ali o Javier Murillo...não tinha nem ideia do que ele tinha assistido...assim parei para falar com ele....depois de um intercâmbio de impressões, atire-me para o cimo, com pena de ter ficado sem a possível  companhia dos outros para a subida, o bom disto tudo é que tinha descansado de mais. Ao principio, como as arvores tapavam o sol e estava fresquito, encontrava-me muito bem, ainda ia controlando, mesmo assim doía-me bastante o joelho direito, quando desapareceu a sombra,  faltando já pouco para a Huesera, comecei a afundar-me...a Huesera pensava fazê-la facilmente, dado que  me dou bem com as percentagens bastante pronunciadas, mas não foi assim, justamente no inicio da subida comecei a ouvir latidos a retumbarem-me os tímpanos, e o coração sentia-o a mil à hora (não tenho pulsómetro), isso não era bom sinal para começar a Huesera. A Huesera tornou-se-me eterna...vou cada vez mas devagar, cada vez mais cansado, e mais doido (as pernas doem-me uma barbaridade), sento-me algumas vezes, mas não tenho “pica” sentado, assim tenho que pôr-me de pé para continuar a avançar. A dado momento antes da metade, pergunto a mim mesmo se haverá algum motivo para não pôr o pé em terra como fazem alguns que vão comigo, e não encontro nenhum; Se me lesionar tanto me faz, a minha temporada só dura até Agosto (pelos exames), e se me apear nos Lagos, ficarei com uma espinha cravada de não os ter subido de seguida, e teria que voltar para a fazer tudo à primeira...e não tinha nenhuma vontade de voltar ali....assim olvidei-me de qualquer tentação de me descer. No final assim que oiço a voz do Charly: "Venga David!", Procuro-o de uma mirada como posso, porque tinha os olhos cheios de suor e não via nada com o fita nos olhos, por fim avisto-o, mas não o posso saudar, nem fazer nenhum gesto com a cara...creio que se me estampou o ríctus do sofrimento na cara e não era capaz de o tirar. Já tinha conseguido o nível de concentração que me permitia sofrer a tope (de facto até ao momento em que procurei avistar o Charly não me tinha inteirado de que tinha os olhos cheios de suor). O Charly disse-me algo assim como, “mas que vontade de sofrer que tu tinhas”....suponho que pela minha cara. Recordava as palavras de Javier, que me dissera que passando o Miradouro da Reina já estava feito. Bom, pois quando vais mal isso é mentira! – (Tornou-se-me eterno até ao Mirador....o Miradouro não foi tão difícil como esperava...de facto pareceu-me tão difícil, como tudo o que já fizera, e como tudo o que faltava fazer...realmente tornou-se-me muito difícil...e repetia para mim  mesmo uma e outra vez que não me voltariam a ver por ali...isto ajudava-me a terminar, ou pensar que se conseguisse não teria desculpa para voltar e isso também ajudava.... enfim, no próximo ano logo se verá, mas nas piores altura serviu-me de truque. No final, creio que fiz 1115 ou algo parecido, mas tanto se dá...se me tivesse importado a classificação não tinha parado no primeiro abastecimento e esperado pelos outros. O importante para mim era subir os Lagos na estreia, e fi-lo. A minha média até Covadonga era 27km/h, e lá em cima só 21Km/h ...ou seja uma ascensão patética (na da Gamonal, como referencia, em Soterrana a media era 19'5Km/h, e na Via Para, também 19'5km/h). No cimo vi o Eugenio, e um tipo do CC Oviedo que a organização tinha contratado como massagista, que me viu com as pernas tão atadas ao caminhar, que disse que me dava uma massagem. Depois da massagem recuperadora (no dia seguinte não me doíam nada as pernas), o Eugenio ajeitou-se, e também a ele lhe deram a massagenzita. Depois, quando já íamos a descer vimos os outros da lista, e tirámos fotos. Após as queixas  porque não tinha havido comida no cimo, descemos. Embaixo em Covadonga conheci o Ramon, outro veterano da lista que até agora não tinha tido o gosto de conhecer. Eu fui de carro para casa desde ali, e os outros regressaram de bicicleta a Llanes. Creio que Ramon disse que se nos tivéssemos inscrito, os da lista, como se tratasse de um único clube, teríamos ganho o trofeu do clube mais numeroso, mas não. Nava 2000 participou com mais de 20 ciclistas, e o clube que ganhou esse trofeu levou quase 40....assim não teríamos ganho nem por sombras). De todas as formas, sempre é boa ideia tê-lo em conta para outros eventos cicloturistas em que nos reunamos.

No que respeita à organização....creio que há que dizer umas quantas coisas. Creio que em muitos aspectos a organização deixa muito a desejar, mas não creio que façam negocio com a cicloturista dos Lagos.....o que se passa é que é muito discutível o seu critério de distribuição do dinheiro. Vejamos: Uns 2900 ciclistas a 3000pts a inscrição, perfazem um montante inferior aos 9 milhões de pesetas (54091,09 euros, - desta vez não me equivoquei).

 E os seus gastos: contratar a Guarda Civil para vigiar a estrada, e lhes cortar o transito... custou: Um milhão e meio de pesetas (9015,18 euros). (Os Lagos encerrados desde as 8 :30.... de mal a menos, porque com o dia como estava a subida ia ficar impossível....havia de ter que ver, toda aquela gente que estava em Covadonga, e que tinha ido até ali com a esperança frustrada de subir aos lagos....parque natural convertido em romaria aos fins de semana, quando está bom tempo).

(A organização alugou um hotel inteiro em Llanes durante dois dias para organizar a marcha....dado que eles não são de Lanes, e sim de Nava. Não sei quanto isto custou, mas de certeza que uma burrada.

Creio que têm que pagar algum dinheiro pelos possíveis danos ecológicos que fazem os participantes ao parque natural....supõe-se que para pagar a recolha do lixo??

A petiscada de Llanes (a que eu não fui) custa umas massas....embora todos estejamos de acordo de que o melhor era se a guardassem, gastando mais em abastecimento ou cobrando menos de inscrição.

As pessoas da organização, na sua maior parte, não são do clube, eles participam na prova....e não sei se os toparam, mas tinham conhecimentos, mas muitas, muitas pessoas, com o peito amarelo da organização, em todos os cruzamentos que são muitos...pois bem, creio que lhes pagam algum dinheiro, a esses dos cruzamentos.

Sei que dantes retiravam algum dinheiro que entregavam a uma equipa ciclista de cadetes....mas creio que hoje em dia não retiram um tusta....em qualquer caso è um clube que não cobra nada por se ser membro, assim se se auto financiam por intermédio da prova é porque precisam. Suponho.

Em definitivo, não creio que se encham de ouro graças à prova, mas parece-me muito muito discutível a sua forma de administrar uma quantia tão elevada.

Quanto à assistência medica e mecânica creio que estiveram bem. Uma bicicleta de 2 lugares (tandem) partiu uma roda (???) durante subida aos Lagos e fizeram subir uma roda na moto,
desde Covadonga com bastante celeridade.

Outro tema em que se tocou na C.lista, antes dos Lagos e que deixa rasto, é o de fazer parar os cicloturistas que se escapam logo nas primeiras mudanças. Este ano não os fizeram parar. Chegaram a ter uma diferença de 15 minutos....coloquem-se na situação de qualquer pessoa que quer ou necessita circular pela estrada, mas impedem-lhe a passagem uns cicloturistas que vão fugidos. E essa pessoa fica parada num cruzamento esperando e esperando....e vê que pela estrada não passa ninguém durante quinze minutos....e após esse tempo passam montes de ciclistas, sabe Deus durante quanto tempo (porque não é um pelotão de 200 ciclistas ao todo como numa competição oficial...são quase 3000 cicloturistas com níveis muito distintos)...o mínimo é apanhar uma pilha de nervos tremenda....E o mais engraçado é que, segundo me disseram, desses escapados que chegaram a ter 15' de vantagem o melhor chegou no posto 100. Creio que, se fecham a estrada para os cicloturistas é normal que não consintam fugas....pelo menos até ao final. E não deveriam tê-lo feito este ano.

O tema da lixeira: Deram-me como desculpa para o facto de não haver comida lá no cimo de que as pessoas eram muito porcas (o que é verdade) e atiravam foras todos os invólucros pelo chão, e isso não se pode permitir num parque natural. Mas que parvoíce de desculpa....vamos a ver se não se podem pôr figos, amêndoas, maçãs, etc. De todas as formas no abastecimento de Covadonga davam as garrafas de agua abertas e as de coca também, para que a gente não levasse as taras, uma medida que me pareceu acertada (depois do que tinha visto a seguir ao abastecimento real)....pois não vá a gente, em vez de deixar as garrafas vazias nas mesas, ou nos sacos de lixo (ou inclusive no chão), e as deitam atrás de tudo, num sitio em que havia umas balsas, onde a gente ia mijar...mas não é que as deixassem ali...senão que as lançavam até as balsa...estão a ver os da organização depois a ir por ali adentro das balsas mijadas para recolher a merda que deixam os PORCOS. Tampouco “cacei” algum destes.

E bom...isto é tudo...pelo menos tudo o que se me ocorre agora.

Ciao!

publicado por Ubicikrista às 16:51

Olá a tod@s.

Aqui vai a minha super-crónica sobre a marcha cicloturista dos Lagos celebrada no sábado passado.

Difícil começo teve a jornada, já que tive que me levantar às 5:15 da manhã para poder estar em Llanes antes das 8:30 para levantar o dorsal, e isso tendo dormido mal toda a noite já que por ter que madrugar tanto, fui para a cama sem ter sono suficiente.

Uma vez em Llanes, o objectivo a cumprir na marcha era viver o ambiente no meio de tanta gente (não é só vir às marchas) e subir os Lagos de uma assentada, sem importar o posto na classificação, para o qual tinha a intenção de ir muito devagar sem fazer nenhum desgaste de energias. O dia era de sol e a temperatura agradável, perfeito para a prática do ciclismo.

Mal se deu a partida já o meu companheiro e eu vamos ficando para atrás, embora sem irmos devagar já se nota a diferença das nossas bicicletas para as da F1 (ele leva btt com sligs, e eu híbrida com pneus de 28 e 38). Aos 10 quilómetros chega um momento em que nos encontramos sós, olho para atrás e ao longe só vejo vir uma ambulância (então recordo-me das crónicas que conta a Maria Fuster) e fico na pior: "Vamos, são os últimos". Por sorte ao passar a ambulância todavia ficava mais gente para trás, e esta só se adiantou para socorrer um ferido por queda.

Começámos a subir a Tornería (que por este lado tem outro nome que agora não me lembro) e acuso a mudança de ritmo do plano para inclinado, mas pouco a pouco vou acertando num bom ritmo de subida. Pouco antes de chegar ao alto, lanço um vista de olhos para atrás e vejo ao longe as ambulâncias, e adiante o que suponho ser o resto dos participantes, que não parecem ser muitos. No falso plano que há antes de começar a descida avivo o ritmo e recupero um monte de postos, enquanto muita gente aproveita para pedalar mais descontraidamente. Uns cartazes avisam que a descida é muito perigosa e logo na primeira e mais perigosa curva, um participante estava no chão e que só por mero acaso não tinha ido precipício abaixo, graças a uma rede que impedia a saída. Apesar das precauções realizei uma boa descida ganhando também posições pouco a pouco.

À entrada de Llanes oiço chamarem-me: é o Fernando Alvarez; converso um pouco com ele e pergunto-lhe pelos outros. Surpreende-me que venham para trás. Depois de uma breve paragem no abastecimento continuamos a marcha e daí a pouco o Fernando volta a alcançar-me, desta vez com o Faco e o Eugenio; saudamo-nos e trocamos ânimos mutuamente.

Começa a Robellada e acuso outra vez a mudança de ritmo, mas de seguida recupero a pedalada alegre e, aproveitando-me do meu companheiro, chegamos ao alto, recuperando distancias variadas aos grupos que nos precediam. Na descida juntamo-nos num grupo numeroso, que temos que abandonar quando chega o plano-plano, pois começam-se a sobrecarregar as pernas e não é de mais descontraí-las um pouco, quando só faltam uns 10 quilómetros para chegar a Covadonga. Ali recebo uma grande decepção ao ver que o abastecimento só se compõe de agua e Coca-cola quente (não obstante ter sido avisado pelo Faustino). Enquanto descanso converso um bocado com o David e também trocamos ânimos perante o que nos falta.

Começo a sentir fome e “meto” uma barra energética que me restava do abastecimento de Llanes e sem mais delongas começamos a subida aos Lagos. Vamos muito devagar, não por medo mas sim por respeito.

Desde o principio que levo posto a pedaleira pequena para subir à mesma velocidade do meu companheiro, mas ele empenha-se em ir com o médio, ainda assim vai mais atrancado. Eu, que subo melhor que ele,  proponho-me acompanhá-lo até ao Miradouro da Reina pelo menos, já que sei que o ajuda bastante ver-me a seu lado, e com as minhas constantes palavras de ânimo. Também é de agradecer  todos os ânimos que recebemos do público que se aglutina nos bordos da estrada e o bom humor que exibe boa parte dos participantes, enquanto sobem pendentes de 10%. Chega o sexto quilometro de subida e com ele a temida Huesera. Ali muita gente põe o pé em terra: horror, perigo de contagio! Ainda que vá muito devagar, deixo pessoal para trás em barda; só se me adianta um que vai apoiado na asa da porta de uma ambulância. Todavia ainda não saí da Huesera e já começam a dar-me ameaças de picadas nos joelhos e músculos. Creio que é por ir demasiado devagar, desaproveitando energias. De todos os modos o meu companheiro cada vez está mais longe, assim decido puxar um pouco mais forte até ao Miradouro da Reina e esperá-lo no plano. Justamente antes do Miradouro nas curvas de Dua o espectáculo é todavia mais horrível que na Huesera, e até desmoraliza um pouco fazer esta subidinha tão difícil, quando já temos a Huesera superada e se pode pensar que já passou o pior.

Aproveito o descansozinho no Mirador, para em andamento, tentar massajar um pouco as pernas e para ver se o meu companheiro me alcança, mas este nunca mais chega, assim, decido que a combinação entre a reserva de forças e a dureza dos Lagos exige que cada um suba no seu ritmo. É então que me apanho em condições de conseguir um bom ritmo de subida, e a partir do Mirador, começo a deixar para trás gente e mais gente. Um ou outro volta a adiantar-se-me mas volta a ficar para trás, é que eu vou com o ritmo muito certinho, conheço muito bem a subida, cada curva, cada rampa e sei onde se pode apertar um pouco mais e onde não convém. O que para os outros é um inferno eu chamo-o de lugar (no sei onde aprendi isto mas fica bem, eh ?). Pouco depois de passar a descida do Elefante cruzo-me com o Charly (como pudeste dar a volta tão perto do final?) mas não creio que me tivesse visto, até porque vou de lentes vermelhas. E como se a camisola de montanha desse forças, pouco antes de chegar ao lago Enol  mudo para a pedaleira média (35 dentes) e ainda faltam quase dois quilómetros e ataco já a chegada: tenho as forças necessárias e sei que o posso fazer. Desço junto ao lago esgalhadíssimo, a paisagem é impressionante mas não a admiro, já que quando vais nas últimas forças o mundo reduz-se ao angulo da estrada pela qual circulas (foi o melhor dia, meteorologicamente falando, de todos os que já apanhei nos Lagos, de bicicleta ou não, em toda a minha vida, e fui muitíssimas, mas com o tempo na Asturias, já se sabe...).

Último troço da subida: a estrada está numa miséria, mas para mim é igual. Se se pusesse a chover também seria o mesmo. Só me interessa que estou a chegar e que vou conseguir, e além disso vou bastante bem. Há um que  se pica comigo e ultrapassa-me, mas limpei-o, é que as poucas forças que me restam saem-me em catapulta e obrigam-me a ir muito forte. Afronto a última subida antes da chegada. Aqui decidi gastar-me todo e neste pequeno troço, ainda passo um punhado de colegas: devia fazer mais de uma hora que não chegava ninguém tão forte como eu cheguei, mas quando recebi o cartãozinho com o número de chegada já estavam a começar a dar-me picadas nas pernas. A última grama de energia utilizo-a para desenganchar o pedal à primeira, para não ir ter com o chão. Nesse momento oiço a chamarem-me: são os outros ciclo-listeros que todavia ainda estavam ali, em amigável companhia e com a extraordinária paisagem como fundo (captada nas correspondentes fotografias), parece que o alento se recupera melhor. Todavia transcorre um quarto de hora antes de que chegue o meu companheiro. Trás uma cara de mau aspecto, mas dou-me conta de que deve ser muito parecida com a que eu tinha quando cheguei. Tal como em Covadonga aqui só há agua e Coca-cola.

Enfim, a organização foi bastante forreta, mas o importante foi desfrutar de um bom dia de ciclismo, da companhia na estrada de inúmeros colegas, das estradas cortadas ao transito e da satisfação de rodar por um cenário único, como são os Lagos.

Por certo, fiquei em 1.293, como veies nada do outro mundo, ao contrario do que poderia parecer pelo que lestes mais atrás... 

Saudações de Javier Murillo desde Oviedo.

publicado por Ubicikrista às 16:50

Isto foi o que fizemos: Juanma e eu. Além disso não pensávamos ficar a comer (pelo que contais, não nos atrasámos muito) nem parar nos abastecimentos, ainda que, para ser sincero eu retirei agua no de Llanes e tomei uma Coca-cola na meta (até me deram o número da classificação para melhor poder levantar o diploma).

E quanto à crónica da marcha, creio que só falta a nossa. Partimos mais ou menos no centro do grupo, apesar das queixas de Juanma que queria partir lá à frente, para entrar nalgum grupo rápido. Nos primeiros quilómetros entretemo-nos a ultrapassar pessoal, puxando o Juanma ou pondo-nos à roda de qualquer um que nos ultrapassava, creio que levava as pulsações mais altas que na Huesera. A primeira montanha, subimo-la a bom ritmo, e quase sem dar-mos por isso chegamos de novo a Llanes. Um membro da organização ofereceu-me uma garrafa de agua e parei para encher o bidão. Continuamos imediatamente e outra vez a mesma historia, a toda a gáspea. Entramos num grupo que ia liderado por um fulano tipo locomotiva, e começamos a ultrapassar pessoal. Dá que pensar que ultrapasses tantos ciclistas depois de 35 km. e uma montanha relativamente difícil, quando praticamente, não tinhas abrandado. Na subida à segunda montanha um pastelento dum camião coloca-se entre nós e um grupo numeroso que vai na dianteira. Ultrapasso-o para não ter que suportar o seus maus fumos, mas não consegui a ligação com o grupo seguinte e volta-me a passar. Por sorte o ritmo dos da dianteira não é forte e à segunda consigo desfazer-me do camião. Acaba a montanha e sem mais obstáculos chegamos ao desvio para Covadonga. Pouco antes do começo da subida difícil, paro para fazer as minhas necessidades, e Juanma vai-se embora para fazer a subida cada um a seu ritmo (o dele, evidentemente, mais forte). Já sozinho (ainda rodeado de uma multidão de ciclistas desconhecidos e de público) começo a subir.

Aqui à uns anos já o tinha tentado e então fizera, metade a pé metade andando. Agora pretendo não baixar-me da bicicleta até à meta. Vou controlando as pulsações, sem passar de 160. Numa das curvas oiço o Juanma que me saúda lá do alto, saca-me umas centenas de metros, o que significa que não vou mal de todo. Aproxima-se a Huesera, e não quero nem olhar para a estrada. Começo a subir sem despregar a vista do pulsómetro, que está por cima dos 170. Cada segundo que passa é uma eternidade, mas quando levanto a vista já estou a meio da recta. Um pouco mais e por fim acabou-se.

A seguinte dificuldade, o Miradouro da Reina, preocupa-me menos, as rampas ainda são duras mas é um troço curto e sei que não terei problemas. Adianto-me a ciclistas que avançam andando e vejo a mesmo coisa de sempre dos anos anteriores. Chego à primeira descida, depois à segunda (que não agradeço, pois penso que no regresso as terei que subir) e por fim a meta. Uma Coca-cola à saúde da organização e vamos para baixo, pois Juanma já estava à uns minutos à minha espera.

O regresso até Llanes torna-se difícil, o primeiro troço fazemo-lo com três ciclistas de Baracaldo mas a meio da montanha não posso prosseguir no ritmo deles e Juanma fica à minha espera. Uma vez feita, já é quase tudo descida mas ainda nas poucas subiditas que há arrependo-me um pouco de não ter regressado de autocarro.

Mas todos chegamos e por fim, entramos nas ruas de Llanes. 150 km. e pouco mais de 6 horas sobre a bicicleta. Mudamos de roupa e decidimos partir, pois há que voltar a Salamanca. Pelo caminho continuamos a desfrutar o ciclismo, desta vez como espectadores, pois escutamos a retransmissão do Giro pela radio, que depois desta etapa já parece estar nas mãos de Pantani.

publicado por Ubicikrista às 16:49

Bom, pois agora calha-me a mim contar a minha visão da Cicloturista. Evitarei não insistir no que já ficou dito e abusar nas impressões próprias. Como já assinalei no outro “emilio”, para mim a marcha suporia a estreia em muitas coisas: andar no meio de um pelotão enorme, participar numa prova organizada, subir os Lagos e subir uma montanha de categoria especial (até aqui só subi duas: o Pajares e S. Isidro e não há comparação). Pela minha estrutura física (1,87 e 83 quilos), subir esta montanha tinha um ponto de arrojo e ousadia (o meu sim tinha mérito e não o de "sem pica" como o do Faco).

A historia da marcha até à Basílica já foi contada por outros. Só acrescentarei que me deu muita pena um ou outro acidente que vi. Ainda que não tivesse consequências muito desagradáveis, parecia-me muito penoso que pessoas que tinham feito muitos quilómetros de carro e uma grande preparação, vissem como ia tudo ao ar em poucos quilómetros, devido a um enganchamento da bicicleta. Gostaria  de assinalar sobre este trajecto, que Faco insistia de que estava receoso no que respeita ao tempo que faria na subida, que necessitava de calor. Desta conversação lembrei-me eu  varias vezes, quando um nortenho como eu, que gosta de andar com tempo fresquinho, suava em gotas grandes debaixo de um sol  tremendo, na subida dos Lagos.

Ao começar a subir ia com o respeito que supõe uma subida tão difícil e tão pouco conhecida (de bicicleta) para mim. Mas uma vez que passei as primeiras rampas apanhei o que para mim é um bom ritmo de cruzeiro. Inclusive, permitia-me o luxo !!! numa subida como esta !!!! de ir ultrapassando pessoas. Desgraçadamente passei pelo Charly. Digo desgraçadamente porque isso só pode acontecer se o Charly for realmente mal. Sugeri-lhe que pusesse o capacete (pelo sol), mas a voz do além com que me respondeu, caiu-me como uma espinha difícil de engolir. O problema chegou na Huesera. Subia muito perto do meu limite e preferi parar justamente no final da rampa. Recuperei forças durante três ou quatro minutos e retomei a subida. Fiz bem, porque o resto da subida fui sempre bem, do bem que se pode esperar naquela situação. No final cheguei no posto 1087. O número é o menos. Aqui há seis ou sete anos, quando só andava de bicicleta para sair um pouco nos dias de verão, experimentei subir pela primeira vez a Robellada (montanha incluída nesta marcha) e subia-a mais tempo apeado do que de bicicleta. O meu único objectivo nesta marcha era chegar ao cimo e fi-lo em melhores condições do que esperava.

