14 de Maio de 2013

Cada vez mais se vê nas grandes voltas metade do pelotão a abrandar e a fazer o resto da etapa nas calmas mal chega a primeira subida a sério, plagiando descaradamente alguns ciclistas (?) da palmeira, seja no alto da casbarra, à coagro antes da boa morte, no monte pinheiro nas vinhas da fundação eugénio de almeida à saída para reguengos, ou, inédito dos inéditos na recente descida do alto dos cucos (ups, esta não era para dizer porque não vem ao caso, não se trata de uma subida), e sempre antes do km 5.

publicado por Ubicikrista às 01:08

06 de Abril de 2011

CARISMA

O Ricardo Costa é um velho conhecido - jornalsita/ciclista -  destas lides do pedal, mas que infelizmente nunca conhecemos pessoalmente. Já fez mais pelo cicloturismo em portugal do que um dia alguém fará, incluindo as duas federações. Factos:

No fim do verão do ano 2000, quando como colaborador da revista o Mundo do Ciclismo, publicou na secção de cicloturismo que tinha a seu cargo, esta preciosidade que foi uma pedrada no charco das mentes defensoras da estagnação do nosso cicloturismo.

Nos numeros seguintes da revista não se limitou a indicar o caminho do futuro, passou a demonstrar a forma de chegar lá. Como? foi á procura dele e disso, da sua experiencia, ia dando conta, pois entre anúncios obrigatórios de passeios de febras, metia o bedelho e dava conselhos de como nos podemos tornar melhores trepadores, ou como treinar em casa, etc.

publicado por Ubicikrista às 02:08

01 de Outubro de 2009

"Á primeira cavadela ...minhoca."

 

Ficámos a saber como elas mordem. Para terem uma ideia: no Torcal quando já não conseguia mais, parei. Uma senhora que estava ali por perto fez-me uma pergunta que me recordou a 1ª vez que andei de avião, quando a hospedeira, examinando a minha cara, me perguntou se estava a sentir falta de ar. Respondi-lhe: «Pelo contrário - estou a sentir falta de terra.» Aqui, terra era o que tinha a mais, mas ar para o peito nem vê-lo. Não há forma de combater o sofrimento. Uma vez alguém disse que «o preceito crucial do algemado é não pensar em comichão.», aqui é não pensar em nada enquanto se sofre.

Glória para todos, com insatisfação para alguns - meteram o 2º. carreto antes de tempo. Ficou no ar a ideia de que mais difícil que o Torcal seria impossível. Também ficámos a saber que fugir na montanha não é o mesmo que fugir do chilindró, em que bastou ao padre Frederico aproximar-se da porta e caminhar às arrecuas. Fugas ao sofrimento, só com o pé no chão.

 Afinal a prova era só de 62 km, e o percurso do regresso era até facultativo. Mas a moral de cada um levou um porradão decisivo na vila de Concepción. Como diria o meu amigo Neto, o brasileiro: «minha moral ficou mais baixa que cu de cobra.» Como era possível existir um inferno e termos ido lá parar. O mesmo disse, a Rosita (a dona da pensão), quando nos viu chegar às duas da manhã: «Com tantas espeluncas espalhadas pelo mundo, vieram logo parar à minha.»

A verdade é que quando chegámos à meta, fomos ainda a tempo de satisfazer uma necessidade fisiológica, mas não diremos se sólida, líquida ou gasosa ... e quem não gostar que vá lamber sabão.

publicado por Ubicikrista às 13:05

Quase que me matavaaaaaa !!!!

Olá a todos !!!

Confesso-me um completo ignorante da geografia espanhola. Antes deste fim de semana pensava que só havia montanhas de Madrid para cima.

Que armadilha a de Málaga e a montanha do Torcal! Paco e eu coincidimos em que esta marcha é mas difícil que os Lagos de Covadonga.

Conto-vos. No sábado pela manhã saímos de Madrid, o Paco e eu, pensando que o que íamos fazer era um passeio em grupo, visto que pôr quatro abastecimentos numa marcha de 115 Km era demasiado.

Chegámos e alojámo-nos num hotel em pleno centro de Málaga, estava recém reformulado e a verdade é que muito bem.

