As viagens temos que as levar por diante,
antes que elas nos levem a nós. In, I
A ida lá acima antecedeu uma semana terrível de coronárias defeituosas entre chegados. E antes que seja tarde o melhor era aproveitar já os 600 km do brevet até Odeceixe, nas depressa (213 km) esse plano inicial mudou para outro, quando se falhou o controlo na Figueira da Foz, por excesso de 10 km. O companheiro de ocasião ainda foi convencido a fazer o percurso inverso de regresso à gasolineira, mas o controlo que entretanto se tornara móvel, apanhou-nos quase no fim da subida da ponte. A frase da organização: depois carimbamos, não deixou dúvidas. Já éramos.
Em suma: o 6 inicial de Viana, tornou-se num 4 definitivo depois de Matosinhos, passou a 2 + 2 a partir da trovoada de Ílhavo e, à saída da Figueira num, cada um por si. Um que se perdeu de amores pelo carro da organização, outro que ia direto para casa, outro a tentar recuperar o tempo perdido e finalmente outro que tinha que acabar. No fundo o regresso ao 2 + 2 (dois acabados + dois por acabar). Depois de mais 1000 km (Brevets de 200+300+400+223) em completa autonomia não fazia sentido obter ajuda do carro de apoio fora dos postos de control.
Prosseguindo ainda em autonomia total conforme o regulamento, sem carro de apoio onde ir buscar roupa seca e mantimentos, ou cama, e apenas com um inútil telemóvel touch (descarregado pela trovoada), algum nevoeiro, um escuro enorme, uma mochila a abarrotar e umas luzes, as da frente fracas e as traseiras, que perto de Leiria, em modo fixo se recusavam a permanecer ligadas após minutos.
A aproximação a Vila Franca antes das nove horas trouxe dúvidas existenciais: ir para casa (110 km) ou obter cueiros novos e secos (25 km) no Parque das Nações onde ficara o carro na véspera, ao ser trocado por um Alfa pendular. Decisão fácil, até porque embora desconhecendo o transito na zona, nela circulam dezenas de ciclistas àquela hora, sobretudo a um domingo de manhã, com o senão de virem todos em sentido contrario ao nosso.
A passagem de barco foi feito de carro, não para Almada mas sim para o Montijo (-11 km). Uma hora de sono seguido, em cima de uma carpete e ala para Setúbal. Um furo por um fio de arame, dos que só saiem do pneu com corta unhas, quando se procurava uma arca e que ao fim de 20 minutos, amargamente afinal era uma barca, deu a 4 garrafa de agua do dia (1,5 l), em mais um controle inútil, e a impossibilidade de acompanhar, naquele ferry, os 2 randonneurs que se haviam juntado algures.
Antes do cruzamento da Comporta e do ventinho de costas que se adivinhava para casa, em vez do frontal para Odeceixe, devolução dos manguitos e pernitos à organização, emprestados 300 metros após o controle simulado da Figueira, recuperação do valor da medalha, de uma camisola e de um par de meias molhados e, de uns ténis, despojados de imediato, que, se ajudaram na viagem de comboio da véspera, daqui até casa (100 km) só estorvariam. Juntando estes aos km até Lisboa (425, com enganos), os 40 do Montijo à Comporta, ultrapassar-se-iam os 500 km em 29 horas, desta vez, contrariando os brevets anteriores, sempre em prato pequeno (rotor).
Viagem dedicada ao Murteira (em recuperação), ao Matos (recuperado) e
ao Aleixo (sem palavras) meu grande companheiro e amigo destas lutas
de devorar estradas, aqui, em Espanha, Andorra ou França.