01 de Outubro de 2009

A subida ao Pico Veleta è a mais curta do Circuito, ainda que para muitos, possa resultar numa das mais difíceis. Não há nenhuma parte com descanso. Desde que sais até que chegas vais encosta acima e os mais rápidos podem demorar três horas a fazer os 42 quilómetros que unem a estação de Pinos Genil até ao Pico Veleta.

Acerca disto, disse um cicloturista granadino, participante habitual nesta prova, que: às primeiras perguntas de «Quanto falta?» começam-se a dar por volta do quilómetro 13, antes do abastecimento de Casilhas Rojas. A resposta que melhor reflecte a situação da corrida ouvi-a em 1995, quando fazia a minha segunda subida: «Não te preocupes, a parte má já passou, agora vem o pior».

Dizem que as rampas mais duras, efectivamente, estão nos primeiros sete quilómetros, até La Higueira, mas  o problema, uma vez superada esta fase reside em ter ainda força e animo para continuar a pedalar sem descanso por uma estrada sempre empinada que parece nunca acabar.

Mais acima, até ao quilómetro 20 há outros dois quilómetros muito duros que nos conduzem à saída da urbanização de Pradollano na qual, uma grande recta com inclinação de 7% puxa muito.

Um pouco mais acima, por volta do quilómetro 30, «a estrada torna-se rugosa, desnivelada e de aspecto difícil. O oxigénio escasseia e é necessário manter a cabeça fria. Aqui é onde se fazem amigos. Até ao momento tratava-se de companheiros de marcha. Nesta zona os bolsos começam a esvaziar-se, trocando-se glicose, tabletes energéticas ou uma palavra de animo. É fácil que apareça a desesperação porque, apesar do esforço, o "Picão" continua a parecer inalcansável», resume assim, o experimentado sofredor desta marcha .

«A zona de Panderones, a cinco quilómetros da meta, está formada por um continuo ziguezague ascendendo a parte noroeste de Veleta com um desnível continuo em redor dos 8%. Aqui começa a ver-se o final do túnel. Avista-se Collado de Veleta. (...) Se a neve o permitir, coisa que não aconteceu na terceira nem na quinta das minhas subidas, a meta está somente a uns metros desse cimo, e a fortíssima rampa final, só de algumas centenas de metros, qualquer um a faz com mais gloria que sofrimento, procurando um troço de asfalto para poder circular entre tanto buracos. A emoção quando se põe o pé em terra, talvez segurado pelo selim, por algum membro da organização, é do género que a mim me faz saltar as lagrimas, inclusive neste momento em que escrevo isto», sentencia contundentemente o nosso particular narrador.

A «Subida ao Pico Veleta» é uma Marcha muito especial e quem participa nela tem muitas histórias que contar produzidas  tão só em 42 quilómetros...! Mas que quilómetros!

Seguindo a filosofia adoptada, de dar primazia à participação nas provas do Sul, as tais que para a maioria dos participantes fica mais longe dos seus domicílios, nesta marcha pontua-se o dobro das outras provas por se apresentar à partida. Desta forma os participantes do Sul  não estarão em inferioridade de condições, na hora de chegar a obter o diploma acreditativo da sua participação no Circuito.

publicado por Ubicikrista às 16:20

Olá,
Regressei de Granada e passo a relatar-vos as minhas experiências a pedalar pela estrada mais alta da Europa.

Conto-vos rapidamente que aproveitei a desculpa da ciclomarcha a Veleta para passar uns dias em Granada com a minha noiva, percorrendo numerosos C.A.R. (Centros de Alto Rendimento) onde me preparei conscientemente para a subida, à base de comidonas de derivados porcinos (presunto, chouriço, lombo, morcão, morcela,...), queijo, gazpacho, todo isto regado com abundante cerveja. Semelhante acumular de reservas ajudou-me a preparar a subida de forma principalmente aeróbica, como se verá mais adiante. Recomendo este tipo de  treino a qualquer um com ânsias de desfrutar da bicicleta.

Recomendo igualmente a visita a Granada, uma das cidades de Espanha mais acolhedora e bonita paraíso do cicloturista: chove pouco e há percursos para uma pessoa se fartar, tanto planos como montanhosos.