Desde que chegámos a Málaga demos conta de que as coisas ali correm num ritmo diferente ao de Madrid. As pessoas aqui andam muito mais tranquilas e devagar.

Também vemos que Málaga é muito maior do que tinhamos imaginado. Tem muitos semáforos que duram muito pouco tempo.

Bom, basta de descrições e vamos ao que interessa.

QUE BELAS MOÇAS QUE HÁ EM MÁLAGA. COLEGAS !!!!.

Lamento, não era isto o que queria dizer (embora seja verdade).

Pela tarde conhecemos o Juan que está justamente no local onde combinara com o Paco, ao lado do computador. Grande Paco, este sim sabia o que era o Torcal. Ele mesmo dizia que se tivesse explicado a dureza desta montanha não teria vindo tanta gente.

Bom, no dia seguinte, já na marcha, conhecemos o Fernando que veio de Granada. Subimos a montanha de Fuente de la Reyna. Uma montanha muito confortável, com bastantes patamares para se poder recuperar. Durante a subida da serra, só oiço os diferentes grupos de ciclistas falar da dureza do Torcal. Todos sabem a fama dos andaluzes para o exagero, mas  amigos, estes não estavam a exagerar nada……. 

Descemos a Fuente de la Reyna e após uma rampa conchavada vemos ao longe o Torcal. E iope, ele está muito, muito empinado, mas não parece estar longe.

As primeiras rampas começam logo a doer um pouquinho. O caso é que, como vem sendo hábito, o Paco descola o Fernando e a mim, e sobe ao seu ritmo.

Fernando e eu começamos a comentar estas coisas típicas que se costumam dizer nestas ocasiões. Que faço eu aqui?. Com que gosto estaria em casa. !!!! Já não tenho idade para isto!!!. Eu o que gosto é desfrutar da bicicleta, etc, etc, etc…..!!!!.

Bom, depois de subir umas quantas rampas de, creio eu, mais de 11%, chegamos a uma zona na qual podemos recuperar um pouco.

Justamente depois desta zona, começa a subida dos últimos 3 quilómetros. Uma recta interminável. Eu tenho que parar quando faltam 2 quilómetros, porque me começam a dar cãibras na perna esquerda e deixo que o Fernando suba à sua maneira.

Após recuperar, subo e encontro o Paco e o Fernando sentados num muro. Todos dizemos o mesmo !!! Que difícil é esta montanha !!!. Fazemos uma fotos e atiramo-nos até lá abaixo. Ao descer dou conta da formosura da serra de Málaga. Paisagens dignas dos Picos da Europa ou dos pré-pirinéus Aragonêses.

Na povoação seguinte dão-nos um abastecimento sólido digno de aplauso. Não posso conter a enorme vontade de comer, e então, como e bebo a duas mãos e um pé.

A partir daqui começa o mais difícil, voltar a Málaga. Um calvário de 40 quilómetros cheios de rampas e alguma subida mais ou menos prolongada. Continuo a sentir cãibras nas pernas e deixo abalar o Paco e o Fernando.

Com uns carretos dignos de bicicleta de montanha vou-me arrastando tendo o cuidado de não forçar muito os músculos para não voltar a ter cãibras. Inevitavelmente, numa das subidas, dão-me de novo as ditas cãibras. Paro um pouco e volto a subir na bicicleta.

Com dificuldade, chego ao ponto mais alto da Volta a Málaga. E daqui em diante uma grande e muito, muito divertida descida, com muitas curvas e muita técnica. Curvas daquelas de entrar devagar e arrancar à saída. Por fim e com alguma dificuldade na minha pedaleira tripla chego a Málaga, partilhando os mesmos sentimentos do Paco e do Fernando.

Um circuito muito difícil, uma organização excelente e sobretudo, pela minha parte, uma falta de treino impressionante.

É que eu, desde logo, não estava preparado para uma coisa assim. Nunca me costumam dar cãibras nas pernas…

Os meus parabéns aos malaguenhos pela sua dedicação a esta marcha e por ser tão bem feita. O único que não gostei foi a falta de um pouco de Reflex, que não encontrei durante toda a marcha. Teria sido uma grande ajuda, pois não fui o único com cãibras nesse dia.

E isso é tudo, companheiros do aço.

