30 de Maio de 2011

ABC prático do ciclismo

“Em Espanha é só facilidades e em Portugal é um atraso

de vida e não há clarificação na regulamentação”

Lá fomos nós testar esta máxima popular. E surpresa! Não é verdade. Explicando:

Na sexta-feira seguinte ao brevet dos 400 kms jantar entre os envolvidos para rescaldo do mesmo e eventual participação no de 600.

Um: isto é muito caro, se calhar não vou.

Outro aluga-se uma carrinha e fica barato

E mais um: já aluguei algumas e fica caro

E mais outro: ju(a)ntamos outra vez para semana.

Até hoje. Tudo em águas de bacalhau (em vez de à lagareiro)

Chegada a hora a decisão, para quem se inscreveu, era carro próprio com motorista de ir e voltar sem descanso e com portagens, uma vez que o regulamento dos brevets refere autonomia completa e não aceita assistência. Ou a CP, por sugestão de colega.

Por interdição momentânea da linha do sul, automóvel até á Gare do Oriente (truque aprendido com um espanhol, quando é preciso dormir um bocado no regresso, reabastecer de comida ou mudar de farpela).

- Bilhete direto para Viana do Castelo, por favor.

- È melhor comprar só até ao Porto e são 30 euros.

- Tenho bicicleta!?.

- Tem que ir devidamente acondicionada.

Foi a primeira vez que interiorizámos o verdadeiro sentido de tal palavra, depois de um telefonema dias antes para os serviços de apoio ao utente, em vez de recorrermos aos emails, mas após pesquisa atempada ao que outros com objetivos semelhantes reclamaram.

Alem de outras, a palavra mais usual sempre fora “devidamente embalada”. Daí a aquisição, na véspera, de um rolo de sacos de plástico do lixo a um chinês (viriam a servir para pequenos descansos à beira da estrada ou aquecer o corpo durante a noite).

                       ALFA pendular

Acondicionar significa meter num dos vários locais que este comboio dispõe. A saber:

      *    debaixo do assento
      *    no compartimento por cima das cabeças, como nos aviões
      *    nas prateleiras para bagagens de grande porte existentes entre carruagens

Permite ainda outros, sem especificar o local, desde que não impeça a passagem.

Face ao regulamentado, solução simples: rodas atiradas para um lado e quadro metido no compartimento das malas (com o selim retirado ficaria melhor acondicionada. Uma das rodas serviu de apoio ao selim para impedir que o quadro tombasse para o corredor. A outra foi metida atrás do banco, o ultimo dessa carruagem).

                      Urbano

Pode ir montada e encostada em qualquer local ou ao lado do passageiro, desde que não impeça a passagem (perguntei ao revisor para que lado seria a saída, respondeu que normalmente é sempre no mesmo lado da entrada, tendo-a encostado à porta frontal de saída. Funcionou assim excepto na única vez que passei momentaneamente pelas brasas e 5 segundos depois alguém a encostara a um banco, porque o local de entrada de passageiros naquela estação mudara)

                      Regional

Uma maravilha. Onde outrora existia um compartimento para as grandes bagagens, existem, só na primeira carruagem, grampos de garagem, onde se penduram as “meninas”. Um regalo e um descanso (neste caso quatro. Caso o grupo fosse maior, negociar com o revisor ou, que remédio, repartir o pessoal pelos próximos comboios).

publicado por Ubicikrista às 22:29

21 de Abril de 2011

Tática

Um ou outro conhecia-se apenas de ginjeira não obstante os 500 kms anteriores (200 + 300). Tirando as partidas, poucos nos cruzáramos nos postos de controle ou mesmo na chegada. Havia então que “medir as pilinhas” e ganhar o respeito de todos se queres ajudar em grupo. Se não queres, pisgas-te sozinho ou com outro companheiro. Mas houve o bom senso, depois de cada um mostrar ao que vinha (a forma), de se ir em grupo. Sem conversas e sem veres a cara aos outros (era de noite). Mas a atitude dos 2 rando congregou as pessoas à espera de novidades bocais - a má-língua, que não serve para nada, às vezes tem estas virtudes. As frígidas dizem que é um mito, e que nem sequer existe. Nós achamos que elas é que não existem. Existem apenas más-linguas.