Como alguém já vos contou (Ramón, he, he) ocorreu-lhe que o percurso era curto e levou-nos a todos de excursão outros 55 quilómetros. A verdade é que ao Ramón lhe sobraram forças e que fez a viagem toda sempre com a mão no travão. (!!! mas oiçam, e o que desfrutou observando a paisagem, quê!!!)

Como podeis imaginar, após a finalização da marcha iniciaram-se as correspondentes actividades complementares, já relatadas por outros ciclolisteros.

Quero assinalar algumas sensações como resumo da marcha:

-          Subir os Lagos, sem carros e sem ruído é realmente impressionante. Chegar de bicicleta às zonas das aguas lá de cima, numa dia de sol e com a neve ao fundo é difícil de esquecer.

-          é uma delicia ("toca-nos" muito diríamos aqui) andar com pessoas como os ciclolisteros quando nos juntamos e que têm claras algumas coisas sobre competitividade, tempos livres, andar de bicicleta, ir para a estrada com amigos, ... (Um exemplo: esperou-se religiosamente, e sem uma única má cara em todos os abastecimentos, não se usaram cotovelos para conseguir postos dianteiros na  partida e manteve-se o grupo sempre unido enquanto isso foi razoável, ...)

-          No próximo ano voltarei!

Uma saudação (especialmente para os ciclolisteros que estão a preparar o Paris-Brest e que agora estarão a caminho de Santiago: Luis, Antonio, !!!Sois uns monstros!!!)

Eugenio M. Zamora

publicado por Ubicikrista às 16:48

Que bom, que bom, que bom, que bom, que bom, que bom, que bom……

Desfrutei como uma criança de todo este fim de semana. Classifico-o de ciclo-gastro-turismo.

A marcha, com as faltas graves das organização típicas. Ou seja:

-          Não tinha Acuarius para todos, só para os 500 primeiros.

-          O trofeu continua a ser entregue aquando do levantar do dorsal.

-          O trofeu é um cacho de chumbo em forma de ciclista magrinho.

-          Os abastecimentos brilham pela ausência de qualidade e quantidade.

-          Etc, etc, etc……

Isto sim, não sei como a organização fez para chegar a acordo com o homem do tempo, e fazer com que retirasse as nuvens e as neblinas do percurso. Suponho que lhe untaram as mãos com o dinheiro que sacaram das inscrições e não o gastaram em mais nada.

Bom, já metidos na marcha. Saímos quase todos juntos e rolamos quase na cauda do pelotão logo à partida. Pouco a pouco vamos avançando postos até que começamos a subir para Tornería. Não tem nada a ver com o ano passado, desta vez subia-se por uma parte muito mais suave.

Já na descida reagrupamo-nos um pouco e encontramo-nos no abastecimento. Depois seguimos até  Robellada e voltamo-nos a desagregar, para nos reagrupar-mos no curto plano até Cangas de Onís.

 No abastecimento de Cangas voltamo-nos a reagrupar e começamos a subir com sorrisos nervosos, tentando recordar a sensação de dureza do ano passado.

Cada um pega no seu ritmo e começámos a subir. Eu como sempre ponho a redutora e começo a subir muito, muito, muito calmo. O grupo alonga-se com cada um à sua maneira. A cada curva sinto-me mais a gosto e começo subir com alegria.

De repente chega a Huesera e começo a sentir essa sensação como quando tudo vai em câmara lenta. A malta começa a retorcer-se no guiador e a fazer caras feias como se lhes tivesse assentado mal o pequeno almoço. Enfim, eu com o meu super carreto e sentado, porque não dizê-lo, ia como um "DEUS".

De longe vejo o Charly que está observando a paisagem dum miradouro da Huesera com a bicicleta ao lado. Na verdade nunca pensei que um tipo com um corpo totalmente inverso ao meu (alto e delgado), se tivesse que descer na Huesera. Pergunto-lhe o que faz parado e diz-me que a observar a paisagem. Inicialmente pensei que estivesse com cãibras, mas daí a pouco pensei que pudesse ser algo pior, porque não o voltei a ver.

Enfim, continuo a subir encontrei-me com o Eugenio que sai da última curva da Huesera empurrado por um tipo. Depois comentou-me que tinha tido alguns problemas.

Depois da dor da Huesera, a do miradouro da Reina e do resto até aos dois Lagos. Estava bastante calor, sem ser excessivo e podia-se ver toda a paisagem.

Já no alto reagrupamo-nos todos e fizemos as fotos com os Lagos em pano de fundo. Vestimos as capas e arrancamos para baixo. Ali, estava já o Ramón que nos esperava à bastante tempo. Então é quando decidimos ir desde Covadonga até Llanes. Isso significava uns 60 quilómetros extras com a subida à Rebolleda pelo lado brando.

No regresso fizemos o restante rolando suavemente, o que pessoalmente agradeci pelas minhas pernas, que ficaram como novas…

Após um pequeno duche fomos "desfrutar" cotoveladas de espenica. Para quem não saiba, chama-se espenica a um banquete de espetanços variados e sidra da terra. Ali, os que mais comiam, eram os mortos de fome dos acompanhantes, que devoravam tudo o que podiam e mais.

Enfim, depois com o Fernando, Eugenio e familiares, fomos beber sidra natural bem escanciada ( aviada). Mais tarde fomos jantar num bom sitio e, depois daqui tomar umas coisitas até que o corpo nos pedisse cama.

Bom e isto é tudo. Muitas obrigado desde aqui a todos os ciclolisteros, que fizeram os Lagos e especialmente ao Eugenio e companhia pela sua disponibilidade.

Vou-me deitar com carinha de anjo depois de ter desfrutado de um inesquecível fim de semana.

Bom, adeus !!!!….

publicado por Ubicikrista às 16:47

Olá,
Voltei dos Lagos e não me doem as pernas. Só isso é uma grande vitoria para mim, porque o ano passado acabei com tanto acido láctico no sangue que andei vários dias a arrastar-me.

Foi o meu segundo ano nos Lagos e, no estilo da Maria, resumo a crónica em três pontos:

1º é uma subida incomparável e, com bom tempo como neste sábado, impressionante, tanto para o ciclista como para o turista.

2º ninguém se faz ciclista da noite para o dia, logo, tenho que treinar muito mais se quero desfrutar a tope das encostas.

3º o Nava 2000 é um clube de jarretas (caras de maus e oportunistas, para os não espanhóis) e sem vergonhas, que usam a ciclomarcha mais chamativa de Espanha para lucrarem. Passo à crónica:

Amanheceu com um dia lindo, espalhado inclusive sobre a serra de Cuera, um maciço kárstico que domina Llanes e que é habito estar tapado de neve.

Na noite de Sexta, o Angel e eu jantámos com o Eugenio e o Charly, e depois reunimo-nos com Ramón, para pôr à prova os últimos nervos antes de irmos dormir.

Meia hora antes da saída juntamo-nos com mais ciclolisteros (José Ramón, Juanma, Fernando) e fizemos as fotos da praxe. O dia convidava ao ciclismo, e eu tinha o dorsal 1012, assim  propus-me (melhor, desejei) fazer um posto inferior ao dorsal (em 98 tinha feito quase 1700).

Saímos calmamente, longe da cabeça, mas algo mais rápidos que o ano passado, e  encaminhámo-nos para a primeira montanha do dia.

Desta vez, subiríamos para Tornería pelo lado suave, atravessando a serra de Cuera pelo sul. A subida era fácil, com apenas uma ou outra rampa mais dura e de seguida cheguei ao cimo, onde já tinha entrado a neblina e fazia fresquito. Para não parar fiz a descida em pelo, sem capa de chuva, mas por ser uma descida rápida e curta não tive tempo de a enfiar, e quando quis dei-me conta de que estava em Llanes, saboreando um miserável abastecimento. Tive a imensa sorte de que uma encantadora moça da organização me desse um Acuarius, mas o Eugenio, que apareceu apenas uns minutos depois, só lhe tocou agua ou coca-cola. Agarrei nuns bolitos, um par de barritas, uns figos, uma banana e segui na marcha, sempre com os mesmos. Juntámo-nos com David, que tinha chegado tarde, e vimos o Javier.

Ainda nos faltam 40 km. até ao desvio para Covadonga, assim, vamos com calma. É uma boa estrada que dispara levemente até ao cimo, atravessando o Desfiladeiro das Cabras e subindo depois para Robellada. Aí foi-se um pouco do meu ar, adiantei-me um pouco porque queria parar para urinar e não queria descolar dos demais ciclist@s. Na zona plana chegando a Cangas parei e demorei o suficiente para que me apanhassem o Fernando, Eugenio e companhia, que vinham como um avião. Tive que pedalar como um louco para os pilhar antes da rotunda da entrada para Covadonga.

Nos poucos quilómetros até a Basílica já quase ninguém fala, ou só há piadas nervosas, porque a malta nota que se aproxima a grande Subida. O abastecimento antes da subida, INAPRESENTAVEL. Estávamos entre os 1000 primeiros e só tinham agua e coca-cola. Não há direito, pagando o que pagamos (3500 ptas/$23) e sabendo que os patrocinadores oferecem boa parte dos abastecimentos, temos que  suportar que o Nava 2000 se encha de dinheiro em vez de se dignar a dar-nos de comer. Com uns nervos descomunais retirei as joelheiras (fazia um calorzinho e não necessitava delas) e empreendi o último troço da marcha.

Passada a Basílica, chego a uma curva à esquerda, que assinala o começo. Olho o relógio para poder contar o tempo, meto a coroa de 25 dentes e abro a camisola até onde posso. Como o dia é magnífico, há muitíssima gente animando-nos, e isso agradece-se muito - é isto talvez, que torna tão especial esta marcha, sobretudo nos primeiros quatro km. de subida, que são muito duros, e onde a paisagem não te distrai porque vais entre árvores. Dá-me muita graça ouvir comentários continuamente, sobre as minhas costas, que as pessoas dirigem à malta.

Subo relativamente confortável, sentado quase todo o tempo, a umas 60 pedaladas por minuto e à volta das 170 pulsações. Vou ultrapassando muita gente, e há dois ou três ciclistas com os que alterno, às vezes passo-os e noutras ocasiões são eles que me passam. Faz um calorzito mas não sufoca, assim vou ao meu gosto (dentro do possível). Por fim, chega a terrível Huesera. O ano passado impressionou-me, mas este pareceu-me pouca coisa. Não é que não seja difícil, que o é, mas depois de Angliru não me parece tanto, e passo-a quase sem me dar conta, inclusive até me parece curta (não tenho dúvidas, é realmente dura, mas a cabeça nem sempre sente o mesmo que as pernas). Dá-me a impressão de que há menos gente que o ano passado, e é fácil ir adiantando aos que vão mais devagar, avisando-os primeiro para que não se atravessem. O meu grande problema é que suo muito, ainda não tenho demasiada sensação de calor (e até levo uma camiseta térmica), e mal posso abrir os olhos. Já não só por estarem nebulosos mas porque me doem, e ficaria encantado se pudesse parar para lavar a cara - é um suplicio, mas por orgulho não me desço da bicicleta.

Passada a Huesera ainda resta uma boa parte dificil, uns dois km., mas creio que os farei sem problemas, se os olhos não me caírem ao chão. Já não me falta muito e oiço que alguém pronuncia o meu nome. "Porra, penso, vou tão mal que os outros já me alcançaram, os tais que deixei para trás desde o principio?" Olho pelo retrovisor e chego a distinguir uma arroba. Não pode ser Angel, que gosta de subir mais devagar que eu, assim tento distinguir-lhe a cara, a ver se o conheço. Quem quer que seja, já acelerou e alcança-me, e então reconheço-o. È Alberto Ibarretxe, o txirrindulari de Bilbau, que dissera que viria só fazer a subida! Baixo um pouco o ritmo e trocamos umas palavras. Ele vai muito confortável, imagino que graças à pedaleira tripla (veio com pneus tipo tractor), mas começo a notar picadas nas pernas e, sobretudo, doem-me os olhos. Aproximamo-nos da última rampa antes do Mirador, que é um ésse terrífico, de 12  a 14%, e tenho medo de chatear as pernas com as cãibras, assim, digo ao Alberto que vou parar um momento e refugio-me debaixo da sombra de um arbusto. Estou a ponto de contraturar o quadricipe, mas finalmente aguenta-se. Tiro os óculos, o capacete, e lavo os olhos com agua do bidão. Que alivio! Tinham-nos dado um pouco de óleo para massajar, que aproveito para untar as coxas generosamente. Devo ter uma aparência infame, mas ao menos os meus olhos descansarão. Coloco o capacete de novo, ponho os óculos e disponho-me  a prosseguir. Um senhor aproxima-se de mim e oferece-se para me ajudar a montar e dar-me um empurrãozito. O mais amavelmente que posso agradeço-lhe e  digo-lhe que não é necessário, que  parei mais pelos olhos que pelas pernas e, efectivamente, subi para a bicicleta, engancho os pedais, e num instante passo a rampa e estou no Miradouro da Reina. Aqui foi onde o ano passado, atascado de frio e com as pernas contraturadas, tive que parar. Tenho um pouco de receio, mas os meus musculuzitos  portam-se bem e continuo a subida tranquilamente.

Pensei que faltava menos, mas ainda faltam uns quilómetros muito pesados até à primeira zona com agua. Continuo sentado quase todo o tempo, desfrutando da paisagem, que o ano passado estava tapada pela neblina, e ultrapassando mais maralha. Não é que vá a assobiar, mas sei que já  passei o pior e que certamente chegarei lá a cima sem mais problemas. Na primeira descida cruzo-me com os que já regressam, alguns jurando em pragas por ter que subir nessa rampa, que deve ser de 10% e que dói bastante, depois de tudo feito. Nova subida, as pessoas  dizem que já não falta quase nada (isso já eu sei, he, he) e descida para o primeiro lago. Bonita paisagem, muita gente, aplaudem e sorrio. Agora já se vêem os cumes, ainda com neve, dos Picos da Europa. Dão vontade de parar para desfrutar da paisagem, mas afronto a última encosta e vejo o lago Enol !QUE BONITOOOO!

Já o conhecia pois subi aqui pela primeira vez há vários anos de carro, mas vê-lo agora, brilhando debaixo do sol, depois de tê-lo "ganhado" subindo na bicicleta, é uma sensação muito emocionante. Por um instante ignorei as centenas de pessoas o meu redor, aos poucos ciclistas que ainda ultrapasso, e sinto-me um privilegiado por poder desfrutar da vida fazendo estas coisas. Passado o transe, chego à meta e dão-me o papelinho. Olho-o com um pouco de medo, porque agora dou-me conta de que queria ficar num bom posto... 854! Que bem. Quase a metade que o ano passado, e subi numa hora e quatro minutos, apesar de ir com algumas cãibras. Estou muito contente e vou a correr beber qualquer coisa. O abastecimento, "magnífico" de novo. Agua e Coca-cola. Continua sem haver a porra de uma bebida isotónica, que é o que melhor nos convém, com o suor que despendemos. Afortunadamente, conservei o bidão que trazia com isotónica para este momento, e poder beber o que mais me apetece. Além disso, como não está demasiado calor, está fresquito e sabe-me a gloria.

De seguida vão chegando os outros e tiramos um monte de fotos. Esperámos para ver se chegava o Charly, mas parece ser que no final algo se passou com ele e não conseguiu chegar cá acima (coisa estranha para um dos heróis de Angliru). Depois de muitas piadas e risos, vestimos os abrigos e começamos a descida. Enquanto passo o primeiro lago, noto logo, que a capa está a mais, assim, paro para o despir e para fazer alguma foto mais, e continuo a descida. Já tinham aberto o transito, ainda não havia muitos carros e pude descer em velocidade de caixão à cova, ultrapassando bastante maralha e, o mais divertido, alguns carros.

Na Basílica reagrupamo-nos todos. Despedimo-nos de alguns e com outros empreendemos o final da aventura: voltar até Llanes de bicicleta (50 km.), para não ter que esperar pelos autocarros que a organização disponibilizou. No principio vou muito animado, mas de seguida noto a factura dos quilómetros anteriores e limito-me a vir na “mama” da roda (quando posso) ou a rolar suavemente. Por sorte apenas há um par de kms serra acima e o resto é deixar deslizar. Ramón é o único que vai bem e tem que esperar por nós, mas os restantes (Angel, Eugenio e eu) deixamo-nos arrastar e só revezamos algumas vezes timidamente.

Já em Llanes, duche e pestisco final. A tarde é dedicada aos Centros de Alto Rendimento de Llanes, nos quais Eugenio se revela bom conhecedor. Graças aos seus saibos conselhos, aceleramos a recuperação mediante substancias permitidas como a sidra, a favada, peixe fresco na tábua e um bom entrecosto de vitela. Um pouco por vergonha desta vez não tiramos fotos e conformamo-nos com uma boa recordação.

Maravilhosa Asturias...

Francisco, desde Madrid.

publicado por Ubicikrista às 16:46

Olá a todos:

Já de volta, vou contar-vos esta, para mim a quarta, Marcha dos Lagos 99.

Por fim a sexta-feira, a excursão apresentava-se com boa cara, depois de quase ter tido que suspendê-la por umas anginas da minha filha, que a retiveram na cama com 39 de febre no dia anterior. Mas como gosta mais de viajar que a uma bebé, e abrigada num casaco de bisonte, veio aos Lagos com 37,5 ºC para se recuperar com o ar das Asturias.

Para a noite de sexta juntámo-nos vários dos ciclolisteros que no dia seguinte iriam atacar a serra: Faco, Angel, Eugenio e eu próprio; para tomarmos umas hortelãs mentol e comentar o percurso e outras marinhagens de ciclista, que mantiveram a minha mulher e a minha filha absolutamente aborrecidas. Em todos os bares e restaurantes de LLanes havia o clássico ambiente ciclista que atrai esta marcha. Recolhemos cedo para preparar as “armas” para o dia seguinte.

Pela manhã juntámo-nos mais ciclolisteros no Polidesportivo, meia hora antes da partida. Sou incapaz de recordar os nomes de todos eles, mas mando-lhes uma saudação. De certeza que se nos inscrevêssemos todos sob a insígnia de ciclistas.org, em vez de pôr cada um o nome do seu clube, teríamos ganho um prémio de participação, era o que devíamos pensar fazer para a marcha dos Puertos de Madrid.

Bem, pois aqui começa a melhor parte...,  fomos para a partida, soa o “sorvete” e lá vamos. Eu não queria ir muito depressa, mas logo à partida já me encontrava a 100 há hora, dentro do grande grupo da cabeça. Lanço um olhar ao pulsómetro e... pânico 170 ppm. Não pode ser, não noto nada de extraordinário... mas é que vamos a 40 km/h. Bom, digo par mim - apanha uma roda boa, descontrai e desfruta.

E a paisagem é para desfrutar imediatamente, circulamos paralelos ao mar, na direcção oeste, com a impressionante cordilheira dos Picos da Europa à nossa esquerda, surgindo os seus cumes entre as nuvens. Mas não há maneira de nos descontrair.... Produz-se um corte e salto com outros dois para tentar apanhar o grupo da dianteira, o que conseguimos sem demasiado esforço. Na cauda deste grupo vejo várias camisolas do Clube da Bota de Sonseca. Que se passa mancebos? Digo-lhes ao passar. Porra, Ramón!... exclama um. Que fazes por aqui, com a “pica” que isto está?... O Caberta e uns quantos mais vão lá mais para a dianteira. Pois eu vou-me a eles com calma – respondo-lhes.

Assim chegamos à primeira montanha, o Alto da Tornería, que por sorte este ano se sobe pela vertente sul, mais suave que pelo norte, por onde subimos o ano passado. Aqui a estrada  estreita-se e empina definitivamente. Esta montanha deve ter uns 5 ou 6 kms. com algumas rampas durinhas e com uma descida espectacular. De cima vê-se directamente a careca dos ciclista que te precedem. É uma sucessão de curvas em seta, lavradas nas laterais da montanha, que está coberta de pastos. A estrada precipita-se ao fundo do vale, é um destes típicos vales dos Picos, que parece não ter saída e tens a sensação de que baixas na vertical, como num elevador, com petiscos que roçam a verticalidade nos quatro pontos cardeais. A subida faço-a bem, com ritmo: 160, 170 ppm... controlando.

De novo voltamos a LLanes, onde está situado o primeiro abastecimento. Já levamos 40 km. e nem dei por isso... apanho só agua e meia banana e continuo.

Outra vez no arrebenta pernas encontro-me a 170 ppm, saltando de um grupo para outro. Isto não pode ser...penso para mim - assim vou chegar feito num fósforo a Covadonga. Começamos a subir o desfiladeiro das Cabras e decido descontrair-me um pouco. Apanho um grupito que vai num ritmo que considero confortável e vou com eles.

Na descida como outra vez. Faz calor, pelo que a hidratação é muito importante -penso- obriguei-me  a beber sorvitos de agua cada 10 minutos mais ou menos. Em seguida organizámo-nos, 4 dos que integram o grupo e pomo-nos a revezar, vamos caçando pessoal que se põe na cauda do grupo sem colaborar nada no puxar... Covadonga está perto e há que guardar reservas. Encontro-me muito bem, e não deixo de entrar nas substituições.

Assim chegamos à rotunda em que se vira para os Picos, a sensação é impressionante. Temos vindo a descer - ladeando por um vale amplo em concha: o que conduz até Cangas, mas aqui a fisionomia altera-se: encaramos frontalmente a montanha e internamo-nos por um vale aconchavado que baixa directamente dela. Vou para a cauda do grupo comer e descansar um pouco.

Uns km. mais adiante aparece a Basílica de Covadonga, com a Santina que os Asturianos veneram e a campa do Rei D.Pelayo, é o aviso do que se avizinha: os 12 km. do que durante anos foi considerada a subida mais temível das voltas ciclistas (agora esse protagonismo mudou-se para L'Angliru).

Passo os restaurantes, curvo à esquerda e já estamos no “palco da festa” um ano mais. Subo os carretos e disponho-me a trepar tranquilamente. Mal se começa, adianta-se-me um grupito do Clube Artevi, também Toledanos. Saudamo-nos e deixo-os ir, que já sei o que há lá em cima e é melhor subir com a psicologia de guia: "Há que subir as montanhas com passo de velho, para chegar com coração de jovem". Alguns km. mais acima encontrei um deles com cãibras.