Vamos ver se nos incentivamos a juntarmos mais gente nas marchas. Ainda não nos demos conta mas já somos um Clube. E com muitos contactos. Não estranhem ver dentro em pouco o Eduardo Chozas na Ciclo-Lista.

Nada mais.

Ai, Ai !!! . Deixo-vos. Acaba de me dar uma cãibra  nas orelhas,,,,,, até logo !!!!.

publicado por Ubicikrista às 13:04

A minha crónica é sobre o percurso da Clássica Eduardo Chozas, mas realizado na semana anterior com o meu Clube, já que eramos nós que cabia organizar.

Não a realizei antes porque temia que alguém fizesse marcha atrás.

Era a primeira vez que realizava o circuito, e estava com uma vontade enorme pelo que diziam do Torcal, e de superar um novo desafio.

A diferença deste domingo é que o tempo estava mau. Choveu um pouco quando subíamos a La Reyna, e fazia um vento daqueles de termos que agarrar bem a bicicleta.

Subindo a La Reyna, excepto a fera do Clube e os três novatos na subida ao Torcal, todos iam muito poupadinhos, de modo que reduzi o ritmo e deixei-me apanhar pelo grupo, protestando pelo ritmo tão lento a que iam. Eles diziam-me que mais adiante já falaríamos. Os três últimos km de subida a La Reyna fi-los bastante fortes, porque nesse momento pensava que não se subiria o Torcal devido ao mau tempo.

Descendo, o vento atingia-nos com força, e a parte entre Colmenar e Casabermeja, rectas onde normalmente se vai a boa velocidade, foram duras, duras, porque o vento batia de frente o suficiente para derrubar alguém da bicicleta.

A parte da subida até chegar a Villanueva, fez-se muito devagar. Um companheiro que ia comigo, fez-me o mesmo comentário. Três semanas antes subíramos esta parte até Villanueva, e naquela ocasião pareceu-nos metade do difícil do que nos pareceu agora.

Ao chegar a Villanueva, muitos pararam e disseram que esperavam que o fizéssemos também. Eu estive a ponto de ficar porque estava rebentado, mas o repto e a vontade de conhecer a subida do Torcal, tornou-se-me num "perigo para mim mesmo" prosseguir até ao cimo.

Só iam três companheiros à minha frente e um deles deu meia volta, coisa que estive a ponto de fazer também. Depois de muito sofrimento cheguei ao cimo, mas o meu calvário estava ainda por chegar.

De volta a Málaga, até Casabermeja, ia colando e descolando do grupo que até não ia muito rápido. Quando começámos a subir Patascortas, EXPLODI. ¡&iexcl[1]; Pássara monumental!!. O grupo afastava-se cada vez mais e eu levava "metido" o 26 (reservado para o Torcal) e tudo me parecia duríssimo. ¡ Não posso, não posso!. Cada pedalada é uma picada nos músculos, doem-me as costas, os pulsos, os braços e não podia raciocinar com clareza. Neste estado, aguentei talvez mais do que devia - a subida até Patascortas, e uma parte mais do percurso - até que decidi parar e subir para o carro que nos acompanhava. Foi a «pássara» maior que tive até hoje.

Um abraço. Juan Fdez



[1] N.T. Para caracterizar palavrões.

publicado por Ubicikrista às 13:03

Nesta altura da película, imagino que já todos vocês conheceis a cena de Malaga, e pouco mais fica para acrescentar às excelentes crónicas enviadas. De qualquer modo, e dado que tampouco escrevo muito na CicloLista, vou tentar complementar as outras crónicas com a minha  visão particular.

Antes de mais, vou apresentar-me um pouco. Vivo em Granada à sete anos, mas ainda sou de Bilbau, tenho quase 40 anos (em novembro próximo), meço um pouco mais de 1.80 e peso à volta de 85 Kg. Como vêem, não sou exactamente o dobro do Pantani, e com o qual mais me pareço no universo ciclista, é a um cu gordo holandês. Com esta introdução, e uma vez lidas o resto das crónicas da subida ao Torcal, já imaginam o bom bocado que passei.

A verdade é que gosto das marchas cicloturistas. Devido ao meu trabalho e a outras causas, saio na bicicleta quase sempre sozinho, e de vez em quando gosto de me meter no ambiente ciclista, ver e admirar as bicicletas dos outros, as pessoas dos clubes com as suas camisolas iguais (vamos a ver quando teremos as nossas) e, em resumo, esse conjunto de coisas que te levam a pensar que pelo menos por um dia tens algo em comum com o Indurain.