Andando em pequenos grupos ou fazendo esperas, nunca mais o grupo se desuniu até viana (km 270) altura em que se passou a grupos de 2, 3 ou 1 consoante as forças que restavam para terminar.

  

publicado por Ubicikrista às 16:58

17 de Abril de 2011

Antes do sexo, cada um ajuda o outro a despir-se!

Depois do sexo, cada um veste-se sozinho!

Moral: Na vida, ninguém te ajuda depois de estares folixado.

Ao Manuel, culpado de mais um treinador no desemprego

1 - Factos confirmados

O relógio da igreja de Sto Antão marca as 13.45 horas, da última sexta-feira, dia 15 de Abril, quando pára um carro em frente à rua do Raimundo, na zona dos táxis no centro da cidade.

De repente, as portas abrem-se e saltam de lá três homens bastante novos, altos e corpulentos. Sorriem entre si enquanto se dirigem para a parte traseira da viatura, com um ar suspeito de pertencerem ás máfias russas. Pelo sorriso parecem ter abandonado  recentemente a companhia de alguma garrafa de vodka. Um deles utiliza a chave para abrir a bagageira. Surge então, lá de dentro, a cabeça de um homem encolhido, com os cotovelos  em volta das orelhas, descalço, e fatinho à funcionário da Prossegur, mas com divisas na camisa branca. É puxado pelos ombros pelos dois homens enquanto o terceiro lhe agarra nos pés e o arrastam na horizontal para fora do carro, atravessando com ele toda a esplanada da praça central, como que procurando um lugar vago numa das mesas.

publicado por Ubicikrista às 16:47

29 de Março de 2011

Há anos que os vemos chegar aos poucos isolados ou em pequenos grupos na zona da cruz da picada ou na variante da quinta do Moniz. O ano passado o número ultrapassou a centena e meia, com o agregar simultâneo por parte da FPCUB do desafio Audax para cicloturistas, na linha dos Randonneurs em que estamos atualmente envolvidos. Este ano tínhamos na ideia que era lá para o inicio da primavera.

Sexta feira á noite, durante os festejos dos anos do Granja, alerta do Romão por telefone, Se sabíamos ou não! Tudo muito em cima, mas ficou logo decidido que iríamos ao seu encontro onde, disse, viria o César e o Ezi.

publicado por Ubicikrista às 02:42

13 de Março de 2011

Azervadinha – centenas de metros intermináveis de "pavê" ao km 55 teve aspeto de massagem indesejada antes de tempo. Vai ser sempre a aviar e, em pedaleira grande, cada vez que aqui passarmos para os futuros brevets.

Bolsas – 3 sandes de queijo e fiambre, 6 barritas (uma por cada hora) e 2 bananas, 1 gel de frutas e 1 cubo de marmelada, que ficou pelo caminho á pala do colete, é muito material para tão pouco espaço, ou então colocar uma bolsa por debaixo do selim. Outra opção de um dos nossos foi levar o mínimo, bater uns bolinhos nos cafés, e malhar uma sopa com uma bifana em v.novas, que já eram horas disso.

Cabo – dever-se-ia chamar reta do cabo… das tormentas. Só de pensar que temos que lá passar futuramente mais algumas vezes no regresso, com o dobro, triplo ou quadruplo dos kms nas pernas, até dá arrepios, não de frio (que se aproxima o verão) mas do vento. As suas bermas fazem lembrar os alcoólicos quando andam vários dias a apanhá-las, são camadas em cima de camadas de alcatrão desnivelado, mas que se contornam com devida atenção. Nada comparado á força do vento que soprava frontal e lateral.

publicado por Ubicikrista às 23:13

12 de Fevereiro de 2011

“Só há duas certezas na vida: a morte e os impostos”

Lembram-se das crónicas traduzidas há 12 anos dos Brevets para o paris-nice-paris? Agora é que eles vão arrancar em Portugal no próximo dia 26, daqui a 15 dias portanto com incrições até dia 19, e tudo porque finalmente terminou o maior brevet do mundo, disputado ao longo de quase 10 anos entre serviços do estado. Nesta corrida de bicicletas participaram as equipas dos CTT, instituição bancária, fisco, serviços de saúde, segurança social, apoio domiciliário, GNR, PSP, juízes do tribunal, judiciária e como convidados especiais mais 3 equipas, amigos, vizinhos e familiares, num total de 13. EDP e serviços municipalizados, viram os seus pedidos de participação recusados por insuficiência de elementos.