Assim vou subindo até à Huesera. Esta é uma difícil rampa de uns 800 mts, descarnada e sem curvas, que tem dois sítios fortes de 15% e que em nenhum momento baixa de 12%. A montanha avisa da sua proximidade, já que até chegar a ela vai-se subindo dentro de um frondoso bosque, mas uns metros antes do seu começo as arvores acabam-se. Porque me terá enganado o coração um ano mais - penso -. Um par de curvas antes de começar, pedalo um pouco em ziguezague, para aliviar a musculatura lombar. Vou superando pouco a pouco o desnível. Já estou nos primeiros 15% e ponho-me de pé nos pedais outra vez. Há que subir, esquecendo o que se passa à tua volta. Já está... sento-me e olho o pulsoómetro: 175 ppm, tenho que aliviar um pouco. Chego ao seguinte 15%. outra vez de pé..., passo-o, sento-me e olho o pulsómetro: 180 ppm. Concentro-me em aliviar para poder chegar à rampa do Miradouro da Reina sem passar das 165 ppm. Antes desta rampa, que volta a empinar-se até  15%, há um descançozinho. Consigo descer as pulsações e ataco esta rampa também de pé. “Vamos, vamos que depois há um descanso!...” Animam a pessoas ao pé da estrada. Supero esta rampa e penso que já tenho quase a montanha conquistada. Ainda é cedo para descuidos: faltam ainda uns 5 kms. de subida com varias rampas de 12%. Chego à descidita donde recordo ter visto desaparecer o Pedro Delgado entre a névoa, pela TV, naquele ano em que ficou em terceiro na Vuelta, não sei se ganhou aqui ou se fez segundo. Continuo a subir, completo a rampa que conduz ao Collado, da qual se domina o lago Enol, e dou-me conta de que a montanha recebe-nos hoje com o seu traje de gala: Sol e neve nos cumes... Encaro a última rampa até a meta, entro na zona dos últimos 100 mts, que a organização gradeou, e sprinto como posso: esta é também uma rampa difícil. Olho o céu antes de entrar. Um ano mais pude saudar o majestoso cume de Peña Santa de Castilla, que este ano está coberta de neve, dominando a serenidade do lago Ercina !Guay! - como diria a minha filha.

Cheguei em  622 dos 2.833 que tomámos a saída. Apanho uma coca-cola e agua no abastecimento e abrigo-me. A organização não se esqueceu de levar jornais para nos protegermos do frio na descida, o que é um detalhe de realce. Depois de saborear a minha coca-cola e uma barrita energética, enquanto desfruto a paisagem, empreendo a descida na qual me vou cruzando com muitíssima gente que todavia ainda sobe, alguns a pé na zona da Huesera.

Chego aos autocarros e depois de esperar um bocado aparecem Faco, Angel, Eugenio, David e alguns mais e decidimos voltar para LLanes de bicicleta, em vez de apanhar um autocarro da organização. Assim nas calmas, fazemos os 55 km de regresso. Veio-me mesmo a calhar este regresso, para adquirir forma para enfrentar a Qubrantahuesos. No final o meu ciclo-computador marcava 154 km.

Pela noite juntamo-nos Faco, Angel, Eugenio, sua mulher e a minha e a minha filha, para tomar um copito e celebrar o que de bom  tínhamos vivido. A próxima é os Puertos de Madrid. Vamos ver se o Eugenio se anima, e poderemos ser tão bons guias da zona como ele foi nos Lagos.

Saúde e sorte nas estradas.

Ramón

publicado por Ubicikrista às 16:45

publicado por Ubicikrista às 16:44

Hoje, após a suspensão indefinida dos Contras, encontraram-se na bomba de gasolina J.Carhvahlhu, J.M.Fhehrehyra "o asturiano", E.Pyrhassah, M.Fheehrhu, P Rhapohuzu, J.A.Hahleyxu, S.Fhehrehyra e Pehedhru e, além destes pelo caminho juntar-se-iam E.Jhakshinhto, J.A. Hynhassyhu e T Shekharra.

Todos se interrogavam pela sorte que estariam a passar Shéedhavydy e Rhushadhu, seguidos no carro vassoura por Whalahdaz, desde a Cidade Real até Málaga. Mais de 400 km. percorridos numa só día. Ainda hoje não temos noticias.

Carhvahlhu apareceu preparado para as Conapós já que, como era de esperar, nenhum dos que propuseram a suspensão das mesmas os avisou. Por outro lado, Pehedhru reconhece que se sente um pouco gasto já que este mês leva demasiados quilómetros em cima e teve más sensações durante todo o percurso. É barrigudo e, como tal, parece não saber que deve ir mais devagar e descansar mais, se quer continuar a fazer todos esses quilómetros.

Em cima das 8:05 dá-se a saída com um bom aquecimento dirigido pelo Pehedhru, e ao passar junto ao desvio do IP incorpora-se o E. Jhakshinhto. O aquecimento começa com uns 14 km./h, por Benajarafe e não sendo superior aos 24 km./h. Quando estão a chegar ao desvio de Cajiz aparece Hynhasyhu na via e pára antes de chegar ao desvio, no qual o grupo, apesar de haver baixado a velocidade, chega em menos de um minuto. Baixa-se ainda mais a velocidade entre 18 a 21 km./h e os outros pararam. Logo após passar o cruzamento salta a corrente a E. Jhakshinhto e um pouco mas adiante a Jhuhanhu, o grupo baixa ainda mais a velocidade. Antes da Cabeço da Caca aparece T. Shekharra e J. Carhvahlhu pára para o saudar ocupando entre ambos a metade de uma faixa e a escassa berma. Todo o grupo tem que ir na outra metade da estrada e os outros vêm-se obrigados a parar, além de se ouvir uma ou outra travagem.

Por alturas de Almayate incorpora-se HynhaSyhu ajudado por três bons aguadeiros, Pyrhassah, Fhehrehyra e Jhakshinhto. A partir da sua incorporação volta-se a subir o ritmo chegando-se ao desvio de Algarrobo a uma media de 21 km./h.

Logo após começar a ascensão esta é assumida como nas corrida até Algarrobo, mas sem embargo há outros que continuam a bom ritmo mas sem judiar. Em Algarrobo fazem uma paragem para se reagruparem e ali se autoapresenta um tal Luís, que se vê que teve que realizar um grande esforço para estar pronto às 9:30. Não sabemos se começou o seu sábado ou se tinha realizado só um sprint nessa mesma manhã. Alguns perguntaram se esse era o Papa Frita mas Pehedhru desengana-os, "O Papa Frita é barrigudo e esse não lhe chegava aos pedais". Antes de se relacionarem com ele, os barrigudos decidem começar o ascensão enquanto Jhuhanhu volta ao carro vassoura.

Partiram  com alma de diabo, como se os 15 km. de ascensão se fossem acabar de seguida ou talvez fossem por causa dos "pontos". No começo forma-se um grupo: Jhakshinhto, Carhvahlhu, Fheehrhu, Rhapohuzu e FhehRehyra, mais atrás ficam Pyrhassah, Hynhassyhu e ainda mais atrás ficam Hahleyxu e Pehedhru que começam a ascensão juntos e se auto-impoêm uma velocidade de 10 km./h. Hahleyxu quería ir um pouco mais devagar mas não quería ficar sózinho, pelo que Pehedhru aguenta o ritmo até chegar à altura de Pyrhassah para que Hahleyxu, se quisesse, subisse com ele. Se Pehedhru tivesse encontrado, desde o inicio, barrigudos que quizessem subir juntos, decerteza que não teria exitado, mas não ocurreu assim. Hynhassyhu parece que está à espera e como leva uma boa velocidade Pehedhru decide subir com ele à captura, do quase de certeza, barrigudo baqueado. Como ninguém dos da frente tinham querido subir de autocarro Pehedhru pensou auto-sofrer tentando subir em menos de uma hora até à bomba de gasolina de Competa. Muito antes de chegar a Sayalonga já se divisam as possíveis vítimas. Primeiro podia cair Rhapohuzu que era o que estava mais perto e lá mais para cima, ainda muito longe, avistava-se o Fheehrhu. Lá adiante Jhakshinhto decide subir  sozinho e aumenta o ritmo enquanto que os outros tres o fazem a uns 14 km./h. Carhvahlhu, como sempre, é o primero a abrir as hostilidades mas a coisa não lhe sai bem, já que tanto Shekharra como Fhehrehyra não perdem nem um metro.

A velocidade não baixa mais mas sobe em determinadas circunstancias, por exemplo, pouco antes de chegar o ataque de Thoohsey, Hynhassyhu aumenta um pouco o ritmo e Pehedhru descola uns metros. Mais atrás vê-se a pouca distancia, o Pyrhassah e Hahleyxu que vinham em animada chalaça. A verdade é que Pehedhru tentou varias vezes a diferença entre subir ao ritmo de PASSEIO ou subir apertando, conseguindo quase sempre o mesmo tempo mas com distintas "sensações". Pehedhru hesitou em mais de uma ocasião, mas já era tarde para subir com Pyrhassah e Hahleyxu e garante que da próxima vez o fará.

Daí a pouco alcançam, Hynhassyhu Pehedhru, o Rhapohuzu deu-lhe uma dor "de carretos" nos rins e desce  da burra para beber agua. Baixam bastante o ritmo para ver se o Rhapohuzu se lhes junta, mas este parece que não se decide, pelo que ambos prosseguem, voltando a aumentar o ritmo. No cruzamento de Arche, lança o ataque messié Shekharra surprendendo o Fhehrehyra. No final chegam lá acima por ordem Jhakshinhto, Shekharra, Fhehrehyra e Carhvahlhu. É justo dizer que enquanto Shekharra só ía fazer a subida, já que tinha que ficar por alí, os restantes amandavam-se para uma nada despreciavel quantidade de 80 km. Por pressing de sinais de cansaço, pelo que deviam conservar as forças, ou não?.

Mais lá para cima, Hynhassyhu e Pehedhru já podem ver, mas muito ao longe, o Fheehrhu que não baqueou até quase chegar à bomba de gasolina. A verdade é que tinha montado travessas novas na burra e isso dói!. Pela bomba de gasolina passam ambos com uma velocidade media desde Algarrobo de 14,44 km./h. Ainda ao chegar ao Alto del Shekharra e após um sprint para tentar dar caça ao Fheehrhu que fracassou, a media subiu a 15'00 km./h sendo a media, desde Rincón, de 17,5 para Pehedhru, de 17,1 para Hahleyxu e Pyrhassah e de 19 para S. Fheh Rehyra. Todos tiveram tempo suficiente para subir até ao cimo. Os que mais surpreenderam, agradecidamente ao Pehedhru foram Tecno e Pyrhassah.

Doparam-se no bar do Alto del Shekharra donde se pode ver dois pares de senhores que competiam, com o Luis de Algarrobo, para ver quem  tinha apanhado a maior. Maior não sei, mas a do Alto del Shekharra era de maior altura. Um deles era uma fotocopia do Shekharra verdadeiro, com a sua pera, as suas orelhas e a sua cabeça rapada que  tapava com um boné ... só lhe fazia falta um lenço como o pirata.

Às 10:45 em ponto, começam a descida e ao passar pela bomba de gasolina juntam-se Carhvahlhu e Fheehrhu. Pehedhru nota que leva uma perna ortopédica. Faz-se uma descida rápida mas agrupam-se na N-340. Parece que há vento a favor e alguns reclamam irmos juntos, pelo que se estabelece um limite que não seja superior a 30 km./h mas, após a passagem por Torre del Mar, Jhakshinhto, TecnoIndurain, Carhvahlhu e Rhapohuzu decidem-se a repartir o sofrimento. Mais atrás Pyrhassah incita os restantes  a dar caça aos da frente, Fhehrehyra diz que não pode, Hahleyxu não diz nada e Pehedhru vem fazendo a avaliação do danos sofridos e vendo o estado do pessoal, não se fiando no vento, aconselha a não passar de 28 km./h já que mais adiante haverá tempo para dar caça. Fheehrhu fica-se mais para trás, junto com o seu sobrinho, decidindo regressar mais nas calmas. Pehedhru observa como o grupo passa dos 28, ... e dos 30 e começa a passar dos 32 pelo que decide "dar uma mão" pondo-se na frente e marcar mais de 37 km./h. enquanto observa, por sua vez - Shekharras, se o grupito ía "à vontade" mas vê como se produz a primeira baixa sendo esta Fheh Rehyra. Talvez cansado ou talvez para reparar os danos causados, Pehedhru, abandona a cabeça do grupo e deixa-se cair até ao Fhehrehyra para o pôr na roda. Um momento antes tinha aparecido, Fhehrehyra "El asturiano",  no carro vassoura.

Como era de esperar, antes de chegar à Cabeço da Caca, aparece um ventinho de frente e este faz que Jhakshinhto e Tecno abalem e, por outro lado, Carhvahlhu e Rhapohuzu descolem sendo alcançados pelo Hahleyxu e Pyrhassah na descida da encosta. No desvío de Cajiz fica-se o Hynhassyhu para se arrecadar no seu carro. Entretanto, Fhehrehyra tinha recuperado alguma coisa e rendeu algumas vezes o Pehedhru, que lhe agradeceu muito, chegando a alcançar ritmos de 30, vento de frente, quase alcançando o grupo que o precedía nas imediações de Benajarafe, mas antes de chegar ao desvío para a autovía, Pehedhru como sempre, decide descançar as pernas já que agora acreditava que as duas se tinham transformado em ortopédicas, estava feita uma caquita barriguda e S.Fhehrehyra esperava-o. Agora faço a seguinte pergunta  aos ... barrigudos. Que teria acontecido se tivessem ficado o Rhapohuzu (que se apressou em caçar os da frente), Pyrhassah, Hahleyxu, Fhehrehyra e Pehedhru e tivessem realizado a volta como tinham combinado?. Respondo-vos também ... nesse caso não se trataria de barrigudos.

Pelo desvío do IP já iam todos "recuperando pernas" até chegar à zona de abocanhamento onde à chegada ouviram  e puderam ver como marcaram um golo ao Málaga. Nesse momento aparece sem a roupa da faena[1] e sem o veículo de tracção animal o J. Zheéhra. Não abandonaram a zona de abocanhamento até ter claro que o C.D. Málaga tinha quase o jogo ganho no primeiro tempo e portanto assegurado a subida à primeira divisão.

Por certo, temos um espia: o SIBTT (Servicio de Informação de Barrigudos Treinando à Traição) pode constatar que Jhakshinhto é um "Patas Pelás" sendo o primeiro do grupo; ainda asseguram, após fontes de informação, que sempre o foi! E eu com estes pelos!.

 



[1] À civil.

publicado por Ubicikrista às 16:43

«Só os imbecis dizem a verdade. Como sou uma pessoa inteligente, minto sem parar.»

 

Hoje, às 8:00,  encontraram-se na bomba de gasolina P. Thyrohlensso, P. Phurthelly, P. Rhapohuzu, J.M. Jhuhanhu, J.M. Hahleyxu, J.A. Phahlhas, J. Thoohsey, J. Carhvahlhu, M. Mahgnhum, e M. Pehedhru. Além disso pelo caminho juntar-se-iam E. Jhakshinhto, o cunhado do Phahlhas, que de momento apelidaremos de Suhysshu, e Títulos Shéekharra. Um total de 13 barrigudos[1] 13, dispostos a sofrer uma das passeatas mais temidas por todos.

Por volta das 8:06  dá-se a saída com um aquecimento bem realizado, não sem antes se meter o Hahleyxu com burra e tudo, devido a um descuido, num buraco de mais de meio metro de profundidade perante a surpresa dos presentes. Pouco mais à frente, o Thoohsey deixa cair algo que assusta todos os barrigudos, pelo barulho que fez devía ser o alpendre da casa, e vejo que de titanio não era de certeza. Pouco depois apeia-se o Thyrohlensso da burra devido ao roçar de ferros. Esta saída começou com mais percalços que a de domingo passado.

Antes de chegar ao desvío da IP incorpora-se o Jhakshinhto. O ritmo ía subindo até alcançar os 24/25 km./h, ainda houve alturas de 27 km./h. No Cabeço da Caca alcança-se o Suhysshu . Em Almayate já não  contavam com o Shéekharra, mas este devía estar escondido atrás de alguma coisa, pois ninguém sabe de donde saiu, conseguindo surpreender os barrigudos todos pela retaguarda.

Ao tomar o desvío da circunvalação de Vélez o grupo ficou dividido em dois, ficando na ressaca Hahleyxu, Phurthelly, Thoohsey e Pehedhru. Os dois grupos levavam velocidades parecidas, pelo que não se iriam unir em todo o percurso, e para mais, os de trás, puseram-se a revesar a uma velocidade que rondou os 22 km./h com o vento de frente.

Quando passavam por alturas do desvío em Benamocarra cai, tal como a primeira fruta madura, na invernada antes da temporada, o Suhysshu, que se põe na roda e se consegue manter um bom bocado. Mais tarde, à altura de Trapiche põe-se na roda também, após ser alcançado, Jhuhanhu. Aquilo era a o grupo da vassoura inseparável. Ao chegar ao primeiro desvío para Canillas (faltavam 10 km.) estava à espera o Phahlhas, para poder voltar com o Suhysshu e o Mahgnhum e unir-se à vassoura inseparável. Sobem a primeira rampa e ali esperava-os o Rhapohuzu que também se junta. Prosseguem e um pouco e mais adiante encontram, também à espera, o Shekharra. Após a retirada do Phahlhas, Suhysshu  e Jhuhanhu, o grupo mais numeroso era a da vassoura, sendo formado pelo Mahgnhum, Rhapohuzu, Hahleyxu, Phurthelly, Thoohsey, Shekharra e Pehedhru, quer dizer, "o autocarro" com a excepção do artista convidado Shekharra que, entre vivas e aplausos, é proclamado como Rei do Autocarro.

No local do reagrupamento, ao segundo desvío para Canillas (faltavam 8 km.) estavam à espera o Jhakshinhto, Thyrohlensso e Carhvahlhu. Após dar um descanso ao corpo e a frase lapidar "Quem é que escolhe estas rotas, caraças?" começa a ascensão à velocidade livre. Os primeros a abalarem foram Jhakshinhto, Thyrohlensso e Carhvahlhu e para surpresa, dos presentese e ausentes, fica com os de detrás, o omnipotente Títulos Shekharra. Sim! Shekharra ía com a escumalha da vassoura, de PASSEIO, mas ía com eles e além disso meteu conversa, distribuiu queixas, voltou a esconder-se e voltou a atacar pela retaguarda, ou seja, deu espectáculo. Os barrigudos não caíam em si na sua admiração ao verem semelhante figura entre eles, numa subida, e a animar a malta.

O grupo formado por Hahleyxu, Phurthelly, Rhapohuzu, Shekharra e Pehedhru passaram toda a ascensão discutindo sobre se deviam ir a 7,9 ou a 8,1 km./h até à chegada. Quase ao final da ascensão, onde se podem ver os maravilhosos cenários sobre a represa de Viñuela é o lugar onde Phurthelly tenta distrair a atenção de Shekharra enquanto reduz distancia. Quase passa desapercebido, e a não ser pelo seu assoprar ofegante durante o sprint, os barrigudos não teriam podido topar-lhe a "façanha". Na entrada da povoação, após o reagrupamento, estabelece-se outro sprint. Pehedhru não acredita no que ouve e Hahleyxu desfaz-se em risos sem deixar de sprintar. Phurthelly gasta as reservas enquanto Shekharra, na cabeça, pedala tudo o que pode afirmando que os barrigudos do autocarro são traidores e perigosos.

Finalmente chegam à praça da fonte em cima das 10:10 os primeiros, e sobre as 10:30 os últimos. Hahleyxu continuava sorrindo. Já não se contava que aparecesse mais nenhum dos barrigudos quando, mesmo às 10:45, chega Mahgnhum, surpreendendo todos só pelo facto de ter chegado, após passar uma noite desenfreado na borga, mas ali estava ele, sim senhor! Com tempo suficiente para um descanso antes da descida programada para as 11:00. A velocidade media da vassoura tinha sido de 17 km./h.

Às 11:00, como estava programado, começa-se a descida que o Mahgnhum, Shekharra, Jhakshinhto, Carhvahlhu e Thyrohlensso fizeram rapidamente e Hahleyxu, Phurthelly, Rhapohuzu e Pehedhru  enfrentaram-na com mais calma. Em Trapiche reagrupam-se, encontrando-se já ali o Thoohsey que os esperava e depois de se abocanharem convenientemente, retomam a marcha voltando a formar-se dois grupos.

Lá adiante iam: Jhakshinhto, Thyrohlensso, Carhvahlhu, Shekharra, Mahgnhum e Rhapohuzu e o grupo da vassoura estava formado por Hahleyxu, Phurthelly, Thoohsey e Pehedhru. A vassoura foi fazendo relevos pelo facto de se ter que colaborar face ao vento. Quando chegam à Torre del Mar encontram o Rhapohuzu e o Mahgnhum que se voltam a juntar para formar a vassoura inseparavel só que desta vez tinham mais trabalho já que por ali soprava um vento de frente ainda mais forte. Num ritmo acessível para todos continuaram a render à vez até encontrar uma manifestação que impedia a estrada.

Razão não lhes faltava, tinha morrido uma miúda atropelada mesmo naquele lugar. Todos sabem que desde que fizeram a via de circunvalação ninguém respeita os limites de velocidade tendo-se visto veículos, inclusive camiões, a mais de 100 em troços cuja velocidade limite é 50 km./h. Quem quiser fazer corridas pode faze-lo no IP que passa paralela à N-340 a menos de 2 km. Os barrigudos pararam  respeitando o corte na estrada, mas os manifestantes indicaram-lhes, na altura, que eles podiam passar. Houve um ou outro barrigudo que pensou unir-se à manifestação mas, aos poucos, os efectivos da P.G.C. acabaram com a  mesma.

Ao chegar ao IP fizeram a habitual recuperação de pernas, chegando ao enfardanço às 12:40 os primeiros, e às 12:55 a vassoura. A velocidade media da vassoura inseparável, foi de 21 km./h e a distancia percorrida foi de 78 km. com uma montanhita de segunda categoria incluída. No enfardamento estava J.Zheéhra à espera e após termos tomado alguns "recuperantes" marcharam-se para a sua sede desportiva, satisfeitos por esta " clássica de passeio ".

Vamos ver se no domingo que vem, no regresso, se organiza outra vez a Vassoura inseparável a uma velocidade de 7 ou 8 km./h. Cobardes! Caso a vassoura continue assim organizada, ai do elite que se aventure!. De certeza que há burburinho.



[1] No original "globeros". Um puzle para resolver já que globo chamam os espanhóis ao balão, "globeros" serão os que possuem ou escondem o balão, na gíria ciclista debaixo da camisola, logo...Eureka! Barrigudos.

publicado por Ubicikrista às 16:36

«Não se escolhe uma raposa para tomar conta das galinhas

apenas porque ela tem uma grande experiência em capoeiras.»

 

Com o plantel reduzido, devido á época balnear a decorrer, e não obstante os hooligans serem cada vez mais, lá nos arrastámos para o última dolorosa, onde os treinos desta vez tinham sido à laia de cágado, desculpe lá Sr Silvano, foi sem intenção!

Como é aquela canção? Cidá-dje má-ra-vi-lhó-sa, che-iá de encantos mil! Granada claro. Até mesmo com ementas em língua alemã. Sabei pois, como é público e notório, o alemão é uma língua que foi desenvolvida com o único objectivo de permitir a quem a fala cuspir nos outros, sob o pretexto de conversar educadamente. Aliás, devo dizer que eu próprio falo alemão fluentemente, mas só através de um intérprete.

