Passou quase uma semana e todavia não me saiu o sorriso de satisfação da cara, pelo objectivo cumprido de ter acabado a Quebrantahuesos 99. Se me tivessem dito aqui à três anos, quando para mim era uma façanha ver três algarismos no conta quilómetros, que viria a ser capaz de enfrentar mais de 200 quilómetros com três montanhaços, teria pensado que me estavam a gozar.
Não me vou alongar muito porque ando muito mal de tempo. Estou a preparar uma tese e não tenho tempo nem de ler as mensagens (tenho mais de 200 pendentes para ler), assim saltarei a parte social, que já foi relatada pelo Ramón (a quem agradeço extremamente os conselhos dados, que me foram de grande utilidade para levar a bom porto a Marcha) e os aspectos que já foram comentados pelos demais participantes, e para não ser repetitivo.
A impressão geral depois de ter chegado ao fim, é de que a Quebrantahuesos pelo direito que lhe assiste é "a nata da nata" do cicloturismo, e diria que até do ciclodesportismo espanhol. Como disse o Angel, daqui ou se sai maricas ou último. Fui ultrapassado por tipos e pelotões durante a primeira hora de corrida que iam como se fossem fazer um percurso de 50 quilómetros, não obstante ter na 1ª hora sacado uma media de 33.
O resto do percurso passei-o a ultrapassar pessoas, o que me leva a concluir de que há muitos que começam a corrida por cima das suas possibilidades.
A beleza do percurso é digna de destacar. O Marie Blanque é difícil, mas com o meu 39 x 26 pude toureá-lo [no original: "capear lo"] com êxito. Isto porque a foto que me fizeram foi um barrete lamentável, toda sumida, nem vos digo que me a ofereceram. Pareceu especialmente bela a paisagem de Portalet, e lanço-me no propósito de voltar como turista para desfrutar de tão estupendo local.
Fui toda a etapa com a intenção de que tinha possibilidades de entrar em tempo de medalha de ouro, mas como não tinha referencias, ao contrario da maioria, por ser a primeira vez que participava, não tive claro, até quase ao final, as possibilidades que pensava ter.
Aguentei muito bem a quilometragem e as montanhas, incluindo a pontinha do cabeço de Hoz; mas quando chegamos ao cartaz que indicava 3 quilómetros para o final, num grupo de uns 50 tipos, sofro contraturas nas duas pernas à vez, e tive que baixar o ritmo deixando escapar todo o grupelho. Deu-me uma raiva tão grande, porque segundo os meus cálculos ia muito à justa para poder entrar em tempo de medalha de ouro. Tinha que chegar antes das 16'25 e cheguei às 16'29 com a qual acabei contente mas com uma pequena frustração por ter perdido a oportunidade de sacar o Ouro tão só por 4 minutos.
Afinal, como já foi comentado bonificaram-nos em 20 minutos, e o meu tempo oficial foi de 7H 39' com o qual em vez de me faltarem 4 minutos, sobraram-me 16 para conseguir a medalha de ouro. Não queria acreditar, estava exultante. A minha primeira participação na Quebrantahuesos e tinha conseguido o objectivo com bónus.
Para finalizar, seria injusto não dedicar um espaço à Organização. Exemplar em todos os aspectos. Os abastecimentos fenomenais, tanto em quantidade como em qualidade, como em organização. A sinalização perfeita. A assistência sensacional. Pareceu-me incrível como puderam controlar uma Marcha de quase 4000 tipos sem que fosse um caos organizativo. CHAPÉU para os membros de Edelweiss.
Eu! Pois no final da mini crónica, nada mais tenho a acrescentar. Mas é que voltar a recordar a jornada de sábado 19 de Junho de 1999, produz-me uma emoção difícil de dissimular.
Recomendo àqueles que possam permitir-se o luxo (para mim é) de se prepararem e treinarem, para enfrentar semelhante percurso, que o façam. A satisfação de objectivo cumprido é indescritível.
Saúdo todos e felizes pedaladas.