As regras eram claras para todos: só seriam permitidas movimentações das equipas no pelotão consoante as ações desencadeadas nos respetivos serviços de estado.

publicado por Ubicikrista às 04:25

25 de Janeiro de 2011

CONSTIPAÇÃO

Pachos na testa, terço na mão, Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel, Três aspirinas, creme na pele

Grito de medo, chamo a mulher. Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela, Cala os miúdos, fecha a janela,

Não quero canja, nem a salada, Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto, Já vejo a morte nunca te minto,

Já vejo o inferno, chamas, diabos, Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças, Tigres sem listras, bodes sem tranças

Choros de coruja, risos de grilo, Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira, Põe-me a Santinha à cabeceira,

Compõe-me a colcha, Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor. Chama o Doutor, passa a chamada,

Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada. Faz-me tisana e pão de ló,

Não te levantes que fico só, Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)

Especial deferência do João Carmo

 

Que raio de homens são estes! Num domingo bué da malta (quase 50 gajos) e no outro apenas uma dúzia. É da fibra destes últimos que o Ezequiel falava á dias para o repto do brevet (certificado), que se irá transformar em moda nos nosso pais nos próximos tempos, fazendo com que o troia-sagres se transforme num passeio ligeiro. O maior de todos os brevets é o Paris-Brest-Paris (1 200 kms). Esteve nos nossos planos no fim do século passado (à 12 anos). Antes de se porem a imaginar oiçam primeiro quem já lá andou a amolgar os tubaros, no brevet de 300, no de 400 e no de 600.

PS: Pela primeira vez em muitos anos o vento (35 km) fez uma média bastante superior á nossa. Por ter acusado positivo por pouco, (1 grau) de temperatura á partida, optou-se logo por se saltar para a fase de arrefecimento (3 horas) sem necessidade da fase de aquecimento.

publicado por Ubicikrista às 02:04

01 de Outubro de 2009

Olá de novo,

Aqui vai a crónica do último brevet, creio que sairá melhor pois desta vez é mais recente... Amanhã se tiver tempo, relatar-vos-ei as nossas peripécias na Xacobeo.

Brevet 600 km para o París-Brest-París.

Partida no sábado 29 de maio às 6:00 AM. Saímos da parte oeste das Astúrias, e depressa se formam vários grupos. Eu e o meu primo Luís "acoplamo-nos" a um mini-pelotão que parece levar um ritmo só para machos de barba rija. Nós os cinco componentes, sincronizamo-nos e vamo-nos revezando harmoniosamente. Subimos a La Cabruñana num ritmo cómodo (para mim sobretudo, não para o Luís que lhe "sobram" forças). Na descida, pese embora o facto de que cada dia descer melhor, fico separado, mas o Luís, meu primo e anjo da guarda (rio-me eu do primo do Zumosol), levanta um pouco o pé e rapidamente me colo a eles. De imediato começamos a ascensão de Espina, de uns 14 km. Aqui, o Luís acelera um nadinha a marcha, o que faz com que fiquemos sós. Subimos ao nosso ritmo até lá acima e paramos na bomba de gasolina para carimbar a caderneta (carnet). É o primeiro controle do brevet, 59 km, a que chegamos às 8:30. Aproveitamos para comer e beber.