Num desses restaurantes chocámos de caras com aquela coincidência de que o mundo é pequeno. Mais um hooligan que chegara atrasado. Não, não! Era apenas o Dr Alberto Lobo que andava por ali de férias com a família e amigos.  

publicado por Ubicikrista às 16:26

A subida ao Pico Veleta è a mais curta do Circuito, ainda que para muitos, possa resultar numa das mais difíceis. Não há nenhuma parte com descanso. Desde que sais até que chegas vais encosta acima e os mais rápidos podem demorar três horas a fazer os 42 quilómetros que unem a estação de Pinos Genil até ao Pico Veleta.

Acerca disto, disse um cicloturista granadino, participante habitual nesta prova, que: às primeiras perguntas de «Quanto falta?» começam-se a dar por volta do quilómetro 13, antes do abastecimento de Casilhas Rojas. A resposta que melhor reflecte a situação da corrida ouvi-a em 1995, quando fazia a minha segunda subida: «Não te preocupes, a parte má já passou, agora vem o pior».

Dizem que as rampas mais duras, efectivamente, estão nos primeiros sete quilómetros, até La Higueira, mas  o problema, uma vez superada esta fase reside em ter ainda força e animo para continuar a pedalar sem descanso por uma estrada sempre empinada que parece nunca acabar.

Mais acima, até ao quilómetro 20 há outros dois quilómetros muito duros que nos conduzem à saída da urbanização de Pradollano na qual, uma grande recta com inclinação de 7% puxa muito.

Um pouco mais acima, por volta do quilómetro 30, «a estrada torna-se rugosa, desnivelada e de aspecto difícil. O oxigénio escasseia e é necessário manter a cabeça fria. Aqui é onde se fazem amigos. Até ao momento tratava-se de companheiros de marcha. Nesta zona os bolsos começam a esvaziar-se, trocando-se glicose, tabletes energéticas ou uma palavra de animo. É fácil que apareça a desesperação porque, apesar do esforço, o "Picão" continua a parecer inalcansável», resume assim, o experimentado sofredor desta marcha .

«A zona de Panderones, a cinco quilómetros da meta, está formada por um continuo ziguezague ascendendo a parte noroeste de Veleta com um desnível continuo em redor dos 8%. Aqui começa a ver-se o final do túnel. Avista-se Collado de Veleta. (...) Se a neve o permitir, coisa que não aconteceu na terceira nem na quinta das minhas subidas, a meta está somente a uns metros desse cimo, e a fortíssima rampa final, só de algumas centenas de metros, qualquer um a faz com mais gloria que sofrimento, procurando um troço de asfalto para poder circular entre tanto buracos. A emoção quando se põe o pé em terra, talvez segurado pelo selim, por algum membro da organização, é do género que a mim me faz saltar as lagrimas, inclusive neste momento em que escrevo isto», sentencia contundentemente o nosso particular narrador.

A «Subida ao Pico Veleta» é uma Marcha muito especial e quem participa nela tem muitas histórias que contar produzidas  tão só em 42 quilómetros...! Mas que quilómetros!

Seguindo a filosofia adoptada, de dar primazia à participação nas provas do Sul, as tais que para a maioria dos participantes fica mais longe dos seus domicílios, nesta marcha pontua-se o dobro das outras provas por se apresentar à partida. Desta forma os participantes do Sul  não estarão em inferioridade de condições, na hora de chegar a obter o diploma acreditativo da sua participação no Circuito.

publicado por Ubicikrista às 16:20

Olá,
Regressei de Granada e passo a relatar-vos as minhas experiências a pedalar pela estrada mais alta da Europa.

Conto-vos rapidamente que aproveitei a desculpa da ciclomarcha a Veleta para passar uns dias em Granada com a minha noiva, percorrendo numerosos C.A.R. (Centros de Alto Rendimento) onde me preparei conscientemente para a subida, à base de comidonas de derivados porcinos (presunto, chouriço, lombo, morcão, morcela,...), queijo, gazpacho, todo isto regado com abundante cerveja. Semelhante acumular de reservas ajudou-me a preparar a subida de forma principalmente aeróbica, como se verá mais adiante. Recomendo este tipo de  treino a qualquer um com ânsias de desfrutar da bicicleta.

Recomendo igualmente a visita a Granada, uma das cidades de Espanha mais acolhedora e bonita paraíso do cicloturista: chove pouco e há percursos para uma pessoa se fartar, tanto planos como montanhosos.

Na véspera da subida, o nosso bom amigo Fernando (sim, sim, o da De Rosa) levou-me a fazer um percurso precioso, que nem sequer ele conhecia, ao longo do vale de Quéntar. É uma estrada nova, sem  nenhum trânsito, que sem duvida é a rota predilecta de muitos ciclistas granadinos. Estradas assim fazem adeptos.

Como último preâmbulo à crónica dir-vos-ei que, POR FIM, estreámos as camisolas de ciclist@s. Graças ao trabalho de equipa de vários ciclolisteros, o atraso do fabricante não pode impedir que os luzisse-mos na Subida a Veleta. Muito em breve podereis ver as fotos na web. Hoje mesmo começarei os envios das camisolas, que irão ser recebidos por quem os encomendou.

Está já a chegar a crónica...Como sempre, antes falarei da organização, pois, como sabeis, o propósito destas crónicas é servir de informação para quem queira participar nas ciclomarchas, além de entreter o pessoal. Desta vez repartirei as “porradas”, pois os do clube Pinos Genil ainda têm muito que melhorar: duas horas estive eu e o Fernando para nos inscrever-mos, num local sem ventilação e rodeados de ciclistas tão espantados como nós. Faltou o prometido impermeável para enfrentar a descida; do mal a menos que não fazia frio, porque de contrario, eu seria hoje um cubito de gelo. O churrasco final e entrega de diplomas foi um caos, numa tenda que parecia uma sauna, onde ninguém se podia sentar. Um ou outro ciclolistero acabou por abalar sem o respectivo diploma, pois iam-nos entregando a conta-gotas. Vamos ver se alguém do clube Malaguenho lhes ensina, aos granadinos, como se organiza uma marcha.

Amanheceu com sol (dificilmente podia ser de outra forma), e em Pinos Genil  juntámo-nos os seis ciclolisteros: Ramón, David, Fernando, José Ramón, Juanma e eu, todos vestiditos para a ocasião. Levei o capacete para a descida, mas retirei-o do guiador (em terreno esburacado, que diria Alix?[1]) e estreei um gorro da Kelme que a minha noiva me ofereceu.

Eu ia com mais medo que vergonha, pois haviam-me falado dos efeitos da altura. 40 km. de subida também impõem respeito, mas eu já tinha enfrentado montanhas de 30 km. e sei como sofrer durante 3 horas encosta acima (quiçá por isso o evitei).

Começámos a subir, e imediatamente o José Ramón e o Juanma ficam-se. Os quatro restantes, agrupados como todo o clube que se preza, vamos pedalando tranquilamente na conversa. Ainda que a inclinação nunca passe de 7 ou 8%, tão pouco baixa do 5%, assim é, que, rapidamente ganhamos altura.

Sinto as pernas muito duras, e começam-me a doer. Não passo das 140-150 pulsações por minuto, mantendo as 60-70 pedaladas de rotação, movendo o 39x23 e, em muitas ocasiões, o 25.

Em seguida passamos a cota dos 1000 metros, e uma paisagem admirável vai ficando aos nossos pés. Aos 8 km. começa a segunda "etapa" (segundo Fernando) e o ritmo anima-se. Afortunadamente, as minhas pernas já aqueceram e sinto que vou à vontade. As pulsações  oscilam entre as 130-140 e desfrutamos da paisagem e da companhia. Subimos por um ombral de uma ladeira, rodeada de árvores.

No primeiro abastecimento paramos para recolher comida e bebida. Há de tudo em abundância assim é que como fruta e asseguro umas tamaras. Só tomei o pequeno almoço e quero espantar o fantasma da pássara. Claro que, a este ritmo, posso andar horas e horas, pois estou a gastar mais as reservas de gordura (escassas habitualmente, mas nesta ocasião reforçadas pelos excessos da gastronomia andaluza) que os depósitos de glucógenio.

Começa a zona mais dura da subida, segundo Fernando. Levamos quase 15 km. e andamos já muito perto dos 2000 de altura. Depois de uns km. entre cumes, que recordam as montanhas da serra madrilena, a paisagem torna-se absolutamente de montanha. Ao dar uma curva, o píncaro de Veleta revela-se-nos, como o melhor convite para continuar-mos a  pedalar.

O Ramón tinha acelerado um pouco o ritmo e, o meu orgulho de trepador, impede-me de o deixar ir. Apertei um pouco, até rondar as 160 pulsações e encontrei um ritmo que fez com que o deixe um pouco para trás. O Fernando também se fica e eu vou ultrapassando ciclistas sozinho.

Paro no segundo abastecimento para comer mais alguma fruta e repor a bebida. Se alguma coisa aprendi nestes dois anos em que me juntei ao grupo dos barrigudos, é que há que comer e, sobretudo, beber bem, para evitar desfalecimentos. Ramón passa sem parar, assim saio atrás dele e ainda conversamos um pouco, antes de que eu continue a subir sozinho, um pouco mais rápido.

A paisagem é espectacular, somente de terra e pedras, e barrancos vertiginosos. Há muitíssima gente acompanhando a marcha, que nos aplaude e nos dá ânimos, e alguns incomodam-nos com os carros. Também há muitos caminhantes que percorrem as veredas que trepam até Veleta, e que nos deitam uns olhos com uma mistura de espanto (a quem lhe ocorre subir aqui de bicicleta?) e enfado (varias centenas de ciclistas e acompanhantes não se enquadra num reconhecimento que alguém espera encontrar a 3.000 metros de altura).

É suposto pensar que terei que notar os efeitos da altitude, mas as minhas pernas não estão mais pesadas que o correspondente “a apanhar”, subindo sem interrupção, com quase 30 km. Tenho uma leve dor de cabeça, mas é ligeira, e uma vontade tremenda de urinar, mas não quero parar, assim continuo andando, andando. No último abastecimento paro um momento para “sacar” bebida e continuo a subir.

Já passámos a barreira que fecha a passagem aos carros e daqui em diante ficarei dependente apenas dos demais ciclistas, e de alguns buracos ou montões de terra e pedras que há na estrada.

Agora já estou na subida a Veleta propriamente dita. Em certas ocasiões apanho um vento de frente, que me faz ter muito frio, assim aproveito para apertar um pouco o ritmo. A estas alturas muita gente vai tocada[2], e o vento de caras não facilita as coisas, assim ultrapasso muitíssima gente (não é fantasia, mas ninguém me ultrapassou desde o segundo abastecimento). Na altura pensei que pagaria a factura, mas as minhas pulsações não passam de 165 por minuto, e mantenho com facilidade as pedaladas entre 50 e 60 (normalmente vou um pouco mais solto, mas tenho medo de me “queimar”).

Há muito tempo que não subia à alta montanha e desfruto como um ser pequenino perante o que vêem os meus olhos. Passo pelo radiotelescopio e vou-o deixando cada vez mais por baixo de mim. Nesta zona, vê-se boa parte da subida que me resta, com a estrada cheia de bicicletas, no meio de um terreno desértico. Tem algo de irreal, porque só há pessoas nas bermas das encostas, o resto é só ciclistas e montanha, muita montanha.

Começo a cruzar-me com os que já acabaram, que descem. Há zonas onde o asfalto está muito deteriorado, e os que descem cedem-nos passagem para que aproveitemos o pouco asfalto sobre o qual a bicicleta pode circular.

Quando estou a ponto de chegar ao km. 38 de ascensão, decido que posso forçar, sem medo de vir a desfalecer. Desço os pinhões do carreto até ao 21, e prego uma aceleração. Quero fazer o último quilómetro a tope, mas não posso. Resultado: tinham adiantado a meta para o km. 38,7 (mais ou menos) e quase que como os que nos recolhem os tempos.

         Não só acabei como me sobram forças, faltam-me km. de estrada para prosseguir. Vim vindo a reservar-me tanto que fico com muita fome de bicicleta. Gastei 3 horas e 7 minutos, o que me diz que se me tivesse esforçado mais um pouco teria baixado das 3 horas. Voltarei outro ano, agora que já a conheço, para fazer um bom tempo.

Está fresquito, mas aguenta-se e consigo que me dei-em um saco de plástico para a descida, pois tampouco haviam levado jornais lá para cima.

Em seguida chega o Ramón, e daí a pouco o Fernando e o José Ramón. Sabemos que o Juanma sobe tranquilamente e que o David passou um mau bocado, assim subimos até mesmo ao cimo de Veleta para fazer-mos as fotos. O dia não está limpo, porque de contrario veríamos o mar e inclusive África, mas ainda assim, a vista corta a respiração. Sopra um ligeiro vento e dá-me vontade de ficar por ali a comer um bocadillo[3]. Quase no final aparecem o Juanma (que sobe com a bicicleta até ao piloto que assinala o ponto mais alto) e o David, com uma cara de “estafa”, mas contente como todos nós por ter chegado lá acima.

Estamos, quase, no tecto da Península Ibérica (só lhe ganha o Mulhacén por poucos metros), junto da estrada mais alta do continente, e, ao menos eu, sinto-me o rei do mundo. Nada é comparável a esta satisfação de completar uma subida, e muito menos se alguém a tem a seus pés, como se observasse uma maquete de toda a Serra Nevada, a cidade granadina, as Alpujarras. Como tantas vezes, depois de fazer pela primeira vez uma subida em bicicleta, já só penso em cá voltar.



[1] Jornalista da Bicisport.

[2] À rasca, mal, rotos, partidos, etc. Ouvimos pela primeira vez esta expressão em Cajabermeja, no regresso do Torcal, pela rádio volta: "Los portugueses van tocados".

[3] Pão com queijo ou fiambre, ou chouriço, etc. A chamada sanduíche.

publicado por Ubicikrista às 16:15

Olá a todos:

Que bom fim-de-semana que eu passei! Reuni-me com vários ciclolisteros, Falámos de bicicletas, percursos, ciclismo..., jantámos estupendamente, estreámos as camisolas e... SUBIMOS  A VELETA!.

No sábado cheguei com a minha família a Pinos Genil perto das 8:30 da tarde e encontrei-me com o Fernando e com o Faco. Nada a dizer do que já foi comentado em relação à organização (se em vez de 700 participantes tivéssemos sido 4.000, todavia, ainda estaríamos à espera para nos inscrever e a distribuição de diplomas acabaria no século XXI).

O Fernando encontrou-nos um local super agradável para jantar e ali nos reunimos todos: Faco e Mónica, Juanma, José Ramón, David, Fernando, a minha família e eu próprio. Foi estupendo voltar a encontrar-me com alguns e conhecer outros novos ciclolisteros. Na verdade este desporto e este meio de comunicação une pessoas. De imediato tive a sensação de estar com pessoas como as que me  relaciono diariamente: com amigos.

Bom, a crónica:

Ás 8:00 estávamos uns 700 “presidiários” da rota dispostos a enfrentar os 40 km. de subida ao Pico Veleta. Ali voltámo-nos a juntar os 6 ciclolisteros, mas desta vez de uniforme. A subida começa com uns 7 km de rampas de 7% ou 8% mais ou menos, provavelmente as de maior inclinação de toda a subida, ainda que, como é no começo sobe-se com bastante à vontade.

Vamos alternando o pedalar sentado com o pedalar em ziguezague, como é típico nas escaladas, assim se vai compensando o trabalho que faz a musculatura lombar com os quadricepes. Em seguida chegamos à estrada principal e como o calor começa a apertar, obrigo-me a beber frequentemente nos primeiros 20 km., que é nos que mais se sua, já que a partir de Pradollano a altitude faz com que a temperatura seja mais suportável, inclusive faz frio nos últimos 9 km da ascensão.

Paramos no primeiro abastecimento e bebo uma garrafa de água de uma assentada, acompanhado de uma perita que estava belissima. Reponho agua nos bidões e a partir daí já não volto a parar até ao cimo.

A toda a hora vamos ultrapassando, muitos mais dos que nos ultrapassam, creio mesmo que devemos acabar entre os primeiros 200. Pouco antes de Collado das Sabinas, o Fernando descola e o Faco ganha-me uns metros, ainda que de seguida o alcance de novo.

Assim vamos ganhando altura, desfrutando de uma vista impressionante desde Alpujarras até lá abaixo, e do pico Veleta até acima. Passado o albergue universitário o Faco acelera e vai-se-me embora, está no seu terreno favorito, ainda que nos vejamos um pouco mais acima, já que ele pára no abastecimento e eu não. Desde o centro universitário até ao cimo a fisionomia da paisagem altera-se: estamos definitivamente na alta montanha, por cima dos 2.750 mts. Continuo a ultrapassar gente sem parar e como me encontro bastante bem, vou fixando objectivos; primeiro ultrapassar aquele grupo, logo o seguinte, seguir na roda deste que vem mais forte que eu, etc...

O final da subida é impressionante, a estrada sobe até mesmo ao alto que se encontra sobre uma grande pirâmide de pedra. Há uma seta grande que atravessa a base da pirâmide de uma ponta a outra, na qual o vento bate com bastante força de frente, além disso está muito frio. De todas as formas creio que faz menos vento que o ano passado. Depois, ainda há varias setas mais, cada vez mais pequenas até acima. Já vejo a meta, tenho-a justamente em cima da cabeça, quer dizer, falta-me uma seta mais. Sinto-me muito bem e assim sendo, decido fazer estes últimos 500 mts a tope. Ponho-me de pé e acelero ao máximo, ultrapassando ainda mais um grupo na última curva e um par de participantes na recta da meta, à qual chego sprintando. Sim, sim... já sei que isto é uma parvoíce, mas... E o gozo que me dá?

De seguida encontro-me com o Faco que diz ter-me sacado uns 5 min e daí a pouco aparece o Fernando e o José Ramón. Juntos subimos ao vértice geodésico do cimo (3.367 mts de altitude) para ver a paisagem que é impressionante e fazermos umas fotos. Também chegaram o David e o Juanma.

Daí a pouco decidimos descer. Eu fi-lo de uma assentada até chegar ao carro e imediatamente subi a Pradollano, donde os outros ciclolisteros haviam tido a amabilidade de se encarregarem da minha mulher e filha, as tais que a organização não deixava entrar no recinto fechado.

Em resumo um dia memorável.

Saúde e sorte nas estradas.

publicado por Ubicikrista às 16:14

Aqui vão os meus comentários sobre a Subida a Veleta.

Ambiente ciclolistero: Magnifico.

No sábado fomos jantar todos, os seis que nos juntámos, mais a família do Ramon e a namorada do Francisco. Na manhã seguinte, com as camisolas reluzentes, parecíamos crianças com sapatos novos. É sempre agradável conhecer as pessoas de quem já lemos opiniões e crónicas, muitas vezes ainda vivas.

Quando tirámos as fotos no pico de Veleta, era como se pertencêssemos a uma comunidade e ficássemos a viver ali, tão contentes estavam-mos todos. Todos, excepto uns excursionistas alemães que imagino que nunca puderam pensar que se iriam encontrar em tão maravilhoso lugar com umas dezenas de exultantes e barulhentos ciclistas.

Organização: como já comentou o Faco, um desastre. A organização é muito caseira, mas a prova cresceu muito e claramente não dão conta do recado.

Para começar, no sábado havia apenas uma mesa para as inscrições, e centenas de ciclistas. Resultado, um atasqueiro monumental e uma espera à volta de duas horas. A tecnologia que utilizavam reduzia-se a uma mesa, quatro cadeiras e uma esferográfica, com a qual te inscreviam e pré-esgatanhavam o Diploma.

Ao finalizar a prova, a entrega de diplomas era digno de ser filmado. Centenas de ciclistas com vontade de irem para casa, e um fulano da organização em cima dum estrado a cantar números de dorsal sem ordem nem concerto. Um pouco mais e organizava-se um motim. Para se comer alguma coisa, aquilo parecia o primeiro dia dos saldos do Corte Inglês. O trabalho de cotovelos era fundamental. Imagino que seria para que não fortalecêssemos apenas as pernas e trabalhássemos a carroçaria superior.

A subida em si: dá gosto ver gente como o Faco dizer que, para ele, a achou curta. Asseguro-vos que não é o meu caso. De qualquer modo, o meu estado de forma é muito melhor que o do ano passado e acabei a prova bastante bem.

A primeira metade, até aproximadamente o Km 19, fi-la com o Faco e o Ramon, a um bom ritmo. De facto, quiçá tenha subido um pouco mais forte do que o costume, mas não notei que fosse demais. Ajuda sempre subir com companhia, e se além disso levas a mesma camisola de equipa, fazes esforços suplementares para não descolares. A partir desse Km, justamente onde se encontram as rampas mais duras, o Ramón e o Faco começaram-se a separar de mim, da maneira habitual que as pessoas se separam nas subidas longas. Vês os dois irem-se embora pouco a pouco, e parece que os podes apanhar, mas nunca chegas a eles. Neste momento, após consultar o meu pulsómetro, pensei que era melhor não continuar a forçar e sim “meter” o meu ritmo. A segunda metade fi-la totalmente ao meu ritmo. A vantagem de viver por aqui e tê-la subido algumas vezes antes, é que vais conhecendo as zonas perigosas e sabes onde tens que levantar o pé e onde apertar. A partir do Km 30, ultimo abastecimento, meti a terceira pedaleira, pus uma mudança cómoda e fui subindo pouco a pouco, ultrapassando bastante gente que tinha de parar asfixiada. A verdade é que não entendi bem a polémica com a pedaleira tripla que houve na ultima semana. Entre mensagens e desmentidos fiquei sem saber a exactamente a opinião de cada um. A única coisa que vos posso dizer, é que eu gosto de poder subir a Veleta em bicicleta, e se dentro de dez anos a tecnologia continuar a avançar e tenha que colocar seis pedaleiras, asseguro-vos que o farei.

Assim, no meu ritmo, cheguei lá acima cumprindo o meu objectivo que era baixar de 3 horas e meia. O meu tempo foi de 3.26. Para que façam uma ideia, no ano anterior tardei 4.11, e tive que descer da bicicleta um montão de vezes. É incrível o que se consegue treinando um pouco, e apoiando-se na tecnologia disponível (a minha De Rosa, com pedaleira tripla).

Em resumo, dois dias de ambiente ciclista muito agradável e que no ano que vem espero repetir na vossa companhia.

publicado por Ubicikrista às 16:14

Olá.
No passado sábado 7 fomos, um grupo do meu clube, a Granada para subir a Veleta.

Ainda que a cicloturista se tenha efectuado faz pouco tempo, depois da má experiência na organização de outros anos, resolvemos começar a ir por nossa conta e risco um dia por ano, que já tínhamos previamente programado no nosso calendário.

Às 8:30 estávamos em Pinos Genil, e começámos a ascensão às 9:00.

No principio íamos em grupo, já que a partir da bomba de gasolina de Víbora, a uns 1800 m. de altitude, seria a velocidade livre.

As primeiras rampas, são ligeiras porque ainda se está fresco, e o ritmo não é muito forte para não partir o grupo. Quando a estrada se junta com a que vem de Granada, parece que a inclinação se suaviza, ou é a sensação que dá, devido a que a estrada é mais larga.