A primeira marcha que fiz (a subida a Veleta do ano passado), pensava que para o meu nível havia treinado bastante, e imaginava que ia encontrar gente parecida comigo. Grande erro. Nada mais se dar a partida, dos 700 que participávamos, cerca de 600 saíram disparados perante o meu olhar atónito, sabendo o que nos esperava, e ficámos num grupo onde se podia encontrar um amplo mostruário do leque dos varios tipos de cicloturistas, incluindo gente com as camisolas justas de mais, quer dizer, gordos; gente com pouco cabelo, e a maioria branco, em resumo, gente com todos os sintomas que dá a idade e os excessos da vida. Deles não há que dizer nada, já que este é o grupo com o qual sofri durante toda a subida, e os que volto a encontrar nas outras marchas em que participei, que considero os meus companheiros ciclistas. Como comentava antes, apesar disto, gosto de participar.

Entrando no baile. No domingo passado levantei-me cedo, tomei um pequeno almoço equivalente à dieta de uma modelo para um ano inteiro, apanhei o carro e fui para Málaga de encontro a esse ambiente que antes comentei. Logo de inicio, vi um tipo com uma fita retrovisora no capacete, acompanhado de outro com uma camisola de @ciclistas, e supus que não poderiam ser outros senão os meus companheiros da CicloLista. Pela primeira vez, o clube ciclista virtual convertia-se em real, e com grande alegria da minha parte, dispus-me a começar a marcha em boa companhia.

O que se seguiu já o devem ter lido. A subida ao Torcal é brutal, e muito mais para alguém com as minhas características físicas. Sofri o que ninguém escreveu. Tive que pôr o pé em terra algumas vezes, mas cheguei ao fim, e pudémos sacar a foto dos três heróis da jornada.

Depois, o regresso a Malaga (40 Km) foi angustiante. Estas provas com uma subida tão difícil, deveriam, finalizar no alto da montanha. Todo o percurso que falta parece em excesso, mas 40 Km de rompe pernas, com uma montanha de mais de 2 Km, é factura a mais do que estou acostumado a pagar. Durante esta parte final é onde mais aprecio a companhia do Faco e do Angel. Por estas alturas a marcha estava totalmente partida, e havia gente a regressar isolada, com uma cara de agonia, própria para inspirar actores, semelhante aos que participam na procissão da Semana Santa.

 Finalmente chegamos a Málaga, com a satisfação do dever cumprido. Tomamos três canhas de cerveja, um prato de macarrão e um bocado de tarte (tudo muito rico e com muito a-propósito), além de tirar-mos a fotografia com o Eduardo Chozas.

Posteriormente despedimo-nos com o firme compromisso de nos voltar-mos a ver na subida de Veleta deste ano.

Enfim, é curioso que depois do massacre a que nos tinham submetido, falássemos de Veleta, onde no ano anterior estive a ponto de me converter num monumento ao ciclista todo roto, mas são as coisas desta nossa “doença”, que quando as tentas contar a alguém, que nunca foi picado pelo bichinho, olham-te como se fosses doutra galáxia, ou tivesses levado uma pancada na cabeça.

Bom, espero que estas minhas reflexões tenham sido do vosso interesse. Um abraço companheiros, e até à próxima.

Fernando.

 

publicado por Ubicikrista às 13:02

Olá.

O que segue é a crónica, longa e sincera, da minha participação na VI Clássica Cicloturista Eduardo Chozas (ou Volta Cicloturista a Málaga) e provavelmente contem linguagem torpe e expressões somente adequadas aos adultos. Sirva isto como aviso, no caso de haver crianças na audiência.

Há duas possibilidades:

A - O meu estado de forma e moral, que não era ontem o óptimo, destorceu as sensações que tive sobre a bicicleta.

B - O Clube Ciclista Malaguenho, conjuntamente com o Circuito Cicloturismo a Fondo-Bicisport, não confiavam o suficiente na impecável organização da marcha para atrair as pessoas (todos sabem que as marchas no sul de Espanha têm poucos participantes), e ocultaram-nos o que nos esperava (a ciclomarcha aparece qualificada em todas as partes como de dureza "media").