Esperamos o resto do grupo e iniciamos juntos a descida, volto a descolar e de novo o Luís ajuda-me a regressar ao grupo. Dizem-me que devo perder o medo. O que diriam se me chegassem a ver aqui há dois meses (descia MUITO pior que agora). Respondo-lhes que deveria levar o "90" pois ainda não cumpri um ano a andar de bicicleta e bastante já eu faço a descer a 50-60 km/h. Também o Luís é um novato, mas foi motoqueiro e domina INFINITAMENTE melhor que eu a bicicleta. Continuamos a rolar pela costa asturiana, zona de curvas a descer (parecido com um escorrega aquático), até que somos alcançados por três madrilenos (pergunto-me se conhecerão a orografia asturiana). Imagino que o motivo da sua participação seja a data, pois para dizer a verdade, prefiro fazer 700 km em Madrid que 600 km nas Astúrias. Vamos dando relevos até que numa das vezes do Luís ir puxar ficamos os três adiantados. O madrileno sacanea um bocado nos relevos e decido (que mau que eu sou...) a táctica para o descolar. Espero por uma subida e dou-lhe a vez de ir á frente, justamente para que se mantenha lá um bocado na frente, e ao chegar á subida começo a puxar e acelero progressivamente para que ele acuse o toque, até chegar á minhas 170 pulsações (200 de máx.) quando me dou conta, só estávamos o Luís e eu, o fulano desapareceu (mais tarde pagaria com juros a mina "maldade", talvez depois disto, haja alguém lá em cima...).

Encontramo-nos fortes, graças aos 800 km que fizemos na prova da Xacobeo, e como o meu joelho não protesta decidimos meter canha no andamento "até torcer" para ir ganhado tempo. Vamos dando relevos, sempre mais fortes os do Luís, (por alguma razão é o "routier" e eu o "grimpeur" da família, ainda que depois me ganhe também a subir, e ao não termos o vento contra subimos o ritmo até quase aos 30 km/h. Prosseguimos assim até San Tirso de Abres, lugar onde teremos o segundo controle. É no km 174 e chegamos às 12:30 PM, mais o menos. Carimbamos na bomba de gasolina, bebemos, comemos e pomos os pés ao léu pois o calor e os quilómetros já passam factura em forma de dor de pés.

Retomamos a marcha e continuamos tal como anteriormente, mas pouco antes de chegarmos a Vegadeo (fronteira com a Galiza, inicio da costa e km 190 do brevet) o meu joelho esquerdo começa a protestar (creio que se trata de uma tendinite na parte lateral externa da coxa - fascia lata, em latim -, entre a anca e o joelho, por incorrecta posição da travessa) aperto os dentes e não digo nada, mas de alguma coisa deve suspeitar o Luís, pois os meus relevos vão sendo cada vez mais curtos. Ao chegar a Vegadeo, começa o meu castigo (pela maldade) em forma de forte vento de frente soprando de Nordeste, que nos acompanhará durante umas centenas de kms ao longo de toda a costa asturiana, concretamente 280 km. Daí a poucos quilómetros, lá tenho que dizer ao Luís que baixe o pistão, devido às dores no joelho esquerdo que me impedem inclusive de ir na roda. Qual D. Quixote contra os moinhos de vento, o Luís luta bravamente durante horas contra ele, embora de vez em quando lhe dissesse que se resguardasse um pouco atrás de mim para recuperar, pese o facto de ir sempre com o 39x19 ou 39x21, pois o joelho não me permite meter mais pesado. Creio que já me alcunham de "marciano", não por estar muito forte como Indurain, mas porque ando sempre na "pedaleirinha" (prato pequeno de 39 dentes). Por volta das 7 da tarde, chegamos a Avilés, donde temos o terceiro controle, km 325. Ali, estão a descansar alguns companheiros do brevet. Como de costume, recuperamos energias e após um curto descanso continuamos a marcha. Antes de chegar a Gijón (km 350), o Luís sofre um furo que coincidiu com um dos meus escassos relevos e tinha tal passarão que, não obstante os avisos sonoros, demorei um bocado a aperceber-me. Depois de me alcançar, ajudo-o (pouco) a recuperar e continuamos até à bomba de gasolina de Veriña onde metemos pressão nas rodas.

Cerca das 9:30 atravessamos Gijón, e dado que a noite se nos caía em cima, decidimos jantar em Villaviciosa. Saindo de Gijón, numa zona de recta, o Luís alucina-se ao ver que lhe custava mover o 39x24, dado o forte vento contra. Subimos o Infanzón com esse vento de frente e cada vez menos luz, mas dá-nos tempo para descer com o entardecer e desfrutar de uma paisagem espectacular. A seguir, vem a subida a La Venta de las Ranas que fazemos a todo gás, pois está resguardada do vento. Para a descida, contamos já com pouca claridade, acendo a minha lanterna e mais mal que bem chegamos a Villaviciosa. Dirigimo-nos a uma pastelaria onde damos conta de várias coca-colas, dois cafés e oito mini-sandes. Uma menina algo despistada, encantada nas cores luminosas pede-nos um autógrafo, o Luís declina com um sorriso e diz-lhe: "Este aqui que te o assine, que é mais famoso", não tenho força nem para rir nem para recusar, e como posso, esgatafunho algo com a esferográfica ainda debaixo dos efeitos da pássara. Quem me ia dizer a mim que terminaria a assinar autógrafos... Yáh, yáh. Mal a cena acabou e perante a iminente modorra que já sentiamos, instalamos pilhas novas, ajustamos as luzes e retomamos a marcha.