Na véspera da subida, o nosso bom amigo Fernando (sim, sim, o da De Rosa) levou-me a fazer um percurso precioso, que nem sequer ele conhecia, ao longo do vale de Quéntar. É uma estrada nova, sem  nenhum trânsito, que sem duvida é a rota predilecta de muitos ciclistas granadinos. Estradas assim fazem adeptos.

Como último preâmbulo à crónica dir-vos-ei que, POR FIM, estreámos as camisolas de ciclist@s. Graças ao trabalho de equipa de vários ciclolisteros, o atraso do fabricante não pode impedir que os luzisse-mos na Subida a Veleta. Muito em breve podereis ver as fotos na web. Hoje mesmo começarei os envios das camisolas, que irão ser recebidos por quem os encomendou.

Está já a chegar a crónica...Como sempre, antes falarei da organização, pois, como sabeis, o propósito destas crónicas é servir de informação para quem queira participar nas ciclomarchas, além de entreter o pessoal. Desta vez repartirei as “porradas”, pois os do clube Pinos Genil ainda têm muito que melhorar: duas horas estive eu e o Fernando para nos inscrever-mos, num local sem ventilação e rodeados de ciclistas tão espantados como nós. Faltou o prometido impermeável para enfrentar a descida; do mal a menos que não fazia frio, porque de contrario, eu seria hoje um cubito de gelo. O churrasco final e entrega de diplomas foi um caos, numa tenda que parecia uma sauna, onde ninguém se podia sentar. Um ou outro ciclolistero acabou por abalar sem o respectivo diploma, pois iam-nos entregando a conta-gotas. Vamos ver se alguém do clube Malaguenho lhes ensina, aos granadinos, como se organiza uma marcha.

Amanheceu com sol (dificilmente podia ser de outra forma), e em Pinos Genil  juntámo-nos os seis ciclolisteros: Ramón, David, Fernando, José Ramón, Juanma e eu, todos vestiditos para a ocasião. Levei o capacete para a descida, mas retirei-o do guiador (em terreno esburacado, que diria Alix?[1]) e estreei um gorro da Kelme que a minha noiva me ofereceu.

Eu ia com mais medo que vergonha, pois haviam-me falado dos efeitos da altura. 40 km. de subida também impõem respeito, mas eu já tinha enfrentado montanhas de 30 km. e sei como sofrer durante 3 horas encosta acima (quiçá por isso o evitei).

Começámos a subir, e imediatamente o José Ramón e o Juanma ficam-se. Os quatro restantes, agrupados como todo o clube que se preza, vamos pedalando tranquilamente na conversa. Ainda que a inclinação nunca passe de 7 ou 8%, tão pouco baixa do 5%, assim é, que, rapidamente ganhamos altura.

Sinto as pernas muito duras, e começam-me a doer. Não passo das 140-150 pulsações por minuto, mantendo as 60-70 pedaladas de rotação, movendo o 39x23 e, em muitas ocasiões, o 25.

Em seguida passamos a cota dos 1000 metros, e uma paisagem admirável vai ficando aos nossos pés. Aos 8 km. começa a segunda "etapa" (segundo Fernando) e o ritmo anima-se. Afortunadamente, as minhas pernas já aqueceram e sinto que vou à vontade. As pulsações  oscilam entre as 130-140 e desfrutamos da paisagem e da companhia. Subimos por um ombral de uma ladeira, rodeada de árvores.

No primeiro abastecimento paramos para recolher comida e bebida. Há de tudo em abundância assim é que como fruta e asseguro umas tamaras. Só tomei o pequeno almoço e quero espantar o fantasma da pássara. Claro que, a este ritmo, posso andar horas e horas, pois estou a gastar mais as reservas de gordura (escassas habitualmente, mas nesta ocasião reforçadas pelos excessos da gastronomia andaluza) que os depósitos de glucógenio.

Começa a zona mais dura da subida, segundo Fernando. Levamos quase 15 km. e andamos já muito perto dos 2000 de altura. Depois de uns km. entre cumes, que recordam as montanhas da serra madrilena, a paisagem torna-se absolutamente de montanha. Ao dar uma curva, o píncaro de Veleta revela-se-nos, como o melhor convite para continuar-mos a  pedalar.