Se algo houve da opção A, creio que mais terá havido da B, e isso não está bem. E se não, leiam a crónica e julguem vocês mesmos...

O domingo amanheceu bonito, sem demasiado calor, perfeito para a bicicleta. Não entendo como há tão poucos adeptos de ciclismo por aqui, com um clima tão privilegiado. Angel e eu chegámos a Málaga no sábado, e inscrevemo-nos, tendo a oportunidade de conhecer o Juan, do C.C. Malaguenho, que nos sorria muito, mas não nos avisou do que nos esperava. Não vimos nenhum outro malaguenho (da CicloLista) e assim não nos juntámos. Jantar com massa e o típico sono inquieto que precede as marchas (era isso que esta seria, pensava eu, das fáceis).

Assim às 8:30 ali estávamos, prontos para um agradável passeio pelo mais bonito da província de Málaga, depois de uma noite mal dormida e dez dias sem tocar na bicicleta. A saída, atravessando a cidade, era neutralizada e o ritmo convidava à conversa. Alguém se aproxima e me chama pelo nome: claro, o autocolante retrovisor no capacete denuncia-me. É o Fernando, de Granada, e dedicamos um bom bocado a falar enquanto atacamos as primeiras rampas da montanha de León (ou Fuente de La Reina). Os 10 km. neutralizados por dentro de Málaga não contavam para a quilometragem do percurso, tanto assim que esperava uma subida de apenas 5 km. e resultou que...

De seguida, ao deixar para atrás as últimas casas da cidade, aparecem rampas duras, a rondar os 10%, e ponho o meu ritmo, para aquecer. O joelho incomoda-me ligeiramente e a paisagem começa a ser bonita à medida que vamos ganhando altura. Penso que para o alto da montanha não deve faltar muito, e o desnível suaviza-se e assim que subo confortável, entretido com os meus pensamentos. Pelo rabo do olho vejo alguém que se aproxima rapidamente e penso "este enfureceu-se quando o passei e vem-se a mim" mas não,  é o José Ramón, de Salamanca, que vem com outro ciclolistero, e subimos vários quilómetros na conversa. Serviram-me de desculpa para afrouxar o ritmo (ainda que tampouco fosse a subir com muito entusiasmo).

"Porra, esta montanha nunca mais acaba", penso, a ver se avisto o alto e poder fazer um sprint dos que tanto gosto, ao acabar as subidas. Entretanto, ultrapassam-nos dois, com bicicletas bem equipadas e pose "desafiante". Isso é superior às minhas forças, assim,  mudo para a pedaleira grande (a pendente não superaria o 5-6%) e dou-lhes uma ratada das que tanto gosto. Como resultado devo estar quase a chegar...

Seguinte curva, cartão amarelo: "3 km. para o final"! MECAGÜEN![1] Retiro a pedaleira grande e abrando. Neste momento amaldiçou-me por ter deixado o roteiro não sei onde, e por não ter um perfil da montanha como devia. Nos últimos quilómetros volta a haver rampas difíceis, e chego ao cimo sem alento, mas bem quentinho. Enquanto bebo agua e encho o bidão alcançam-me, o José Ramón e Juanma, e começamos a descer juntos, mas primeiro tenho de parar, porque tentar beber sumo pegajoso descendo a 40 ou 50 km/h por uma estrada esburacada é, no mínimo, complicado. O resto da descida faço-a sozinho, enquanto entramos na bonita comarca de Axarquía, terra verde, de pessoas caladas e estradas mal asfaltadas. Num dos buracos, o bidão sai-me disparado, mas por sorte ninguém o pisa e recupero-o sem que haja feridos.

No final da descida, um abastecimento daqueles de encher a tripa. Alguém da organização se empenha em encher-me os bolsos de comida e bebida, enquanto como banana e maçã desalmadamente, como se a minha vida dependesse disso. Chegam o Angel e o Fernando e prosseguimos a rota os três juntos. Faltam 12 km. para o Torcal e a Andaluzia na primavera é uma maravilha, e mais com o estômago cheio, assim sendo, a marcheta torna-se  muito agradável, apesar de uma ou outra subida.