Logo após abandonarmos a localidade de Villaviciosa, (algum dia comprovarei se esta vila é assim tão viçosa...) apanho com um buraco e cai-me a luz dianteira. Desço da bicicleta e pude comprovar como ela ficou na estrada, justamente onde costumam passar os rodados dos carros. Para desgraça minha, um automóvel dirige-se para ela. Alço os braços e faço-lhe sinais para que se desvie. Não sei se viu a lanterna, a mim ou o que sucedeu, mas o facto é que se desviou. Volto a coloca-la no volante e retomamos a marcha. Na ascensão à Venta do Probe (não, não era o "pobre" Miguel... que esse há muito tempo que não anda) outra vez o ditoso joelho, desta vez a dor torna-se quase insuportável, o que me obriga a meter o 25 e forçar o máximo a perna direita. Devido a isto, baixamos o ritmo da marcha e fazendo das tripas coração vamos para Ribadesella, após atravessar uma zona de curvas e contracurvas, com constante sobe e desce (certamente o que me fazia mesmo falta). Entre a obscuridade da noite e os carros que vão um pouco "pesados", isto converte-se num verdadeiro desporto de RISCO, é aqui que quero ver esses dos radicais que saltam das pontes com elásticos). Creio que a dor me impede de sentir o perigo. Numa descida antes de Ribadesella, parece-me ver um cão preto na berma, estranhamente permanece impassível, até que chego perto e... tinha cornos: era una cabra. Ou talvez seria o diabo espreitando-nos? Cada vez vou mais cansado e perto das 2:15 AM entramos na localidade de Ribadesella, km 419. Limito-me a pedalar, pois por o ter forçado, também me dói o joelho direito. O Luís adianta-se até á bomba de gasolina (local do quarto controle) e espera por mim ali. Quando chego, tiro o pé do pedal e ao apoiar a perna esquerda, perante a picada que me dá no joelho, decido que o melhor é deixar-me cair tal qual um saco de batatas. Assim fiz, e nem sequer me mexo, inclusive queria permanecer ali estendido no chão, ma o Luís ajuda-me a levantar. Após um momento de descanso dirigimo-nos ao carro que havíamos deixado estacionado ali, prevendo a necessidade de termos que dormir um pouco. Deixamos as bicicletas e carimbamos num bar em frente, pois a bomba de gasolina estava fechada. Com isto eram 2:30, metemo-nos no carro e dormimos até às 5:00 (por una vez na via, vim prevenido com um despertador).

Comemos uma ou outra barrita energética e dirigimo-nos até Unquera, fronteira com Cantábria ao km 470 do brevet. Ali queríamos desjejuar as famosas Corbatas (folhados) mas está tudo fechado. AH! Já me esquecia, as duas horas e meia de sono serviram para que deixasse de me doer o joelho, talvez alguém tenha tido piedade do meu sofrimento. Por precaução, decidi não forçar o resto da viagem, e não meti mais a pedaleira grande salvo nalguma descida. Continuamos viagem até Panes km 482, local do quinto controle, onde chegamos perto das 9:30. Carimbamos e tomamos o pequeno-almoço como feras perante a estupefacção dos hóspedes do hotel (tão cedo e já com uma passara).