O Ramón tinha acelerado um pouco o ritmo e, o meu orgulho de trepador, impede-me de o deixar ir. Apertei um pouco, até rondar as 160 pulsações e encontrei um ritmo que fez com que o deixe um pouco para trás. O Fernando também se fica e eu vou ultrapassando ciclistas sozinho.

Paro no segundo abastecimento para comer mais alguma fruta e repor a bebida. Se alguma coisa aprendi nestes dois anos em que me juntei ao grupo dos barrigudos, é que há que comer e, sobretudo, beber bem, para evitar desfalecimentos. Ramón passa sem parar, assim saio atrás dele e ainda conversamos um pouco, antes de que eu continue a subir sozinho, um pouco mais rápido.

A paisagem é espectacular, somente de terra e pedras, e barrancos vertiginosos. Há muitíssima gente acompanhando a marcha, que nos aplaude e nos dá ânimos, e alguns incomodam-nos com os carros. Também há muitos caminhantes que percorrem as veredas que trepam até Veleta, e que nos deitam uns olhos com uma mistura de espanto (a quem lhe ocorre subir aqui de bicicleta?) e enfado (varias centenas de ciclistas e acompanhantes não se enquadra num reconhecimento que alguém espera encontrar a 3.000 metros de altura).

É suposto pensar que terei que notar os efeitos da altitude, mas as minhas pernas não estão mais pesadas que o correspondente “a apanhar”, subindo sem interrupção, com quase 30 km. Tenho uma leve dor de cabeça, mas é ligeira, e uma vontade tremenda de urinar, mas não quero parar, assim continuo andando, andando. No último abastecimento paro um momento para “sacar” bebida e continuo a subir.

Já passámos a barreira que fecha a passagem aos carros e daqui em diante ficarei dependente apenas dos demais ciclistas, e de alguns buracos ou montões de terra e pedras que há na estrada.

Agora já estou na subida a Veleta propriamente dita. Em certas ocasiões apanho um vento de frente, que me faz ter muito frio, assim aproveito para apertar um pouco o ritmo. A estas alturas muita gente vai tocada[2], e o vento de caras não facilita as coisas, assim ultrapasso muitíssima gente (não é fantasia, mas ninguém me ultrapassou desde o segundo abastecimento). Na altura pensei que pagaria a factura, mas as minhas pulsações não passam de 165 por minuto, e mantenho com facilidade as pedaladas entre 50 e 60 (normalmente vou um pouco mais solto, mas tenho medo de me “queimar”).

Há muito tempo que não subia à alta montanha e desfruto como um ser pequenino perante o que vêem os meus olhos. Passo pelo radiotelescopio e vou-o deixando cada vez mais por baixo de mim. Nesta zona, vê-se boa parte da subida que me resta, com a estrada cheia de bicicletas, no meio de um terreno desértico. Tem algo de irreal, porque só há pessoas nas bermas das encostas, o resto é só ciclistas e montanha, muita montanha.

Começo a cruzar-me com os que já acabaram, que descem. Há zonas onde o asfalto está muito deteriorado, e os que descem cedem-nos passagem para que aproveitemos o pouco asfalto sobre o qual a bicicleta pode circular.

Quando estou a ponto de chegar ao km. 38 de ascensão, decido que posso forçar, sem medo de vir a desfalecer. Desço os pinhões do carreto até ao 21, e prego uma aceleração. Quero fazer o último quilómetro a tope, mas não posso. Resultado: tinham adiantado a meta para o km. 38,7 (mais ou menos) e quase que como os que nos recolhem os tempos.

         Não só acabei como me sobram forças, faltam-me km. de estrada para prosseguir. Vim vindo a reservar-me tanto que fico com muita fome de bicicleta. Gastei 3 horas e 7 minutos, o que me diz que se me tivesse esforçado mais um pouco teria baixado das 3 horas. Voltarei outro ano, agora que já a conheço, para fazer um bom tempo.

Está fresquito, mas aguenta-se e consigo que me dei-em um saco de plástico para a descida, pois tampouco haviam levado jornais lá para cima.