Até agora tenho ido com um 39x21, e vou bastante cómodo. PINCHACHO![1] A minha roda dianteira fura, devido a terem-lhe dado pressão a mais que a devida, e a roda abriu lateralmente a camara de ar. Por sorte o pneu não sofreu nada e pude reparar o furo.

O grupo tinha-se partido em dois, uns que seguiram e outro grupo que esperou por mim para que reparasse o furo, por isso tive que aumentar um pouco o ritmo, para poder apanhar os primeiros (que não iam muito depressa).

Chegados à bomba de gasolina começa aqui à velocidade livre que cada um queira impor. As três feras do clube saem disparados para o cimo, e forma-se um segundo grupo de seis onde eu estou. O ritmo aumenta devido a que o mais forte do meu grupo, já que na etapa de hoje o clube dá trofeus aos três primeiros e vemos que um dos feras ficou descolado, e por outro lado, ele está também em disputa pela classificação geral, e vê que o primeiro classificado está a ficar para atrás.

Apesar do ritmo, vou à vontade e a inclinação não me parece excessiva, continuo com o 39x23.  Por fim avistamos Pradollano, mas desde que se vê até que se chega, dá a impressão de que a povoação se vai afastando cada vez mais. Pouco antes de chegar, um do meu grupo fica-se devido a furo. Pergunto-lhe se necessita ajuda e diz-me para seguir.

Para passar a urbanização, meto o 23 já que é onde há maiores inclinações. Passado o Centro de Alto Rendimento, salta um do grupo, mas prefiro não me “alargar” e continuar no meu ritmo. A paisagem é rochosa e graças ao carro de apoio que levamos, é-nos reposta a bebida.

O vento que desde o principio estava presente, começava a aumentar e também a sensação de frio.

Ainda que a pendente não seja tão dura como a da urbanização, já vou com o 23 porque me encontro mais à vontade. Até ao momento as sensações que tenho são estupendas, comparadas com o ano anterior, que cheguei à barreira cambaleando e só continuei por amor próprio e força de vontade.

Passado o Centro, do grupo de quatro que restam, fico sozinho na frente e a estrada permite-me ver o meu companheiro que tinha saltado anteriormente.

O vento torna-se insuportável. Vejo-me obrigado nalguns sítios a “meter” o 26 já que é impossível continuar com um vento assim. O pior não é o vento de frente, mas sim o lateral, que praticamente obriga a fazer malabarismos para que não me atire ribanceira abaixo. Há que inclinar todo o corpo para um lado para evitar que te derrube.

Quando levava 33 Km e a uma altura de uns 2600 m. vejo parado os quatro que iam à minha frente, e que devido ao vento tinham decidido não continuar. Decisão acertada, apesar da raiva que me dá o não poder chegar lá acima.

Baixamos com muito cuidado, quase parados, até a um ponto de encontro, com todos os que subiam também.

Noutro ano se chegará lá acima.

 



[1] Não é o que estão a pensar. Significa furo. Pinchar é rebentar. Por exemplo em Cajabermeja o Aleixo ficou parado à beira da estrada com um pinchacho de todo o tamanho à espera que alguém lhe desse assistência.

publicado por Ubicikrista às 16:13

«...a única vantagem da solidão é que podemos ir à casa de banho e deixar a porta aberta.»

 

Estivemos perto do senhor. Credo! De mim? Dirá o leitor! Roçámos o céu. Enquanto subíamos, nunca um nome de um filme teve tanta razão de ser no nosso subconsciente: «o céu pode esperar», ou o livro que caracteriza a carreira do Pedro Delgado: «a golpes de pedal». Uma eternidade para se chegar lá acima.

Como seria nesta altura da época? Sim, se me autorizam a aliteração, direi que esta é uma época supersupersticiosa. Pessoalmente, não sou nada supersticioso, e até creio que superstição dá azar. Mas, como dizia aquele anfíbio, nem tanto ao mar nem tanto à terra. É bom lembrar que, muitas vezes, aquele que não acredita em nada anda à procura de alguém que acredite nele. Há criaturas mais cépticas do que S. Tomé: elas só querem ver para não crer. Como suspirou alguém, «eu não acredito na vida depois desta, mas trago sempre um par de cuecas extra comigo»

Bom, minha gente, a descida demora 10 minutos só que esses dez minutos galopam com o freio nos dentes. Para mim, isto é que é imagens em movimento e não o João Baião[1], que só corre pra burro.

A costeletada final acabou por se transformar em mariscal, com todo o maralhal a emborcar cervejal. Assim com autenticas paredes no fim das palavras como que a bradar aos céus. Foi a literatura que apanhou o ar da Sierra, hiupi! Glupi, la cerbeja és mui buena, e o regresso... um sucesso.



[1] Já que se fala em portugueses, mas por razões mais válidas, convém referir a talho de foice, que encontrámos a Susana Feitor a preparar-se para os Mundiais de Sevilha onde viria a obter o primeiro lugar dos não medalhados. Estava também no Centro de Estagio de Alto Rendimento a equipa de futebol do Elche onde militam dois jovens portugueses. Foi aqui também o ano passado que esteve o Paulo Guerra e que ninguém quis acompanhar porque não estava provado que o treino em altitude desse resultado.

publicado por Ubicikrista às 16:10

«O viajante que se preza vive às claras, aproveita as gemas e não desdenha as cascas»

 

Atingida a perfeição, horas antes, a sensação era sublime, uma espécie de entorpecimento, mas o descanso dos guerreiros teria que ser guardado para outra altura, pois havia uma viagem de quase 400 para fazer... ao luar.

 Antes de mais nada, descubramos a própria palavra «viagem». No hebraico antigo, o termo «viajante» era sinónimo de comerciante. Sim, houve um tempo em que todas as viagens eram à negócios. Dai que, durante séculos, viajar não fosse mole. «Travel» (viajar, em inglês) deriva de «travail» (trabalho, em francês), que por sua vez remonta ao latim tripalium, um instrumento de tortura! Ou seja, dantes, viajar era um suplício, mais ou menos como ir ao Algarve em Agosto, de preferência na Quarteira. Agora ao findar o milénio a história repetiu-se.

À chegada foi só tempo de armar barraca e assistir, nas tendas, ao trovejar sem relâmpagos, isto é, tocou-se castanholas sem flamengo. O flamengo, como se sabe, é aquela dança semelhante à gesticulação dos guardas de trânsito nos cruzamentos em hora de ponta.

Manhã cedo, diagnóstico às tropas antes da decisão: recolher aos balneários ou cumprir castigo. Os destroços eram mais que muitos e não só nos fundilhos. Vontade para tocar o burro: zero; ilusão de ainda estarmos a viver num sonho: toda.

publicado por Ubicikrista às 15:10

A rota Pirenaica das três nações é uma das provas cicloturistas mais antigas de Espanha e permite conhecer a variedade paisagista dos Pirinéus. Dezanove edições celebradas são toda uma garantia de boa organização e um encontro obrigatório para aqueles que queiram saborear os Pirinéus. Esta marcha é a única que cruza três fronteiras e nela sobe-se a montanha alcatroada mais alta dos Pirinéus, o alto de Envalira e os seus 2.407 metros de altura.

Todos aqueles que participaram em edições anteriores, sabem e descrevem os encantos que esta marcha permite passar, uma grande e dura jornada ciclista e desfrutar de umas paisagens e de um ambiente muito
particular, dada a especial característica internacional do percurso.

A festa começa uma hora antes da partida oficial na praça do Campanário de Puigcerdá, a capital da Cerdanya, que está situada a 1.200 metros de altitude, onde a organização dispõe do primeiro abastecimento, que consiste em chocolate e Cola, que é servida tanto aos ciclistas como aos seus acompanhantes.

"A rota das 3 Nações" atravessa o amplo vale seguindo o curso do rio Segre e, após passar por dois túneis, chega-se a Seu d'Urgell (700 mets), uma suave descida de 50 kms leva a marcha até a passagem fronteiriça de Andorra.

Em Andorra-a-Velha , após o abastecimento completo, enfrenta-se a terrível subida de Envalira. Nem mais nem menos que 28 quilómetros de encosta a cima. Para valentes!

Após completar a subida lá no alto, uma descida de 13 quilómetros leva-nos até à fronteira com a França em Pas de la Casa. Sobe-se a encostazita de Puymorens e já só restam 50 Kms de descida até Bourg Madame e, a partir dali, os últimos quilómetros de ascensão até à Villa de Puigcerdá ,depois de passar uma nova fronteira.

publicado por Ubicikrista às 15:09

«Muito bonito, mas tem umas passagens cansativas.»

Critica a um poema em dois versos.

 

Com letra minha e musica d’Eu, vou contar em poesia... também da minha autoria.

        O Carrapato                                                          "Digame jóven,

        estava farto!                                                          que haces aqui?"

        Não tomou a saída,                                                "Vinham a 50 à hora,

        por não achar a dormida                                        chocaram, e eu caí!"

        O João, deu um trambolhão                                    "Nombre, edad ?"

        perto de d’Urgell!                                                   Tem 50! Como? Não devia!

        E arranjou um pincel.                                              Pensou a doutora,

        Quando o fomos buscar,                                          Isso tem a sua tia!

        já estava pronto,                                                    “Pero 50? De idad?

        para abalar                                                            Mi desculpe, non lo parece tener!

        Ao Aleixo                                                               Non será la velocidad?”

        tudo lhe dói,                                                           Andei, e não parei,

        menos o queixo!                                                     Isto é, portei(l)-me mal,

        Ao chegar à Vieja Andorra,                                      subi e não comi!

        disse porra!                                                            Quando a fome apertou

        E ficou com um melão.                                            "Ó espanhol dá aí"!

        Só dali abalou,                                                        Quando nos deram os dorsais

        quando o acabou.                                                    já outros davam aos pedais,

        O Pedro e o Portel,                                                  mas um até chegou à meta,

        não passaram cartel.                                               e não tinha bicicleta.

        Eu armei-me em tia,                                                A coisa nem é secreta,

        e apanhei uma comedia.                                          e não gosta que se mangue,

        As senhoras, todas                                                  mas quando chegou à meta,

        queriam compras!                                                   tinha "el culo" em sangue.

        Na próxima,                                                           «Meu amor, meu querido,

        com pesetas,                                                          tens que arranjar pesetas,

        já estarão prontas.                                                  como me deixas-te tesa,

                                     (mais ...)                                   ficas-te pelas p....etas». 

 

publicado por Ubicikrista às 15:08

«Ó Abreu dá cá o meu ...»

 

O cacau matinal caiu que nem rolha em cu de padre, mas aquela família das inscrições recordou-me o que se dizia de um tipo que era um nabo nos negócios: «Se esse sujeito abrisse uma casa funerária, ninguém mais morria.»

Vontade de cumprir o plano, mas simultaneamente indecisão e ilusão, dúvidas a fazer lembrar o que se diz dos irlandeses, que podem não saber o que querem, mas estão dispostos a lutar até à morte para obtê-lo. Talvez tanta perícia tenha brotado da adversidade: «Se chovesse sopa, tínhamos saído de casa com garfos.»

A decisão era ir! Depois foi correr atrás do prejuízo a 50 quilómetros há hora. Inolvidável.

Mais espectacular só a tecnologia futurista, onde através da leitura óptica de uma placa colocada no quadro da bicicleta, ligava um PC a uma impressora que fazia sair imediatamente o diploma individual, com o tempo e ordem de chegada.

publicado por Ubicikrista às 15:07

RESCALDO

"Velhos ... são os trapos."

Histórico. Todos fizemos Prata na nossa primeira Quebraossos.

Mas para algumas pessoas, a história não passa de um relato de acontecimentos que não aconteceram, contado por alguém que não estava lá. Pois bem: os acontecimentos podem até não ter acontecido, mas nós sem dúvida estávamos lá.

Na primeira parte do Marie Blanque um dos  nossos ainda conseguiu fugir de todos com uma perna às costas - e não apenas ao Fisco, como toda a gente hoje em dia faz - mas os últimos 4 quilómetros morderam mais que os fox terriers do Aleixo.

É que subir não é questão de esteróides. Que ninguém nos oiça: que raio são esteróides? Aquela espécie de satélites? Não, meus queridos: isso são asteróides. Esteróides são umas drogas químicas que mimetizam as hormonas naturais e servem para multiplicar a massa muscular. Não, que disparate, o Zé Canelas da Barraca de Pau nunca os usou.

Com o esforço despendido até chegamos a ferver cá por dentro! Está bem abelha, dizem alguns, mas também há quem diga que, se efervescência resolvesse, o Alka-Seltzer não morria afogado constantemente! È que subir aquelas montanhas foi mais ou menos um dramalhão mexicano - só que verídico e sem siestas nem sombreros.

Ficou-nos, pelas montanhas, uma espécie de atracção fatal. Não, e não é aquela de um filme sobre um homem casado que dá uma facadinha no matrimónio e a queca vira enxaqueca, porque a amante tinha a faca na liga.

publicado por Ubicikrista às 14:10

Olá amigos, hoje é o dia seguinte.

O dia seguinte de um abandono anunciado.

Estive toda a semana passada constipado, e com o corpo que não parecia o meu, por momentos tive a sensação de que a mente era de um 'outro corpo'. Uma estranha sensação.

O dia anterior, ou Sexta, pela tarde acerquei-me de Sabiñánigo para recolher o dorsal, pois Barbastro está só a 100 km. Ali tive uma grande alegria, pois tive a sorte de poder falar um bocado com o nosso Eduardo, Eduardo Chozas 'in person'. Simpatia e amabilidade a rodos, creio que ele também se alegrou de falar com um barrigudo da CicloLista.

Pois bem, depois do paleio para a casinha, jantar de espaguete, copo de vinho tinto, e toca a dormir,... bom para a cama, porque dormi pouco. Uma coisa eram os nervos normais prévios a um grande acontecimento, outra coisa era o meu intestino que, como toda a semana prévia, estava 'revolvido, revolvido'.

Resultado, na manhã seguinte subindo de carro para Sabi, rebentamentos e 'correntes eléctricas' pelo baixo ventre como uma tempestade de verão.

Cheguei a Sabi às 7h, 20m. com mais moral que o Alcoyano, montei-me na bicicleta, vesti-me de 'faena', rodei 10 minutos, e às 8 h. na linha de partida.

IM-PRE-SSIO-NAN-TE, um ano mais, só para estar aí esses momentos vale a pena aproximar-se da Quebra (como disse Alix).

4.000 chalados, altos, baixos, velhos, jovens, barrigudos, estilizados, ... de toda Espanha, todos com a mesma ilusão, a verdade é que ficas com pele de galinha. Por alguma coisa estranha, sentes-te em sintonia com todas estas pessoas desconhecidas para ti. Gratificante como poucas pelas coisas que possas chegar a sentir.

Bem, à grana...

Foguete de saída às 8,29 h e aí acabam-se todos os males, nervos e dores. Com cuidado e arreando a besta.

As pernas ocas, com dores inlocalizáveis, pulsações a mil, a malta ultrapassava-me como as motos (antes de chegar a Jaca, falsas zonas planas - mas mesmo muito falsas - circulando a 45 km/h e o vácuo arrancava-me os autocolantes quando me ultrapassavam...incrível como ia o pessoal este ano).

Voltam as correntes eléctricas e rebentamentos no baixo ventre, o que me leva a pensar numa paragem rápida e urgente...

Não foi preciso, falso alarme.

Chego ao abastecimento de Somport, km 60, 2h 10 m. depois de coronar Somport com picadas e com o orgulho ferido, paro para encher os bidões com Aquaruis e ao pôr pé em terra... as pernas abanam como um pudim.

Sensações de debilidade em todo o corpo, frustrante, depois do que creio, tinha sido uma boa preparação para este dia.

A causa, ¿?..., não tenho nem ideia, ¿ O que é que decido? Pois claro, meia volta e casa, que ainda estou a tempo.

Frustração total, tristeza e desânimo.

Hoje com a mente e o corpo mas relaxado, tiro uma conclusão, há que treinar melhor (mais não posso).

Os apontamentos e os conselhos de Eduardo Chozas também me ajudaram.

publicado por Ubicikrista às 14:09

Olá a todos !!! Agora que tenho um tempinho vou contar-vos a minha primeira participação na Quebrantahuesos que espero repetir todos os anos sucessivamente. Sou um gordinho de fim de semana e o trabalho impede-me de sair a meio da semana. Juntando a isto, que no inverno não pude sair na bicicleta, levava a preparação um bocado atrasada. Comecei a sair em Abril e tive que intensificar os treinos nas três semanas anteriores, com saídas de longa distancia (mais de 150 km) e a meia da semana fazendo rolos. Assim, cheguei aqui com 2100 km de estrada e 1000 de rolos, um pouco à justa, mas como costumo andar mais que os outros, com mais ou menos quilómetros não é problema (deve ser porque tenho 26 anos). Passo a relatar-vos .....

Chego na sexta pela noite ao Hotel, com vontade de pilhar a cama, já que nessa semana por uma razão ou outra deitei-me sempre tarde e queria descansar. Assim, deixo tudo preparado, tomo um bom duche e quando me disponho a ir dormir dou conta de que as pessoas das outras habitações não devem ter sono, dado que através das paredes delgadas se ouvia o pessoal a falar, abrir e fechar portas, e na habitação contígua umas crianças correndo e gritando, os quais teria estrangulado com alguma câmara de ar.... por fim às 00:30 parece acalmar-se tudo e às 6:30 acordo para o pequeno almoço. Ás 7:30 vou recolher o dorsal, volto ao hotel e preparo-me. Ás 8:15 estava na partida com uma quantidade impressionante de ciclistas à frente. Dão a ordem de partida em menos de um foguete e pomo-nos em marcha. A longa fila é impressionante, algo me diz que se quero avançar posições vai-me custar muito, pois tenho que me ir esquivando dos mais lentos. Ao mudar para a pedaleira grande sai-me a corrente da rodinha traseira e faz um ruído, pelo que tenho que parar e metê-la com um desmonta, isto acontece-me 3 vezes em poucos quilómetros (depois já não aconteceria). Assim as 3 paragens sucessivas fazem-me perder muitas posições, tento prosseguir recuperando posições e como os grupos se vão fraccionando com o vento,  sou obrigado a ir saltando de grupo em grupo com o vento de caras. A estrada é plana, com algumas subiditas e descidas até que a uns quilómetros antes de Canfranc começa a empinar, o ventinho gelado arrefece-me demasiado as pernas (ando muito melhor com calor) e na subida de Somport noto que a velocidade a que subo, 15 ou 16 km/h, é muito baixa para o que deveria ser, devido decerto ao frio e ao vento. Assim decido ir andando sem forçar em excesso (por precaução). De todas as formas continuo a ultrapassar pessoal e chego ao cimo de Somport. Descemos por uma estrada, que, pelo que me contaram, não era habitual (por isso nos diplomas retiraram a todos 20 minutos) que estava cheia de terra e gravilha solta. Assim mais vale prevenir...... e mãos ao travão, mas no de trás nem pensar em lhe tocar nas curvas. Após 2 km de descida estava o abastecimento, paro para atestar de bebida isotónica e apanho alguma fruta. Procuro a bicicleta por onde a havia deixado, prosseguindo com a descida com bastante cuidado e vejo membros da organização com bandeiras indicando onde há mais perigo. Nesta questão, está bastante bem a organização. Pouco depois melhora a estrada e lanço-me mais alegremente até abaixo, e já no plano alcanço um grupo que se tinha formado e chegamos à curva onde começa a estrada até ao Marie Blanque. A temperatura tinha subido um pouco e faz com que eu vá mais à vontade. Como os primeiros quilómetros são bastante estendidos levo uma boa velocidade, continuo  a passar gente como posso pela estrada estreita. Quando faltam 4 quilómetros começa o mais difícil, apanho alguns da minha cor clubista (Zarabici) e converso um pouco com eles. Como vejo que tenho forças continuo para a frente. Ainda faltam os 2 últimos km que me custam a engolir um bocado, baixo o ritmo para não sobrecarregar muito os rins. 2 km mais abaixo, depois do cimo, encontra-se o abastecimento que não ignoro e depois até desço com vontade de mais subida. No plano junto-me com um grupito e aceleramos até às primeiras rampas, como estou de bom tom decido prosseguir num bom andamento e continuo a ultrapassar pessoal até ao seguinte abastecimento de Artouste, donde apanho mais bebida isotónica e algum pastelinho. Retomo a subida, e acho-a muito fácil até aos últimos 5 km, donde se torna mais custosa, então dou conta que levava um bidão daqueles grandes cheio de agua e que não lhe toquei durante todo o dia, e despejo-o. Levo um ritmo bastante irregular, até que nos últimos km alguém me pergunta se estou a fazer séries. Xexé!. Acabo a subida e começa a descida com umas curvas bastante largas, onde alcanço a máxima velocidade do dia 89.1 e para que não me falte nada, paro outra vez no abastecimento de Formigal (no total de todos os abastecimentos parei mais de 20 minutos) e continua-se a descer por uma estrada bastante estreita e complicada até que viramos à esquerda para apanhar a estrada até o alto de Hoz, que pelas suas duras rampas de 2 km, passamo-lo como podemos, eu e os do grupito em que ia metido, com o incomodo de um ou outro carro que se tinha metido por ali, apesar da estrada ter sido vedada ao transito automóvel. Alcançado o cimo, lançamo-nos até lá abaixo com certa precaução e uma vez na estrada principal reagrupamo-nos uns quantos e aceleramos até à meta, mas quanto ao grupo é um desastre total, já que ou se dão esticões ou ninguém puxa, até que por fim encaramos com a subida final e entregamos o dorsal. No final fiz um tempo de 7:52 ( 7:32 no diploma), pelo tempo gasto suponho que cheguei no mesmo grupo de Ramón, é pena que não nos conhecêssemos antes, eu ia com uma capa de vento tipo colete cinzento e verde. Claro que na meta me desfiz de todos os invólucros do que tinha comido. No final diverti-me bastante e fiquei com vontade de mais, assim no ano que vem volto com lugar marcado, além demais com a experiência deste ano é de tentar fazer um bom tempo no próximo.

Nem mais, um abraço a todosssss.

publicado por Ubicikrista às 14:08

Mas que bem que se “anda” pelos Pirineus !!!!!!!!! Mas nada comparado com o ano passado.

Começo a minha crónica:

Viajo na sexta desde Madrid até Saragoça, donde me esperam uns amigos e com eles subo até Sabiñánigo para levantar o dorsal e o resto.

Após um tumulto de pessoas e uma fila como as que se fazem no Iémen, deparo-me com o Eduardo Chozas. Acerco-me, cumprimento-o e pergunto-lhe se viu alguém da CicloLista. Eduardo disse-me que sim, mas não me sabe dizer quem.

Ao longe vejo que há fotos do ano passado. Tento encontrar-me, mas não me acho em nenhuma.

Bom, depois disto vamos jantar e dormir em Villanua.

O albergue onde estávamos instalados é bastante acolhedor. Já o conhecia do ano passado ao fazer cicloturismo com mochila. O único problema é que temos que dormir com outras pessoas. A nós tocou-nos dormir com dois Bascos, que dormiam emitindo ruídos pelo nariz, pelo que não pudémos dormir muito.

