FISGADA
Passou aqui um ciclista tão rápido que parecia levar um foguete no rabo,
in popular
Se analisarmos esta e outras expressões concluímos que há sempre uma oposta. Vai uma aposta: O ciclista passou mais lento que um caracol. Outras: Decidi ir e nem pensei duas vezes. Outros dirão: Decidi pensar duas vezes e não fui. Esta é racional, a outra imprudente. Num aparte: estes ditados populares têm cada uma. Porquê não pensar duas vezes, não bastava (não pensar) uma? Mais lógico será os que não vão à primeira nem à segunda (e como não há duas sem três, não irão à quarta, nem no resto da semana). Pôr água na fervura, por exemplo, sempre foi apanágio de muitos, mas nada se compara a pôr o dedo na ferida. Se uma é apaziguar, a outra é espicaçar. Espicacemos.
No desporto, o momento alto é sempre no alto de qualquer coisa (daí os palanques) durante a euforia. Mas se quisermos discordar, o momento alto pode ser (ter sido) cá em baixo. A falta de oxigénio tira a capacidade de pensar (e falar). O oxigénio em dose certa devolve a razão. Com um é a descontração, com o outro é a concentração que em certos momentos salva vidas. As descidas para os ciclistas podem ser perigosas, mas as retas para os automobilistas podem ser fatais.
A adrenalina que emerge nas descidas pode ser combatida com a prudência, receio ou medo se quiserem. Mas durante o cansaço e à falta de café, a adrenalina devidamente provocada, faz milagres.
PS: há (vaidosos) ciclistas em que a bota condiz com a perdigota (parte da luva que limpa os cantos à boca). O pedal condiz com o dedal (tampas da fita). A manete condiz com o capacete e com o livrete (pois, já não se usa). A gola da camisola condiz com a virola (do calção), etc. Mas se tudo isto no ciclista condiz, quem é que conduz (no regresso a casa)?
Aqui chegados, só nos resta então um diálogo impensável (entenda-se, sem capacidade para):