Em seguida chega o Ramón, e daí a pouco o Fernando e o José Ramón. Sabemos que o Juanma sobe tranquilamente e que o David passou um mau bocado, assim subimos até mesmo ao cimo de Veleta para fazer-mos as fotos. O dia não está limpo, porque de contrario veríamos o mar e inclusive África, mas ainda assim, a vista corta a respiração. Sopra um ligeiro vento e dá-me vontade de ficar por ali a comer um bocadillo[3]. Quase no final aparecem o Juanma (que sobe com a bicicleta até ao piloto que assinala o ponto mais alto) e o David, com uma cara de “estafa”, mas contente como todos nós por ter chegado lá acima.

Estamos, quase, no tecto da Península Ibérica (só lhe ganha o Mulhacén por poucos metros), junto da estrada mais alta do continente, e, ao menos eu, sinto-me o rei do mundo. Nada é comparável a esta satisfação de completar uma subida, e muito menos se alguém a tem a seus pés, como se observasse uma maquete de toda a Serra Nevada, a cidade granadina, as Alpujarras. Como tantas vezes, depois de fazer pela primeira vez uma subida em bicicleta, já só penso em cá voltar.



[1] Jornalista da Bicisport.

[2] À rasca, mal, rotos, partidos, etc. Ouvimos pela primeira vez esta expressão em Cajabermeja, no regresso do Torcal, pela rádio volta: "Los portugueses van tocados".

[3] Pão com queijo ou fiambre, ou chouriço, etc. A chamada sanduíche.

publicado por Ubicikrista às 16:15

Olá a todos:

Que bom fim-de-semana que eu passei! Reuni-me com vários ciclolisteros, Falámos de bicicletas, percursos, ciclismo..., jantámos estupendamente, estreámos as camisolas e... SUBIMOS  A VELETA!.

No sábado cheguei com a minha família a Pinos Genil perto das 8:30 da tarde e encontrei-me com o Fernando e com o Faco. Nada a dizer do que já foi comentado em relação à organização (se em vez de 700 participantes tivéssemos sido 4.000, todavia, ainda estaríamos à espera para nos inscrever e a distribuição de diplomas acabaria no século XXI).

O Fernando encontrou-nos um local super agradável para jantar e ali nos reunimos todos: Faco e Mónica, Juanma, José Ramón, David, Fernando, a minha família e eu próprio. Foi estupendo voltar a encontrar-me com alguns e conhecer outros novos ciclolisteros. Na verdade este desporto e este meio de comunicação une pessoas. De imediato tive a sensação de estar com pessoas como as que me  relaciono diariamente: com amigos.

Bom, a crónica:

Ás 8:00 estávamos uns 700 “presidiários” da rota dispostos a enfrentar os 40 km. de subida ao Pico Veleta. Ali voltámo-nos a juntar os 6 ciclolisteros, mas desta vez de uniforme. A subida começa com uns 7 km de rampas de 7% ou 8% mais ou menos, provavelmente as de maior inclinação de toda a subida, ainda que, como é no começo sobe-se com bastante à vontade.

Vamos alternando o pedalar sentado com o pedalar em ziguezague, como é típico nas escaladas, assim se vai compensando o trabalho que faz a musculatura lombar com os quadricepes. Em seguida chegamos à estrada principal e como o calor começa a apertar, obrigo-me a beber frequentemente nos primeiros 20 km., que é nos que mais se sua, já que a partir de Pradollano a altitude faz com que a temperatura seja mais suportável, inclusive faz frio nos últimos 9 km da ascensão.

Paramos no primeiro abastecimento e bebo uma garrafa de água de uma assentada, acompanhado de uma perita que estava belissima. Reponho agua nos bidões e a partir daí já não volto a parar até ao cimo.

A toda a hora vamos ultrapassando, muitos mais dos que nos ultrapassam, creio mesmo que devemos acabar entre os primeiros 200. Pouco antes de Collado das Sabinas, o Fernando descola e o Faco ganha-me uns metros, ainda que de seguida o alcance de novo.