Retomamos a viagem até Cangas de Onís, e como nos voltámos a dirigir para Oeste, esperávamos que o vento nordeste nos ajudasse um pouco. Para nosso infortúnio mudou e deixou de soprar (pelo menos não nos batia de frente). Chegamos ao Alto do Ortiguero, uma subida já com alguma importância uma vez que já levas 500 km nas pernas. Subimo-la com relativa comodidade (ao chegar a casa descobrimos porquê: perdemos 5 kg cada um. Isso explica tudo, com 59 kg sobe-se muito melhor mesmo com um joelho ressentido). Descemos a toda a gáspea e rapidamente chegamos a Cangas de Onís, km 536, onde temos o penúltimo controle. Carimbamos, recuperamos energias e continuamos. Volto a ficar tipo passarão perdido e não obstante engolir barrita atrás de barrita não consigo melhorar. Vamos a uma velocidade de cruzeiro de uns 25 km/h. Está um dia esplêndido de sol e calor, é meio-dia e sinto um escalafrío, reparo nos braços e ESTOU COM PELE DE GALINHA. Isto é um claro indício de que vou na reserva.

Passamos Arriondas km 546, vou pedalando como um autómato, tenho apenas energia, que gasto nas subidas, para pedalar de pé (assim o joelho incomoda-me menos). Paramos para descansar em Infiesto, e já falta menos. Sabemos que vamos conseguir, ainda que faltem algumas horas. Mais animados que nunca continuamos a marcha, dado que o terreno que falta é mais ou menos plano. Chegando a Colloto, na subida da Coca-Cola, passamos por um sitio onde há um "sprint pontuável" do clube. O Luís desafia-me e respondo-lhe que, tal como Indurain, deixo-lhe as vitorias parciais... YÁH, YÁH (a verdade é que mal me segurava na bicicleta, como poderia eu sprintar). Perante a minha nega, aproveitou a passagem de um autocarro e fez uma corrida atrás dele. Subiu a 35 km/h a inclinação e GANHOU! Tendo 600 km nas pernas... boa.

Finalmente, chegamos a Oviedo, km 610. Tenho uma enorme dor de pés, que se agrava ao parar em cada semáforo. Aguento como posso até chegar ao lugar de entrega das cadernetas e mal desço da bicicleta descalço imediatamente as sapatilhas. Assinamos as cadernetas, metemo-las por debaixo da porta e PROVA SUPERADA. São 15:30, sobraram-nos 6 horas e meia, (o fecho do controle era ás 22:00). Horas montados na bicicleta 26, a uma média de 23,5 km/h. Creio que é uma boa média, dado o forte vento de frente durante metade do percurso e os meus problemas com o joelho, que me impediram de ajudar mais o Luís nos relevos. Horas totais com paragens incluídas, 33:30, a uma média de 18 km/h. Por fim, já estamos classificados para o París-Brest-París. Mas isso será a 23 de Agosto... e com 1218 km... Uau.

publicado por Ubicikrista às 18:03

Olá a todos,

Estive ausente ultimamente da list@, devido a que entre os brevets, Xacobeo e trabalho não tive nem tempo para ler as mensagens. Antes de mais nada, quero enviar daqui um forte abraço ao Andrés e transmitir os meus pêsames à família do Cipriano*, descanse em paz.