Enfim. Na manhã seguinte levantamo-nos às 6:30, tomamos o pequeno almoço e descemos para Sabiñánigo.

Na partida muita emoção e muitos nervos. Imaginem 4.000 pessoas contagiando-se mutuamente dos nervos. Por isso, quando soa o “foguetão” começas a ouvir uma avalanche de molas de encaixe, que vem desde a primeira linha de partida e se prolonga até ao final.

Parece que alguém grita!!! O ultimo é maricas!!!. Sai-se a todo o gás.

Entre Sabiñánigo e Jaca podem-se alcançar velocidades de mais de 40 quilómetros hora no plano. Parece que ninguém se lembra que todavia ainda faltam cerca de 200 quilómetros. Porém é o único terreno onde se pode fazer corridas na marcha.

Quando começamos a subir desde Jaca encontramo-nos com um vento de frente de tombar, e acentua-se quando passamos Villanua para começar a subir o Somport. Este ano fizeram uma variação no percurso e obrigaram-nos passar nos arredores de Candanchú.

Depois uma descida de 30 quilómetros intermináveis. Na primeira parte o chão estava cheio de gravilha, que a alguns obriga a travar e a outros até a caírem. Uma pessoa até se passa descer tantos quilómetros seguidos.

Mais tarde começámos a subir o Marie Blanque. Recordo-o do ano passado como uma montanha dolorosa, devido ao calor. A temperatura na base da montanha é agradável, e ainda está bastante nublado. Pouco a pouco e poupando-nos muito, avançamos até à parte durinha, donde podemos encontrar, a andar a pé, aqueles que não pensaram nas mudanças. Eu, com a minha pedaleira tripla e o 26 atrás subo confortávelmente sentado na parte de atrás de selim. Alguns pensarão que é um exagero, mas  movê-lo a mais de 65 pedaladas faz-te subir tal como um colchão de espuma.

Já na chegada ao abastecimento, no prado da descida de Marie Blanque, paro para comer alguma coisa, reencher os bidões e pôr os manguitos. Lanço-me a esgalhar pelo Marie Banque, com as suas pequenas curvas (o Faco gostaria bastante desta montanha) e chegamos ao plano, em que por sorte o vento sopra a favor.

Em menos de nada começamos a subir o Portalet. Ponho-me à vontade, tiro o capacete e ato-o ao guiador e começo a subir com toda a parcimónia deste mundo. O pessoal começa-me a ultrapassar como loucos. Depois com o meu andar de tartaruga viria a alcançar muitos deles.  A meio da montanha outro abastecimento, e depois uma zona bonita donde se abre o vale e podes admirar toda sua formosura. Nada se compara ao calvário do ano passado. Dá-me vontade de apertar um pouco mais e de subir mais rápido. Mas penso no que ainda falta e não me vou esgotar para nada. Por fim, vão passando os quilómetros e chegamos até ao cimo. Este ano temos o abastecimento em Formigal.

Descer o Portalet é um passo. É uma descida prolongada com curvas muito abertas. Tipo Navacerrada mas côncavo. Logrei atingir 85 por hora. Há pessoal que até ultrapassou isto, mas não sei como.
Bom, quando estou a descer mesmo a gosto, fazem-me sinais de que me meta à esquerda para entrar em Formigal. Atravesso a povoação sem parar no abastecimento e à saída encontro um par de cabeços que me fizeram recordar os pais dos tipos da organização.

Bom, incorporamo-nos de novo à estrada e voltamos a meter à esquerda para subir até Hoz. Não é uma montanha muito exagerada em relação ao que já subimos, mas as pernas vão pesando. Hoz faz-se como se pode e começamos a descida a esbarrondar até Sabiñánigo. Por sorte temos o vento a favor, com o qual se rola a todo o gás. Mais ainda se vais com algum grupito de tipo canhão.

Após uma longa zona plana entramos na meta. Claro que a chegada está numa subida pelo que a entrada às vezes é até espectacular. Todo o mundo com a pedaleira grande metida e sprintando como se nos fossem a bater por detrás.

É muito emocionante entrar quando toda a gente te está a aplaudir. A mim escapou-se-me alguma lagrimita. Só me aconteceu ter sido assim recebido em duas vezes, uma nos Lagos este ano, e outra na Quebrantahuesos do ano passado.

Já na meta olho o cronómetro vejo que realizei 9:36 minutos. Não está mal, mas no próximo ano de certeza que faço prata. Quando vou recolher o diploma e a medalha, comunicam-me que nos descontaram 20 minutos devido ao desvio de Formigal. Assim totalizei 9:16. Justamente uma hora menos do que o ano passado.

Sendo assim muito bem, muito bem, muito bem mesmo.....

Depois para a coisa ficar completa, encontro uma foto que me fizeram que vale 300 pesetas, na qual fiquei muito giro coroando o Marie Blanque. Muito giro porque parece que não estou tão gordo como nas fotos que o Faco faz. Assim sendo, claro que a comprei e tenho-a aqui em casa.

Para mais enfeite, vou a um bar tomar umas canhas com um amigo de Saragoça e aparece o Eduardo Chozas com o seu filho. Senta-se o meu lado, começamos a falar da marcha e convida-nos a outra ronda.

Para que saibam, o Eduardo na actualidade é um cicloturista mais. Sabe muito mais que nós, mas pode-se falar muito bem com ele. É um tipo de homem com que gostaria de me cruzar mais de uma vez, e não tão só por a canhas [Credo! Não há modo de «arreglar» a frase].

É uma companhia muito grata.....

Isto é tudo amigos !!!!!.

Vamos ver se para a próxima QH nos divertimos mais.......

publicado por Ubicikrista às 14:07

Passou quase uma semana e todavia não me saiu o sorriso de satisfação da cara, pelo objectivo cumprido de ter acabado a Quebrantahuesos 99. Se me tivessem dito aqui à três anos, quando para mim era uma façanha ver três algarismos no conta quilómetros, que viria a ser capaz de enfrentar mais de 200 quilómetros com três montanhaços, teria pensado que me estavam a gozar.

Não me vou alongar muito porque ando muito mal de tempo. Estou a preparar uma tese e não tenho tempo nem de ler as mensagens (tenho mais de 200 pendentes para ler), assim saltarei a parte social, que já foi relatada pelo Ramón (a quem agradeço extremamente os conselhos dados, que me foram de grande utilidade para levar a bom porto a Marcha) e os aspectos que já foram comentados pelos demais participantes, e para não ser repetitivo.

A impressão geral depois de ter chegado ao fim, é de que a Quebrantahuesos pelo direito que lhe assiste é "a nata da nata" do cicloturismo, e diria que até do ciclodesportismo espanhol. Como disse o Angel, daqui ou se sai maricas ou último. Fui ultrapassado por tipos e pelotões durante a primeira hora de corrida que iam como se fossem fazer um percurso de 50 quilómetros, não obstante ter na 1ª hora sacado uma media de 33.

O resto do percurso passei-o a ultrapassar pessoas, o que me leva a concluir de que há muitos que começam a corrida por cima das suas possibilidades.

A beleza do percurso é digna de destacar. O Marie Blanque é difícil, mas com o meu 39 x 26 pude toureá-lo [no original: "capear lo"] com êxito. Isto porque a foto que me fizeram foi um barrete lamentável, toda sumida, nem vos digo que me a ofereceram. Pareceu especialmente bela a paisagem de Portalet,  e lanço-me no propósito de voltar como turista para desfrutar de tão estupendo local.

Fui toda a etapa com a intenção de que tinha possibilidades de entrar em tempo de medalha de ouro, mas como não tinha referencias, ao contrario da maioria, por ser a primeira vez que participava, não tive claro, até quase ao final, as possibilidades que pensava ter.

Aguentei muito bem a quilometragem e as montanhas, incluindo a pontinha do cabeço de Hoz; mas quando chegamos ao cartaz que indicava 3 quilómetros para o final, num grupo de uns 50 tipos, sofro contraturas nas duas pernas à vez, e tive que baixar o ritmo deixando escapar todo o grupelho. Deu-me uma raiva tão grande, porque segundo os meus cálculos ia muito à justa para poder entrar em tempo de medalha de ouro. Tinha que chegar antes das 16'25 e cheguei às 16'29 com a qual acabei contente mas com uma pequena frustração por ter perdido a oportunidade de sacar o Ouro tão só por 4 minutos.

Afinal, como já foi comentado bonificaram-nos em 20 minutos, e o meu tempo oficial foi de 7H 39' com o qual em vez de me faltarem 4 minutos, sobraram-me 16 para conseguir a medalha de ouro. Não queria acreditar, estava exultante. A minha primeira participação na Quebrantahuesos e  tinha conseguido o objectivo com bónus.

Para finalizar, seria injusto não dedicar um espaço à Organização. Exemplar em todos os aspectos. Os abastecimentos fenomenais, tanto em quantidade como em qualidade, como em organização. A sinalização perfeita. A assistência sensacional. Pareceu-me incrível como puderam controlar uma Marcha de quase 4000 tipos sem que fosse um caos organizativo. CHAPÉU para os membros de Edelweiss.

Eu! Pois no final da mini crónica, nada mais tenho a acrescentar. Mas é que voltar a recordar a jornada de sábado 19 de Junho de 1999, produz-me uma emoção difícil de dissimular.

Recomendo àqueles que possam permitir-se o luxo (para mim é) de se prepararem e treinarem, para enfrentar semelhante percurso, que o façam. A satisfação de objectivo cumprido é indescritível.

Saúdo todos e felizes pedaladas.

publicado por Ubicikrista às 14:06

Olá a todos:

o ano passado tive que me retirar desidratado, mas disse que voltaria para tentar conseguir uma medalha de ouro na Quebratahuesos, que é para mim a marcha cicloturista mais emblemática das que se celebram em Espanha. Dito e feito… Bom, não tão fácil: em primeiro lugar quase não baixei o pistão durante o inverno, já que me dediquei a correr a pé; em segundo lugar espetei-me previamente varias sovas para chegar lá com a base necessária (4.750 km. acumulados).

A verdade é que aos meus 41 anos e tendo família e duas cadelas, tenho que lhe dar atenção e assistência. Tanta dedicação foi difícil, mas mereceu a pena. Sobretudo porque uma vez mais a prática do desporto deu-me uma lição humana: se tens um objectivo nunca o abandones, ainda que tenhas que começar de novo. Aprende com a experiência, altera a tua preparação e tenta de novo. Se no final alcanças o teu objectivo, a satisfação pessoal é tanto maior quanto mais difícil tenha sido o caminho.

Bom menos conversa e vamos com a crónica.

Na sexta-feira o ambiente em Sabiñánigo na hora de me inscrever, era o mesmo de todos os anos: Impressionante. A quantidade de gente que se sente atraída por esta marcha, e a preparação de que todo o mundo faz gala, é digna de menção, assim como dos recursos que a organização põe em jogo para que tudo saia bem. Por isso às 9 da noite lá estava a recolher o meu dorsal e acto seguido fui para Jaca, onde tínhamos reservado o hotel (desde fevereiro) e onde fiquei de me encontrar com Javichu, um dos ciclolisteros pioneiro. Depois do jantar juntámo-nos para tomar uns refrescos de mentol e comentar a jornada do dia seguinte. De seguida fomos para a cama descansar e fiscalizar as armas.

O sábado amanheceu perfeito: sol, vento nas calmas e temperatura agradável. Eu estava na linha de partida às 8 em ponto, com tempo suficiente para não ficar demasiado atrás. Já nessa altura a fila ia a 25 mts da grade de partida. Conversando com outros participantes que estavam à minha volta, a longa meia hora passou, assim como os nervos dos minutos prévios ao chupão da saída. Nesses momentos é inevitável pensar se depois de tanta preparação teremos um dia de sorte ou não.

Bom, soa o foguete e lá vamos um ano mais a mil à hora, cruzando as ruas de Sabiñánigo, com toda a povoação e os acompanhantes colocados nos passeios, aplaudindo e animando os 4.000 ciclistas que tinham invadido a calçada.

De seguida estabilizam-se as minhas pulsações e verifico que estou num grande grupo, bastante perto do pelotão da frente, rodando a 40 ou 45 km/h a caminho de Jaca. Produz-se um corte e perco o pelotão da frente, mas passo para a frente e começo a acelerar, rapidamente entram à vez quatro ou cinco participantes mais, e entre todos vamo-nos revezando num grupo de umas vinte unidades. Após e não pouco esforço, colamos de novo ao pelotão da frente, logo a seguir a Jaca. Ufa…tenho a sensação de que me passei, então instalo-me comodamente na roda e decido não dar nem uma só pedalada a mais de momento. A estrada já empina e vamos a 35 km/h, o qual, para já, é mais que suficiente para mim.

Por alturas de Canfranc o vento começa a soprar de frente e com bastante força, embora no meio do grupo não provoque demasiado dano, se tivesse passado por aqui sozinho talvez se tornasse realmente penoso.

A montanha de Somport subo-a a um ritmo bastante vivo. Esta montanha vem mesmo a meu gosto, porque é alongada. Quem lê as minhas crónicas já sabe que não sou trepador como Faco ou Javichu…, nem mais ou menos. Este ano notei a falta dos soldados do quartel de Rioseta, em formação de passo na estrada a animar a marcha; suponho que estariam em manobras ou algo assim, porque são uma instituição.

Entrámos na estação de esqui de Candanchú por motivos publicitários, mas esta mudança de  percurso fica bastante bem, já que a estrada é mais bonita por aqui, o mesmo não acontece com o desvio até Sallent de Gachego desde Formigal, que não gostei nada e sobre a qual ouvi muitas críticas.

Na descida de Somport pelo lado francês a estrada está miserável. Relembro mentalmente os gendarmes franceses e constato que levo bebida e comida suficiente para chegar até o abastecimento do Marie Blanque, assim, só paro para vestir a capa e lanço-me vale abaixo a caminho de Escot. Espera-me uma descida de quase 40 km, das tais que acabamos cansados de tanto descer, curvar e subir.

Quando cheguei à zona dos escorregas que estão no final da descida decidi despir a capa de plástico em andamento, mas hoje levo uma camisola nova e não estou muito hábil na hora de a meter no bolso, tanto é que a deixo cair e tenho que parar para a recolher, na qual perco mais tempo do que se tivesse parado, tal como a prudência indica… de mal a menos que os que vinham atrás de mim em grupo foram rápidos na hora de se desviarem.

De seguida apanho outro grupo e chego com ele a Escot, onde começa a subida mais difícil: o Col de Marie Blanque, que nos recebe envolto em nuvens e com bastante frio. Esta montanha é a chave da Quebrantahuesos: se a consegues passar, o restante é questão de paciência; se chegas lá acima esgotado, no Portalet morres. É uma montanha muito traiçoeira, já que os primeiros 4 km. só têm subida, mas os quatro últimos são uma autentica parede, sem nenhum descanso e com inclinações que em nenhum momento baixam dos 10%, alcançando 14% nalgumas rampas. Quanto vejo o cartaz dos 4 km para o cimo da montanha reduzo para (38x27) acomodo-me na parte de trás do selim e vou ganhando altura. A fisionomia da subida é a típica das encostas que se alongam paralelas ao sentido do vale, sem curvas em arco, apenas uma longa recta que se perde entre as arvores. Vou alternado o pedalar sentado com as partes mais empinadas em que as faço de pé. Controlando, e não querendo saber se ultrapasso ou se me ultrapassam, dependente das minhas sensações e do pulsómetro, que em nenhum momento desceu das 170 ppm. e sem excessivo sofrimento, chego lá acima bastante bem, o suficiente para compor a minha figura nos últimos metros e posar para a foto que me fez o fotógrafo da prova no momento de passar no alto da montanha.

No abastecimento que se encontra na descida, paro para repor forças na minha despensa. Bebo Aquarius, como fruta e sanduíches, encho os bolsos e os bidões, e continuo a descida até Laruns. Nos 10 kms de recta que precedem esta localidade formamos um grupinho na qual todos entram à vez a puxar, o que nos permite avançar bastante depressa.

Laruns é um paraíso para os ciclistas, acima da cidade há uma rotunda, em que já fiz uma foto aqui à uns tempos atrás, antes de subir o Obisque e nela pode-se ver os seguintes indicadores: para Portalet 27 km, para Obisque 17 km (depois encontra-se Sóur, Hutacan e o Tourmalet), para Marie Blanque 18 km.

Aqui começa a ascensão a Portalet, para o qual temos que nos armar de paciência, 27 quilómetros de montanha que te dá tempo suficiente para te aborreceres, te animares, passares mal, te recuperares… o que queiras. A partir daqui o fundo de reservas é fundamental, eu subi muito bem, comecei com um grupo que subia bastante ágil e que foi descolando ao longo da ascensão, e cheguei sozinho ao cimo, tendo subido de tudo de seguida, sem parar em nenhum dos abastecimentos.

Lá no alto está um cartaz que reza: QUEBRANTAHUESOS Km 150, assim pois, faltam 55 km. até à meta. E bonita casualidade: há um Quebrantahuesos num avião voando em círculos sobre os prados do Midi de Osau.

Observo o cronometro e faço contas: levo 6 h. 35' desde a partida, sendo assim falta-me 1h. 10' para completar  55 km. dentro do tempo de medalha de ouro. O suficiente, contando que a única dificuldade que falta são os 2 kms de Hoz, e que a descida de Portalet é vertiginosa. Subo os manguitos e lanço-me de caixão à cova. Chego a ver 83 km/h no conta km. vou à procura do abastecimento, já que fiquei sem agua e começo a sentir fome.

Por alturas de Formigal: bandeiras vermelhas da Organização... Desvio na estação de esqui e descida por uma estradinha secundaria que acabava com uma subida….Grande susto, perdi demasiado tempo, já que cheio de confiança tinha parado no abastecimento. Lanço cobras e lagartos contra a Organização. Numa marcha como esta não se pode alterar o percurso clássico sem mais nem menos, as pessoas que iam no meu grupo estavam com um grande melão.

Enfim, retomo a descida, já cardíaco total e dependente do cronómetro. O alto de Hoz subo-o num suspiro, gastando já as últimas energias. Quando regressámos à estrada principal faço contas: 7h 40'… faltam-me 15 '  sendo assim, a tope.

Rapidamente organiza-se um grupo de umas 15 unidades, mas não obstante pedirmos colaboração varias vezes, só 4 é que puxamos. Por estas alturas, depois de 190 km. a malta já vai morta.

Cartaz de 5 km. para a meta, faltam-me 10', último esforço 4km., 3 km…. Parte-se o grupo e continuamos para diante os quatro que puxávamos…2 km…Pano do último km…a dar tudo…que nem um átomo de energia.

Na subida que conduz à praça onde está a meta sprintámos com tudo o que nos resta. As pessoas da assistência junto às grades do passeio e ao longo de toda esta subida aplaudem… Cruzo a meta às 16:22, isto é, sobraram-me 3'.

Objectivo conseguido, QUEBRANTAHUESOS DE OURO, no diploma figura um tempo de 7:32, significa que a organização deu 20', não sei se pelo tempo que se perde na partida, ou pela alteração do percurso. Este tempo extra foi dado a todos os que perguntei.

Subi até Jaca para um duche, mais contente que umas castanholas, até que escuto pela radio a triste noticia do falecimento de Manuel Sanromá, recém vencedor de 4 etapas na Volta ao Alentejo. Descanse em paz.

Quando desço, para ir buscar a medalha e o diploma, tenho o prazer de cumprimentar o Eduardo Chozas, que por simpatia me dedica uns minutos de conversa no meio de toda a barafunda que tinha à sua volta com a entrega dos trofeus.

Já de noite e com a minha mulher, juntámo-nos com Javichu e a sua família. Também tinha feito Ouro. Os dois coincidimos em que quiçá não voltamos a esta marcha, já que a sua preparação necessita muita dedicação, mas não haja duvidas é a melhor de todas.

Saúde e sorte nas estradas.

publicado por Ubicikrista às 14:05

publicado por Ubicikrista às 14:04

PERFIL DA PROVA

A saída será às 8:30 (7:30 em Portugal) da manhã na avenida de Huesca, no centro da localidade Oscense de Sabiñánigo. Esta marcha é sem dúvida a rainha do Circuito e do cicloturismo espanhol. Quebrantahuessos converteu-se num nome mítico para os amantes do cicloturismo, um encontro obrigatório para quem queira doutorar-se em ciclismo, já que deverá superar um repto digno e igual ao Tour de França. O seu percurso, duro mas atractivo e em pleno Pirenéus, a sua admirável organização e o ambiente que nela se respira, convertem-na na melhor marcha e na mais esperada por todos os cicloturistas.

No ano passado (2008) foram quase 4000 mil os participantes numa das edições mais duras que há memória devido à onda de calor que os esperava. Noutros anos foi o frio e a neve que dificultou o já de si difícil traçado. Muitos cicloturistas justificam a sua temporada com “culminar" uma boa actuação na QuebraOssos para poder contar que um dia subiram numa mesma jornada o pico de Somport, Marie Blanque, Portalet e Hoz. Costuma-se dizer que até ao cimo de Somport, dentro do possível, chega-se bem, as pernas estão relativamente frescas e a vontade (ânimo) é muita...

Se houver alguém que todavia não conheça o traçado da Quebrantahuessos e tem em mente acudir no próximo dia 19 de junho (de 1999) a Sabiñánigo há que dizer que nos 205 km se enfrentará com 4 montanhas. O primeiro, El Somport, não possui grandes dificuldades, são 16 km de rampas com um desnível médio de cerca de 5%. Os organizadores calculam um tempo entre 50 a 60 minutos para esta ascensão até aos 1.632 metros de altitude.

Talvez o mais complicado seja circular num pelotão até se darem os primeiros cortes. Após passar a fronteira com a França lá no alto e depois de uma larga descida e rectas, começa a montanha mais complicada do dia, o Col de La Marie Blanque (semelhante ao Torcal mas sem a recta).

São uns 9 km no total mas os 4 últimos valem por muitas outras montanhas já que tem um desnível médio de cerca de 12 % e são várias as paredes com 15%. De novo se calcula entre 50 e 60 minutos para levar a cabo esta duríssima ascensão. Resta dizer que à que levar um carreto com dentes leves, já que além da dureza deste pico há que ter em conta que todavia nos faltam quase 100 km até à meta e com outras subidas pelo caminho, e o primeiro pensamento que passa pela cabeça da maioria dos participantes é “que faço eu aqui? Se todavia falta metade".

Após completar o Marie Blanque, desceremos (sem duvida para muitos, descer custa mais que subir, e, grande erro, a palavra descenso pode ser confundida com descanso, e decerto que esse relaxar se paga) até ao vale, para nos aproximar-mos do povoado de Laruns e iniciar o Col del Portalet.

As sua rampas não são em geral muito duras, mas no total são 29 km a subir, com um desnível médio de 4,4%, o que supõe mais de 2 horas de ascensão para a maioria dos participantes e entre 1 hora e 1 h 45 m para os melhores. Isto faz com que seja fácil apanhar com uma boa “pássara” nesta parte da marcha, pelo que é essencial ter comido bem antes de começar a subida e ter feito uma paragem no abastecimento da zona plana de Artouste, a metade da subida.