Assim vamos ganhando altura, desfrutando de uma vista impressionante desde Alpujarras até lá abaixo, e do pico Veleta até acima. Passado o albergue universitário o Faco acelera e vai-se-me embora, está no seu terreno favorito, ainda que nos vejamos um pouco mais acima, já que ele pára no abastecimento e eu não. Desde o centro universitário até ao cimo a fisionomia da paisagem altera-se: estamos definitivamente na alta montanha, por cima dos 2.750 mts. Continuo a ultrapassar gente sem parar e como me encontro bastante bem, vou fixando objectivos; primeiro ultrapassar aquele grupo, logo o seguinte, seguir na roda deste que vem mais forte que eu, etc...

O final da subida é impressionante, a estrada sobe até mesmo ao alto que se encontra sobre uma grande pirâmide de pedra. Há uma seta grande que atravessa a base da pirâmide de uma ponta a outra, na qual o vento bate com bastante força de frente, além disso está muito frio. De todas as formas creio que faz menos vento que o ano passado. Depois, ainda há varias setas mais, cada vez mais pequenas até acima. Já vejo a meta, tenho-a justamente em cima da cabeça, quer dizer, falta-me uma seta mais. Sinto-me muito bem e assim sendo, decido fazer estes últimos 500 mts a tope. Ponho-me de pé e acelero ao máximo, ultrapassando ainda mais um grupo na última curva e um par de participantes na recta da meta, à qual chego sprintando. Sim, sim... já sei que isto é uma parvoíce, mas... E o gozo que me dá?

De seguida encontro-me com o Faco que diz ter-me sacado uns 5 min e daí a pouco aparece o Fernando e o José Ramón. Juntos subimos ao vértice geodésico do cimo (3.367 mts de altitude) para ver a paisagem que é impressionante e fazermos umas fotos. Também chegaram o David e o Juanma.

Daí a pouco decidimos descer. Eu fi-lo de uma assentada até chegar ao carro e imediatamente subi a Pradollano, donde os outros ciclolisteros haviam tido a amabilidade de se encarregarem da minha mulher e filha, as tais que a organização não deixava entrar no recinto fechado.

Em resumo um dia memorável.

Saúde e sorte nas estradas.

publicado por Ubicikrista às 16:14

Aqui vão os meus comentários sobre a Subida a Veleta.

Ambiente ciclolistero: Magnifico.

No sábado fomos jantar todos, os seis que nos juntámos, mais a família do Ramon e a namorada do Francisco. Na manhã seguinte, com as camisolas reluzentes, parecíamos crianças com sapatos novos. É sempre agradável conhecer as pessoas de quem já lemos opiniões e crónicas, muitas vezes ainda vivas.

Quando tirámos as fotos no pico de Veleta, era como se pertencêssemos a uma comunidade e ficássemos a viver ali, tão contentes estavam-mos todos. Todos, excepto uns excursionistas alemães que imagino que nunca puderam pensar que se iriam encontrar em tão maravilhoso lugar com umas dezenas de exultantes e barulhentos ciclistas.

Organização: como já comentou o Faco, um desastre. A organização é muito caseira, mas a prova cresceu muito e claramente não dão conta do recado.

Para começar, no sábado havia apenas uma mesa para as inscrições, e centenas de ciclistas. Resultado, um atasqueiro monumental e uma espera à volta de duas horas. A tecnologia que utilizavam reduzia-se a uma mesa, quatro cadeiras e uma esferográfica, com a qual te inscreviam e pré-esgatanhavam o Diploma.

Ao finalizar a prova, a entrega de diplomas era digno de ser filmado. Centenas de ciclistas com vontade de irem para casa, e um fulano da organização em cima dum estrado a cantar números de dorsal sem ordem nem concerto. Um pouco mais e organizava-se um motim. Para se comer alguma coisa, aquilo parecia o primeiro dia dos saldos do Corte Inglês. O trabalho de cotovelos era fundamental. Imagino que seria para que não fortalecêssemos apenas as pernas e trabalhássemos a carroçaria superior.

A subida em si: dá gosto ver gente como o Faco dizer que, para ele, a achou curta. Asseguro-vos que não é o meu caso. De qualquer modo, o meu estado de forma é muito melhor que o do ano passado e acabei a prova bastante bem.