Aqui vai a crónica de do brevet de 400 km, disputada a 15 de Maio, lamento não poder dar mais detalhes, mas tanto sofrimento nestes 15 dias, debilitou o meus "pobres" e solitários neurónios. Imagino que quando tiver mais algum tempo, já o Luís a terá completado. Partida no sábado 15 de maio às 10:00 AM. O meu primo Luís, outro ciclist@, e eu partimos juntos. O dia estava feio, e previa-se chuva. Ao sair de Oviedo, cruzamo-nos com os corredores das equipas da Banesto e da Vitalicio que se dirigiam, desde La Gruta, até a saida em Ventanielles, dado que hoje é a subida ao Santuário del Acebo, na volta às Astúrias. Cumprimentam-nos e um deles, não me recordo quem, disse: "Ai o que nos espera". O Luís riu-se e comenta comigo: "Se fizermos esta, ai o que nos espera a nós..." Dirigimo-nos para Trubia com algum frio e depressa começa a chover. Depois de passarmos por Grado iniciamos a ascensão a La Cabruñana, já em silencio e cheios de lama. Descida até Salas e depois subir para La Espina, continua o frio e a chuva. Coroamos às 12:30 e carimbamos no primeiro controle, km 59. Deixa de chover e iniciamos a longa descida com muitas precauções. Vamos num bom ritminho até Vegadeo, onde paramos para perguntar como se vai para San Tirso de Abres, o lugar do segundo controle. Temos de passar em Lugo e voltar a entrar nas Astúrias. Ao desviarmo-nos para o interior, começa de novo a chover. Chegamos às 16:45 a San Tirso de Abres km 174, carimbamos, comemos, bebemos e retomamos a marcha. Temos de voltar por donde viemos e depois continuar pela costa até Avilés. Estamos com sorte porque mal chegámos á costa, deixou de chover. Cada vez estou mais cansado e perto das 19:00 já mal consigo acompanhar o Luís mesmo sem passar dos 20 km/h. Devo ter uma “passarona” de estalo. Ao entardecer, paramos, pomos as luzes e fico obcecado pelas barritas. Depois de comer, recupero as forças e já posso rolar a 25 km/h com facilidade. Faz-se noite. É a primeira vez que andamos assim de noite, e ficamos surpreendidos por ver que se rola bastante bem. O cansaço ajuda-me a descer à maluca e às 23:00 chegamos a Avilés, km 325. Continuamos para Gijón e chegamos à bomba de gasolina de Veriña às 24:00, local do terceiro controle, km 350. Bebemos e calçamos as protecções para os sapatos (bolos, pastelinhos, chocolates...). Já está bastante frio e ao recomeçar, não tirei a pedaleira grande e numa subidita, o meu joelho esquerda diz basta. Uma dor aguda que vai aumentando limita-me o pedalar... Atalhamos pelo parque industrial de Porceyo mas perdemo-nos. Perguntamos numa bomba de gasolina mas continuamos perdidos. Vimos uns guardas-nocturnos e o Luís perguntou-lhes o caminho. Com grande amabilidade, dizem-nos para os seguirmos (tinham um jipe) e levam-nos ao caminho certo. Iniciamos a subida ao alto de La Madera, cada vez me dói mais o joelho e vou a subir com o 39x25 e só com uma perna boa... O culminar chega numa descida, e ao Luís acabam-se-lhe as pilhas e tem de descer atrás de mim (grande suplicio, por ser tão mau a descer). Os carros que vêm de frente encandeiam-nos, ainda que alguns dos que vão na mesma direcção que nós, permanecem um pouco connosco para nos iluminarem, facto que se agradece. Quase que me despisto numa curva muito fechada, pois a linha exterior da estrada estava coberta pelas ervas. Por fim, terminamos a descida e passamos junto a um valado de uma quinta, com um cão que nos ladra enquanto nos vai acompanhando. Rimo-nos do cão pois não pode saltar a vala, quando de repente, observamos que há um buraco na mesma e o cão sai para a estrada. O Luís aumenta a pedalada e deixa-o para trás e eu, com uma perna, tive de apertar os dentes e é por pouco que consigo evitar uma mordiscadela (mordiscão era melhor). Cada vez mais devagar, só atinjo os 20 km/h no terreno plano, vamos até ao quarto controle, Lieres, onde chegamos às 2:15 AM, km 385. Descansamos um pouco e regressamos para Oviedo. Sofrendo o indizível consigo chegar á meta. São 3:15 AM e km 405. Entregamos as cadernetas e despedimo-nos até ao dia seguinte, no aniversário do filho do Luís...

* promissor ciclista espanhol falecido numa chegada ao sprint

publicado por Ubicikrista às 18:02


Olá a todos. Sou o António.
Faco, vais-te arrepender por incentivares a malta a contar as suas batalhitas pessoais... Yah, yah… Após ler as crónicas de Málaga entusiasmei-me por relatar o "passeio" que demos no sábado, o Luís e eu.

Temos a sorte de ter um clube nas Astúrias, o SCTA (Somos Corredores Todos Avozitos – que as organiza os brevets, pelo que não necessitamos de nos deslocar, já temos que chegue por causa da bicicleta).
Depois do pincel introdutório passo a relatar o sucedido no sábado. Partida às 7:00 AM. Não estava frio, pelo menos não o sentia. Antes de chegar ao local da partida cruzo-me com uns totós que me dizem que o desporto é "muito mau"... nada mal, e não sabiam eles o que me esperava…). Recolhemos as
cadernetas para os controles, a folha com o itinerário e partimos.

