Ciclismo do passado - Opinião
Foi assim durante 20 anos… antes de aparecerem os montanhistas na estrada…
O artista monta-se na sua burrinha e vai só dar uma volta, diz ele. Alguém acredita nisto? Vejamos.
Aparece-lhe um Romão qualquer, ou uma descida, um vento favorável, uma subida curta mas dura, um tractor ou um mata-velhos, etc. Nem sabe a sorte que tem, se pelo contrário encontrar um Ferreira ou uma Carminda.
Ao domingo é mais do mesmo! Vai ao sabor do vento, isto é, acelera, sprinta e sobe de pé, quando os outros lhes dá na gana acelerarem. Não lhe dão descanso e apertam a valer. Às vezes fica com a certeza que se o deixassem descansar um pouco, que se baixassem ligeiramente o andamento, conseguia ir com eles, os galfarros. Tanto é que depois de desistir fica a vê-los ali a 100 ou a 200 metros, durante moitões de quilómetros, até definitivamente se irem embora na parte final, mas aí ele já tem o dia ganho.
E nem lhe falem em travar ou avagar, enquanto se espera por alguém, isso é musica que já não lhe entra no ouvido. Diz que vai andando, ou então, raspa-se à sorrelfa sem aviso.
Isto durante anos, porque se convenceu que se levar uma sova hoje, mas se treinar durante a semana, cada domingo que passe estará a andar melhor. Mais, se puder treinar com os que andam bem, qualquer dia anda como eles ou até melhor se alguém dos bons faltar!
“E se te deixasses disto e te tornasses um especialista numa só área”, dita-lhe a consciência? Mas qual? Sprinter? Trepador? Rolador? Rebocador? Não tens hipóteses! Os lugares já estão preenchidos. Quando muito aguadeiro... para ir ao carro de apoio e com a desculpa dos bidões ou furo, descansar lá um pouco.
Que chatice! E ele que ia só dar uma volta.
Pois bem! Podes continuar a dar a tua volta. Podes fazer como, por exemplo, o Quaresma, que ia e vinha a Montemor quase todos os dias sempre com o mesmo ritmo, o dele, e foi o seu corpo que lho ditou.
Sem o saber, habituou o organismo àquele esforço e àquela resistência, isto pelo menos durante as duas horas do percurso. Resultado: quando em grupo, nas primeiras duas horas ninguém o batia. Só fraquejava ligeiramente na hora e meia seguinte.
Saberão porquê? O corpo só estava habituado àquele esforço, isto é, só tinha gasolina super para duas horas, a partir daqui gastava da normal, entenda-se reserva.
Não é difícil imaginar-lhe a prestação se pudesse treinar 4 horas àquele ritmo pessoal, onde ninguém lhe incomodasse o treino.
Em suma: as mudanças de ritmo súbitas, quer nas subidas ou nas descidas, torna qualquer um de nós num ciclista polivalente, mas especialista em ... NADA.
Lembrando o puto que queria ser mini playboy, nem chega a ser mini trepador, nem mini sprinter, nem mini qualquer coisa, consoante a especialidade que treine mais frequentemente. Quando muito fica-lhe o mini hábito e depois é só emborcar nelas.
Recuperemos as situações atrás descritas para as alturas em que se dá um súbito aumento de ritmo ou quando se insiste em mantê-lo nas subidas, as pulsações disparam para valores incomportáveis para a idade. Mas isso já será assunto de um futuro blogue.