A primeira metade, até aproximadamente o Km 19, fi-la com o Faco e o Ramon, a um bom ritmo. De facto, quiçá tenha subido um pouco mais forte do que o costume, mas não notei que fosse demais. Ajuda sempre subir com companhia, e se além disso levas a mesma camisola de equipa, fazes esforços suplementares para não descolares. A partir desse Km, justamente onde se encontram as rampas mais duras, o Ramón e o Faco começaram-se a separar de mim, da maneira habitual que as pessoas se separam nas subidas longas. Vês os dois irem-se embora pouco a pouco, e parece que os podes apanhar, mas nunca chegas a eles. Neste momento, após consultar o meu pulsómetro, pensei que era melhor não continuar a forçar e sim “meter” o meu ritmo. A segunda metade fi-la totalmente ao meu ritmo. A vantagem de viver por aqui e tê-la subido algumas vezes antes, é que vais conhecendo as zonas perigosas e sabes onde tens que levantar o pé e onde apertar. A partir do Km 30, ultimo abastecimento, meti a terceira pedaleira, pus uma mudança cómoda e fui subindo pouco a pouco, ultrapassando bastante gente que tinha de parar asfixiada. A verdade é que não entendi bem a polémica com a pedaleira tripla que houve na ultima semana. Entre mensagens e desmentidos fiquei sem saber a exactamente a opinião de cada um. A única coisa que vos posso dizer, é que eu gosto de poder subir a Veleta em bicicleta, e se dentro de dez anos a tecnologia continuar a avançar e tenha que colocar seis pedaleiras, asseguro-vos que o farei.

Assim, no meu ritmo, cheguei lá acima cumprindo o meu objectivo que era baixar de 3 horas e meia. O meu tempo foi de 3.26. Para que façam uma ideia, no ano anterior tardei 4.11, e tive que descer da bicicleta um montão de vezes. É incrível o que se consegue treinando um pouco, e apoiando-se na tecnologia disponível (a minha De Rosa, com pedaleira tripla).

Em resumo, dois dias de ambiente ciclista muito agradável e que no ano que vem espero repetir na vossa companhia.

publicado por Ubicikrista às 16:14

Olá.
No passado sábado 7 fomos, um grupo do meu clube, a Granada para subir a Veleta.

Ainda que a cicloturista se tenha efectuado faz pouco tempo, depois da má experiência na organização de outros anos, resolvemos começar a ir por nossa conta e risco um dia por ano, que já tínhamos previamente programado no nosso calendário.

Às 8:30 estávamos em Pinos Genil, e começámos a ascensão às 9:00.

No principio íamos em grupo, já que a partir da bomba de gasolina de Víbora, a uns 1800 m. de altitude, seria a velocidade livre.

As primeiras rampas, são ligeiras porque ainda se está fresco, e o ritmo não é muito forte para não partir o grupo. Quando a estrada se junta com a que vem de Granada, parece que a inclinação se suaviza, ou é a sensação que dá, devido a que a estrada é mais larga.

Até agora tenho ido com um 39x21, e vou bastante cómodo. PINCHACHO![1] A minha roda dianteira fura, devido a terem-lhe dado pressão a mais que a devida, e a roda abriu lateralmente a camara de ar. Por sorte o pneu não sofreu nada e pude reparar o furo.

O grupo tinha-se partido em dois, uns que seguiram e outro grupo que esperou por mim para que reparasse o furo, por isso tive que aumentar um pouco o ritmo, para poder apanhar os primeiros (que não iam muito depressa).

Chegados à bomba de gasolina começa aqui à velocidade livre que cada um queira impor. As três feras do clube saem disparados para o cimo, e forma-se um segundo grupo de seis onde eu estou. O ritmo aumenta devido a que o mais forte do meu grupo, já que na etapa de hoje o clube dá trofeus aos três primeiros e vemos que um dos feras ficou descolado, e por outro lado, ele está também em disputa pela classificação geral, e vê que o primeiro classificado está a ficar para atrás.