Formou-se um pelotão de uns doze, a maioria dos SCTA ( "avozitos" de 35 para cima, não de idade mas sim de velocidade media). Estes impõem um ritmo "quase" de tour: 30, 35, 40... O Luís e eu vamos na cauda, sem nem sequer pensarmos na possibilidade de ir lá á frente dar uma ajuda a puxar. Além disso, vou "hibernado" pois sou o único de manga curta.
Chegamos ao primeiro controle, Cangas de Onís (km 72 - 9:30), para carimbar as
cadernetas, reabastecer de líquidos e comer alguma coisa. Retoma-se a marcha e regressamos aos andamentos do ORIENT EXPRESS (o percurso era para Este, até Santander). Continuamos com eles até ao segundo controle em Panes (km 126 – 11:30). Aqui, ao ter despertado da minha letargia, bebo pela primeira vez desde a partida e digo ao Luís que quem os iria acompanhar, dali para a frente, era a senhora sua mãe deles. Concorda comigo e lá continuamos, mas no nosso ritmo. O Luís, por estar mais forte, puxa a maior parte do tempo, e assim continuamos até Unquera (fronteira com Santander). Ali, sem pararmos, regressamos pela costa marítima.

Depois de se passar por Llanes, paramos para "reabastecer" numa bomba de gasolina. Bebemos, comemos e retomamos a marcha. Chegamos ao terceiro controle, Ribadesella (Km 189 – 14:00). Prosseguimos o itinerário até Villaviciosa, zona costeira de sobe e desce com forte vento de frente, para nos desviarmos para El Pedroso, um "valioso" conselho de um dos "avozitos" que nos obrigou a subir um cabeço extra, com 200 km nas pernas. Um dia havemos de o caçar, um dia…).

Ao sairmos de Gijón, somos alcançados pelo ORIENT EXPRESS, que tinham parado para comer de faca e garfo (imagino que com sesta incluída...). Outra vez a voar com a pastilha toda. Continuamos, já um pouco combalidos, até chegarmos a Tamón, onde justamente antes de 1 km de 10% decidi parar para aliviar as dores nos pés e a iminente “passara” que me sobrevoa.
Decidimos voltar a impor o nosso ritmo até ao final. Depois de comermos o que sobrava, continuamos até ao quarto controle, Cancienes (km 282 – 18:45). Aqui já "olhamos" para a meta, além disso só nos resta uma subida, o Alto da Miranda, que por estas alturas, para nós, se assemelha ao Tourmalet (bom, exagero um pouco...). Por fim, às 19:45 chegamos a Oviedo. Total de horas em cima da bicicleta 11:15, com uma media de 28 (o "conselho" do avô serviu-nos para fazer 315 km). Horas totais 12:45, a uma media de 24 e pico. Para nós um grande tempo, pois esperávamos chegar até às 22:00.
O fecho do controle era até às 3:00 AM. Como vêem não se tem que ser nenhum Indurain para se conseguir fazer, é só saber "sofrer" um pelinho.
Depois vos contaremos como nos portámos nos 400 km, dentro de 15 dias.
Tchau.

publicado por Ubicikrista às 18:01

 

Não sei se conheceis o PBP (Paris-Brest-Paris). É a cicloturista por excelência, algo assim como a olimpíada do cicloturismo. Celebra-se de quatro em quatro anos e trata-se de cobrir os 1.218 Km que há entre Paris e Brest (ida e volta) em menos de 90 horas.
Para alguém se poder inscrever tem que completar quatro provas prévias, chamadas "brevets", a saber: 200 km, 300 km, 400 km e 600 km. Em Espanha há vários clubes que as organizam.
Nestas previas, há que passar por vários controles
(não, não há recolha de urina... mal pensantes). Passo a explicar: dão-te uma caderneta e nas povoações assinaladas têm que te pôr a hora e uma assinatura ou carimbo, num qualquer estabelecimento da localidade (bomba de gasolina, café ou restaurante, etc.), para cumprires de acordo com um horário pré-estabelecido pela organização. Mas há tempo suficiente, não é necessário fazer médias do "tour", pese embora o que possas vir a ler a seguir... (cronica do Brevet dos 300)

publicado por Ubicikrista às 18:00

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