"Á primeira cavadela ...minhoca."
Ficámos a saber como elas mordem. Para terem uma ideia: no Torcal quando já não conseguia mais, parei. Uma senhora que estava ali por perto fez-me uma pergunta que me recordou a 1ª vez que andei de avião, quando a hospedeira, examinando a minha cara, me perguntou se estava a sentir falta de ar. Respondi-lhe: «Pelo contrário - estou a sentir falta de terra.» Aqui, terra era o que tinha a mais, mas ar para o peito nem vê-lo. Não há forma de combater o sofrimento. Uma vez alguém disse que «o preceito crucial do algemado é não pensar em comichão.», aqui é não pensar em nada enquanto se sofre.
Glória para todos, com insatisfação para alguns - meteram o 2º. carreto antes de tempo. Ficou no ar a ideia de que mais difícil que o Torcal seria impossível. Também ficámos a saber que fugir na montanha não é o mesmo que fugir do chilindró, em que bastou ao padre Frederico aproximar-se da porta e caminhar às arrecuas. Fugas ao sofrimento, só com o pé no chão.
Afinal a prova era só de 62 km, e o percurso do regresso era até facultativo. Mas a moral de cada um levou um porradão decisivo na vila de Concepción. Como diria o meu amigo Neto, o brasileiro: «minha moral ficou mais baixa que cu de cobra.» Como era possível existir um inferno e termos ido lá parar. O mesmo disse, a Rosita (a dona da pensão), quando nos viu chegar às duas da manhã: «Com tantas espeluncas espalhadas pelo mundo, vieram logo parar à minha.»
A verdade é que quando chegámos à meta, fomos ainda a tempo de satisfazer uma necessidade fisiológica, mas não diremos se sólida, líquida ou gasosa ... e quem não gostar que vá lamber sabão.