Apesar do ritmo, vou à vontade e a inclinação não me parece excessiva, continuo com o 39x23.  Por fim avistamos Pradollano, mas desde que se vê até que se chega, dá a impressão de que a povoação se vai afastando cada vez mais. Pouco antes de chegar, um do meu grupo fica-se devido a furo. Pergunto-lhe se necessita ajuda e diz-me para seguir.

Para passar a urbanização, meto o 23 já que é onde há maiores inclinações. Passado o Centro de Alto Rendimento, salta um do grupo, mas prefiro não me “alargar” e continuar no meu ritmo. A paisagem é rochosa e graças ao carro de apoio que levamos, é-nos reposta a bebida.

O vento que desde o principio estava presente, começava a aumentar e também a sensação de frio.

Ainda que a pendente não seja tão dura como a da urbanização, já vou com o 23 porque me encontro mais à vontade. Até ao momento as sensações que tenho são estupendas, comparadas com o ano anterior, que cheguei à barreira cambaleando e só continuei por amor próprio e força de vontade.

Passado o Centro, do grupo de quatro que restam, fico sozinho na frente e a estrada permite-me ver o meu companheiro que tinha saltado anteriormente.

O vento torna-se insuportável. Vejo-me obrigado nalguns sítios a “meter” o 26 já que é impossível continuar com um vento assim. O pior não é o vento de frente, mas sim o lateral, que praticamente obriga a fazer malabarismos para que não me atire ribanceira abaixo. Há que inclinar todo o corpo para um lado para evitar que te derrube.

Quando levava 33 Km e a uma altura de uns 2600 m. vejo parado os quatro que iam à minha frente, e que devido ao vento tinham decidido não continuar. Decisão acertada, apesar da raiva que me dá o não poder chegar lá acima.

Baixamos com muito cuidado, quase parados, até a um ponto de encontro, com todos os que subiam também.

Noutro ano se chegará lá acima.

 



[1] Não é o que estão a pensar. Significa furo. Pinchar é rebentar. Por exemplo em Cajabermeja o Aleixo ficou parado à beira da estrada com um pinchacho de todo o tamanho à espera que alguém lhe desse assistência.

publicado por Ubicikrista às 16:13

«...a única vantagem da solidão é que podemos ir à casa de banho e deixar a porta aberta.»

 

Estivemos perto do senhor. Credo! De mim? Dirá o leitor! Roçámos o céu. Enquanto subíamos, nunca um nome de um filme teve tanta razão de ser no nosso subconsciente: «o céu pode esperar», ou o livro que caracteriza a carreira do Pedro Delgado: «a golpes de pedal». Uma eternidade para se chegar lá acima.

Como seria nesta altura da época? Sim, se me autorizam a aliteração, direi que esta é uma época supersupersticiosa. Pessoalmente, não sou nada supersticioso, e até creio que superstição dá azar. Mas, como dizia aquele anfíbio, nem tanto ao mar nem tanto à terra. É bom lembrar que, muitas vezes, aquele que não acredita em nada anda à procura de alguém que acredite nele. Há criaturas mais cépticas do que S. Tomé: elas só querem ver para não crer. Como suspirou alguém, «eu não acredito na vida depois desta, mas trago sempre um par de cuecas extra comigo»

Bom, minha gente, a descida demora 10 minutos só que esses dez minutos galopam com o freio nos dentes. Para mim, isto é que é imagens em movimento e não o João Baião[1], que só corre pra burro.

A costeletada final acabou por se transformar em mariscal, com todo o maralhal a emborcar cervejal. Assim com autenticas paredes no fim das palavras como que a bradar aos céus. Foi a literatura que apanhou o ar da Sierra, hiupi! Glupi, la cerbeja és mui buena, e o regresso... um sucesso.



[1] Já que se fala em portugueses, mas por razões mais válidas, convém referir a talho de foice, que encontrámos a Susana Feitor a preparar-se para os Mundiais de Sevilha onde viria a obter o primeiro lugar dos não medalhados. Estava também no Centro de Estagio de Alto Rendimento a equipa de futebol do Elche onde militam dois jovens portugueses. Foi aqui também o ano passado que esteve o Paulo Guerra e que ninguém quis acompanhar porque não estava provado que o treino em altitude desse resultado.

publicado por Ubicikrista às 16:10

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