Meus senhores eu sou a água
que lava a cara,
que lava os olhos
que lava a rata
e os entrefolhos
que lava a nabiça
e os agriões
que lava a piça
e os colhões
que lava as damas
e o que está vago
pois lava as mamas
e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa
e o rabanete
que lava a língua
a quem faz minete
que lava o chibo
mesmo da rasca
tira o cheiro
a bacalhau da lasca
que bebe o homem
que bebe o cão
que lava a cona
e o berbigão
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos
e os grelinhos
que lava a cona
e os paninhos
que lava o sangue
das grandes lutas
que lava sérias
e lava putas
apaga o lume
e o borralho
e que lava as guelras
ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas
e os manjericos
que lava o bidé,
lava penicos
tira mau cheiro
das algibeiras
dá de beber
às fressureiras
lava a tromba
a qualquer fantoche
e lava a boca
depois de um broche.
De Manuel Maria Barbosa du Bocage.
Num dia Bocage em que foi desafiado pelo seu arqui-inimigo e rival França para, de momento, dizer uma ode sobre a água,