Já no alto, cruzamos de novo a fronteira para iniciar uma fácil descida até ao cruzamento que nos conduz à ultima dificuldade do dia, a curta mas difícil subida ao Alto de Hoz que é uma aldeia que tem 2 km. de subida com um desnível de 10 %, sendo o tempo aproximado de subida de 15 a 20 minutos.

 

Por fim, após alcançado, só nos resta deslizar para chegar à animada linha de meta e poder relaxar-nos com uma reparadora massagem, além de outras comodidades, um prato de macarrão e uma entretida conversa com os nossos companheiros.

 

Se és dos que gostam de dar gáspea, a Quebrantahuessos permite explorar a tope as tuas prestações desportivas. Se preferes rodar mais tranquilo o objectivo deve ser simplesmente completar o percurso. Seja qual for a tua preferencia não sairás defraudado de Sabiñánigo. Desfrutarás.

publicado por Ubicikrista às 14:02

Introdução

"Quando sou boa, sou muito boa, mas

quando sou má, sou ainda melhor"

Depois da experiência insatisfatória, para alguns, do Torcal, aguardávamos com alguma expectativa esta prova. O treino máximo que fizéramos rondara os 200 km e passava pela Amareleja, Alqueva e Viana. Alguns de nós quebrara-mos por altura dos 170 mas nesse dia estava um calor infernal.

Como havia condicionados pelos pontos [dois de nós tinham que terminar uma das provas, pelo ponto de atraso no Torcal], a estratégia antecipadamente decidida, foi de irmos com calma e se fosse mau de mais, desistiríamos e guardaríamos as forças para a prova do dia seguinte.

Momentos antes da partida, ao ver-mos aquele mar de gente lembrei-me logo dum patrício que ao entrar num restaurante, reclamou: «Não admira que ninguém venha aqui, está sempre cheio!»

Vamos ver se teremos peito para coronar três montanhas de 1ª categoria e uma de 2ª. Ficam desde já a saber que coronar é chegar lá acima ao topo, à coroa da montanha: uma coisa simples como resmungou Juan Carlos, o pai de uma das filhas mais feias de Península Ibérica, ao recusar-se a ser coroado oficialmente: «Gaita, uma coroa é apenas um chapéu que deixa passar a chuva».

publicado por Ubicikrista às 14:01

Capitulo 2

SABIÑÁNIGO

publicado por Ubicikrista às 14:00

"Á primeira cavadela ...minhoca."

 

Ficámos a saber como elas mordem. Para terem uma ideia: no Torcal quando já não conseguia mais, parei. Uma senhora que estava ali por perto fez-me uma pergunta que me recordou a 1ª vez que andei de avião, quando a hospedeira, examinando a minha cara, me perguntou se estava a sentir falta de ar. Respondi-lhe: «Pelo contrário - estou a sentir falta de terra.» Aqui, terra era o que tinha a mais, mas ar para o peito nem vê-lo. Não há forma de combater o sofrimento. Uma vez alguém disse que «o preceito crucial do algemado é não pensar em comichão.», aqui é não pensar em nada enquanto se sofre.

Glória para todos, com insatisfação para alguns - meteram o 2º. carreto antes de tempo. Ficou no ar a ideia de que mais difícil que o Torcal seria impossível. Também ficámos a saber que fugir na montanha não é o mesmo que fugir do chilindró, em que bastou ao padre Frederico aproximar-se da porta e caminhar às arrecuas. Fugas ao sofrimento, só com o pé no chão.

 Afinal a prova era só de 62 km, e o percurso do regresso era até facultativo. Mas a moral de cada um levou um porradão decisivo na vila de Concepción. Como diria o meu amigo Neto, o brasileiro: «minha moral ficou mais baixa que cu de cobra.» Como era possível existir um inferno e termos ido lá parar. O mesmo disse, a Rosita (a dona da pensão), quando nos viu chegar às duas da manhã: «Com tantas espeluncas espalhadas pelo mundo, vieram logo parar à minha.»

A verdade é que quando chegámos à meta, fomos ainda a tempo de satisfazer uma necessidade fisiológica, mas não diremos se sólida, líquida ou gasosa ... e quem não gostar que vá lamber sabão.

publicado por Ubicikrista às 13:05

Quase que me matavaaaaaa !!!!

Olá a todos !!!

Confesso-me um completo ignorante da geografia espanhola. Antes deste fim de semana pensava que só havia montanhas de Madrid para cima.

Que armadilha a de Málaga e a montanha do Torcal! Paco e eu coincidimos em que esta marcha é mas difícil que os Lagos de Covadonga.

Conto-vos. No sábado pela manhã saímos de Madrid, o Paco e eu, pensando que o que íamos fazer era um passeio em grupo, visto que pôr quatro abastecimentos numa marcha de 115 Km era demasiado.

Chegámos e alojámo-nos num hotel em pleno centro de Málaga, estava recém reformulado e a verdade é que muito bem.

Desde que chegámos a Málaga demos conta de que as coisas ali correm num ritmo diferente ao de Madrid. As pessoas aqui andam muito mais tranquilas e devagar.

Também vemos que Málaga é muito maior do que tinhamos imaginado. Tem muitos semáforos que duram muito pouco tempo.

Bom, basta de descrições e vamos ao que interessa.

QUE BELAS MOÇAS QUE HÁ EM MÁLAGA. COLEGAS !!!!.

Lamento, não era isto o que queria dizer (embora seja verdade).

Pela tarde conhecemos o Juan que está justamente no local onde combinara com o Paco, ao lado do computador. Grande Paco, este sim sabia o que era o Torcal. Ele mesmo dizia que se tivesse explicado a dureza desta montanha não teria vindo tanta gente.

Bom, no dia seguinte, já na marcha, conhecemos o Fernando que veio de Granada. Subimos a montanha de Fuente de la Reyna. Uma montanha muito confortável, com bastantes patamares para se poder recuperar. Durante a subida da serra, só oiço os diferentes grupos de ciclistas falar da dureza do Torcal. Todos sabem a fama dos andaluzes para o exagero, mas  amigos, estes não estavam a exagerar nada……. 

Descemos a Fuente de la Reyna e após uma rampa conchavada vemos ao longe o Torcal. E iope, ele está muito, muito empinado, mas não parece estar longe.

As primeiras rampas começam logo a doer um pouquinho. O caso é que, como vem sendo hábito, o Paco descola o Fernando e a mim, e sobe ao seu ritmo.

Fernando e eu começamos a comentar estas coisas típicas que se costumam dizer nestas ocasiões. Que faço eu aqui?. Com que gosto estaria em casa. !!!! Já não tenho idade para isto!!!. Eu o que gosto é desfrutar da bicicleta, etc, etc, etc…..!!!!.

Bom, depois de subir umas quantas rampas de, creio eu, mais de 11%, chegamos a uma zona na qual podemos recuperar um pouco.

Justamente depois desta zona, começa a subida dos últimos 3 quilómetros. Uma recta interminável. Eu tenho que parar quando faltam 2 quilómetros, porque me começam a dar cãibras na perna esquerda e deixo que o Fernando suba à sua maneira.

Após recuperar, subo e encontro o Paco e o Fernando sentados num muro. Todos dizemos o mesmo !!! Que difícil é esta montanha !!!. Fazemos uma fotos e atiramo-nos até lá abaixo. Ao descer dou conta da formosura da serra de Málaga. Paisagens dignas dos Picos da Europa ou dos pré-pirinéus Aragonêses.

Na povoação seguinte dão-nos um abastecimento sólido digno de aplauso. Não posso conter a enorme vontade de comer, e então, como e bebo a duas mãos e um pé.

A partir daqui começa o mais difícil, voltar a Málaga. Um calvário de 40 quilómetros cheios de rampas e alguma subida mais ou menos prolongada. Continuo a sentir cãibras nas pernas e deixo abalar o Paco e o Fernando.

Com uns carretos dignos de bicicleta de montanha vou-me arrastando tendo o cuidado de não forçar muito os músculos para não voltar a ter cãibras. Inevitavelmente, numa das subidas, dão-me de novo as ditas cãibras. Paro um pouco e volto a subir na bicicleta.

Com dificuldade, chego ao ponto mais alto da Volta a Málaga. E daqui em diante uma grande e muito, muito divertida descida, com muitas curvas e muita técnica. Curvas daquelas de entrar devagar e arrancar à saída. Por fim e com alguma dificuldade na minha pedaleira tripla chego a Málaga, partilhando os mesmos sentimentos do Paco e do Fernando.

Um circuito muito difícil, uma organização excelente e sobretudo, pela minha parte, uma falta de treino impressionante.

É que eu, desde logo, não estava preparado para uma coisa assim. Nunca me costumam dar cãibras nas pernas…

Os meus parabéns aos malaguenhos pela sua dedicação a esta marcha e por ser tão bem feita. O único que não gostei foi a falta de um pouco de Reflex, que não encontrei durante toda a marcha. Teria sido uma grande ajuda, pois não fui o único com cãibras nesse dia.

E isso é tudo, companheiros do aço.

Vamos ver se nos incentivamos a juntarmos mais gente nas marchas. Ainda não nos demos conta mas já somos um Clube. E com muitos contactos. Não estranhem ver dentro em pouco o Eduardo Chozas na Ciclo-Lista.

Nada mais.

Ai, Ai !!! . Deixo-vos. Acaba de me dar uma cãibra  nas orelhas,,,,,, até logo !!!!.

publicado por Ubicikrista às 13:04

A minha crónica é sobre o percurso da Clássica Eduardo Chozas, mas realizado na semana anterior com o meu Clube, já que eramos nós que cabia organizar.

Não a realizei antes porque temia que alguém fizesse marcha atrás.

Era a primeira vez que realizava o circuito, e estava com uma vontade enorme pelo que diziam do Torcal, e de superar um novo desafio.

A diferença deste domingo é que o tempo estava mau. Choveu um pouco quando subíamos a La Reyna, e fazia um vento daqueles de termos que agarrar bem a bicicleta.

Subindo a La Reyna, excepto a fera do Clube e os três novatos na subida ao Torcal, todos iam muito poupadinhos, de modo que reduzi o ritmo e deixei-me apanhar pelo grupo, protestando pelo ritmo tão lento a que iam. Eles diziam-me que mais adiante já falaríamos. Os três últimos km de subida a La Reyna fi-los bastante fortes, porque nesse momento pensava que não se subiria o Torcal devido ao mau tempo.

Descendo, o vento atingia-nos com força, e a parte entre Colmenar e Casabermeja, rectas onde normalmente se vai a boa velocidade, foram duras, duras, porque o vento batia de frente o suficiente para derrubar alguém da bicicleta.

A parte da subida até chegar a Villanueva, fez-se muito devagar. Um companheiro que ia comigo, fez-me o mesmo comentário. Três semanas antes subíramos esta parte até Villanueva, e naquela ocasião pareceu-nos metade do difícil do que nos pareceu agora.

Ao chegar a Villanueva, muitos pararam e disseram que esperavam que o fizéssemos também. Eu estive a ponto de ficar porque estava rebentado, mas o repto e a vontade de conhecer a subida do Torcal, tornou-se-me num "perigo para mim mesmo" prosseguir até ao cimo.

Só iam três companheiros à minha frente e um deles deu meia volta, coisa que estive a ponto de fazer também. Depois de muito sofrimento cheguei ao cimo, mas o meu calvário estava ainda por chegar.

De volta a Málaga, até Casabermeja, ia colando e descolando do grupo que até não ia muito rápido. Quando começámos a subir Patascortas, EXPLODI. ¡&iexcl[1]; Pássara monumental!!. O grupo afastava-se cada vez mais e eu levava "metido" o 26 (reservado para o Torcal) e tudo me parecia duríssimo. ¡ Não posso, não posso!. Cada pedalada é uma picada nos músculos, doem-me as costas, os pulsos, os braços e não podia raciocinar com clareza. Neste estado, aguentei talvez mais do que devia - a subida até Patascortas, e uma parte mais do percurso - até que decidi parar e subir para o carro que nos acompanhava. Foi a «pássara» maior que tive até hoje.

Um abraço. Juan Fdez



[1] N.T. Para caracterizar palavrões.

publicado por Ubicikrista às 13:03

Nesta altura da película, imagino que já todos vocês conheceis a cena de Malaga, e pouco mais fica para acrescentar às excelentes crónicas enviadas. De qualquer modo, e dado que tampouco escrevo muito na CicloLista, vou tentar complementar as outras crónicas com a minha  visão particular.

Antes de mais, vou apresentar-me um pouco. Vivo em Granada à sete anos, mas ainda sou de Bilbau, tenho quase 40 anos (em novembro próximo), meço um pouco mais de 1.80 e peso à volta de 85 Kg. Como vêem, não sou exactamente o dobro do Pantani, e com o qual mais me pareço no universo ciclista, é a um cu gordo holandês. Com esta introdução, e uma vez lidas o resto das crónicas da subida ao Torcal, já imaginam o bom bocado que passei.

A verdade é que gosto das marchas cicloturistas. Devido ao meu trabalho e a outras causas, saio na bicicleta quase sempre sozinho, e de vez em quando gosto de me meter no ambiente ciclista, ver e admirar as bicicletas dos outros, as pessoas dos clubes com as suas camisolas iguais (vamos a ver quando teremos as nossas) e, em resumo, esse conjunto de coisas que te levam a pensar que pelo menos por um dia tens algo em comum com o Indurain.

A primeira marcha que fiz (a subida a Veleta do ano passado), pensava que para o meu nível havia treinado bastante, e imaginava que ia encontrar gente parecida comigo. Grande erro. Nada mais se dar a partida, dos 700 que participávamos, cerca de 600 saíram disparados perante o meu olhar atónito, sabendo o que nos esperava, e ficámos num grupo onde se podia encontrar um amplo mostruário do leque dos varios tipos de cicloturistas, incluindo gente com as camisolas justas de mais, quer dizer, gordos; gente com pouco cabelo, e a maioria branco, em resumo, gente com todos os sintomas que dá a idade e os excessos da vida. Deles não há que dizer nada, já que este é o grupo com o qual sofri durante toda a subida, e os que volto a encontrar nas outras marchas em que participei, que considero os meus companheiros ciclistas. Como comentava antes, apesar disto, gosto de participar.

Entrando no baile. No domingo passado levantei-me cedo, tomei um pequeno almoço equivalente à dieta de uma modelo para um ano inteiro, apanhei o carro e fui para Málaga de encontro a esse ambiente que antes comentei. Logo de inicio, vi um tipo com uma fita retrovisora no capacete, acompanhado de outro com uma camisola de @ciclistas, e supus que não poderiam ser outros senão os meus companheiros da CicloLista. Pela primeira vez, o clube ciclista virtual convertia-se em real, e com grande alegria da minha parte, dispus-me a começar a marcha em boa companhia.

O que se seguiu já o devem ter lido. A subida ao Torcal é brutal, e muito mais para alguém com as minhas características físicas. Sofri o que ninguém escreveu. Tive que pôr o pé em terra algumas vezes, mas cheguei ao fim, e pudémos sacar a foto dos três heróis da jornada.

Depois, o regresso a Malaga (40 Km) foi angustiante. Estas provas com uma subida tão difícil, deveriam, finalizar no alto da montanha. Todo o percurso que falta parece em excesso, mas 40 Km de rompe pernas, com uma montanha de mais de 2 Km, é factura a mais do que estou acostumado a pagar. Durante esta parte final é onde mais aprecio a companhia do Faco e do Angel. Por estas alturas a marcha estava totalmente partida, e havia gente a regressar isolada, com uma cara de agonia, própria para inspirar actores, semelhante aos que participam na procissão da Semana Santa.

 Finalmente chegamos a Málaga, com a satisfação do dever cumprido. Tomamos três canhas de cerveja, um prato de macarrão e um bocado de tarte (tudo muito rico e com muito a-propósito), além de tirar-mos a fotografia com o Eduardo Chozas.

Posteriormente despedimo-nos com o firme compromisso de nos voltar-mos a ver na subida de Veleta deste ano.

Enfim, é curioso que depois do massacre a que nos tinham submetido, falássemos de Veleta, onde no ano anterior estive a ponto de me converter num monumento ao ciclista todo roto, mas são as coisas desta nossa “doença”, que quando as tentas contar a alguém, que nunca foi picado pelo bichinho, olham-te como se fosses doutra galáxia, ou tivesses levado uma pancada na cabeça.

Bom, espero que estas minhas reflexões tenham sido do vosso interesse. Um abraço companheiros, e até à próxima.

Fernando.

 

publicado por Ubicikrista às 13:02

Olá.

O que segue é a crónica, longa e sincera, da minha participação na VI Clássica Cicloturista Eduardo Chozas (ou Volta Cicloturista a Málaga) e provavelmente contem linguagem torpe e expressões somente adequadas aos adultos. Sirva isto como aviso, no caso de haver crianças na audiência.

Há duas possibilidades:

A - O meu estado de forma e moral, que não era ontem o óptimo, destorceu as sensações que tive sobre a bicicleta.

B - O Clube Ciclista Malaguenho, conjuntamente com o Circuito Cicloturismo a Fondo-Bicisport, não confiavam o suficiente na impecável organização da marcha para atrair as pessoas (todos sabem que as marchas no sul de Espanha têm poucos participantes), e ocultaram-nos o que nos esperava (a ciclomarcha aparece qualificada em todas as partes como de dureza "media").

Se algo houve da opção A, creio que mais terá havido da B, e isso não está bem. E se não, leiam a crónica e julguem vocês mesmos...

O domingo amanheceu bonito, sem demasiado calor, perfeito para a bicicleta. Não entendo como há tão poucos adeptos de ciclismo por aqui, com um clima tão privilegiado. Angel e eu chegámos a Málaga no sábado, e inscrevemo-nos, tendo a oportunidade de conhecer o Juan, do C.C. Malaguenho, que nos sorria muito, mas não nos avisou do que nos esperava. Não vimos nenhum outro malaguenho (da CicloLista) e assim não nos juntámos. Jantar com massa e o típico sono inquieto que precede as marchas (era isso que esta seria, pensava eu, das fáceis).

Assim às 8:30 ali estávamos, prontos para um agradável passeio pelo mais bonito da província de Málaga, depois de uma noite mal dormida e dez dias sem tocar na bicicleta. A saída, atravessando a cidade, era neutralizada e o ritmo convidava à conversa. Alguém se aproxima e me chama pelo nome: claro, o autocolante retrovisor no capacete denuncia-me. É o Fernando, de Granada, e dedicamos um bom bocado a falar enquanto atacamos as primeiras rampas da montanha de León (ou Fuente de La Reina). Os 10 km. neutralizados por dentro de Málaga não contavam para a quilometragem do percurso, tanto assim que esperava uma subida de apenas 5 km. e resultou que...

De seguida, ao deixar para atrás as últimas casas da cidade, aparecem rampas duras, a rondar os 10%, e ponho o meu ritmo, para aquecer. O joelho incomoda-me ligeiramente e a paisagem começa a ser bonita à medida que vamos ganhando altura. Penso que para o alto da montanha não deve faltar muito, e o desnível suaviza-se e assim que subo confortável, entretido com os meus pensamentos. Pelo rabo do olho vejo alguém que se aproxima rapidamente e penso "este enfureceu-se quando o passei e vem-se a mim" mas não,  é o José Ramón, de Salamanca, que vem com outro ciclolistero, e subimos vários quilómetros na conversa. Serviram-me de desculpa para afrouxar o ritmo (ainda que tampouco fosse a subir com muito entusiasmo).

"Porra, esta montanha nunca mais acaba", penso, a ver se avisto o alto e poder fazer um sprint dos que tanto gosto, ao acabar as subidas. Entretanto, ultrapassam-nos dois, com bicicletas bem equipadas e pose "desafiante". Isso é superior às minhas forças, assim,  mudo para a pedaleira grande (a pendente não superaria o 5-6%) e dou-lhes uma ratada das que tanto gosto. Como resultado devo estar quase a chegar...

Seguinte curva, cartão amarelo: "3 km. para o final"! MECAGÜEN![1] Retiro a pedaleira grande e abrando. Neste momento amaldiçou-me por ter deixado o roteiro não sei onde, e por não ter um perfil da montanha como devia. Nos últimos quilómetros volta a haver rampas difíceis, e chego ao cimo sem alento, mas bem quentinho. Enquanto bebo agua e encho o bidão alcançam-me, o José Ramón e Juanma, e começamos a descer juntos, mas primeiro tenho de parar, porque tentar beber sumo pegajoso descendo a 40 ou 50 km/h por uma estrada esburacada é, no mínimo, complicado. O resto da descida faço-a sozinho, enquanto entramos na bonita comarca de Axarquía, terra verde, de pessoas caladas e estradas mal asfaltadas. Num dos buracos, o bidão sai-me disparado, mas por sorte ninguém o pisa e recupero-o sem que haja feridos.

No final da descida, um abastecimento daqueles de encher a tripa. Alguém da organização se empenha em encher-me os bolsos de comida e bebida, enquanto como banana e maçã desalmadamente, como se a minha vida dependesse disso. Chegam o Angel e o Fernando e prosseguimos a rota os três juntos. Faltam 12 km. para o Torcal e a Andaluzia na primavera é uma maravilha, e mais com o estômago cheio, assim sendo, a marcheta torna-se  muito agradável, apesar de uma ou outra subida.

Aí está: o Torcal de Antequera eleva-se sobre os campos verdes. É uma impressionante mola em espiral, e parece que vamos a subir até ao mais alto. Para começar, encontramos as primeiras rampas que sobem até Villanueva de La Concepción, com percentagens, se não por cima, muito perto dos 10%. Aí, cada um vai como pode, e de seguida fico só. Chegado ao povoado, já estou esgotado, apesar de me ter ido reservando, como Ramón me recomendou. Disseram-nos que a subida, de 12 km., chega nalguns sítios a 11%, e ponho-me a imaginar os que já passei, e se os quase 9 km. que faltam serão mais suaves, para poder desfrutar da paisagem girissima.

Já as ruas de Villanueva se empinam como se tivessem pressa por chegar ao céu. Cruzamo-nos com os primeiros que descem, que nos dizem que "já não falta quase nada". Após sair da povoação voltam as rampas muito duras. Aperto-me ao selim, deitado o mais atrás que posso, e forço as costas, com apenas 60 pedaladas por minuto, pedaladas redondas e profundas, esticando bem as pernas para aproveitar cada impulso. Agora começo a sentir calor, mas o ar é seco e o suor não me incomoda. Penso que estas inclinações não podem durar muito, e que noutras ocasiões já passei por pior. Passados uns três km, que se fazem eternos, chego ao tal descanso que tinha prometido a mim mesmo. Alcanço um outro ciclista e comento-lhe o difícil que aquilo é. Responde-me, "Pois o difícil está por chegar! Agora é que te vais cagar todo!" e eu solto-lhe a primeira coisa que me passa pela cabeça, "Pois, mas merda é coisa que já não tenho, caguei-me todo para chegar até aqui". Acha tanta graça ao meu dislate que começa a rir, e rio-me também, com esse riso nervoso que dá a tensão.