Aí está: o Torcal de Antequera eleva-se sobre os campos verdes. É uma impressionante mola em espiral, e parece que vamos a subir até ao mais alto. Para começar, encontramos as primeiras rampas que sobem até Villanueva de La Concepción, com percentagens, se não por cima, muito perto dos 10%. Aí, cada um vai como pode, e de seguida fico só. Chegado ao povoado, já estou esgotado, apesar de me ter ido reservando, como Ramón me recomendou. Disseram-nos que a subida, de 12 km., chega nalguns sítios a 11%, e ponho-me a imaginar os que já passei, e se os quase 9 km. que faltam serão mais suaves, para poder desfrutar da paisagem girissima.

Já as ruas de Villanueva se empinam como se tivessem pressa por chegar ao céu. Cruzamo-nos com os primeiros que descem, que nos dizem que "já não falta quase nada". Após sair da povoação voltam as rampas muito duras. Aperto-me ao selim, deitado o mais atrás que posso, e forço as costas, com apenas 60 pedaladas por minuto, pedaladas redondas e profundas, esticando bem as pernas para aproveitar cada impulso. Agora começo a sentir calor, mas o ar é seco e o suor não me incomoda. Penso que estas inclinações não podem durar muito, e que noutras ocasiões já passei por pior. Passados uns três km, que se fazem eternos, chego ao tal descanso que tinha prometido a mim mesmo. Alcanço um outro ciclista e comento-lhe o difícil que aquilo é. Responde-me, "Pois o difícil está por chegar! Agora é que te vais cagar todo!" e eu solto-lhe a primeira coisa que me passa pela cabeça, "Pois, mas merda é coisa que já não tenho, caguei-me todo para chegar até aqui". Acha tanta graça ao meu dislate que começa a rir, e rio-me também, com esse riso nervoso que dá a tensão.

Passam os 2 ou 3 quilómetros de terreno plano, demasiado escassos para o que levo em cima, e chego a uma curva à esquerda. Em frente prossegue a estrada, já a descer, mas um tipo da organização diz-me que por alí vai-se para Antequera e que isso não vale.

Encaro o último tramo da subida de pouco mais de 3 km. com duvidas, sem saber o que vou encontrar, depois da sova dos 6 primeiros. Visto isso, não me enganaram os que falavam de 11%, ou o ciclista que me dizia que o mais difícil estava ainda por chegar...

Levanto os olhos e regressa à minha cabeça a Subida aos Lagos de Covadonga. As imagens, do mais difícil da Huessera[2], tal como em câmara lenta, com as pessoas retorcendo-se sobre a bicicleta, de alguns a andar, de alguns sentados ou apoiados muito mal na bicicleta, sobrepõem-se ao que vejo. Não está demasiado calor mas o sol cai a pique, sem deixar sombras na estrada, apoiando-se na vertical e fortíssimo sobre as encostas do Torcal. A inclinação rondará os 10% mas a recta parece não ter fim, e a vista perde-se nos pedregulhos medonhos. Volto a chegar-me para trás, para que o meu peso caia sobre a roda traseira, e pedalo lenta e cansadamente, ganhando metros um a um. Custa-me manter as 50 pedaladas por minuto, que é o meu limite mínimo psicológico para subir, mas penso que aquilo não pode durar muito, e que 3 km. passam depressa. Tenho muitas dificuldades em ultrapassar as pessoas, porque quase todos vão aos esses - de novo, a recordação da Huessera - e além disso estão os carros e os ciclistas, e inclusive um autocarro, que descem, queimando as pastilhas dos travões.