Passam os 2 ou 3 quilómetros de terreno plano, demasiado escassos para o que levo em cima, e chego a uma curva à esquerda. Em frente prossegue a estrada, já a descer, mas um tipo da organização diz-me que por alí vai-se para Antequera e que isso não vale.

Encaro o último tramo da subida de pouco mais de 3 km. com duvidas, sem saber o que vou encontrar, depois da sova dos 6 primeiros. Visto isso, não me enganaram os que falavam de 11%, ou o ciclista que me dizia que o mais difícil estava ainda por chegar...

Levanto os olhos e regressa à minha cabeça a Subida aos Lagos de Covadonga. As imagens, do mais difícil da Huessera[2], tal como em câmara lenta, com as pessoas retorcendo-se sobre a bicicleta, de alguns a andar, de alguns sentados ou apoiados muito mal na bicicleta, sobrepõem-se ao que vejo. Não está demasiado calor mas o sol cai a pique, sem deixar sombras na estrada, apoiando-se na vertical e fortíssimo sobre as encostas do Torcal. A inclinação rondará os 10% mas a recta parece não ter fim, e a vista perde-se nos pedregulhos medonhos. Volto a chegar-me para trás, para que o meu peso caia sobre a roda traseira, e pedalo lenta e cansadamente, ganhando metros um a um. Custa-me manter as 50 pedaladas por minuto, que é o meu limite mínimo psicológico para subir, mas penso que aquilo não pode durar muito, e que 3 km. passam depressa. Tenho muitas dificuldades em ultrapassar as pessoas, porque quase todos vão aos esses - de novo, a recordação da Huessera - e além disso estão os carros e os ciclistas, e inclusive um autocarro, que descem, queimando as pastilhas dos travões.

Perdi já a noção do tempo, e chego ao cartaz dos 2 km. para o cimo da montanha. A minha cabeça está vazia, e começa a encher-se de desejos para eu dar meia volta. Tenho vontade de largar a bicicleta e não lhe voltar a tocar durante meses. Alcanço muita gente que vai a pé e penso que vou parar também, para descansar um pouco e poder continuar a pedalar. A andar, só subi uma montanha, foi em Angliru, que é uma coisa especial, mas em qualquer outro ou subo em cima da bicicleta, ou dou meia volta. De vez em quando ponho-me de pé, para relaxar as costas, mas as pernas começam-me a avisar de que não aguentarão muito. Ao passar o cartaz de 1 km. vejo descer o José Ramón, e chamo-o para o saudar, mas faço-o tão baixinho que nem me ouve nem me vê. Começo a notar as ameaças das cãibras nos gémeos, ao fazer força nos pedais e nos quadricípedes ao baixar o pé, e trato de pedalar sentado, apoiando-me nas costas, para descer as pulsações e não forçar tanto as pernas. Há sítios onde o desnível cede um pouco, mas apenas me serve para aliviar. Calculo que me devem faltar 200 ou 300 metros e estou noutra rampa duríssima. Diante de mim, um ciclista que havia subido mais ou menos ao meu ritmo, às vezes à frente e outras atrás de mim, desce-se da bicicleta. Ultrapasso-o e chego ao que parece o cimo da montanha, mas à minha frente há outra encosta, em curva, com uma inclinação que não convida nada a continuar. Levo as pernas no limite da contratura e recordo os Lagos, onde só pelo facto de ir com os da frente me fez prosseguir totalmente cheio de cãibras, e que me custou vários dias de recuperação. Antes de me encher todo de cãibras paro, e relaxo as pernas uns minutos. O ciclista que parou antes de mim, voltou a montar-se na bicicleta e passa-me, animando-me. "Esta tem que ser a última rampa" penso, e volto a montar-me na bicicleta. Poucos metros depois vejo pessoas da organização e o Juan numa mesa com o computador. Gritam o meu dorsal e dizem-me que continue, que não pare. Mas nesse momento, ao relaxar as pernas depois da última rampa, contratura-se toda a perna direita e travo a fundo, deixando-me cair sobre o tubo horizontal e o guiador. Há alguém da organização que se aproxima, mas digo-lhe que estou bem e que só necessito apenas de uns alongamentos. Uns metros mais adiante está o abastecimento. Procuro um sitio onde me sentar e aproveito o óleo que nos haviam dado (uma grande ideia), para massajar a sério as duas pernas.

Quando, daí a pouco, aparecem, primeiro o Fernando e depois o Angel, já me sinto muito melhor, mas ainda muito chateado por ninguém nos ter dito que o Torcal era tão duro. Todos o comparámos aos Lagos, e a nenhum lhe pareceu mais fácil. Para cumulo, ainda faltam mais de 40 km. até Málaga, e tal como nos disse Ramón, não são nada fáceis.

Tiramos umas fotos e descemos até Villanueva, onde nos espera outro magnífico abastecimento. Fico sem vontade de andar de bicicleta, mas não me resta outro remédio senão prosseguir, assim é, que carrego-me de comida (pelo menos, que não chegue a «pássara»[3] física, que a mental já eu tenho). Até Málaga são 40 km. que supõe-se ser de quase outras duas horas a pedalar. Nos 25 primeiros sucedem-se subidas e descidas, e a subida a Venta Patascortas é como uma montanha de segunda, sobretudo pelo facto de irmos todos tocados. Fernando e eu comentamos por que é que cada clube se empenha em organizar a sua Serra da Estrela particular, quando, do que se trata é de desfrutar da bicicleta e não de sofrer como condenados. A cada curva esperamos ver Málaga, mas só encontramos uma nova serra, à qual a bicicleta se agarra como a uma lapa. Por fim, completamos os últimos 15 km. todos eles serra abaixo e chegamos ao Polidesportivo, onde nos espera comida e bebida em abundância, a que lhe demos a devida atenção.

Ainda temos forças para fazer uma foto com Eduardo Chozas, e convidá-lo a visitar o site ciclistas.org e, depois do duche, partimos para Madrid.

Ignoro se voltarei a Málaga, mas certamente que será com outra mentalidade, muito diferente e que me permita desfrutar de uma marcha tão difícil como esta.



[1] Sem tradução literal.

[2] Supostamente a zona mais difícil de Covadonga.

[3] Desfalecimento. Não se anda para a frente, nem para tráse nem para os lados.

publicado por Ubicikrista às 13:01

«...quando te disserem que espanhol não é bem português,

faz o seguinte: deita a nossa língua de fora.»

 

Quem sabe, sabe e não vale a pena renegar. São fulanos batidos nestas andanças e com os quais nos identificamos de imediato. Iremos servir-nos das suas opiniões - as nossas estão em suporte áudio visual, para os mais cépticos, embora saiba que ao céptico ninguém mente, uma vez que ele não crê nem na verdade - para descrever as diferentes sensações ao longo do percurso. Além disso eles conhecem melhor aquelas paragens que nós. Ficaremos decerto também a conhecer mais profundamente a sua linguagem neste meio.

A verdade é que as crónicas aportam-nos conhecimentos sobre o mundo do cicloturismo - são só por si um verdadeiro manual – sob um olhar de outras culturas diferentes da nossa. Espero que gostem tanto de os ouvir como eu! Perdão, de os ler.

publicado por Ubicikrista às 13:00

A saída será às 8:30 (7:30 em Portugal) da manhã no Polidesportivo Ciudad Jardín. O percurso terá  uma distancia de 125 Km. A corrida só começa com um ritmo livre a partir do inicio da ascensão à serra de León, de 864 m , com inclinação média de 5,3%, na distancia de 16 km. Com subidas de inclinação máxima de 11 ou 12%. Segue-se uma descida que passa por Colmenar e Casabermeja, para dar inicio à  ascensão à serra mais dura, El Torcal, passando por Villanueva de la Concepción. El Torcal tem uma inclinação média de 8,4%, com rampas de 14%.

A partir daqui começa o regresso a Málaga, passando de novo por Villanueva de la Concepción e Casabermeja, para enfrentar as últimas subidas da corrida, e chegar à meta situada no Polidesportivo Ciudad Jardín.

Informação Complementar: O Clube Ciclista Malaguenho pretendeu esta prova mostrar a incrível beleza da paisagem de Parques Naturais que há nesta província de Andaluzia, como são o Parque Natural de Los Montes, o Parque Natural de Málaga – Fuente de La Reina e o Parque Natural de El Torcal. Claro que ao pedalar por estes Parques pode-se desfrutar da vista de espectaculares paisagens, formada por variados processos geológicos, meteorológicos e químicos, como são as paisagens Karsticas do famoso Torcal de Antequera.

publicado por Ubicikrista às 12:33

A saída será às 8:30 (7:30 em Portugal) da manhã no Polidesportivo Ciudad Jardín. O percurso terá  uma distancia de 125 Km. A corrida só começa com um ritmo livre a partir do inicio da ascensão à serra de León, de 864 m , com inclinação média de 5,3%, na distancia de 16 km. Com subidas de inclinação máxima de 11 ou 12%. Segue-se uma descida que passa por Colmenar e Casabermeja, para dar inicio à  ascensão à serra mais dura, El Torcal, passando por Villanueva de la Concepción. El Torcal tem uma inclinação média de 8,4%, com rampas de 14%.

A partir daqui começa o regresso a Málaga, passando de novo por Villanueva de la Concepción e Casabermeja, para enfrentar as últimas subidas da corrida, e chegar à meta situada no Polidesportivo Ciudad Jardín.

Informação Complementar: O Clube Ciclista Malaguenho pretendeu esta prova mostrar a incrível beleza da paisagem de Parques Naturais que há nesta província de Andaluzia, como são o Parque Natural de Los Montes, o Parque Natural de Málaga – Fuente de La Reina e o Parque Natural de El Torcal. Claro que ao pedalar por estes Parques pode-se desfrutar da vista de espectaculares paisagens, formada por variados processos geológicos, meteorológicos e químicos, como são as paisagens Karsticas do famoso Torcal de Antequera.

 

publicado por Ubicikrista às 12:32

«Se uma experiência correu bem, é porque

alguma coisa correu mal.»

  

Íamos ali a Málaga "a provar", como diz o Pedro Delgado, para caracterizar uma situação sempre que se tenta uma fuga que mais não seja para experimentar a reacção dos adversários. Se a coisa não corresse bem, ou caísse fora dos nossos sonhos, bie, bie Espanha. Hasta la vista.

Por outro lado, as montanhas sempre nos intrigaram. Hoje em dia, alguns psicólogos examinam o simbolismo do acto de escalar montanhas. Como declarou um deles, «é uma questão discutível se o desejo de um homem por mulheres com mamas grandes implica anseio por montanhas, ou se o anseio por montanhas oculta o desejo por mulheres de mamas grandes». Pessoalmente, não vejo por que uma coisa exclua a outra. Mas a sério! As dúvidas e expectativas persistiam. Como diria alguém realista: «e se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que dei muito dinheiro pela meu carro novo».

Era o nosso debute e as dúvidas eram mais que muitas, as expectativas enormes e algum nervosismo. Os cabeços seriam como? A descer? Querias! Claro que não. Mas essas histórias dos 8, 10, 12 e 14 ou 15% são melhor ir lá ver para termos a certeza. E o transporte? E se levássemos as camisolas todas iguais? Da Banesto não temos para todos! E a dormida, e quantas pesetas vamos gastar? Podemos pagar em escudos? Toda esta teoria foi respondida atempadamente, mas faltava pôr em prática o ditado do tal Santo de ver para crer. Até porque, há a famosa discrepância entre teoria e prática. A teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. A prática é quando tudo funciona e ninguém sabe porquê. A ver vamos...

publicado por Ubicikrista às 12:32

«Experiência é o nome que todos dão aos seus erros.»

 

Não havia tempo para planear nada de jeito nem temos conhecimentos para isso. Abrir um manual e obedecer à risca não é o nosso género, parecia dar um carácter profissional à coisa. Confiávamos, isto é, desconfiávamos, como fazem todos os portugueses, que se a coisa corresse mal podíamos sempre dar como desculpa que e não nos preparáramos convenientemente. Não foi permitido este subterfúgio. Limitámo-nos por comum acordo e porque ninguém tinha experiência do que nos esperava, a fazer quilómetros[1], a agarrar endurance, sem andar-mos a esgalhar e sem alterações repentinas de ritmo. Acreditem que se fez tudo muito calmamente, ou duvidem; Afinal de contas, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Já agora, como é que se distingue um coxo de um mentiroso? Canja: basta começar a correr atrás de ambos.

 



[1] Salientar a ajuda dos que contribuem com a sua companhia neste acumular de quilómetros. Para alguns deles também foi uma aventura fazer 120 ou 140 numa manhã. Deram um passo, faltou o outro, que era irem também. Ao Carvalho (um espectáculo a subir antes de ir à faca), ao Raposo (110! «Papá traz o carro»), ao Inácio («Segura aí a perna»), ao Ferro (medufas) ao Rui (pelo entusiasmo do brinquedo novo) e ao Marques (pelo silencio absoluto).

publicado por Ubicikrista às 12:31

«Se uma experiência correu bem, é porque

alguma coisa correu mal.»

 

 

Íamos ali a Málaga "a provar", como diz o Pedro Delgado, para caracterizar uma situação sempre que se tenta uma fuga que mais não seja para experimentar a reacção dos adversários. Se a coisa não corresse bem, ou caísse fora dos nossos sonhos, bie, bie Espanha. Hasta la vista.

Por outro lado, as montanhas sempre nos intrigaram. Hoje em dia, alguns psicólogos examinam o simbolismo do acto de escalar montanhas. Como declarou um deles, «é uma questão discutível se o desejo de um homem por mulheres com mamas grandes implica anseio por montanhas, ou se o anseio por montanhas oculta o desejo por mulheres de mamas grandes». Pessoalmente, não vejo por que uma coisa exclua a outra. Mas a sério! As dúvidas e expectativas persistiam. Como diria alguém realista: «e se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que dei muito dinheiro pela meu carro novo».

Era o nosso debute e as dúvidas eram mais que muitas, as expectativas enormes e algum nervosismo. Os cabeços seriam como? A descer? Querias! Claro que não. Mas essas histórias dos 8, 10, 12 e 14 ou 15% são melhor ir lá ver para termos a certeza. E o transporte? E se levássemos as camisolas todas iguais? Da Banesto não temos para todos! E a dormida, e quantas pesetas vamos gastar? Podemos pagar em escudos? Toda esta teoria foi respondida atempadamente, mas faltava pôr em prática o ditado do tal Santo de ver para crer. Até porque, há a famosa discrepância entre teoria e prática. A teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. A prática é quando tudo funciona e ninguém sabe porquê. A ver vamos...

publicado por Ubicikrista às 12:31

 «Deus, ao criar o homem, sobrestimou a Sua capacidade.»

 

A passagem de um desporto tão diferente como o futebol para o ciclismo fora um êxito. A aprendizagem fora rápida e mortífera. Com excepção do Portel, era consubstanciar uma relação que perdura há muitos anos. Havia que lançar um repto para que a confiança voltasse a quem durante tantos anos se agarrou ao futebol e não via mais nada. Tantas vitorias a encher o ego de confiança precisavam de ser readquiridas, algo que trouxesse as mesmas sensações só que desta vez através do ciclismo.Além disso o bichinho andava cá dentro a roer há muitos anos, como uma coisa impossível de alcançar. O poeta já avisara que não há limites quando um homem se põe a pensar.

 A desculpa veio meio embrulhada em forma de revista que um dos pinantes trouxe de Badajoz: participar numa prova de cicloturismo no país de nuestros hermanos. Pois, grande coisa! Mas cá também há disso e nós fugimos delas como o diabo da cruz, e ainda por cima com inscrições pagas. O quê! Tiram o tempo à chegada! mas isso é uma corrida, dessas que nós menosprezamos e que muitos nos apodam de cobardes por não entrarmos nelas e preferirmos competir entre nós, com o sistemático de deixar para trás os menos aptos... E se em vez de uma, fosse fartar todos os sonhos da vilanagem de uma vez por todas?

O esquema, tinha em conta a área geográfica, funcionava assim: 2 pontos por participação e mais um por chegar ao fim (com excepção de 2 provas no Sul que valiam 4 e a de Valência que era de 3, juntamente com uma de 215 km por ser a mais dura). O circuito compunha-se de 15 provas mas com a desistência de Covadonga bastava atingir-mos 14 pontos para a medalha de bronze ser alcançada, e foi para este objectivo que enfocámos a ambição. Convite alargado à canalha, que poucos aceitaram; aí vamos nós... Sigam-nos, que agora quem puxa somos nós.

publicado por Ubicikrista às 12:30

... ao contrário de tantos escritores duvidosos,

não melhoraram com a tradução...

 

Quando por brincadeira me propus traduzir algumas passagens para que nada nos faltasse em termos de conhecimentos, estava apenas a dar a primeira papa ao bebé. Traduzir é complicado – o meu prof. de comunicação dizia constantemente TRADUCTORE TRADITORE do latim, e que significa «tradutor, traidor» - acabamos sempre por meter a foice em seara alheia. Não o fiz propositadamente. Se a coisa não soa melhor é porque o tocador é fraco. Como alguém disse: «uma vez que não podemos obter o melhor, devemos contentar-nos com o medíocre». Calma, não tão radical, porque qualquer tradutor irá sempre meter a tal foice e com os seus conhecimentos, pôr-se na pele da pessoa que escreveu, recorrendo para tal à sua própria sensibilidade. É um pouco como quando um juiz tem de aplicar uma lei antiga. Tem que saber qual era o espírito do legislador na altura que este fabricou a lei. Como disse o outro: "Afortunadamente, o sociólogo não foi obrigado a fazer um striptease. Despiu-se apenas dos seus preconceitos e conheceu a verdade nua e crua". A-propósito, foi assim, como tradutor que Saramago começou. Não pretendo seguir estes passos, juro – como striper claro.

Ao tentar manter linearmente o espírito original de cada pessoa, detectam-se diferenças literárias entre crónicas: uns são apenas ciclistas com a mania das queixinhas (contam aos outros o que viram, o que é interessante) outros gostam de fazer brilhar a pena e de ciclismo sabem ainda pouco, embora alguns conciliam as duas coisas como verão adiante. Enfim, trocando por miúdos (como diria aquele pedófilo), intentemos por exemplo na palavra tirar. Significa para os espanhóis na gíria ciclista: meter todos os carretos possíveis e puxar que nem um desalmado até fazer descolar o pessoal todo. Para nós portugueses é apenas aliviar. Imaginem a cena no Pico de Veleta, na parte mais dura, eu a dizer a um dos nossos com insistência, tira, tira, i.é, para ele aliviar. E os espanhóis a verem aquele berreiro todo, olhavam, olhavam e nada acontecia. O homem não acelerava coisa nenhuma, não partia nada a loiça toda, tirava era uma mudança e ficávamos cada vez mais para trás. Bem feito, mais uns que ficaram a conhecer a genuína fibra dos alentejanos.

Outra situação com a mesma palavra aconteceu numa das partes mais duras do Marie Blanque (15%), como não conseguia avançar sem me apear comecei a dar meia volta para trás, descia uns metros, virava e continuava a subida. Numa destas manobras e como a estrada era estreita, espalhei-me da «chiba». Um espanhol que vinha a subir nas calmas ao passar por mim disse-me. «Tira la bici», isto é, «deita-a fora», como se ela me tivesse acabado de morder ou fosse a causa do meu sofrimento.

publicado por Ubicikrista às 12:04

«Nada que valha a pena aprender pode ser ensinado.»

 

Guardar par cada um de nós esta aventura e não a partilhar pareceu ser o caminho mais provável a seguir. Basta um olhar e toda a cumplicidade vivida vem à tona como se fosse um segredo entre os intervenientes. Noutros desportos é possível olhar nos olhos de frente o adversário ou companheiro e sentir que nos respeitam. No cicloturismo não. Não temos que enfrentar ninguém senão nós próprios e o relevo.

Para pôr fim a esse isolamento resolvemos partilhar essa cumplicidade com todos e fazer surgir este Ensaio, além disso, escrever é a única profissão em que ninguém é considerado ridículo se não ganhar dinheiro.

publicado por Ubicikrista às 12:02

«Só a maldade mantém os velhos vivos»

 

... Dedico este ensaio ao João - pela paragem das idas ao frigorífico a meio da noite; ao Aleixo - pelas descontraturas musculares; ao Pedro - pela incerteza das batidas; e ao Carrapato – pela purificação dos pulmões familiares - a todos eles pela perseverança e teimosia em recusarem o passar dos anos e por terem sabido provar que o desporto pode ser qualquer modalidade, seja como o sumo, em que dois marmanjos cheios de banhas, vestidos com um fio dental, se agarram mutuamente. Dir-se-ia que o vencedor é aquele que muda primeiro a fralda ao outro.

Preferiram o sofrimento, substituindo o banco de dirigente ou treinador, ou a bancada de adepto, por outro mais incómodo, de seu nome: selim. Penso que vão sempre querer continuar a brincar ao desporto tal como na infância e ao longo da vida. Mas a vida vale a pena ser vivida? Ora, meus caros, esta é uma pergunta para um espermatozóide, não para um ser humano. Em frente.

publicado por Ubicikrista às 12:01

ABORDAGEM A UMA EXPERIENCIA POR 4 PAÍSES DIFERENTES

(para já só o que está ativado a vermelho)

                Escrito, visando ser publicado como livro, em novembro de 1999

«Recomendo vivamente este livro

- pode ser lido de olhos fechados»

ÍNDICE

PREÂMBULO

INTRODUÇÃO

TRADUÇÃO

1ª PARTE: PREMEDITAÇÃO

OBJECTIVOS

TREINO

2ª PARTE: PARTICIPAÇÃO

CAPITULO 1: MALAGA

INTRODUÇÃO

PERFIL

CRÓNICAS

Faco, Angel, Juan, Fernando

O Inferno do Torcal por Ricardo Costa

RESCALDO

 

CAPITULO 3: PUIGCERDÁ        

INTRODUÇÃO

PERFIL

CRÓNICAS - Crónica poética

RESCALDO

CAPITULO 2: SABIÑÁNIGO

INTRODUÇÃO

PERFIL

CRÓNICAS

Ramon, Javier, Angel,

Miguel, Biciclo

RESCALDO

 

CAPITULO 4: SIERRA NEVADA

INTRODUÇÃO

PERFIL

CRÓNICAS - Faco, Fernando, Ramon, Juan

RESCALDO

3ª PARTE:  ANTEVISÃO

 

INTRODUÇÃO

CAPITULO 1: FICÇÃO

Um domingo,

Um feriado


CAPITULO 3: PORTOS DE MADRID              

Ramon, Faco, Juan

CAPITULO 2: LAGOS DE COVADONGA

Ramon, Faco, Angel, Eugenio, José Ramon, Javier,

David, Fernando, Charly

 

CAPITULO 4: ANGLIRU

Alberto, Antonio, Andrés, Fernando, David

 

CAPITULO 5: PARIS-BREST-PARIS

Brevet 300

Brevet 400

Brevet 600

4ª PARTE: CONCLUSÃO

 

EXTRA: VERSÃO FICCIONADA

 

Personagens

Folgas, Arreatas, Rebocador, Amigo, Gordo

publicado por Ubicikrista às 12:00

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