Perdi já a noção do tempo, e chego ao cartaz dos 2 km. para o cimo da montanha. A minha cabeça está vazia, e começa a encher-se de desejos para eu dar meia volta. Tenho vontade de largar a bicicleta e não lhe voltar a tocar durante meses. Alcanço muita gente que vai a pé e penso que vou parar também, para descansar um pouco e poder continuar a pedalar. A andar, só subi uma montanha, foi em Angliru, que é uma coisa especial, mas em qualquer outro ou subo em cima da bicicleta, ou dou meia volta. De vez em quando ponho-me de pé, para relaxar as costas, mas as pernas começam-me a avisar de que não aguentarão muito. Ao passar o cartaz de 1 km. vejo descer o José Ramón, e chamo-o para o saudar, mas faço-o tão baixinho que nem me ouve nem me vê. Começo a notar as ameaças das cãibras nos gémeos, ao fazer força nos pedais e nos quadricípedes ao baixar o pé, e trato de pedalar sentado, apoiando-me nas costas, para descer as pulsações e não forçar tanto as pernas. Há sítios onde o desnível cede um pouco, mas apenas me serve para aliviar. Calculo que me devem faltar 200 ou 300 metros e estou noutra rampa duríssima. Diante de mim, um ciclista que havia subido mais ou menos ao meu ritmo, às vezes à frente e outras atrás de mim, desce-se da bicicleta. Ultrapasso-o e chego ao que parece o cimo da montanha, mas à minha frente há outra encosta, em curva, com uma inclinação que não convida nada a continuar. Levo as pernas no limite da contratura e recordo os Lagos, onde só pelo facto de ir com os da frente me fez prosseguir totalmente cheio de cãibras, e que me custou vários dias de recuperação. Antes de me encher todo de cãibras paro, e relaxo as pernas uns minutos. O ciclista que parou antes de mim, voltou a montar-se na bicicleta e passa-me, animando-me. "Esta tem que ser a última rampa" penso, e volto a montar-me na bicicleta. Poucos metros depois vejo pessoas da organização e o Juan numa mesa com o computador. Gritam o meu dorsal e dizem-me que continue, que não pare. Mas nesse momento, ao relaxar as pernas depois da última rampa, contratura-se toda a perna direita e travo a fundo, deixando-me cair sobre o tubo horizontal e o guiador. Há alguém da organização que se aproxima, mas digo-lhe que estou bem e que só necessito apenas de uns alongamentos. Uns metros mais adiante está o abastecimento. Procuro um sitio onde me sentar e aproveito o óleo que nos haviam dado (uma grande ideia), para massajar a sério as duas pernas.

Quando, daí a pouco, aparecem, primeiro o Fernando e depois o Angel, já me sinto muito melhor, mas ainda muito chateado por ninguém nos ter dito que o Torcal era tão duro. Todos o comparámos aos Lagos, e a nenhum lhe pareceu mais fácil. Para cumulo, ainda faltam mais de 40 km. até Málaga, e tal como nos disse Ramón, não são nada fáceis.

Tiramos umas fotos e descemos até Villanueva, onde nos espera outro magnífico abastecimento. Fico sem vontade de andar de bicicleta, mas não me resta outro remédio senão prosseguir, assim é, que carrego-me de comida (pelo menos, que não chegue a «pássara»[3] física, que a mental já eu tenho). Até Málaga são 40 km. que supõe-se ser de quase outras duas horas a pedalar. Nos 25 primeiros sucedem-se subidas e descidas, e a subida a Venta Patascortas é como uma montanha de segunda, sobretudo pelo facto de irmos todos tocados. Fernando e eu comentamos por que é que cada clube se empenha em organizar a sua Serra da Estrela particular, quando, do que se trata é de desfrutar da bicicleta e não de sofrer como condenados. A cada curva esperamos ver Málaga, mas só encontramos uma nova serra, à qual a bicicleta se agarra como a uma lapa. Por fim, completamos os últimos 15 km. todos eles serra abaixo e chegamos ao Polidesportivo, onde nos espera comida e bebida em abundância, a que lhe demos a devida atenção.

Ainda temos forças para fazer uma foto com Eduardo Chozas, e convidá-lo a visitar o site ciclistas.org e, depois do duche, partimos para Madrid.

Ignoro se voltarei a Málaga, mas certamente que será com outra mentalidade, muito diferente e que me permita desfrutar de uma marcha tão difícil como esta.



[1] Sem tradução literal.

[2] Supostamente a zona mais difícil de Covadonga.

[3] Desfalecimento. Não se anda para a frente, nem para tráse nem para os lados.

publicado por Ubicikrista às 13:01

A saída será às 8:30 (7:30 em Portugal) da manhã no Polidesportivo Ciudad Jardín. O percurso terá  uma distancia de 125 Km. A corrida só começa com um ritmo livre a partir do inicio da ascensão à serra de León, de 864 m , com inclinação média de 5,3%, na distancia de 16 km. Com subidas de inclinação máxima de 11 ou 12%. Segue-se uma descida que passa por Colmenar e Casabermeja, para dar inicio à  ascensão à serra mais dura, El Torcal, passando por Villanueva de la Concepción. El Torcal tem uma inclinação média de 8,4%, com rampas de 14%.

A partir daqui começa o regresso a Málaga, passando de novo por Villanueva de la Concepción e Casabermeja, para enfrentar as últimas subidas da corrida, e chegar à meta situada no Polidesportivo Ciudad Jardín.

Informação Complementar: O Clube Ciclista Malaguenho pretendeu esta prova mostrar a incrível beleza da paisagem de Parques Naturais que há nesta província de Andaluzia, como são o Parque Natural de Los Montes, o Parque Natural de Málaga – Fuente de La Reina e o Parque Natural de El Torcal. Claro que ao pedalar por estes Parques pode-se desfrutar da vista de espectaculares paisagens, formada por variados processos geológicos, meteorológicos e químicos, como são as paisagens Karsticas do famoso Torcal de Antequera.

publicado por Ubicikrista às 12:33

A saída será às 8:30 (7:30 em Portugal) da manhã no Polidesportivo Ciudad Jardín. O percurso terá  uma distancia de 125 Km. A corrida só começa com um ritmo livre a partir do inicio da ascensão à serra de León, de 864 m , com inclinação média de 5,3%, na distancia de 16 km. Com subidas de inclinação máxima de 11 ou 12%. Segue-se uma descida que passa por Colmenar e Casabermeja, para dar inicio à  ascensão à serra mais dura, El Torcal, passando por Villanueva de la Concepción. El Torcal tem uma inclinação média de 8,4%, com rampas de 14%.

A partir daqui começa o regresso a Málaga, passando de novo por Villanueva de la Concepción e Casabermeja, para enfrentar as últimas subidas da corrida, e chegar à meta situada no Polidesportivo Ciudad Jardín.

Informação Complementar: O Clube Ciclista Malaguenho pretendeu esta prova mostrar a incrível beleza da paisagem de Parques Naturais que há nesta província de Andaluzia, como são o Parque Natural de Los Montes, o Parque Natural de Málaga – Fuente de La Reina e o Parque Natural de El Torcal. Claro que ao pedalar por estes Parques pode-se desfrutar da vista de espectaculares paisagens, formada por variados processos geológicos, meteorológicos e químicos, como são as paisagens Karsticas do famoso Torcal de Antequera.

 

publicado por Ubicikrista às 12:32

«Se uma experiência correu bem, é porque

alguma coisa correu mal.»

  

Íamos ali a Málaga "a provar", como diz o Pedro Delgado, para caracterizar uma situação sempre que se tenta uma fuga que mais não seja para experimentar a reacção dos adversários. Se a coisa não corresse bem, ou caísse fora dos nossos sonhos, bie, bie Espanha. Hasta la vista.

Por outro lado, as montanhas sempre nos intrigaram. Hoje em dia, alguns psicólogos examinam o simbolismo do acto de escalar montanhas. Como declarou um deles, «é uma questão discutível se o desejo de um homem por mulheres com mamas grandes implica anseio por montanhas, ou se o anseio por montanhas oculta o desejo por mulheres de mamas grandes». Pessoalmente, não vejo por que uma coisa exclua a outra. Mas a sério! As dúvidas e expectativas persistiam. Como diria alguém realista: «e se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que dei muito dinheiro pela meu carro novo».

Era o nosso debute e as dúvidas eram mais que muitas, as expectativas enormes e algum nervosismo. Os cabeços seriam como? A descer? Querias! Claro que não. Mas essas histórias dos 8, 10, 12 e 14 ou 15% são melhor ir lá ver para termos a certeza. E o transporte? E se levássemos as camisolas todas iguais? Da Banesto não temos para todos! E a dormida, e quantas pesetas vamos gastar? Podemos pagar em escudos? Toda esta teoria foi respondida atempadamente, mas faltava pôr em prática o ditado do tal Santo de ver para crer. Até porque, há a famosa discrepância entre teoria e prática. A teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. A prática é quando tudo funciona e ninguém sabe porquê. A ver vamos...

publicado por Ubicikrista às 12:32

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